Após a absolvição de Kyle Rittenhouse, jovem branco de 18 anos que matou dois manifestantes antirracismo no ano passado, a noite da sexta-feira, 19, foi marcada por protestos contra a decisão judicial em várias cidades dos Estados Unidos (EUA). Em Portland, no Oregon, a polícia considerou a manifestação como um motim. Em cidades como Nova York, Chicago e Columbus (Ohio), grupos se manifestaram pacificamente.
A sentença dada a Rittenhouse tem dividido o país. Ele foiabsolvido por 12 jurados de todas as acusações imputadas a ele, incluindo homicídio qualificado. Armado com um fuzil AR-15 munido com 30 balas, Rittenhouse matou dois homens e feriu um terceiro que participavam de atos contra a violência policial e o racismo em Kenosha, Estado do Wisconsin. Para manifestantes antirracistas, as vítimas do jovem são heróis que morreram tentando desarmar um homem. Para conservadores de extrema direita, o adolescente é o “protetor” de uma cidade assolada pelo vandalismo e pela agitação social.
Em Portland, maior cidade do Oregon, por volta das 21h, cerca de 200 manifestantes contra o veredicto se reuniram no centro e bloquearam as ruas. Pouco depois, começaram a quebrar janelas e, conforme a polícia, a jogar objetos nos policiais.
O protesto foi classificado como um motim pela polícia de Portland, que considerou o comportamento dos manifestantes como “violento” e “destrutivo”. Segundo a força policial, alguns falavam sobre incendiar o centro de justiça da cidade. De acordo com o jornal The Guardian, a polícia dispersou manifestantes por volta das 23h com alto-falantes, dizendo que usaria spray de pimenta e armas de impacto contra eles.
Nas demais cidades americanas onde protestos foram registrados, as manifestações foram pacíficas. Em Chicago, dezenas de manifestantes se reuniram no centro da cidade e marcharam em oposição ao veredicto.
Em Nova York, os participantes se aglomeraram do lado de fora do Barclays Center, no Brooklyn. Por volta das 20h, havia cerca de 200 pessoas que marcharam ao longo da Flatbush Avenue em direção à Manhattan Bridge.
Ao jornal The New York Times, Saman Waquad, de 38 anos, moradora do Queens, disse protestar porque teme que a sentença encoraje outros a portarem armas. “Isso significa que não podemos mais protestar com segurança?”, perguntou. “Não esperava que houvesse justiça plena, mas a inocência de todas as acusações foi um tapa na cara. Se fosse uma criança negra ou parda, ele ou ela estaria morta agora.”
Já no Estado de Ohio, na cidade de Columbus, cerca de 100 manifestantes se reuniram do lado de fora da câmara. Contrários à absolvição, aos gritos, disseram que “todo o sistema é muito culpado” e clamaram para que a justiça “mande aquele garoto assassino para a prisão”, em tradução livre.
Caso Kyle Rittenhouse
Armado com um fuzil AR-15 munido com 30 balas, Rittenhouse matou dois homens e feriu um terceiro que participavam de atos contra a violência policial e o racismo em Kenosha, no Estado de Wisconsin, em agosto de 2020. Contra uma das vítimas, ele disparou quatro vezes. Na época, o jovem tinha 17 anos.
Rittenhouse foi descrito pela polícia como um adolescente extremamente perturbado e fanático pelo movimento Blue Lives Matter – “vidas azuis” é uma referência à cor do uniforme dos policiais, uma organização criada como contraponto ao Black Lives Matter, que protesta contra o racismo. Nas redes sociais, manifestava apoio a movimentos de extrema direita, como o MAGA (Make America Great Again, de apoio ao ex-presidente Donald Trump).
No tribunal, Rittenhouse argumentou que atirou em autodefesa, porque estava sendo perseguido. Os promotores do caso alegaram que as vítimas tentavam impedir o jovem de disparar contra os manifestantes. Na sexta-feira, ele foi absolvido de todas as acusações imputadas pela promotoria, que incluíam homicídio qualificado.
No Telegram, grupos radicais de extrema direita, que simpatizam com a teoria conspiratória QAnon, trataram a absolvição como uma vitória. Também circularam mensagens que pedem que “patriotas” estivessem prontos para defender as cidades em caso de protestos da Antifa e do movimento Black Lives Matter.
Por outro lado, o movimento antirracista, alguns parlamentares e figuras públicas apontam um tratamento díspar da justiça com manifestantes contrários à brutalidade policial e o que classificam como uma milícia branca armada.
Representante do Missouri no Congresso e ativista do Black Lives Matter, Cori Bush disse estar com o “coração partido” com a decisão. “É a supremacia branca em ação. Esse sistema não foi construído para responsabilizar os supremacistas brancos. É por isso que negros e pardos são brutalizados e colocados em gaiolas, enquanto os assassinos supremacistas brancos andam em liberdade”, escreveuno Twitter.
Na sexta-feira, após realizar exames médicos, o presidente dos EUA Joe Biden defendeu a decisão do júri. "Eu mantenho o que o júri teve a dizer. O sistema de júri funciona", disse. Segundo o The Guardian, em declaração posterior, o presidente americano pediu calma. “Embora o veredicto em Kenosha deixe muitos americanos zangados e preocupados, inclusive eu, devemos reconhecer que o júri falou. Fiz a promessa de unir os americanos, porque acredito que o que nos une é muito maior do que o que nos divide.”/Com informações de AP, The Guardian e The New York Times