Os Estados Unidos e a Arábia Saudita discutem os termos para um acordo de defesa, visto como parte fundamental do complexo plano americano para normalizar as relações entre o reino árabe e Israel. A negociação poderia seguir os modelos já existentes dos pactos de segurança com o Japão e a Coreia do Sul, antigos aliados de Washington, disseram fontes do governo americano ao The New York Times.
Esses acordos de defesa na Ásia são os mais robustos que os Estados Unidos mantém fora da Europa, onde tem também aliados na OTAN. Enquanto Organização do Tratado do Atlântico Norte é clara ao dizer que o ataque contra um País-membro é considerado um ataque contra todos, um acordo de defesa aos moldes do que os EUA têm com os asiáticos representaria uma promessa de apoio militar em caso de ataque — e não um compromisso de entrar junto em eventuais guerras.
A principal diferença nesse caso deve ser a presença militar dos Estados Unidos. O Pentágono tem cerca de 2.700 homens empregados na Arábia Saudita e, pelo menos até aqui, o acordo não deve incluir um aumento significativo do efetivo. No Japão e na Coreia do Sul, que tem inclusive bases americanas, são mais de 80 mil soldados à postos.
O príncipe Mohammad bin Salman, que comanda o reino de fato, vê o pacto de defesa como central para as negociações com Israel. Mas essa não é a única exigência de Riad, que também busca ajuda americana para desenvolver um programa nuclear civil e pede concessões de Israel aos palestinianos em meio à nova escalada da violência na Cisjordânia.
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As negociações com o reino de Mohammad bin Salman representam uma virada na política externa do governo Joe Biden, que prometeu fazer da Arábia Saudita um “párea” internacional durante a campanha em 2020. Agora presidente, Biden faz uma aposta de alto risco com o plano para o Oriente Médio. Se der certo, será um passo para conter a influência da China na região além de uma vitória diplomática para a conta do democrata, pré-candidato à reeleição em 2024.
Para isso, no entanto, Biden precisa convencer o próprio partido, o que não deve ser fácil considerando que os democratas já votaram em diferentes ocasiões para restringir a venda de armas americanas à Arábia Saudita.
Apesar dos ares de modernização em Riad, Mohammad bin Salman atrai desconfiança pelas acusações de violação dos direitos humanos. Agências americanas de inteligência aprontam o príncipe como mandante do assassinato do jornalista do Washington Post Jamal Khashoggi, no consulado saudita em Istambul em 2018 — crime que o herdeiro do reino nega.
Os democratas também se opuseram aos bombardeios sauditas no Iêmen, palco de uma guerra brutal por influência entre Arábia Saudita e Irã. O conflito, que se arrasta desde 2015, levou ao assassinato em massa de civis e foi descrita pela ONU como uma das piores crises humanitárias do mundo.
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Aumentando ainda mais a pressão sobre o governo americano, as forças de Riad foram acusadas pelo assassinato de centenas de imigrantes africanos, que tentavam cruzar do Iêmen para a Arábia Saudita. O massacre foi revelado no mês passado pela ONG Human Rights Watch e os oficiais americanos não conseguiram dizer com certeza se as armas dos Estados Unidos foram ou não usadas nos assassinatos. A Arábia Saudita, por sua vez, alega que as acusações são “infundadas”.
No que diz respeito à Israel, a preocupação é que o acordo possa dar um impulso à coalizão liderada por Binyamin Netanyahu. O governo mais à direita de Israel é alvo de críticas pela controvertida reforma do sistema judiciário, que avança apesar da onda de protestos no país. O primeiro trecho, já aprovado, limitou os poderes da Suprema Corte para reprimir ações do governo que considere ilegais, movimento visto pelos críticos como um ataque à democracia./COM THE NEW YORK TIMES