NOVA YORK - Os Estados Unidos vetaram na tarde desta sexta-feira, 8, uma resolução do Conselho de Segurança da ONU que pedia um cessar-fogo entre Israel e Hamas na Faixa de Gaza.
Apresentada pelos Emirados Árabes, a resolução teve 13 votos a favor e uma abstenção, do Reino Unido. A resolução foi apoiada por nações árabes e islâmicas, pelo secretário-geral da ONU e outros países.
Como membro permanente do Conselho de Segurança, Washington tem poder de veto.
O embaixador adjunto dos EUA na ONU, Robert Wood, disse que o governo americano não acredita no efeito de um cessar-fogo imediato a uma “paz duradoura, na qual israelenses e palestinos possam viver em paz e segurança”, devido à ameaça permanente do grupo terrorista Hamas, que continuaria governando Gaza.
Ainda, ele disse que o cessar-fogo, neste momento, apenas “plantaria as sementes para a próxima guerra”, porque, de acordo com ele, “o Hamas não deseja uma paz duradoura, uma solução de dois Estados”.
Nas últimas reuniões do Conselho de Segurança, os países membros falharam em obter um consenso em relação à condena do ataque do Hamas a Israel em 7 de outubro, o que Wood declarou como “uma falha moral grave”.
Além disso, o representante americano indicou, repetindo as teses israelenses, que “se Israel depusesse hoje as suas armas, como alguns Estados-membros pedem, o Hamas continuaria a manter seus reféns, mulheres e crianças, velhos e jovens, muitos deles sujeitos a tratamentos desumanos e cruéis”.
Pouco antes de Wood falar, o embaixador israelense Gilad Erdan já tinha se posicionado radicalmente contra uma trégua e disse que “o verdadeiro caminho para a paz é apoiar a missão de Israel e não pedir um cessar-fogo”.
O embaixador, que se destacou nas últimas semanas pelos seus discursos agressivos contra diferentes órgãos da ONU, afirmou que “um cessar-fogo significa cimentar o controle que o Hamas tem em Gaza”.
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“Além disso, pedir um cessar-fogo envia uma mensagem clara de que as suas atrocidades deliberadas estão perdoadas e que a opressão dos habitantes de Gaza pelo Hamas tem sinal verde da comunidade internacional”, acrescentou.
Por outro lado, para o Secretário-Geral da ONU, Antonio Guterres, a Faixa de Gaza está em um “ponto de ruptura”, com milhares de pessoas correndo sério risco de perder a vida ou passar fome, o que pode resultar em “um colapso completo da ordem pública e maior pressão de deslocamento em massa para o Egito”.
Ele afirmou na reunião emergencial do Conselho de Segurança desta sexta-feira que invocou o Artigo 99 da Carta da ONU pela primeira vez desde 1971 porque “há um alto risco de colapso total do sistema de apoio humanitário em Gaza”. Guterres reconheceu a brutalidade do ataque do Hamas contra os israelenses em 7 de outubro, mas disse que ela “nunca pode justificar a punição coletiva do povo palestino”.
“Embora os disparos indiscriminados de foguetes do Hamas contra Israel e o uso de civis como escudos humanos sejam contrários às leis da guerra, essa conduta não absolve Israel de suas próprias violações”, afirmou Guterres.
O Artigo 99 permite que um chefe da ONU dispare o alarme da instituição sobre ameaças que ele vê à paz e à segurança internacionais.
Nos dois meses de guerra, o Conselho de Segurança votou diversas vezes outras resoluções para pedir o fim da guerra, com vetos cruzados de EUA e Rússia, e só no dia 15 de novembro conseguiu chegar a acordo sobre uma “pausa humanitária” para entregar ajuda à população civil de Gaza.
No entanto, a única trégua declarada nestes dois meses não foi fruto dessa resolução, mas sim de negociações indiretas entre Israel e o Hamas – mediadas por Catar, Egito e EUA – para permitir a troca de reféns nas mãos do grupo islâmico por prisioneiros palestinos em prisões israelenses.
Desde o fim de um acordo de trégua humanitária intermediado por EUA e Catar, Israel retomou a ofensiva em Gaza, desta vez concentrada no sul do território, para onde fugiram milhares de civis que residiam no norte do enclave, alvo da primeira fase de ataques. /AFP