O Pentágono, em uma mudança de política significativa, disse na quarta-feira que enviará tanques M1 Abrams para a Ucrânia no segundo semestre, depois de enfrentar críticas de parlamentares por dizer que poderia levar um ou dois anos para obter as armas e levá-las ao campo de batalha.
O novo plano prevê a reforma de cascos de tanques que já estão no arsenal dos EUA, disseram autoridades. O presidente americano Joe Biden, sob pressão cada vez maior das autoridades ucranianas, concordou em janeiro em prometer 31 tanques M1 Abrams como parte de um acordo de longo prazo que deu cobertura política aos líderes alemães para que eles pudessem aprovar o fornecimento imediato de tanques de batalha Leopard.
O general Patrick Ryder, porta-voz do Pentágono, disse que quando os Estados Unidos prometeram fornecer o Abrams à Ucrânia, a intenção era fornecer sua variante mais avançada, o M1A2. Mas, disse ele, as autoridades continuaram “explorando opções para entregar os tanques o mais rápido possível” e decidiram reformar variantes M1A1 mais antigas, permitindo entrega acelerada.
“Trata-se de colocar essa importante capacidade de combate nas mãos dos ucranianos o mais cedo possível”, disse Ryder a repórteres durante uma coletiva de imprensa. Ambas as versões do tanque possuem um canhão de 120 mm e metralhadoras, enquanto o M1A2 normalmente também inclui controles digitais, sensores aprimorados e um visualizador térmico para o comandante do tanque.
Ryder se recusou a especificar na terça-feira onde a reforma ocorrerá, mas funcionários familiarizados com o trabalho disseram que antecipam que ocorrerá em uma instalação de propriedade do governo em Lima, Ohio. A General Dynamics Land Systems opera a planta, a única fábrica de tanques nos EUA.
A revelação do Pentágono ocorreu quando o presidente russo, Vladimir Putin, e o líder chinês, Xi Jinping, conversam em Moscou, onde os dois líderes prometeram aprofundar os laços. A reunião acompanhada de perto alimentou a preocupação nos Estados Unidos e na Europa de que Pequim ajudará com armas o Kremlin, cujas Forças Armadas continuam sofrendo perdas em massa na Ucrânia. A indústria de Defesa russa está prejudicada por sanções ocidentais, e luta para reabastecer armas destruídas ou gastas.
Para Entender
O secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, disse a repórteres em Bruxelas na terça-feira que não viu nenhuma prova de que a China está entregando armas à Rússia, mas disse que há sinais de que a Rússia as solicitou e que Pequim está considerando fazê-lo.
Em Washington, um grupo bipartidário de senadores instou o Pentágono a realizar uma avaliação “urgente e abrangente” do que seria necessário para combater a Rússia na Europa caso um conflito entre as potências nucleares eclodisse.
Os legisladores citaram as extensas perdas de combate da Rússia, estimadas em quase 200.000 mortos e feridos, e o plano atual do Departamento de Defesa para avaliar suas necessidades em 2026.
“Simplificando, as Forças Armadas ucranianas degradaram significativamente as forças convencionais da Rússia no ano passado”, disse a carta bipartidária dos parlamentares enviada ao secretário de Defesa Lloyd Austin.
Os senadores acrescentaram que as sanções ocidentais limitaram a capacidade de Moscou de reconstruir suas forças convencionais e que as autoridades do Pentágono costumam citar avaliações que podem estar desatualizadas como justificativa para não fornecer aos militares da Ucrânia certas capacidades adicionais.
“As Forças Armadas da Rússia não são as mesmas de 2021 e não mostram sinais de retornar ao estado pré-invasão no curto prazo”, escreveram os senadores. “Nossos requisitos de combate devem refletir essa nova realidade – não em 2026, mas agora.”
O Pentágono não respondeu imediatamente às perguntas sobre a carta dos senadores. O novo cronograma do governo para a transferência de tanques para a Ucrânia segue comentários públicos de algumas autoridades que indicaram que uma série de opções estava sendo avaliada. A secretária do Exército, Christine Wormuth, disse a repórteres em fevereiro que todos os planos em consideração levariam meses para serem concluídos. Um fator, disse ela, é que alguns aliados já têm acordos para comprar tanques Abrams dos Estados Unidos.
“Algumas [opções] poderiam presumivelmente levar os tanques aos ucranianos mais rapidamente, mas podem, você sabe, interromper as relações com aliados e parceiros importantes”, disse Wormuth. “Então, estamos colocando tudo isso na mesa.”
O governo Biden primeiro negou o pedido de tanques de Zelenski, observando que o Abrams cria um enorme fardo logístico no campo de batalha, em vez de fornecer veículos de combate Bradley e Stryker e sugerindo que faria sentido para os alemães fornecerem seu tanque Leopard, menor. No que se tornou um padrão ao avaliar as necessidades do campo de batalha da Ucrânia, Biden acabou cedendo, avaliando que a questão não seria resolvida sem o compromisso americano de envio de tanques.
Uma conversa semelhante já dura meses sobre o fornecimento de caças à Ucrânia. As autoridades ucranianas pediram repetidamente caças F-16 de fabricação americana, mas o governo Biden avaliou que fornecê-los agora não faz sentido, considerando o treinamento e a manutenção de que precisam e a ameaça significativa representada pelos mísseis terra-ar russos.
Na semana passada, a Polônia e a Eslováquia, ambas aliadas da Otan, anunciaram que forneceriam caças MiG-29 à Ucrânia. Autoridades dos EUA disseram que enviar MiGs para a Ucrânia faz mais sentido porque eles já estão familiarizados com a aeronave e que a resposta sobre o fornecimento de F-16s não mudou.
“Os tanques Abrams são os tanques mais capazes do mundo. [Mas] Eles também são complexos de se operar e de se manter”, disse Biden durante um pronunciamento à imprensa na Casa Branca, acrescentando que os EUA também enviarão para os parceiros em Kiev as peças e equipamentos necessários para colocar os tanques em funcionamento.
A expectativa da Ucrânia é de que os tanques ocidentais possam ser empregados imediatamente em combate, porém os tanques americanos não devem se juntar, inicialmente, aos 14 Leopard 2 e aos 14 Challenger 2, do Reino Unido - e às centenas de veículos blindados americanos prometidos na semana passada pelos EUA e por outros aliados europeus. Segundo o anúncio de Biden, isso pode demorar mais do que o esperado.
M1 Abrams
O tanque M1 Abrams está entre as armas terrestres mais poderosas do arsenal dos EUA, capaz de se aproximar de tanques inimigos, posições de tropas e outros alvos, explodi-los com seus canhões e metralhadoras.
A blindagem pesada do tanque protege o veículo e sua tripulação de quatro pessoas contra tiros de armas leves, fragmentos de projéteis e até mesmo alguns impactos diretos. Pode passar por águas de até 1,3 metros de profundidade. “A missão fundamental do pelotão de tanques é fechar e destruir o inimigo”, diz a primeira frase de um documento de treinamento de 2019 para comandantes de tanques do Exército e do Corpo de Fuzileiros Navais.
Nomeado em homenagem ao general Creighton Abrams, um comandante de tanques da 2ª Guerra, o primeiro Abrams entrou em serviço no Exército dos EUA em 1980. Destinado inicialmente a combater os soviéticos na estratégica Fulda Gap da Alemanha, o Abrams foi atualizado várias vezes com um canhão maior e melhorias em sua blindagem e transmissão.
Ao longo dos anos, o Pentágono comprou mais de 7.000 tanques em várias configurações, de acordo com o Serviço de Pesquisa do Congresso, um braço de pesquisa da Biblioteca do Congresso.
O Abrams entrou em ação pela primeira vez na Guerra do Golfo, onde ganhou muitos elogios de comandantes, tripulações e trabalhadores de manutenção por seu poder de fogo e resistência em face dos ataques inimigos, e por sua velocidade.
Os tanques ajudaram os militares dos EUA a dominar as forças iraquianas durante a invasão do Iraque em 2003 e em ataques apoiados e outras operações em Fallujah e em outros lugares. Os tanques também serviram no Afeganistão, onde uma companhia blindada do Corpo de Fuzileiros Navais foi implementada em 2011 e teve apenas um único ferido em ação durante sua viagem, apesar de ter recebido 19 ataques de IED, de acordo com um artigo do jornal do Exército Military Review./ AP, NYT e WPOST