O que deu errado para Vladimir Putin


Ameaça nuclear do presidente russo mostra o quanto vai mal para ele sua invasão à Ucrânia

Por The Economist

THE ECONOMIST - A invasão russa à Ucrânia não vai conforme o planejado. Em Kharkiv, a segunda maior cidade do país, as defesas ucranianas parecem ter repelido um grande ataque. No sul, as forças de Vladimir Putin tomaram território – em parte, porém, por evitar as cidades ucranianas. Na própria capital, o presidente da Ucrânia, Volodmir Zelenski, mostrou um semblante desafiador. Em contraste ao nazista viciado em drogas que Putin descreve em seus discursos, Zelenski assumiu seu lugar como líder do país, imbuído de coragem e patriotismo. 

A guerra ainda está em sua primeira semana. O presidente russo pode convocar mais forças que poderia usar para cercar cidades ucranianas, incluindo Kiev, sob o terrível custo de vidas de civis e soldados de ambos os lados. Ainda se trata de uma guerra que Putin pode muito bem ganhar, na qual ele poderia impor um governo fantoche em Kiev ou Kharkiv, a capital original da Ucrânia soviética. 

Ainda assim, num senso mais amplo, no momento em que Putin for obrigado a travar uma guerra de desgaste, ele já terá perdido. O espírito patriótico forjado na Ucrânia decorrente de Putin ter mirado contra as cidades e seus habitantes já garante que nenhum presidente que governe em seu nome seja considerado legítimo. E, domesticamente, ele poderá presidir uma sociedade sufocada por sanções e oprimida por seu regime repressivo.

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Soldados voluntários ucranianos se refugiam em bunker após sirene de bombardeios tocar: defesa feroz contra invasão russa. Foto: Lynsey Addario/The New York Times

Fissuras

Parece ainda mais evidente que a elite russa ficou estarrecida – e empobrecida – com a aventura paranoica de Putin. Quanto pior forem seus planos na Ucrânia, mais cedo começarão a aparecer fissuras em seu regime e mais russos tomarão as ruas em protesto. Se Putin quiser se manter no Kremlin, ele poderá ser obrigado a impor terror num nível que a Rússia não vê há décadas.

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O primeiro erro de Putin foi subestimar o inimigo. Talvez ele acreditasse em sua própria propaganda: que a Ucrânia não é um país de verdade, mas uma nação falsa, erigida pela CIA e controlada por bandidos que são abominados pelo povo que governam. Se ele esperava que a Ucrânia entrasse em colapso na primeira mostra de força russa, não podia estar mais errado. 

O segundo erro de Putin foi comandar mal suas próprias Forças Armadas. Sua Aeronáutica até agora não foi capaz de dominar os céus. Ele trabalhou para tranquilizar seu povo, afirmando que a Rússia não trava uma guerra, mas realiza, em vez disso, uma operação de “desnazificação”. 

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Os soldados, incertos sobre o que deveriam estar fazendo, chegaram à Ucrânia esperando ser recebidos como libertadores. Se ele ordenar aos seus militares que matem seus irmãos ucranianos em grandes números, eles poderão não obedecê-lo. Se muitos de seus soldados morrerem na tentativa de esmagar cidades ucranianas, como é provável, ele não conseguirá encobrir isso domesticamente. 

E seu terceiro erro foi subestimar o Ocidente. Outra vez, talvez Putin acreditasse que o Ocidente estivesse decadente e autocentrado demais para conseguir organizar uma resposta. Como um ditador que pode achar difícil entender que a confiança das pessoas na democracia é genuína, ele quase certamente foi surpreendido pelo afloramento do apoio popular à Ucrânia – apoio que fez londrinos se levantarem em honra ao hino nacional ucraniano e iluminou o Portão de Brandemburgo, em Berlim, com o azul e o dourado da bandeira ucraniana. 

Reação

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Inspirados pela coragem ucraniana e instados por seus próprios cidadãos, governos ocidentais finalmente encontraram determinação para reagir. Corretamente, eles evitaram uma ação militar direta contra a Rússia, como impor uma zona de exclusão aérea. Em vez disso, em sua terceira tentativa, no sábado, eles concordaram em sanções genuinamente poderosas, contra o Banco Central da Rússia e seu sistema financeiro. Isso deverá bloquear acesso às reservas do país e minar seus bancos.

No dia seguinte, essas sanções foram afrontadas com uma furiosa resposta russa. Putin, após consultar seus comandantes militares, colocou as forças nucleares de seu país em alerta máximo. Ele equiparou sanções econômicas a guerra nuclear. 

Isso não é apenas moralmente errado, mas também levanta o prospecto de uma escalada catastrófica. Isso não torna o uso de sanções pelo Ocidente um erro. A beligerância de Putin é evidência do quão perigoso ele é. Recuar com medo do que ele poderia fazer apenas convida o próximo exagero. 

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Em vez disso, o alerta da Rússia deve ser respondido com uma declaração clara no Conselho de Segurança da ONU e de todas as potências nucleares, incluindo China e Índia, de que ameaçar com armas nucleares é inaceitável. No mesmo momento, altos comandantes militares americanos devem manter contato próximo com seus homólogos russos, para alertá-los de que eles serão responsabilizados individualmente por suas ações. O mundo não pode permitir que Putin erre o cálculo novamente.

*Tradução de Guilherme Russo

THE ECONOMIST - A invasão russa à Ucrânia não vai conforme o planejado. Em Kharkiv, a segunda maior cidade do país, as defesas ucranianas parecem ter repelido um grande ataque. No sul, as forças de Vladimir Putin tomaram território – em parte, porém, por evitar as cidades ucranianas. Na própria capital, o presidente da Ucrânia, Volodmir Zelenski, mostrou um semblante desafiador. Em contraste ao nazista viciado em drogas que Putin descreve em seus discursos, Zelenski assumiu seu lugar como líder do país, imbuído de coragem e patriotismo. 

A guerra ainda está em sua primeira semana. O presidente russo pode convocar mais forças que poderia usar para cercar cidades ucranianas, incluindo Kiev, sob o terrível custo de vidas de civis e soldados de ambos os lados. Ainda se trata de uma guerra que Putin pode muito bem ganhar, na qual ele poderia impor um governo fantoche em Kiev ou Kharkiv, a capital original da Ucrânia soviética. 

Ainda assim, num senso mais amplo, no momento em que Putin for obrigado a travar uma guerra de desgaste, ele já terá perdido. O espírito patriótico forjado na Ucrânia decorrente de Putin ter mirado contra as cidades e seus habitantes já garante que nenhum presidente que governe em seu nome seja considerado legítimo. E, domesticamente, ele poderá presidir uma sociedade sufocada por sanções e oprimida por seu regime repressivo.

Soldados voluntários ucranianos se refugiam em bunker após sirene de bombardeios tocar: defesa feroz contra invasão russa. Foto: Lynsey Addario/The New York Times

Fissuras

Parece ainda mais evidente que a elite russa ficou estarrecida – e empobrecida – com a aventura paranoica de Putin. Quanto pior forem seus planos na Ucrânia, mais cedo começarão a aparecer fissuras em seu regime e mais russos tomarão as ruas em protesto. Se Putin quiser se manter no Kremlin, ele poderá ser obrigado a impor terror num nível que a Rússia não vê há décadas.

O primeiro erro de Putin foi subestimar o inimigo. Talvez ele acreditasse em sua própria propaganda: que a Ucrânia não é um país de verdade, mas uma nação falsa, erigida pela CIA e controlada por bandidos que são abominados pelo povo que governam. Se ele esperava que a Ucrânia entrasse em colapso na primeira mostra de força russa, não podia estar mais errado. 

O segundo erro de Putin foi comandar mal suas próprias Forças Armadas. Sua Aeronáutica até agora não foi capaz de dominar os céus. Ele trabalhou para tranquilizar seu povo, afirmando que a Rússia não trava uma guerra, mas realiza, em vez disso, uma operação de “desnazificação”. 

Os soldados, incertos sobre o que deveriam estar fazendo, chegaram à Ucrânia esperando ser recebidos como libertadores. Se ele ordenar aos seus militares que matem seus irmãos ucranianos em grandes números, eles poderão não obedecê-lo. Se muitos de seus soldados morrerem na tentativa de esmagar cidades ucranianas, como é provável, ele não conseguirá encobrir isso domesticamente. 

E seu terceiro erro foi subestimar o Ocidente. Outra vez, talvez Putin acreditasse que o Ocidente estivesse decadente e autocentrado demais para conseguir organizar uma resposta. Como um ditador que pode achar difícil entender que a confiança das pessoas na democracia é genuína, ele quase certamente foi surpreendido pelo afloramento do apoio popular à Ucrânia – apoio que fez londrinos se levantarem em honra ao hino nacional ucraniano e iluminou o Portão de Brandemburgo, em Berlim, com o azul e o dourado da bandeira ucraniana. 

Reação

Inspirados pela coragem ucraniana e instados por seus próprios cidadãos, governos ocidentais finalmente encontraram determinação para reagir. Corretamente, eles evitaram uma ação militar direta contra a Rússia, como impor uma zona de exclusão aérea. Em vez disso, em sua terceira tentativa, no sábado, eles concordaram em sanções genuinamente poderosas, contra o Banco Central da Rússia e seu sistema financeiro. Isso deverá bloquear acesso às reservas do país e minar seus bancos.

No dia seguinte, essas sanções foram afrontadas com uma furiosa resposta russa. Putin, após consultar seus comandantes militares, colocou as forças nucleares de seu país em alerta máximo. Ele equiparou sanções econômicas a guerra nuclear. 

Isso não é apenas moralmente errado, mas também levanta o prospecto de uma escalada catastrófica. Isso não torna o uso de sanções pelo Ocidente um erro. A beligerância de Putin é evidência do quão perigoso ele é. Recuar com medo do que ele poderia fazer apenas convida o próximo exagero. 

Em vez disso, o alerta da Rússia deve ser respondido com uma declaração clara no Conselho de Segurança da ONU e de todas as potências nucleares, incluindo China e Índia, de que ameaçar com armas nucleares é inaceitável. No mesmo momento, altos comandantes militares americanos devem manter contato próximo com seus homólogos russos, para alertá-los de que eles serão responsabilizados individualmente por suas ações. O mundo não pode permitir que Putin erre o cálculo novamente.

*Tradução de Guilherme Russo

THE ECONOMIST - A invasão russa à Ucrânia não vai conforme o planejado. Em Kharkiv, a segunda maior cidade do país, as defesas ucranianas parecem ter repelido um grande ataque. No sul, as forças de Vladimir Putin tomaram território – em parte, porém, por evitar as cidades ucranianas. Na própria capital, o presidente da Ucrânia, Volodmir Zelenski, mostrou um semblante desafiador. Em contraste ao nazista viciado em drogas que Putin descreve em seus discursos, Zelenski assumiu seu lugar como líder do país, imbuído de coragem e patriotismo. 

A guerra ainda está em sua primeira semana. O presidente russo pode convocar mais forças que poderia usar para cercar cidades ucranianas, incluindo Kiev, sob o terrível custo de vidas de civis e soldados de ambos os lados. Ainda se trata de uma guerra que Putin pode muito bem ganhar, na qual ele poderia impor um governo fantoche em Kiev ou Kharkiv, a capital original da Ucrânia soviética. 

Ainda assim, num senso mais amplo, no momento em que Putin for obrigado a travar uma guerra de desgaste, ele já terá perdido. O espírito patriótico forjado na Ucrânia decorrente de Putin ter mirado contra as cidades e seus habitantes já garante que nenhum presidente que governe em seu nome seja considerado legítimo. E, domesticamente, ele poderá presidir uma sociedade sufocada por sanções e oprimida por seu regime repressivo.

Soldados voluntários ucranianos se refugiam em bunker após sirene de bombardeios tocar: defesa feroz contra invasão russa. Foto: Lynsey Addario/The New York Times

Fissuras

Parece ainda mais evidente que a elite russa ficou estarrecida – e empobrecida – com a aventura paranoica de Putin. Quanto pior forem seus planos na Ucrânia, mais cedo começarão a aparecer fissuras em seu regime e mais russos tomarão as ruas em protesto. Se Putin quiser se manter no Kremlin, ele poderá ser obrigado a impor terror num nível que a Rússia não vê há décadas.

O primeiro erro de Putin foi subestimar o inimigo. Talvez ele acreditasse em sua própria propaganda: que a Ucrânia não é um país de verdade, mas uma nação falsa, erigida pela CIA e controlada por bandidos que são abominados pelo povo que governam. Se ele esperava que a Ucrânia entrasse em colapso na primeira mostra de força russa, não podia estar mais errado. 

O segundo erro de Putin foi comandar mal suas próprias Forças Armadas. Sua Aeronáutica até agora não foi capaz de dominar os céus. Ele trabalhou para tranquilizar seu povo, afirmando que a Rússia não trava uma guerra, mas realiza, em vez disso, uma operação de “desnazificação”. 

Os soldados, incertos sobre o que deveriam estar fazendo, chegaram à Ucrânia esperando ser recebidos como libertadores. Se ele ordenar aos seus militares que matem seus irmãos ucranianos em grandes números, eles poderão não obedecê-lo. Se muitos de seus soldados morrerem na tentativa de esmagar cidades ucranianas, como é provável, ele não conseguirá encobrir isso domesticamente. 

E seu terceiro erro foi subestimar o Ocidente. Outra vez, talvez Putin acreditasse que o Ocidente estivesse decadente e autocentrado demais para conseguir organizar uma resposta. Como um ditador que pode achar difícil entender que a confiança das pessoas na democracia é genuína, ele quase certamente foi surpreendido pelo afloramento do apoio popular à Ucrânia – apoio que fez londrinos se levantarem em honra ao hino nacional ucraniano e iluminou o Portão de Brandemburgo, em Berlim, com o azul e o dourado da bandeira ucraniana. 

Reação

Inspirados pela coragem ucraniana e instados por seus próprios cidadãos, governos ocidentais finalmente encontraram determinação para reagir. Corretamente, eles evitaram uma ação militar direta contra a Rússia, como impor uma zona de exclusão aérea. Em vez disso, em sua terceira tentativa, no sábado, eles concordaram em sanções genuinamente poderosas, contra o Banco Central da Rússia e seu sistema financeiro. Isso deverá bloquear acesso às reservas do país e minar seus bancos.

No dia seguinte, essas sanções foram afrontadas com uma furiosa resposta russa. Putin, após consultar seus comandantes militares, colocou as forças nucleares de seu país em alerta máximo. Ele equiparou sanções econômicas a guerra nuclear. 

Isso não é apenas moralmente errado, mas também levanta o prospecto de uma escalada catastrófica. Isso não torna o uso de sanções pelo Ocidente um erro. A beligerância de Putin é evidência do quão perigoso ele é. Recuar com medo do que ele poderia fazer apenas convida o próximo exagero. 

Em vez disso, o alerta da Rússia deve ser respondido com uma declaração clara no Conselho de Segurança da ONU e de todas as potências nucleares, incluindo China e Índia, de que ameaçar com armas nucleares é inaceitável. No mesmo momento, altos comandantes militares americanos devem manter contato próximo com seus homólogos russos, para alertá-los de que eles serão responsabilizados individualmente por suas ações. O mundo não pode permitir que Putin erre o cálculo novamente.

*Tradução de Guilherme Russo

THE ECONOMIST - A invasão russa à Ucrânia não vai conforme o planejado. Em Kharkiv, a segunda maior cidade do país, as defesas ucranianas parecem ter repelido um grande ataque. No sul, as forças de Vladimir Putin tomaram território – em parte, porém, por evitar as cidades ucranianas. Na própria capital, o presidente da Ucrânia, Volodmir Zelenski, mostrou um semblante desafiador. Em contraste ao nazista viciado em drogas que Putin descreve em seus discursos, Zelenski assumiu seu lugar como líder do país, imbuído de coragem e patriotismo. 

A guerra ainda está em sua primeira semana. O presidente russo pode convocar mais forças que poderia usar para cercar cidades ucranianas, incluindo Kiev, sob o terrível custo de vidas de civis e soldados de ambos os lados. Ainda se trata de uma guerra que Putin pode muito bem ganhar, na qual ele poderia impor um governo fantoche em Kiev ou Kharkiv, a capital original da Ucrânia soviética. 

Ainda assim, num senso mais amplo, no momento em que Putin for obrigado a travar uma guerra de desgaste, ele já terá perdido. O espírito patriótico forjado na Ucrânia decorrente de Putin ter mirado contra as cidades e seus habitantes já garante que nenhum presidente que governe em seu nome seja considerado legítimo. E, domesticamente, ele poderá presidir uma sociedade sufocada por sanções e oprimida por seu regime repressivo.

Soldados voluntários ucranianos se refugiam em bunker após sirene de bombardeios tocar: defesa feroz contra invasão russa. Foto: Lynsey Addario/The New York Times

Fissuras

Parece ainda mais evidente que a elite russa ficou estarrecida – e empobrecida – com a aventura paranoica de Putin. Quanto pior forem seus planos na Ucrânia, mais cedo começarão a aparecer fissuras em seu regime e mais russos tomarão as ruas em protesto. Se Putin quiser se manter no Kremlin, ele poderá ser obrigado a impor terror num nível que a Rússia não vê há décadas.

O primeiro erro de Putin foi subestimar o inimigo. Talvez ele acreditasse em sua própria propaganda: que a Ucrânia não é um país de verdade, mas uma nação falsa, erigida pela CIA e controlada por bandidos que são abominados pelo povo que governam. Se ele esperava que a Ucrânia entrasse em colapso na primeira mostra de força russa, não podia estar mais errado. 

O segundo erro de Putin foi comandar mal suas próprias Forças Armadas. Sua Aeronáutica até agora não foi capaz de dominar os céus. Ele trabalhou para tranquilizar seu povo, afirmando que a Rússia não trava uma guerra, mas realiza, em vez disso, uma operação de “desnazificação”. 

Os soldados, incertos sobre o que deveriam estar fazendo, chegaram à Ucrânia esperando ser recebidos como libertadores. Se ele ordenar aos seus militares que matem seus irmãos ucranianos em grandes números, eles poderão não obedecê-lo. Se muitos de seus soldados morrerem na tentativa de esmagar cidades ucranianas, como é provável, ele não conseguirá encobrir isso domesticamente. 

E seu terceiro erro foi subestimar o Ocidente. Outra vez, talvez Putin acreditasse que o Ocidente estivesse decadente e autocentrado demais para conseguir organizar uma resposta. Como um ditador que pode achar difícil entender que a confiança das pessoas na democracia é genuína, ele quase certamente foi surpreendido pelo afloramento do apoio popular à Ucrânia – apoio que fez londrinos se levantarem em honra ao hino nacional ucraniano e iluminou o Portão de Brandemburgo, em Berlim, com o azul e o dourado da bandeira ucraniana. 

Reação

Inspirados pela coragem ucraniana e instados por seus próprios cidadãos, governos ocidentais finalmente encontraram determinação para reagir. Corretamente, eles evitaram uma ação militar direta contra a Rússia, como impor uma zona de exclusão aérea. Em vez disso, em sua terceira tentativa, no sábado, eles concordaram em sanções genuinamente poderosas, contra o Banco Central da Rússia e seu sistema financeiro. Isso deverá bloquear acesso às reservas do país e minar seus bancos.

No dia seguinte, essas sanções foram afrontadas com uma furiosa resposta russa. Putin, após consultar seus comandantes militares, colocou as forças nucleares de seu país em alerta máximo. Ele equiparou sanções econômicas a guerra nuclear. 

Isso não é apenas moralmente errado, mas também levanta o prospecto de uma escalada catastrófica. Isso não torna o uso de sanções pelo Ocidente um erro. A beligerância de Putin é evidência do quão perigoso ele é. Recuar com medo do que ele poderia fazer apenas convida o próximo exagero. 

Em vez disso, o alerta da Rússia deve ser respondido com uma declaração clara no Conselho de Segurança da ONU e de todas as potências nucleares, incluindo China e Índia, de que ameaçar com armas nucleares é inaceitável. No mesmo momento, altos comandantes militares americanos devem manter contato próximo com seus homólogos russos, para alertá-los de que eles serão responsabilizados individualmente por suas ações. O mundo não pode permitir que Putin erre o cálculo novamente.

*Tradução de Guilherme Russo

THE ECONOMIST - A invasão russa à Ucrânia não vai conforme o planejado. Em Kharkiv, a segunda maior cidade do país, as defesas ucranianas parecem ter repelido um grande ataque. No sul, as forças de Vladimir Putin tomaram território – em parte, porém, por evitar as cidades ucranianas. Na própria capital, o presidente da Ucrânia, Volodmir Zelenski, mostrou um semblante desafiador. Em contraste ao nazista viciado em drogas que Putin descreve em seus discursos, Zelenski assumiu seu lugar como líder do país, imbuído de coragem e patriotismo. 

A guerra ainda está em sua primeira semana. O presidente russo pode convocar mais forças que poderia usar para cercar cidades ucranianas, incluindo Kiev, sob o terrível custo de vidas de civis e soldados de ambos os lados. Ainda se trata de uma guerra que Putin pode muito bem ganhar, na qual ele poderia impor um governo fantoche em Kiev ou Kharkiv, a capital original da Ucrânia soviética. 

Ainda assim, num senso mais amplo, no momento em que Putin for obrigado a travar uma guerra de desgaste, ele já terá perdido. O espírito patriótico forjado na Ucrânia decorrente de Putin ter mirado contra as cidades e seus habitantes já garante que nenhum presidente que governe em seu nome seja considerado legítimo. E, domesticamente, ele poderá presidir uma sociedade sufocada por sanções e oprimida por seu regime repressivo.

Soldados voluntários ucranianos se refugiam em bunker após sirene de bombardeios tocar: defesa feroz contra invasão russa. Foto: Lynsey Addario/The New York Times

Fissuras

Parece ainda mais evidente que a elite russa ficou estarrecida – e empobrecida – com a aventura paranoica de Putin. Quanto pior forem seus planos na Ucrânia, mais cedo começarão a aparecer fissuras em seu regime e mais russos tomarão as ruas em protesto. Se Putin quiser se manter no Kremlin, ele poderá ser obrigado a impor terror num nível que a Rússia não vê há décadas.

O primeiro erro de Putin foi subestimar o inimigo. Talvez ele acreditasse em sua própria propaganda: que a Ucrânia não é um país de verdade, mas uma nação falsa, erigida pela CIA e controlada por bandidos que são abominados pelo povo que governam. Se ele esperava que a Ucrânia entrasse em colapso na primeira mostra de força russa, não podia estar mais errado. 

O segundo erro de Putin foi comandar mal suas próprias Forças Armadas. Sua Aeronáutica até agora não foi capaz de dominar os céus. Ele trabalhou para tranquilizar seu povo, afirmando que a Rússia não trava uma guerra, mas realiza, em vez disso, uma operação de “desnazificação”. 

Os soldados, incertos sobre o que deveriam estar fazendo, chegaram à Ucrânia esperando ser recebidos como libertadores. Se ele ordenar aos seus militares que matem seus irmãos ucranianos em grandes números, eles poderão não obedecê-lo. Se muitos de seus soldados morrerem na tentativa de esmagar cidades ucranianas, como é provável, ele não conseguirá encobrir isso domesticamente. 

E seu terceiro erro foi subestimar o Ocidente. Outra vez, talvez Putin acreditasse que o Ocidente estivesse decadente e autocentrado demais para conseguir organizar uma resposta. Como um ditador que pode achar difícil entender que a confiança das pessoas na democracia é genuína, ele quase certamente foi surpreendido pelo afloramento do apoio popular à Ucrânia – apoio que fez londrinos se levantarem em honra ao hino nacional ucraniano e iluminou o Portão de Brandemburgo, em Berlim, com o azul e o dourado da bandeira ucraniana. 

Reação

Inspirados pela coragem ucraniana e instados por seus próprios cidadãos, governos ocidentais finalmente encontraram determinação para reagir. Corretamente, eles evitaram uma ação militar direta contra a Rússia, como impor uma zona de exclusão aérea. Em vez disso, em sua terceira tentativa, no sábado, eles concordaram em sanções genuinamente poderosas, contra o Banco Central da Rússia e seu sistema financeiro. Isso deverá bloquear acesso às reservas do país e minar seus bancos.

No dia seguinte, essas sanções foram afrontadas com uma furiosa resposta russa. Putin, após consultar seus comandantes militares, colocou as forças nucleares de seu país em alerta máximo. Ele equiparou sanções econômicas a guerra nuclear. 

Isso não é apenas moralmente errado, mas também levanta o prospecto de uma escalada catastrófica. Isso não torna o uso de sanções pelo Ocidente um erro. A beligerância de Putin é evidência do quão perigoso ele é. Recuar com medo do que ele poderia fazer apenas convida o próximo exagero. 

Em vez disso, o alerta da Rússia deve ser respondido com uma declaração clara no Conselho de Segurança da ONU e de todas as potências nucleares, incluindo China e Índia, de que ameaçar com armas nucleares é inaceitável. No mesmo momento, altos comandantes militares americanos devem manter contato próximo com seus homólogos russos, para alertá-los de que eles serão responsabilizados individualmente por suas ações. O mundo não pode permitir que Putin erre o cálculo novamente.

*Tradução de Guilherme Russo

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