Os Estados Unidos planejam enviar à Ucrânia cerca de 100 tanques de guerra Stryker, usados pelo país na invasão ao Iraque em 2003, como parte de mais um pacote de ajuda militar, no valor de US$ 2,5 bilhões (R$ 12,9 bilhões). A nova remessa inclui outros equipamentos e armas que já foram enviados anteriormente e deve ser anunciada nesta sexta-feira, 20, durante uma reunião na Alemanha com os países aliados da Otan.
Os Strykers são tanques blindados de peso médio com capacidade de transportar tropas e armas. Eles foram usados pela primeira vez pelos EUA na invasão ao Iraque e são enviados à Ucrânia em meio a uma corrida para fortalecer as forças militares do país com armas sofisticadas antes que o inverno do Hemisfério Norte acabe e a Rússia inicie uma nova ofensiva.
Entre os principais armamentos do equipamento, estão metralhadoras pesadas e lançadores de granadas automáticos e escotilhas que permitem que os soldados fiquem de pé dentro do veículo e olhem para fora para defender seus flancos.
Os novos tanques marcam uma mudança na postura dos aliados da Otan durante a guerra. Até então, havia uma relutância em enviar armas sofisticadas para Kiev por temor de provocar Moscou. Agora, as autoridades falam em enviar mais infantaria mecânica e veículos blindados para a Ucrânia ser capaz de perfurar as defesas russas mais fortificadas.
“Para permitir que os ucranianos rompam as defesas russas, o foco foi transferido para que eles combinem poder de fogo e de mobilidade de uma maneira mais eficaz”, disse na quarta-feira o subsecretário de defesa dos EUA, Colin Kahl.
Ao decidir fornecer os tanques à Ucrânia, o governo de Joe Biden se aproxima de conceder ao presidente ucraniano, Volodmir Zelenski, algo pelo qual ele implora aos EUA há meses: a ajuda americana direta para a Ucrânia atacar, não somente se defender.
Segundo duas autoridades americanas, os tanques podem ser entregues dentro de semanas. Eles se somam a um outro pacote de assistência militar dos EUA anunciado por Joe Biden há algumas semanas que inclui 50 tanques de guerra Bradleys, vistos como especialmente úteis para as unidades ucranianas que lutam contra os russos na região do Donbas, leste do país.
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Ao contrário dos Strykers, os Bradleys são tanques mais pesados e lentos, com uma capacidade menor de transportar tropas, embora tenha uma blindagem maior e armamentos mais pesados, incluindo mísseis TOW e um canhão de 25 mm, sendo mais adequado para o combate direto.
Aliados da Otan também anunciaram pacotes de ajuda militar à Ucrânia recentemente. O Reino Unido se comprometeu em enviar 14 tanques Challenger e a França e a Alemanha – sob pressão para autorizar a entrega de tanques Leopard 2 – também concordaram com novas assistências. Os ministros da defesa da aliança militar irão se reunir na Base Aérea de Ramstein, na Alemanha, nesta sexta-feira para coordenar a ajuda à Ucrânia.
Os novos equipamentos são vistos como um complemento ao treinamento de armas combinadas em larga escala que os soldados ucranianos recebem em uma instalação militar dos EUA na Alemanha. Dessa forma, os ucranianos terão condições de realizar ataques de maneira combinada, usando tanques, veículos blindados, artilharia e aviação, disseram autoridades americanas sob anonimato ao jornal Washington Post.
Armas para atacar a Crimeia são consideradas
Em paralelo aos novos pacotes militares, os Estados Unidos também começam a considerar a necessidade da Ucrânia de ter armas para atacar a Crimeia, segundo autoridades ouvidas sob anonimato pelo The New York Times. Anexada pela Rússia desde 2014, a península localizada entre o Mar Negro e o Mar de Azov abriga dezenas de milhares de tropas russas e numerosas bases militares.
Os EUA nunca reconheceram a anexação da Crimeia por parte da Rússia, mas se recusaram ao longo da guerra em enviar armas a Kiev que atingissem a península. De acordo com as autoridades, a avaliação do governo Biden era de que a Ucrânia deveria concentrar ataques em outras regiões do país com a presença russa. Entretanto, o governo passou a acreditar que se a Rússia se ver ameaçada no controle da Crimeia, Kiev estaria fortalecido em negociações de paz.
O envio de armas para atacar a Crimeia seria uma das ações mais ousadas dos Estados Unidos no conflito até o momento. O país tem aumentado progressivamente o nível de armas enviadas à Ucrânia, passando dos lançadores Javelins e Stingers do início da guerra para os sistemas avançados de defesa Patriot e, agora, os tanques. No entanto, o presidente Joe Biden ainda não estaria pronto para fornecer sistemas de mísseis de longo alcance que Kiev necessita para atacar as instalações russas na península, disseram as autoridades.
O governo de Volodmir Zelenski há muito insistem que a Crimeia é um alvo importante para seus ataques e que a pressão militar contínua sobre as bases russas é uma parte significativa de sua estratégia. Oficiais militares dos dois países também discutiram a importância de aumentar a pressão sobre o escalão de retaguarda da Rússia na Crimeia, que dá cobertura a operações militares em outras partes da Ucrânia.
Alerta da Rússia
A Rússia alertou o Ocidente nesta quinta-feira, 19, que a continuação de entrega de armas de longo alcance à Ucrânia não é um bom presságio para a segurança europeia. “É potencialmente muito perigoso, isso significaria que o conflito vai para um novo nível que, é claro, não é um bom presságio para a segurança europeia”, disse o porta-voz presidencial russo Dmitri Peskov.
Os russos também acusaram os militares ucranianos de realizar ataques com drones na península anexada da Crimeia e contra alvos na Rússia, a centenas de quilômetros da fronteira ucraniana.
A Rússia acredita que a entrega das armas à Ucrânia, permitirá que as tropas de Zelenski ataquem o território russo – esse também é um receio ocidental, por isso alguns países estão resistentes a enviar armamentos mais pesados, por mais que a Ucrânia afirme que não vai usar os equipamentos para atacar, e sim para se defender. /NYT, W.P.