Os Estados Unidos vão adiar as novas sanções contra o grupo Wagner, entidade paramilitar que incitou um confronto contra o Kremlin, na Rússia na sexta-feira, 23. Segundo o Wall Street Journal, a decisão se baseia no receio de inadvertidamente ficar do lado do líder russo Vladimir Putin.
O Departamento de Estado pretendia anunciar novas designações nos negócios de ouro de Wagner na África na terça-feira, 27, incluindo uma operação de mineração montada pelo grupo na República Centro-Africana, disseram ao WSJ pessoas familiarizadas com o assunto. “Washington não quer parecer estar tomando partido nisso”, relatou a fonte ao jornal norte-americano.
O chefe do Grupo Wagner, Ievegni Prigozhin, é alvo de sanções dos EUA há anos, acusado de interferir em pleitos americanos, incluindo as presidenciais de 2016, vencidas pelo ex-presidente Donald Trump. Em janeiro deste ano, os EUA anunciaram que iriam impor sanções contra o grupo Wagner designando-o como uma organização criminosa transacional significativa, por, na época, estar envolvido em operações de combate apoiadas pelo Kremlin e apoiar a guerra da Rússia contra a Ucrânia. Em maio, o país também sancionou Ivan Aleksandrovich Maslov, chefe das unidades paramilitares do grupo Wagner.
Autoridades dos EUA disseram neste sábado que estavam observando de perto a situação na Rússia, mas que não quiseram falar nada publicamente que pudesse dar ao presidente russo, Vladimir Putin, motivos para culpar os Estados Unidos ou aliados ocidentais pela turbulência. “Estamos monitorando a situação e consultaremos aliados e parceiros sobre esses desenvolvimentos”, disse Adam Hodge, porta-voz do Conselho de Segurança Nacional, na noite de sexta-feira, 23.
Em particular, no entanto, autoridades dos EUA disseram que a rebelião, liderada por Prigozhin, enfraqueceu a posição de Putin e injetou novas incertezas potencialmente perigosas nas negociações de Washington com Moscou. A situação é ruim para Putin em qualquer cenário, disse um alto funcionário do governo, que falou sob condição de anonimato para discutir a rápida evolução da situação de segurança.
Qualquer ameaça direta ao poder de Putin depende do apoio dos principais comandantes russos e oficiais de segurança, como o general Sergei Surovikin, vice-comandante da campanha da Rússia na Ucrânia, e Alexander Bortnikov, chefe de espionagem doméstica da Rússia, disse o funcionário. Na sexta-feira, Surovikin pediu aos combatentes de Wagner que desistissem de sua oposição à liderança militar e retornassem às suas bases. “Peço que parem”, disse ele em uma mensagem de vídeo postada no Telegram. “O inimigo está apenas esperando que a situação política interna piore em nosso país.”
Biden em silêncio
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, falou ao telefone, neste sábado, 24, com os líderes da França, Emmanuel Macron, da Alemanha, Olaf Scholz, e do Reino Unido, Rishi Sunak, para discutir a situação na Rússia. Eles “afirmaram seu apoio inabalável à Ucrânia”, disse, em comunicado, a Casa Branca.
Em declaração separada, a Casa Branca disse nesta manhã que as equipes de segurança nacional informaram Biden e a vice-presidente, Kamala Harris, “sobre os últimos desenvolvimentos na Rússia” e que ambos “continuarão a receber informações ao longo do dia”.
Biden, que estava com uma viagem planejada para Camp David, atrasou em mais de uma hora sua planejada saída da Casa Branca na manhã deste sábado. Ao deixar o local, ele não atendeu as perguntas feitas pela imprensa ao embarcar no helicóptero Marine One na Base Conjunta Andrews com Hunter Biden.
Mesmo depois do recuo ordenado pelo chefe do Grupo Wagner, Ievegni Prigozhin, que ordenou que seus mercenários interrompessem o deslocamento para Moscou e retornassem para as suas posições na Ucrânia para evitar um derramamento de sangue, o presidente dos EUA segue sem se manifestar sobre o conflito interno da Rússia./Com NYT.