Os Estados Unidos espionaram o secretário-geral da ONU, António Guterres, de acordo com novas revelações de documentos oficiais importantes que foram vazados do Pentágono. Para Washington, o português estava sendo condescendente em relação aos interesses russos.
Os documentos contem observações do secretário-geral sobre a guerra na Ucrânia e informações sobre o acordo para fornecimento de grãos no Mar Negro, que foi negociado pela ONU e Turquia em julho, em meio a temores de uma crise alimentar mundial.
“Guterres enfatizou seus esforços para melhorar a capacidade de exportação da Rússia”, diz o documento, “mesmo que isso envolva entidades ou indivíduos russos sancionados”. Os documentos apontam que Guterres estava prejudicando os esforços para responsabilizar a Rússia pela guerra na Ucrânia.
De acordo com uma reportagem da BBC, funcionários da organização ficaram irritados com as suspeitas dos EUA de que Guterres estaria sendo mais brando com Moscou. Em entrevista a BBC, um funcionário da ONU apontou que a organização foi “impulsionada pela necessidade de mitigar o impacto da guerra sobre os mais pobres do mundo e isso significa fazer o possível para reduzir o preço dos alimentos e garantir que os fertilizantes sejam acessíveis aos países que mais precisam.”
Mesmo com o acordo, a Rússia reclama que as exportações de grãos e fertilizantes foram muito impactadas por sanções internacionais. Moscou sinalizou em duas oportunidades que poderia suspender a cooperação, caso os seus interesses não sejam atendidos.
Em março, Moscou renovou o acordo por 60 dias, mas fez diversas demandas em relação as suas importações. A principal delas foi a volta do Banco Agrícola da Rússia ao sistema de pagamento Swift, permitindo que a Rússia importe maquinário agrícola e um desbloqueio das atividades financeiras das empresas russas do setor de fertilizantes.
Moscou também deseja que um oleoduto que fornece amônia russa a um porto ucraniano no Mar Negro seja reiniciado.
O porta-voz da ONU, Stephane Dujarric, disse que os funcionários da ONU estavam “fazendo esforços para que o acordo continue”, observando que Guterres tinha pouco poder sobre o tema. “O secretário-geral não tem autoridade sobre Swift. Ele não tem autoridade sobre os Estados membros que impõem sanções unilaterais. Ele não tem autoridade sobre seguradoras, companhias de navegação, não pode dizer a eles o que fazer”, acrescentou.
Saiba mais sobre os documentos confidenciais que foram vazados do Pentágono
Outro documento que foi vazado aponta uma conversa de Guterres com a Secretária-Geral Adjunta da ONU, Amina Mohammed. O português se mostrou preocupado com o apelo da presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen para que a União Europeia (EU) produzisse mais armas e munições para fornecer a Kiev.
Os dois funcionários da ONU também conversaram sobre a cúpula de líderes africanos. Mohammed sinalizou que não confia no presidente do Quênia, William Ruto.
Documento foi vazado por funcionário de base militar, segundo jornal
De acordo com o jornal americano Washington Post, o vazamento foi feito por um funcionário de uma base militar na casa dos 20 anos. O funcionário compartilhou as informações na plataforma Discord, que afirmou que estava cooperando com a política para esclarecer o vazamento.
“Esta foi uma série de vazamentos perigosos”, disse o porta-voz da segurança nacional dos EUA, John Kirby, à BBC.
“Não sabemos quem é o responsável, não sabemos por quê. Estamos avaliando as implicações para a segurança nacional e, neste momento, também há uma investigação criminal”, apontou o porta-voz de segurança nacional dos EUA, John Kirby, em entrevista para a BBC.