Burkina Faso condena ex-presidente pela morte de Thomas Sankara, seu antecessor


Tribunal militar confirmou antigas e generalizadas suspeitas de que Compaoré, agora no exílio, esteve de fato ligado ao assassinato

Por Redação
Atualização:

OUAGADOUGOU - Por décadas, o ex-presidente de Burkina Faso Blaise Compaoré preferiu evitar o assunto de Thomas Sankara, seu antecessor e velho amigo morto em 1987, por soldados que o executaram a tiros diante de seu gabinete. Nesta quarta-feira, 6, um tribunal militar confirmou antigas e generalizadas suspeitas de que Compaoré, agora no exílio, esteve de fato ligado ao assassinato. A corte o condenou à revelia e pronunciou uma sentença de prisão perpétua.

O fortemente protegido tribunal da capital, Ouagadougou, irrompeu em aplausos depois que a sentença foi lida — o clímax de uma muito aguardada tentativa de fazer justiça em relação a um dos mais infames assassinatos políticos da história da África.

“É um alívio”, afirmou sobre o veredicto Paul Sankara, irmão caçula do presidente assassinado, pelo telefone. “Foi uma longa espera.”

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Retrato de Thomas Sankara em Ougadougou: líder ainda inspira milhares no país Foto: Anne Mimault/Reuters

Um ícone da esquerda africana

Thomas Sankara, um inflamado revolucionário marxista, tornou-se um dos presidentes mais jovens da história recente da África quando ascendeu ao poder em 1983. Ao longo de quatro anos no cargo, ele rapidamente ganhou reputação pelo governo escrupuloso e por seu espirituoso desafio em relação ao Ocidente, o que lhe rendia louvores por toda a África.

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Ele e outros 12 homens foram mortos em outubro de 1987, durante o golpe militar que levou ao poder Compaoré, que fora amigo próximo de Sankara no passado. Ao longo dos 27 anos seguintes, Compaoré comandou Burkina Faso com pulso de ferro, até que uma insurreição popular o retirou do poder em 2014, forçando-o a fugir para a Costa do Marfim com a ajuda de soldados franceses.

Compaoré, contudo, dificilmente será preso proximamente. Ele se recusou a voltar para Burkina Faso para assistir ao julgamento, e a Costa do Marfim se recusou a extraditá-lo. Ele sempre negou qualquer responsabilidade pelo assassinato, apesar de suas justificativas terem mudado ao longo dos anos.

A viúva de Sankara, Mariam, que viveu principalmente na França depois que seu marido foi morto, sentou-se na primeira fileira do recinto da corte.

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“Estou satisfeita”, disse ela, acrescentando desejar que “os principais suspeitos” do crime também estivessem presentes.

Mariam Sankara, viúva de Thomas Sankara, assistiu ao julgamento dos acusados pela morte do marido  Foto: Sophie Garcia/ AP

“Julgamento manipulado”

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Pierre-Olivier Sur, advogado francês que representa Compaoré, afirmou em entrevista que que seu cliente se recusou a comparecer ante um “julgamento manipulado”, realizado sob condições “caóticas e dramáticas”.

O julgamento foi organizado num centro de convenções adaptado para a corte, próximo ao palácio presidencial, 34 anos após a morte de Sankara . Apesar dos desafios de organizar um julgamento décadas depois do crime, um painel de juízes civis e militares ouviu relatos de mais de 100 testemunhas que acusaram Compaoré e outras 13 pessoas pelo assassinato.

Os procedimentos foram brevemente adiados no fim de janeiro, após militares tomarem o poder em Burkina Faso, no mais recente de uma série de golpes de Estado a afligir a nação da África Ocidental sem saída para o mar desde que o país conquistou sua independência da França, em 1960.

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Na quarta-feira, o tribunal também pronunciou sentenças de prisão perpétua contra o ex-chefe de segurança de Compaoré, Hyacinthe Kafando, e o general Gilbert Diendéré, alto comandante do Exército na época do assassinato.

Outras oito pessoas, em sua maioria soldados, receberam penas de 3 a 20 anos de prisão. Três outros réus, acusados de elaborar um atestado de óbito falso sobre a morte de Sankara, foram absolvidos.

Como Compaoré, Kafando não esteve presente no julgamento, pois se esconde há anos das autoridades. Diendéré está preso desde 2015, por tomar parte numa tentativa fracassada de golpe.

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Legado celebrado

Sankara ainda é uma figura reverenciada em Burkina Faso, e desde a deposição de Compaoré, em 2014, seu legado tem sido abertamente celebrado. Visitantes peregrinam até uma gigante estátua de bronze de Sankara, localizada a poucos metros do local onde ele foi assassinado, e sua imagem adorna carros, motocicletas e camisetas por toda a capital.

O julgamento representou um esforço de estabelecer a verdade a respeito de sua morte, assim como uma rara, ainda que tardia, tentativa de impor justiça em relação a um golpe militar numa região com longo histórico de levantes militares.

“É um veredicto histórico”, afirmou Serge Martin Bambara, um popular cantor de rap e ativista defensor da democracia conhecido pelo nome artístico de Smockey. “Isso mostra que ninguém é intocável.”

Ainda assim, o golpe de Estado que interrompeu o julgamento em janeiro, depondo o presidente democraticamente eleito Roch Marc Christian Kaboré e ungindo ao poder mais um líder militar, contrariou a esperança de que o julgamento sobre a morte de Sankara funcione para dissuadir futuros golpes militares.

O julgamento evitou questões antigas e persistentes a respeito do possível papel de governos estrangeiros na morte de Sankara, incluindo a França, ex-metrópole de Burkina Faso em seu período colonial, e a vizinha Costa do Marfim.

Uma das testemunhas relatou que autoridades francesas visitaram o serviço de inteligência de Burkina Faso no dia seguinte ao assassinato e removeram materiais sensíveis. Mas o julgamento evitou quase totalmente o tema de qualquer participação internacional, que as autoridades burquinenses reservaram para uma investigação distinta.

OUAGADOUGOU - Por décadas, o ex-presidente de Burkina Faso Blaise Compaoré preferiu evitar o assunto de Thomas Sankara, seu antecessor e velho amigo morto em 1987, por soldados que o executaram a tiros diante de seu gabinete. Nesta quarta-feira, 6, um tribunal militar confirmou antigas e generalizadas suspeitas de que Compaoré, agora no exílio, esteve de fato ligado ao assassinato. A corte o condenou à revelia e pronunciou uma sentença de prisão perpétua.

O fortemente protegido tribunal da capital, Ouagadougou, irrompeu em aplausos depois que a sentença foi lida — o clímax de uma muito aguardada tentativa de fazer justiça em relação a um dos mais infames assassinatos políticos da história da África.

“É um alívio”, afirmou sobre o veredicto Paul Sankara, irmão caçula do presidente assassinado, pelo telefone. “Foi uma longa espera.”

Retrato de Thomas Sankara em Ougadougou: líder ainda inspira milhares no país Foto: Anne Mimault/Reuters

Um ícone da esquerda africana

Thomas Sankara, um inflamado revolucionário marxista, tornou-se um dos presidentes mais jovens da história recente da África quando ascendeu ao poder em 1983. Ao longo de quatro anos no cargo, ele rapidamente ganhou reputação pelo governo escrupuloso e por seu espirituoso desafio em relação ao Ocidente, o que lhe rendia louvores por toda a África.

Ele e outros 12 homens foram mortos em outubro de 1987, durante o golpe militar que levou ao poder Compaoré, que fora amigo próximo de Sankara no passado. Ao longo dos 27 anos seguintes, Compaoré comandou Burkina Faso com pulso de ferro, até que uma insurreição popular o retirou do poder em 2014, forçando-o a fugir para a Costa do Marfim com a ajuda de soldados franceses.

Compaoré, contudo, dificilmente será preso proximamente. Ele se recusou a voltar para Burkina Faso para assistir ao julgamento, e a Costa do Marfim se recusou a extraditá-lo. Ele sempre negou qualquer responsabilidade pelo assassinato, apesar de suas justificativas terem mudado ao longo dos anos.

A viúva de Sankara, Mariam, que viveu principalmente na França depois que seu marido foi morto, sentou-se na primeira fileira do recinto da corte.

“Estou satisfeita”, disse ela, acrescentando desejar que “os principais suspeitos” do crime também estivessem presentes.

Mariam Sankara, viúva de Thomas Sankara, assistiu ao julgamento dos acusados pela morte do marido  Foto: Sophie Garcia/ AP

“Julgamento manipulado”

Pierre-Olivier Sur, advogado francês que representa Compaoré, afirmou em entrevista que que seu cliente se recusou a comparecer ante um “julgamento manipulado”, realizado sob condições “caóticas e dramáticas”.

O julgamento foi organizado num centro de convenções adaptado para a corte, próximo ao palácio presidencial, 34 anos após a morte de Sankara . Apesar dos desafios de organizar um julgamento décadas depois do crime, um painel de juízes civis e militares ouviu relatos de mais de 100 testemunhas que acusaram Compaoré e outras 13 pessoas pelo assassinato.

Os procedimentos foram brevemente adiados no fim de janeiro, após militares tomarem o poder em Burkina Faso, no mais recente de uma série de golpes de Estado a afligir a nação da África Ocidental sem saída para o mar desde que o país conquistou sua independência da França, em 1960.

Na quarta-feira, o tribunal também pronunciou sentenças de prisão perpétua contra o ex-chefe de segurança de Compaoré, Hyacinthe Kafando, e o general Gilbert Diendéré, alto comandante do Exército na época do assassinato.

Outras oito pessoas, em sua maioria soldados, receberam penas de 3 a 20 anos de prisão. Três outros réus, acusados de elaborar um atestado de óbito falso sobre a morte de Sankara, foram absolvidos.

Como Compaoré, Kafando não esteve presente no julgamento, pois se esconde há anos das autoridades. Diendéré está preso desde 2015, por tomar parte numa tentativa fracassada de golpe.

Legado celebrado

Sankara ainda é uma figura reverenciada em Burkina Faso, e desde a deposição de Compaoré, em 2014, seu legado tem sido abertamente celebrado. Visitantes peregrinam até uma gigante estátua de bronze de Sankara, localizada a poucos metros do local onde ele foi assassinado, e sua imagem adorna carros, motocicletas e camisetas por toda a capital.

O julgamento representou um esforço de estabelecer a verdade a respeito de sua morte, assim como uma rara, ainda que tardia, tentativa de impor justiça em relação a um golpe militar numa região com longo histórico de levantes militares.

“É um veredicto histórico”, afirmou Serge Martin Bambara, um popular cantor de rap e ativista defensor da democracia conhecido pelo nome artístico de Smockey. “Isso mostra que ninguém é intocável.”

Ainda assim, o golpe de Estado que interrompeu o julgamento em janeiro, depondo o presidente democraticamente eleito Roch Marc Christian Kaboré e ungindo ao poder mais um líder militar, contrariou a esperança de que o julgamento sobre a morte de Sankara funcione para dissuadir futuros golpes militares.

O julgamento evitou questões antigas e persistentes a respeito do possível papel de governos estrangeiros na morte de Sankara, incluindo a França, ex-metrópole de Burkina Faso em seu período colonial, e a vizinha Costa do Marfim.

Uma das testemunhas relatou que autoridades francesas visitaram o serviço de inteligência de Burkina Faso no dia seguinte ao assassinato e removeram materiais sensíveis. Mas o julgamento evitou quase totalmente o tema de qualquer participação internacional, que as autoridades burquinenses reservaram para uma investigação distinta.

OUAGADOUGOU - Por décadas, o ex-presidente de Burkina Faso Blaise Compaoré preferiu evitar o assunto de Thomas Sankara, seu antecessor e velho amigo morto em 1987, por soldados que o executaram a tiros diante de seu gabinete. Nesta quarta-feira, 6, um tribunal militar confirmou antigas e generalizadas suspeitas de que Compaoré, agora no exílio, esteve de fato ligado ao assassinato. A corte o condenou à revelia e pronunciou uma sentença de prisão perpétua.

O fortemente protegido tribunal da capital, Ouagadougou, irrompeu em aplausos depois que a sentença foi lida — o clímax de uma muito aguardada tentativa de fazer justiça em relação a um dos mais infames assassinatos políticos da história da África.

“É um alívio”, afirmou sobre o veredicto Paul Sankara, irmão caçula do presidente assassinado, pelo telefone. “Foi uma longa espera.”

Retrato de Thomas Sankara em Ougadougou: líder ainda inspira milhares no país Foto: Anne Mimault/Reuters

Um ícone da esquerda africana

Thomas Sankara, um inflamado revolucionário marxista, tornou-se um dos presidentes mais jovens da história recente da África quando ascendeu ao poder em 1983. Ao longo de quatro anos no cargo, ele rapidamente ganhou reputação pelo governo escrupuloso e por seu espirituoso desafio em relação ao Ocidente, o que lhe rendia louvores por toda a África.

Ele e outros 12 homens foram mortos em outubro de 1987, durante o golpe militar que levou ao poder Compaoré, que fora amigo próximo de Sankara no passado. Ao longo dos 27 anos seguintes, Compaoré comandou Burkina Faso com pulso de ferro, até que uma insurreição popular o retirou do poder em 2014, forçando-o a fugir para a Costa do Marfim com a ajuda de soldados franceses.

Compaoré, contudo, dificilmente será preso proximamente. Ele se recusou a voltar para Burkina Faso para assistir ao julgamento, e a Costa do Marfim se recusou a extraditá-lo. Ele sempre negou qualquer responsabilidade pelo assassinato, apesar de suas justificativas terem mudado ao longo dos anos.

A viúva de Sankara, Mariam, que viveu principalmente na França depois que seu marido foi morto, sentou-se na primeira fileira do recinto da corte.

“Estou satisfeita”, disse ela, acrescentando desejar que “os principais suspeitos” do crime também estivessem presentes.

Mariam Sankara, viúva de Thomas Sankara, assistiu ao julgamento dos acusados pela morte do marido  Foto: Sophie Garcia/ AP

“Julgamento manipulado”

Pierre-Olivier Sur, advogado francês que representa Compaoré, afirmou em entrevista que que seu cliente se recusou a comparecer ante um “julgamento manipulado”, realizado sob condições “caóticas e dramáticas”.

O julgamento foi organizado num centro de convenções adaptado para a corte, próximo ao palácio presidencial, 34 anos após a morte de Sankara . Apesar dos desafios de organizar um julgamento décadas depois do crime, um painel de juízes civis e militares ouviu relatos de mais de 100 testemunhas que acusaram Compaoré e outras 13 pessoas pelo assassinato.

Os procedimentos foram brevemente adiados no fim de janeiro, após militares tomarem o poder em Burkina Faso, no mais recente de uma série de golpes de Estado a afligir a nação da África Ocidental sem saída para o mar desde que o país conquistou sua independência da França, em 1960.

Na quarta-feira, o tribunal também pronunciou sentenças de prisão perpétua contra o ex-chefe de segurança de Compaoré, Hyacinthe Kafando, e o general Gilbert Diendéré, alto comandante do Exército na época do assassinato.

Outras oito pessoas, em sua maioria soldados, receberam penas de 3 a 20 anos de prisão. Três outros réus, acusados de elaborar um atestado de óbito falso sobre a morte de Sankara, foram absolvidos.

Como Compaoré, Kafando não esteve presente no julgamento, pois se esconde há anos das autoridades. Diendéré está preso desde 2015, por tomar parte numa tentativa fracassada de golpe.

Legado celebrado

Sankara ainda é uma figura reverenciada em Burkina Faso, e desde a deposição de Compaoré, em 2014, seu legado tem sido abertamente celebrado. Visitantes peregrinam até uma gigante estátua de bronze de Sankara, localizada a poucos metros do local onde ele foi assassinado, e sua imagem adorna carros, motocicletas e camisetas por toda a capital.

O julgamento representou um esforço de estabelecer a verdade a respeito de sua morte, assim como uma rara, ainda que tardia, tentativa de impor justiça em relação a um golpe militar numa região com longo histórico de levantes militares.

“É um veredicto histórico”, afirmou Serge Martin Bambara, um popular cantor de rap e ativista defensor da democracia conhecido pelo nome artístico de Smockey. “Isso mostra que ninguém é intocável.”

Ainda assim, o golpe de Estado que interrompeu o julgamento em janeiro, depondo o presidente democraticamente eleito Roch Marc Christian Kaboré e ungindo ao poder mais um líder militar, contrariou a esperança de que o julgamento sobre a morte de Sankara funcione para dissuadir futuros golpes militares.

O julgamento evitou questões antigas e persistentes a respeito do possível papel de governos estrangeiros na morte de Sankara, incluindo a França, ex-metrópole de Burkina Faso em seu período colonial, e a vizinha Costa do Marfim.

Uma das testemunhas relatou que autoridades francesas visitaram o serviço de inteligência de Burkina Faso no dia seguinte ao assassinato e removeram materiais sensíveis. Mas o julgamento evitou quase totalmente o tema de qualquer participação internacional, que as autoridades burquinenses reservaram para uma investigação distinta.

OUAGADOUGOU - Por décadas, o ex-presidente de Burkina Faso Blaise Compaoré preferiu evitar o assunto de Thomas Sankara, seu antecessor e velho amigo morto em 1987, por soldados que o executaram a tiros diante de seu gabinete. Nesta quarta-feira, 6, um tribunal militar confirmou antigas e generalizadas suspeitas de que Compaoré, agora no exílio, esteve de fato ligado ao assassinato. A corte o condenou à revelia e pronunciou uma sentença de prisão perpétua.

O fortemente protegido tribunal da capital, Ouagadougou, irrompeu em aplausos depois que a sentença foi lida — o clímax de uma muito aguardada tentativa de fazer justiça em relação a um dos mais infames assassinatos políticos da história da África.

“É um alívio”, afirmou sobre o veredicto Paul Sankara, irmão caçula do presidente assassinado, pelo telefone. “Foi uma longa espera.”

Retrato de Thomas Sankara em Ougadougou: líder ainda inspira milhares no país Foto: Anne Mimault/Reuters

Um ícone da esquerda africana

Thomas Sankara, um inflamado revolucionário marxista, tornou-se um dos presidentes mais jovens da história recente da África quando ascendeu ao poder em 1983. Ao longo de quatro anos no cargo, ele rapidamente ganhou reputação pelo governo escrupuloso e por seu espirituoso desafio em relação ao Ocidente, o que lhe rendia louvores por toda a África.

Ele e outros 12 homens foram mortos em outubro de 1987, durante o golpe militar que levou ao poder Compaoré, que fora amigo próximo de Sankara no passado. Ao longo dos 27 anos seguintes, Compaoré comandou Burkina Faso com pulso de ferro, até que uma insurreição popular o retirou do poder em 2014, forçando-o a fugir para a Costa do Marfim com a ajuda de soldados franceses.

Compaoré, contudo, dificilmente será preso proximamente. Ele se recusou a voltar para Burkina Faso para assistir ao julgamento, e a Costa do Marfim se recusou a extraditá-lo. Ele sempre negou qualquer responsabilidade pelo assassinato, apesar de suas justificativas terem mudado ao longo dos anos.

A viúva de Sankara, Mariam, que viveu principalmente na França depois que seu marido foi morto, sentou-se na primeira fileira do recinto da corte.

“Estou satisfeita”, disse ela, acrescentando desejar que “os principais suspeitos” do crime também estivessem presentes.

Mariam Sankara, viúva de Thomas Sankara, assistiu ao julgamento dos acusados pela morte do marido  Foto: Sophie Garcia/ AP

“Julgamento manipulado”

Pierre-Olivier Sur, advogado francês que representa Compaoré, afirmou em entrevista que que seu cliente se recusou a comparecer ante um “julgamento manipulado”, realizado sob condições “caóticas e dramáticas”.

O julgamento foi organizado num centro de convenções adaptado para a corte, próximo ao palácio presidencial, 34 anos após a morte de Sankara . Apesar dos desafios de organizar um julgamento décadas depois do crime, um painel de juízes civis e militares ouviu relatos de mais de 100 testemunhas que acusaram Compaoré e outras 13 pessoas pelo assassinato.

Os procedimentos foram brevemente adiados no fim de janeiro, após militares tomarem o poder em Burkina Faso, no mais recente de uma série de golpes de Estado a afligir a nação da África Ocidental sem saída para o mar desde que o país conquistou sua independência da França, em 1960.

Na quarta-feira, o tribunal também pronunciou sentenças de prisão perpétua contra o ex-chefe de segurança de Compaoré, Hyacinthe Kafando, e o general Gilbert Diendéré, alto comandante do Exército na época do assassinato.

Outras oito pessoas, em sua maioria soldados, receberam penas de 3 a 20 anos de prisão. Três outros réus, acusados de elaborar um atestado de óbito falso sobre a morte de Sankara, foram absolvidos.

Como Compaoré, Kafando não esteve presente no julgamento, pois se esconde há anos das autoridades. Diendéré está preso desde 2015, por tomar parte numa tentativa fracassada de golpe.

Legado celebrado

Sankara ainda é uma figura reverenciada em Burkina Faso, e desde a deposição de Compaoré, em 2014, seu legado tem sido abertamente celebrado. Visitantes peregrinam até uma gigante estátua de bronze de Sankara, localizada a poucos metros do local onde ele foi assassinado, e sua imagem adorna carros, motocicletas e camisetas por toda a capital.

O julgamento representou um esforço de estabelecer a verdade a respeito de sua morte, assim como uma rara, ainda que tardia, tentativa de impor justiça em relação a um golpe militar numa região com longo histórico de levantes militares.

“É um veredicto histórico”, afirmou Serge Martin Bambara, um popular cantor de rap e ativista defensor da democracia conhecido pelo nome artístico de Smockey. “Isso mostra que ninguém é intocável.”

Ainda assim, o golpe de Estado que interrompeu o julgamento em janeiro, depondo o presidente democraticamente eleito Roch Marc Christian Kaboré e ungindo ao poder mais um líder militar, contrariou a esperança de que o julgamento sobre a morte de Sankara funcione para dissuadir futuros golpes militares.

O julgamento evitou questões antigas e persistentes a respeito do possível papel de governos estrangeiros na morte de Sankara, incluindo a França, ex-metrópole de Burkina Faso em seu período colonial, e a vizinha Costa do Marfim.

Uma das testemunhas relatou que autoridades francesas visitaram o serviço de inteligência de Burkina Faso no dia seguinte ao assassinato e removeram materiais sensíveis. Mas o julgamento evitou quase totalmente o tema de qualquer participação internacional, que as autoridades burquinenses reservaram para uma investigação distinta.

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