Visita do presidente filipino à Casa Branca reflete forte retomada nos laços


Após encontro entre Joe Biden e Ferdinand Marcos Jr., presidência americana anunciou o envio de aviões e navios militares às Filipinas para fortalecer as Forças Armadas do país asiático e combater as ambições expansionistas de Pequim

Por Redação
Atualização:

WASHINGTON - O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, reiterou o compromisso de Washington com a segurança das Filipinas e observou a “profunda amizade” das duas nações ao receber o presidente filipino, Ferdinand Marcos Jr., nesta segunda-feira, 1º. Após a reunião dos dois, a Casa Branca anunciou o envio de aviões e navios militares às Filipinas para fortalecer as Forças Armadas do país asiático e combater as ambições expansionistas de Pequim no Mar do Sul da China.

O encontro marca o início a uma semana de compromissos de alto escalão selando uma reviravolta em uma relação que saiu do congelamento em um tempo surpreendentemente curto. Em menos de um ano, Marcos, filho do falecido ditador deposto em 1986, visivelmente simpatizou com Washington e concordou em permitir que os militares americanos não apenas mantivessem a presença nas bases filipinas, como também ganhassem acesso a quatro novos locais. A medida visa ajudar as Filipinas a defender melhor suas águas e se tornar um parceiro mais capaz de dissuadir a China no Mar da China Meridional.

Pequim considerou o novo acordo uma “provocação” e o embaixador chinês em Manila, Huang Xilian, aumentou as tensões em 14 de abril, sugerindo que as Filipinas “deveriam se preocupar com a segurança” dos mais de 150 mil filipinos que vivem em Taiwan.

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O presidente das Filipinas, Ferdinand Marcos Jr. (E), é recebido por Joe Biden em Washington  Foto: Michael Reynolds/EFE - 1º/5/2023

O antecessor de Marcos, Rodrigo Duterte, por outro lado, prometera distanciar Manila de Washington e alinhar-se mais estreitamente com Pequim, ameaçando encerrar um acordo que dava proteção legal aos militares americanos no país e rejeitando a oferta do presidente Donald Trump de visitar a Casa Branca. No final de sua presidência no ano passado, como o flerte de Duterte com Pequim não produzira resultados, ele estava se aproximando de Washington.

Modernização das forças

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A presidência americana anunciou uma série de ações para modernizar as Forças Armadas filipinas e melhorar sua capacidade de realizar exercícios marítimos, uma área na qual o Exército Popular de Libertação da China está investindo pesadamente.

Entre as medidas, a Casa Branca anunciou a transferência de três aeronaves C-130 e duas embarcações de patrulha costeira para as Filipinas. Os dois países também disseram que adotaram diretrizes de defesa destinadas a aprofundar a cooperação entre as forças armadas das duas nações em terra, mar, ar, espaço e ciberespaço.

Mais cedo, fontes do governo americano disseram que as embarcações de patrulha em discussão era as do tipo Cyclone, cuja transferência foi aprovada no início deste mês. Os navios Cyclone foram usados, por exemplo, durante a Guerra do Iraque, em 2003, mas desde então a Marinha dos EUA os retirou de seus portos, de modo que os últimos estão sendo vendidos a países como Filipinas, Egito e Bahrein.

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O presidente das Filipinas, Ferdinand Marcos Jr., acena ao lado de um M142 High Mobility Artillery Rocket System (HIMARS) dos EUA durante um exercício conjunto combinado Foto: AP Photo/Aaron Favila

Além da transferência de equipamentos militares, o governo americano disse que está lançando uma nova missão comercial focada em aumentar o investimento dos EUA na economia de inovação das Filipinas, novos programas educacionais e muito mais.

Desde que se tornou presidente em julho, Marcos tem testemunhado ações cada vez mais coercitivas de Pequim na região, desde a coação contínua a pescadores filipinos em suas próprias águas territoriais até o uso de lasers para cegar temporariamente uma tripulação da guarda costeira filipina. Na semana passada, um navio da guarda costeira chinesa cruzou o caminho de um navio filipino e quase causou uma colisão.

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Agora Marcos está empenhado em fortalecer os laços de segurança com os EUA, com base em um tratado de defesa mútua de 70 anos. “Paramos de falar sobre quanto dano está sendo causado ao relacionamento e começamos a falar sobre quanto estamos avançando”, disse Zack Cooper, membro sênior do American Enterprise Institute.

Atraso no relacionamento econômico

Embora o progresso na área militar tenha sido notável, o relacionamento econômico mais amplo está atrasado, dizem os analistas, e Marcos precisa mostrar melhorias se quiser manter o apoio político para uma parceria de segurança mais profunda com os EUA.

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“A aliança não vai funcionar se os EUA não fornecerem mais assistência às Filipinas para desenvolvimento econômico, segurança alimentar e segurança energética”, disse Gregory Poling, diretor do programa de Sudeste Asiático no Center for Strategic and International Studies. “São as principais prioridades de todo filipino. Marcos precisa defender a ideia de que um relacionamento mais próximo trará benefícios tangíveis”.

Com esse objetivo, o governo Biden está revelando esta semana algumas reuniões e iniciativas de alto escalão, entre elas o envio de uma missão presidencial de comércio e investimento às Filipinas, que será liderada por um alto funcionário do Departamento de Comércio. Na quarta-feira, Marcos, seu ministro da economia e assessores se reunirão com executivos de pelo menos uma dúzia de empresas americanas dos setores de energia, bancos, saúde, varejo, seguros e tecnologia digital.

Um alto funcionário do governo disse que Marcos – cuja família tem laços históricos com a China desde a visita de seu pai a Mao Tsé-Tung em Pequim, em 1974 – tem “um forte desejo de trabalhar de perto” tanto com os EUA quanto com a China e “não está tentando se posicionar em um papel intermediário”. A China é o maior parceiro comercial das Filipinas.

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Alguns representantes empresariais americanos estão otimistas com as perspectivas de laços econômicos mais fortes. “As ações dos últimos nove meses deixaram claro que as Filipinas querem um relacionamento maior conosco – não apenas em segurança, mas um relacionamento econômico mais profundo”, disse Ted Osius, presidente e CEO do Conselho Empresarial US-ASEAN. “Vejo uma quantidade enorme de energia neste relacionamento que não existia um ano atrás.”

Mas a importância da parceria de segurança é ainda maior, dizem os analistas. Os países estão negociando novas diretrizes bilaterais de defesa – não tão espalhafatosas quanto o acesso expandido a locais militares, mas igualmente relevantes, talvez ainda mais. Essas diretrizes estabelecem antecipadamente quem faz o quê em caso de conflito. “Se a China atirar em um navio filipino, o que faremos para ativar essa defesa mútua?”, explica Poling.

Os EUA adotaram diretrizes de defesa com outros aliados, como o Japão. Mas, no início dos anos 90, depois que as Filipinas fecharam as bases militares americanas no país e a União Soviética se dissolveu, a aliança militar estagnou, disse Poling.

“O aumento da coerção chinesa no Mar da China Meridional mudou o panorama e fez as Filipinas entenderem, pela primeira vez em muito tempo, que enfrentam uma ameaça externa e que vale a pena implementar o tratado de defesa mútua”, disse ele. “De sua parte, os EUA parecem perceber que, ao contrário do que acontecia na Guerra Fria, agora eles precisam fazer com que o tratado seja mútuo de verdade. As Filipinas devem ser um parceiro, não apenas um lugar cujas bases podemos usar”.

Para os filipinos, aliança é positiva

Em geral, os habitantes das Filipinas, que já foi colônia dos EUA, veem a aliança de forma positiva, dizem os analistas. A população sente que um tratado de defesa mútua com Washington é a “política mais pragmática” quando se trata do Mar da China Meridional, disse Herman Kraft, professor de ciências políticas da Universidade das Filipinas.

Uma questão em aberto, no entanto, é se o compromisso americano de vir em defesa de Manila entrará em prática se as ações, mesmo que coercitivas, não chegarem ao nível de um ato de guerra. “Acho que o que estamos perguntando, pelo menos em parte, é se os americanos estão realmente dispostos a combater essas táticas de ‘zona cinzenta’ da China, ações que, em grande medida, ficam aquém do conflito armado”, disse Kraft.

Marcos Jr. (E) e Biden na Casa Branca; para analistas, relacionamento econômico mais amplo ainda está atrasado Foto: Carolyn Kaster/AP - !º/5/2023

Os formuladores de políticas filipinos, disse Kraft, estão mais cautelosos quanto às implicações do acesso expandido a locais militares. Três deles se encontram no norte de Luzon, o que pode ter valor estratégico para os EUA na defesa de Taiwan em um conflito com a China. As autoridades americanas se recusaram a dizer se usariam o acesso à base nessas circunstâncias.

Nas Filipinas, disse Kraft, “há uma sensação de que basicamente não queremos ser arrastados para um conflito com a China por causa de Taiwan”. Ele acrescentou: “Na verdade, é um dilema para Manila: pedir garantias claras sobre quando os compromissos de segurança dos EUA serão acionados, mas ao mesmo tempo não querer se envolver em outros compromissos de segurança dos americanos”.

Autoridades do governo disseram que o diálogo está em curso. “Sempre houve áreas cinzentas no tratado de segurança entre os EUA e as Filipinas”, como o que constitui o território filipino, disse uma autoridade. “O objetivo aqui é estreitar essas questões de definição e apresentar uma frente unida aos chineses.” /EFE e WPOST

WASHINGTON - O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, reiterou o compromisso de Washington com a segurança das Filipinas e observou a “profunda amizade” das duas nações ao receber o presidente filipino, Ferdinand Marcos Jr., nesta segunda-feira, 1º. Após a reunião dos dois, a Casa Branca anunciou o envio de aviões e navios militares às Filipinas para fortalecer as Forças Armadas do país asiático e combater as ambições expansionistas de Pequim no Mar do Sul da China.

O encontro marca o início a uma semana de compromissos de alto escalão selando uma reviravolta em uma relação que saiu do congelamento em um tempo surpreendentemente curto. Em menos de um ano, Marcos, filho do falecido ditador deposto em 1986, visivelmente simpatizou com Washington e concordou em permitir que os militares americanos não apenas mantivessem a presença nas bases filipinas, como também ganhassem acesso a quatro novos locais. A medida visa ajudar as Filipinas a defender melhor suas águas e se tornar um parceiro mais capaz de dissuadir a China no Mar da China Meridional.

Pequim considerou o novo acordo uma “provocação” e o embaixador chinês em Manila, Huang Xilian, aumentou as tensões em 14 de abril, sugerindo que as Filipinas “deveriam se preocupar com a segurança” dos mais de 150 mil filipinos que vivem em Taiwan.

O presidente das Filipinas, Ferdinand Marcos Jr. (E), é recebido por Joe Biden em Washington  Foto: Michael Reynolds/EFE - 1º/5/2023

O antecessor de Marcos, Rodrigo Duterte, por outro lado, prometera distanciar Manila de Washington e alinhar-se mais estreitamente com Pequim, ameaçando encerrar um acordo que dava proteção legal aos militares americanos no país e rejeitando a oferta do presidente Donald Trump de visitar a Casa Branca. No final de sua presidência no ano passado, como o flerte de Duterte com Pequim não produzira resultados, ele estava se aproximando de Washington.

Modernização das forças

A presidência americana anunciou uma série de ações para modernizar as Forças Armadas filipinas e melhorar sua capacidade de realizar exercícios marítimos, uma área na qual o Exército Popular de Libertação da China está investindo pesadamente.

Entre as medidas, a Casa Branca anunciou a transferência de três aeronaves C-130 e duas embarcações de patrulha costeira para as Filipinas. Os dois países também disseram que adotaram diretrizes de defesa destinadas a aprofundar a cooperação entre as forças armadas das duas nações em terra, mar, ar, espaço e ciberespaço.

Mais cedo, fontes do governo americano disseram que as embarcações de patrulha em discussão era as do tipo Cyclone, cuja transferência foi aprovada no início deste mês. Os navios Cyclone foram usados, por exemplo, durante a Guerra do Iraque, em 2003, mas desde então a Marinha dos EUA os retirou de seus portos, de modo que os últimos estão sendo vendidos a países como Filipinas, Egito e Bahrein.

O presidente das Filipinas, Ferdinand Marcos Jr., acena ao lado de um M142 High Mobility Artillery Rocket System (HIMARS) dos EUA durante um exercício conjunto combinado Foto: AP Photo/Aaron Favila

Além da transferência de equipamentos militares, o governo americano disse que está lançando uma nova missão comercial focada em aumentar o investimento dos EUA na economia de inovação das Filipinas, novos programas educacionais e muito mais.

Desde que se tornou presidente em julho, Marcos tem testemunhado ações cada vez mais coercitivas de Pequim na região, desde a coação contínua a pescadores filipinos em suas próprias águas territoriais até o uso de lasers para cegar temporariamente uma tripulação da guarda costeira filipina. Na semana passada, um navio da guarda costeira chinesa cruzou o caminho de um navio filipino e quase causou uma colisão.

Agora Marcos está empenhado em fortalecer os laços de segurança com os EUA, com base em um tratado de defesa mútua de 70 anos. “Paramos de falar sobre quanto dano está sendo causado ao relacionamento e começamos a falar sobre quanto estamos avançando”, disse Zack Cooper, membro sênior do American Enterprise Institute.

Atraso no relacionamento econômico

Embora o progresso na área militar tenha sido notável, o relacionamento econômico mais amplo está atrasado, dizem os analistas, e Marcos precisa mostrar melhorias se quiser manter o apoio político para uma parceria de segurança mais profunda com os EUA.

“A aliança não vai funcionar se os EUA não fornecerem mais assistência às Filipinas para desenvolvimento econômico, segurança alimentar e segurança energética”, disse Gregory Poling, diretor do programa de Sudeste Asiático no Center for Strategic and International Studies. “São as principais prioridades de todo filipino. Marcos precisa defender a ideia de que um relacionamento mais próximo trará benefícios tangíveis”.

Com esse objetivo, o governo Biden está revelando esta semana algumas reuniões e iniciativas de alto escalão, entre elas o envio de uma missão presidencial de comércio e investimento às Filipinas, que será liderada por um alto funcionário do Departamento de Comércio. Na quarta-feira, Marcos, seu ministro da economia e assessores se reunirão com executivos de pelo menos uma dúzia de empresas americanas dos setores de energia, bancos, saúde, varejo, seguros e tecnologia digital.

Um alto funcionário do governo disse que Marcos – cuja família tem laços históricos com a China desde a visita de seu pai a Mao Tsé-Tung em Pequim, em 1974 – tem “um forte desejo de trabalhar de perto” tanto com os EUA quanto com a China e “não está tentando se posicionar em um papel intermediário”. A China é o maior parceiro comercial das Filipinas.

Alguns representantes empresariais americanos estão otimistas com as perspectivas de laços econômicos mais fortes. “As ações dos últimos nove meses deixaram claro que as Filipinas querem um relacionamento maior conosco – não apenas em segurança, mas um relacionamento econômico mais profundo”, disse Ted Osius, presidente e CEO do Conselho Empresarial US-ASEAN. “Vejo uma quantidade enorme de energia neste relacionamento que não existia um ano atrás.”

Mas a importância da parceria de segurança é ainda maior, dizem os analistas. Os países estão negociando novas diretrizes bilaterais de defesa – não tão espalhafatosas quanto o acesso expandido a locais militares, mas igualmente relevantes, talvez ainda mais. Essas diretrizes estabelecem antecipadamente quem faz o quê em caso de conflito. “Se a China atirar em um navio filipino, o que faremos para ativar essa defesa mútua?”, explica Poling.

Os EUA adotaram diretrizes de defesa com outros aliados, como o Japão. Mas, no início dos anos 90, depois que as Filipinas fecharam as bases militares americanas no país e a União Soviética se dissolveu, a aliança militar estagnou, disse Poling.

“O aumento da coerção chinesa no Mar da China Meridional mudou o panorama e fez as Filipinas entenderem, pela primeira vez em muito tempo, que enfrentam uma ameaça externa e que vale a pena implementar o tratado de defesa mútua”, disse ele. “De sua parte, os EUA parecem perceber que, ao contrário do que acontecia na Guerra Fria, agora eles precisam fazer com que o tratado seja mútuo de verdade. As Filipinas devem ser um parceiro, não apenas um lugar cujas bases podemos usar”.

Para os filipinos, aliança é positiva

Em geral, os habitantes das Filipinas, que já foi colônia dos EUA, veem a aliança de forma positiva, dizem os analistas. A população sente que um tratado de defesa mútua com Washington é a “política mais pragmática” quando se trata do Mar da China Meridional, disse Herman Kraft, professor de ciências políticas da Universidade das Filipinas.

Uma questão em aberto, no entanto, é se o compromisso americano de vir em defesa de Manila entrará em prática se as ações, mesmo que coercitivas, não chegarem ao nível de um ato de guerra. “Acho que o que estamos perguntando, pelo menos em parte, é se os americanos estão realmente dispostos a combater essas táticas de ‘zona cinzenta’ da China, ações que, em grande medida, ficam aquém do conflito armado”, disse Kraft.

Marcos Jr. (E) e Biden na Casa Branca; para analistas, relacionamento econômico mais amplo ainda está atrasado Foto: Carolyn Kaster/AP - !º/5/2023

Os formuladores de políticas filipinos, disse Kraft, estão mais cautelosos quanto às implicações do acesso expandido a locais militares. Três deles se encontram no norte de Luzon, o que pode ter valor estratégico para os EUA na defesa de Taiwan em um conflito com a China. As autoridades americanas se recusaram a dizer se usariam o acesso à base nessas circunstâncias.

Nas Filipinas, disse Kraft, “há uma sensação de que basicamente não queremos ser arrastados para um conflito com a China por causa de Taiwan”. Ele acrescentou: “Na verdade, é um dilema para Manila: pedir garantias claras sobre quando os compromissos de segurança dos EUA serão acionados, mas ao mesmo tempo não querer se envolver em outros compromissos de segurança dos americanos”.

Autoridades do governo disseram que o diálogo está em curso. “Sempre houve áreas cinzentas no tratado de segurança entre os EUA e as Filipinas”, como o que constitui o território filipino, disse uma autoridade. “O objetivo aqui é estreitar essas questões de definição e apresentar uma frente unida aos chineses.” /EFE e WPOST

WASHINGTON - O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, reiterou o compromisso de Washington com a segurança das Filipinas e observou a “profunda amizade” das duas nações ao receber o presidente filipino, Ferdinand Marcos Jr., nesta segunda-feira, 1º. Após a reunião dos dois, a Casa Branca anunciou o envio de aviões e navios militares às Filipinas para fortalecer as Forças Armadas do país asiático e combater as ambições expansionistas de Pequim no Mar do Sul da China.

O encontro marca o início a uma semana de compromissos de alto escalão selando uma reviravolta em uma relação que saiu do congelamento em um tempo surpreendentemente curto. Em menos de um ano, Marcos, filho do falecido ditador deposto em 1986, visivelmente simpatizou com Washington e concordou em permitir que os militares americanos não apenas mantivessem a presença nas bases filipinas, como também ganhassem acesso a quatro novos locais. A medida visa ajudar as Filipinas a defender melhor suas águas e se tornar um parceiro mais capaz de dissuadir a China no Mar da China Meridional.

Pequim considerou o novo acordo uma “provocação” e o embaixador chinês em Manila, Huang Xilian, aumentou as tensões em 14 de abril, sugerindo que as Filipinas “deveriam se preocupar com a segurança” dos mais de 150 mil filipinos que vivem em Taiwan.

O presidente das Filipinas, Ferdinand Marcos Jr. (E), é recebido por Joe Biden em Washington  Foto: Michael Reynolds/EFE - 1º/5/2023

O antecessor de Marcos, Rodrigo Duterte, por outro lado, prometera distanciar Manila de Washington e alinhar-se mais estreitamente com Pequim, ameaçando encerrar um acordo que dava proteção legal aos militares americanos no país e rejeitando a oferta do presidente Donald Trump de visitar a Casa Branca. No final de sua presidência no ano passado, como o flerte de Duterte com Pequim não produzira resultados, ele estava se aproximando de Washington.

Modernização das forças

A presidência americana anunciou uma série de ações para modernizar as Forças Armadas filipinas e melhorar sua capacidade de realizar exercícios marítimos, uma área na qual o Exército Popular de Libertação da China está investindo pesadamente.

Entre as medidas, a Casa Branca anunciou a transferência de três aeronaves C-130 e duas embarcações de patrulha costeira para as Filipinas. Os dois países também disseram que adotaram diretrizes de defesa destinadas a aprofundar a cooperação entre as forças armadas das duas nações em terra, mar, ar, espaço e ciberespaço.

Mais cedo, fontes do governo americano disseram que as embarcações de patrulha em discussão era as do tipo Cyclone, cuja transferência foi aprovada no início deste mês. Os navios Cyclone foram usados, por exemplo, durante a Guerra do Iraque, em 2003, mas desde então a Marinha dos EUA os retirou de seus portos, de modo que os últimos estão sendo vendidos a países como Filipinas, Egito e Bahrein.

O presidente das Filipinas, Ferdinand Marcos Jr., acena ao lado de um M142 High Mobility Artillery Rocket System (HIMARS) dos EUA durante um exercício conjunto combinado Foto: AP Photo/Aaron Favila

Além da transferência de equipamentos militares, o governo americano disse que está lançando uma nova missão comercial focada em aumentar o investimento dos EUA na economia de inovação das Filipinas, novos programas educacionais e muito mais.

Desde que se tornou presidente em julho, Marcos tem testemunhado ações cada vez mais coercitivas de Pequim na região, desde a coação contínua a pescadores filipinos em suas próprias águas territoriais até o uso de lasers para cegar temporariamente uma tripulação da guarda costeira filipina. Na semana passada, um navio da guarda costeira chinesa cruzou o caminho de um navio filipino e quase causou uma colisão.

Agora Marcos está empenhado em fortalecer os laços de segurança com os EUA, com base em um tratado de defesa mútua de 70 anos. “Paramos de falar sobre quanto dano está sendo causado ao relacionamento e começamos a falar sobre quanto estamos avançando”, disse Zack Cooper, membro sênior do American Enterprise Institute.

Atraso no relacionamento econômico

Embora o progresso na área militar tenha sido notável, o relacionamento econômico mais amplo está atrasado, dizem os analistas, e Marcos precisa mostrar melhorias se quiser manter o apoio político para uma parceria de segurança mais profunda com os EUA.

“A aliança não vai funcionar se os EUA não fornecerem mais assistência às Filipinas para desenvolvimento econômico, segurança alimentar e segurança energética”, disse Gregory Poling, diretor do programa de Sudeste Asiático no Center for Strategic and International Studies. “São as principais prioridades de todo filipino. Marcos precisa defender a ideia de que um relacionamento mais próximo trará benefícios tangíveis”.

Com esse objetivo, o governo Biden está revelando esta semana algumas reuniões e iniciativas de alto escalão, entre elas o envio de uma missão presidencial de comércio e investimento às Filipinas, que será liderada por um alto funcionário do Departamento de Comércio. Na quarta-feira, Marcos, seu ministro da economia e assessores se reunirão com executivos de pelo menos uma dúzia de empresas americanas dos setores de energia, bancos, saúde, varejo, seguros e tecnologia digital.

Um alto funcionário do governo disse que Marcos – cuja família tem laços históricos com a China desde a visita de seu pai a Mao Tsé-Tung em Pequim, em 1974 – tem “um forte desejo de trabalhar de perto” tanto com os EUA quanto com a China e “não está tentando se posicionar em um papel intermediário”. A China é o maior parceiro comercial das Filipinas.

Alguns representantes empresariais americanos estão otimistas com as perspectivas de laços econômicos mais fortes. “As ações dos últimos nove meses deixaram claro que as Filipinas querem um relacionamento maior conosco – não apenas em segurança, mas um relacionamento econômico mais profundo”, disse Ted Osius, presidente e CEO do Conselho Empresarial US-ASEAN. “Vejo uma quantidade enorme de energia neste relacionamento que não existia um ano atrás.”

Mas a importância da parceria de segurança é ainda maior, dizem os analistas. Os países estão negociando novas diretrizes bilaterais de defesa – não tão espalhafatosas quanto o acesso expandido a locais militares, mas igualmente relevantes, talvez ainda mais. Essas diretrizes estabelecem antecipadamente quem faz o quê em caso de conflito. “Se a China atirar em um navio filipino, o que faremos para ativar essa defesa mútua?”, explica Poling.

Os EUA adotaram diretrizes de defesa com outros aliados, como o Japão. Mas, no início dos anos 90, depois que as Filipinas fecharam as bases militares americanas no país e a União Soviética se dissolveu, a aliança militar estagnou, disse Poling.

“O aumento da coerção chinesa no Mar da China Meridional mudou o panorama e fez as Filipinas entenderem, pela primeira vez em muito tempo, que enfrentam uma ameaça externa e que vale a pena implementar o tratado de defesa mútua”, disse ele. “De sua parte, os EUA parecem perceber que, ao contrário do que acontecia na Guerra Fria, agora eles precisam fazer com que o tratado seja mútuo de verdade. As Filipinas devem ser um parceiro, não apenas um lugar cujas bases podemos usar”.

Para os filipinos, aliança é positiva

Em geral, os habitantes das Filipinas, que já foi colônia dos EUA, veem a aliança de forma positiva, dizem os analistas. A população sente que um tratado de defesa mútua com Washington é a “política mais pragmática” quando se trata do Mar da China Meridional, disse Herman Kraft, professor de ciências políticas da Universidade das Filipinas.

Uma questão em aberto, no entanto, é se o compromisso americano de vir em defesa de Manila entrará em prática se as ações, mesmo que coercitivas, não chegarem ao nível de um ato de guerra. “Acho que o que estamos perguntando, pelo menos em parte, é se os americanos estão realmente dispostos a combater essas táticas de ‘zona cinzenta’ da China, ações que, em grande medida, ficam aquém do conflito armado”, disse Kraft.

Marcos Jr. (E) e Biden na Casa Branca; para analistas, relacionamento econômico mais amplo ainda está atrasado Foto: Carolyn Kaster/AP - !º/5/2023

Os formuladores de políticas filipinos, disse Kraft, estão mais cautelosos quanto às implicações do acesso expandido a locais militares. Três deles se encontram no norte de Luzon, o que pode ter valor estratégico para os EUA na defesa de Taiwan em um conflito com a China. As autoridades americanas se recusaram a dizer se usariam o acesso à base nessas circunstâncias.

Nas Filipinas, disse Kraft, “há uma sensação de que basicamente não queremos ser arrastados para um conflito com a China por causa de Taiwan”. Ele acrescentou: “Na verdade, é um dilema para Manila: pedir garantias claras sobre quando os compromissos de segurança dos EUA serão acionados, mas ao mesmo tempo não querer se envolver em outros compromissos de segurança dos americanos”.

Autoridades do governo disseram que o diálogo está em curso. “Sempre houve áreas cinzentas no tratado de segurança entre os EUA e as Filipinas”, como o que constitui o território filipino, disse uma autoridade. “O objetivo aqui é estreitar essas questões de definição e apresentar uma frente unida aos chineses.” /EFE e WPOST

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