BRASÍLIA - Os Estados Unidos pressionam o Brasil a não receber na costa brasileira dois navios de guerra do Irã. O governo brasileiro já havia autorizado, em 13 de janeiro, o atraco das embarcações iranianas Makran e Dena no Porto do Rio.
Os navios tiveram um primeiro aval para aportar entre 23 e 30 de janeiro, pouco antes da visita de Estado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a Washington, a convite do presidente americano Joe Biden. Depois, a chegada dos navios foi adiada por causa da sensibilidade diplomática. Agora a data prevista da chegada e desembarque dos tripulantes é de 26 de fevereiro a 3 de março.
O IRIS Makran é o maior navio de guerra da frota naval iraniana, um antigo navio petroleiro convertido em base expedicionária, serve como plataforma para múltiplos empregos. Ele opera com helicópteros, por exemplo. O IRIS Dena é uma fragata leve fabricada no país, equipada com canhões e capaz de disparar misseis e torpedos.
A movimentação no Atlântico Sul preocupa os Estados Unidos. É uma demonstração de força naval do Irã, por meio do deslocamento da 86ª flotilha, iniciada em setembro de 2022. Eles seguem para o Canal do Panamá.
Poder naval
Autoridades iranianas no Brasil e em Teerã têm enfatizado a necessidade de aumentar seu poder militar e presença marítima internacional, seguindo orientações do aitaolá Ali Khamenei, líder supremo do país. O comandante da Marinha do Irã, almirante Shahram Irani, disse que as forças navais estão em “alto nível” de poder e com “presença ativa” em águas internacionais e distantes, reportou nesta quinta-feira, dia 16, a agência iraniana Tasnim. Em janeiro, ele anunciou o envio da flotilha para águas na América Latina.
A nova embaixadora dos Estados Unidos no Brasil, Elizabeth Bagley, sugeriu que o governo brasileiro não deve dar nenhum aval aos navios de guerra do Irã. Ela negou que o assunto tenha sido discutido entre Lula e Biden na Casa Branca, mas confirmou que o Departamento de Estado levou a questão para análise do governo brasileiro, por meio do Itamaraty.
“Estamos muito preocupados. Esses navios facilitaram comércio ilegal e atividades terroristas no passado. Eles receberam sanções multilaterais das Nações Unidas há alguns anos, por isso acreditamos que esses navios não devem atracar em qualquer lugar. A nossa posição é clara”, disse a embaixadora, na quarta-feira, dia 15, durante sua primeira entrevista à imprensa.
Elizabeth Bagley reconheceu os laços diplomáticos entre Brasil e Irã, mas voltou a apresentar argumentos para que o governo Lula rejeite o pedido de atraco. Segundo ela, nenhum país do Ocidente aceitou a requisição iraniana. “Até agora, nenhum país do hemisfério aceitou”, afirmou Bagley.
A permissão havia solicitada e obtida pela Embaixada do Irã em Brasília, no momento em que países celebram 120 anos de relações diplomáticas. Os navios também passaram recentemente por outros países, numa volta ao mundo, como a Indonésia. O trajeto é acompanhado por países aliados dos Estados Unidos.
Embora haja pressão e monitoramento estrangeiros, fontes diplomáticas do Itamaraty dizem que o governo manteve a janela de permissão aos navios iranianos - eles poderão trafegar em águas brasileiras e ancorar no Rio. É uma decisão soberana de dois países, argumentou um diplomata.
O Brasil não reconhece sanções unilaterais dos Estados Unidos, mas elas causam embaraços. Durante o governo Jair Bolsonaro, dois navios cargueiros de bandeira iraniana, que trouxeram ureia ao Brasil e retornariam ao país com milho, passaram mais de um mês atracados na costa brasileira e só foram reabastecidos pela Petrobras após decisão do Supremo Tribunal Federal. Havia o temor de que as sanções recaíssem sobre a estatal petrolífera.