WASHINGTON - O governo dos Estados Unidos e seus aliados condenaram nesta segunda-feira, 19, as atividades cibernéticas da China e acusaram o governo chinês de realizar operações de extorsão contra suas empresas, assim como de ameaçar sua segurança, por meio de operações maliciosas. Em declarações divulgadas de forma simultânea, Estados Unidos, União Europeia (UE) e Reino Unido responsabilizaram a China pela ciberinvasão em massa, em março, contra o serviço de mensagens Exchange, do grupo Microsoft. "A China tem um comportamento irresponsável, disruptivo e desestabilizador no ciberespaço, que representa uma grande ameaça para a economia e para a segurança" dos Estados Unidos e de seus parceiros, afirmou o secretário de Estado americano, Antony Blinken, em um comunicado.
Um tom similar foi adotado pelo Reino Unido. "O governo chinês deve pôr fim à sua cibersabotagem sistemática e deve ser responsabilizado, caso não o faça", disse, por sua vez, o ministro britânico das Relações Exteriores, Dominic Raab. A mensagem americana foi reforçada mais tarde com a declaração do presidente Joe Biden acusando a China de proteger os autores de ataques cibernéticos contra empresas. "O que eu sei é que o governo chinês, como o governo russo, não está cometendo (ciberataques) por conta própria, mas está protegendo aqueles que estão fazendo isso, e talvez até permitindo que eles o façam", disse Biden a repórteres na Casa Branca. Segundo os Estados Unidos, a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) e os governos de Japão, Canadá, Austrália e Nova Zelândia se somaram a enérgica condenação dos aliados, que não é acompanhada de anúncios de sanções, nem de represálias. Já a Otan emitiu uma declaração mais cautelosa, afirmando que tomou nota das declarações americanas e britânicas sobre a China e expressou sua "solidariedade". "Fazemos um apelo a todos os Estados, incluindo a China, que respeitem suas obrigações (...) inclusive no ciberespaço", disse a nota. Segundo Washington, o governo chinês usa hackers para lançar ataques no mundo todo. A Justiça americana também divulgou a acusação contra quatro hackers chineses. Entre eles, estão três agentes do Ministério de Segurança do Estado, acusados de terem invadido os sistemas de empresas, universidades e governo entre 2011 e 2018 para roubar dados e tecnologia. Em muitos países, como Alemanha e Indonésia, as informações roubadas estavam relacionadas, em particular, com veículos autônomos, fórmulas químicas, ou tecnologias de cadeia genética, descreve o Departamento de Justiça dos Estados Unidos. Os ataques de ransomware, que implicam o bloqueio dos dados nos servidores das vítimas e, depois, a cobrança de resgate para restaurar o acesso, estão se tornando cada vez mais frequentes. Recentemente, grandes empresas americanas foram vítimas deles, embora, nestes casos específicos, afirme-se que os responsáveis seriam, sobretudo, hackers ligados à Rússia.
Preocupação com hackers
Na semana passada, Washington ofereceu recompensas de até US$ 10 milhões por informações sobre as identidades dos hackers estrangeiros, na esperança de conter os ataques de ransomware. Especialistas americanos acreditam que muitos deles tenham-se originado na Rússia, embora o grau de participação de Moscou seja alvo de debate. O governo russo nega qualquer envolvimento. Até agora, a maioria dos ataques de ransomware foram atribuídos a operadores do Leste Europeu e da Coreia do Norte. Agora, os EUA acusam o governo chinês não só de liderar operações cibernéticas maliciosas, mas também de contratar mercenários, segundo uma fonte do governo. Devido ao grande número de vítimas em todo o mundo, a atribuição formal do governo americano só veio depois que os EUA alcançaram um alto nível de confiança na fonte do ataque hacker e o anúncio pôde ser feito em conjunto com os aliados, segundo afirmou a fonte./AFP e W.Post