Expansionismo da China recria a Rota da Seda


Com programa de investimento em massa em 68 países, governo chinês coloca em prática seu plano de se tornar líder global

Por Rodrigo Turrer

Quando Xi Jinping se tornou o homem mais forte da China desde Mao Tsé-tung, com a inclusão de seu nome nos estatutos do Partido Comunista da China (PCC), ele deixou claro em seu discurso na convenção do PCC que o objetivo chinês era ser “um líder global em termos de poder e influência internacional”. “A tendência de multipolaridade está avançando – e mudando a ordem internacional.” 

O corolário de Xi para a China no século 21 começou a ser posto em prática em 2013, com o programa One Belt, One Road (um cinturão, uma rota). Naquele ano, Xi inaugurou o programa ao visitar o Casaquistão e sugerir um projeto de cooperação econômica entre China, Ásia Central e Europa. 

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A ideia por trás do Obor, como ficou conhecido o plano, é investir amplamente em obras de infraestrutura, como ferrovias, portos e oleodutos, nos 68 países parceiros, situados na África, na Ásia, na Europa, na Oceania e no Oriente Médio. Os quatro princípios que norteiam o audacioso projeto, segundo Xi, são “a cooperação pacífica, o aprendizado mútuo, a vantagem recíproca e a integração ampla”. 

A Obor é prioridade máxima da diplomacia chinesa, e o país está gastando cerca de US$ 150 bilhões por ano nos países parceiros. Seu objetivo final é tornar a Eurásia (dominada pela China) uma área econômica e comercial para rivalizar com a transatlântica (dominada pelos Estados Unidos). 

Na prática, trata-se de uma releitura moderna da Rota da Seda, a rede de comércio criada durante a dinastia Han, quase 2 mil anos atrás, que ligava a China à Ásia Central e ao mundo árabe. A nova rota da seda é um pouco mais ambiciosa que a antiga. O Conselho de Estado da China autorizou um plano de ação em 2015 com dois componentes principais: o Cinturão Econômico da Estrada da Seda e a Rota Marítima da Estrada da Seda. O primeiro inclui três rotas que ligam a China à Europa (via Ásia Central), o Golfo Pérsico, o Mediterrâneo (pela Ásia Ocidental) e o Oceano Índico (pelo sul da Ásia). 

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+Na China, comunistas serão obrigados a ler livro do presidente

A Estrada da Seda Marítima do século 21 pretende criar conexões entre vias navegáveis regionais. O ambicioso projeto não está apenas no papel. As obras na Ásia Central estão aceleradas. Na África, os chineses já levantaram algumas ferrovias e portos em mais de dez países. Na Europa, os chineses firmaram uma série de parcerias comerciais com países geralmente relegados pela União Europeia. 

Há um mês, representantes de 50 países se reuniram em Tbilisi, na Geórgia, para mais uma conferência dos países signatários da Belt and Road Initiative (Iniciativa Cinturão & Rota, como os chineses preferem chamar). Nos últimos dois anos, a China investiu cerca de US$ 19 bilhões para criar uma ferrovia e um porto. A intenção é transformar a Geórgia em um centro logístico na conexão entre China e União Europeia. 

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O presidente da China, Xi Jinping Foto: Feng Li/Reuters

A ação na Europa Central é idêntica. Na semana passada, o primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, e o primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orban, abriram a sexta cúpula “16 + 1”, envolvendo a China e 16 nações da Europa Central e Oriental, em Budapeste. Nos Bálcãs, a China investiu mais de US$ 8 bilhões na Sérvia, em Montenegro e na Bósnia-Herzegovina. 

Por trás desse imperativo estratégico, há uma infinidade de motivações secundárias. Ao investir em infraestrutura, a China espera encontrar mais lucro com suas enormes reservas cambiais, hoje investidas em títulos de governo americano. Também espera criar novos mercados para companhias chinesas, como empresas ferroviárias de alta velocidade e exportar parte do vasto excesso de capacidade do país em cimento, aço e outros metais.

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Para isso, os chineses se aproveitam da necessidade dos países parceiros. “O Banco Mundial não tem feito o suficiente nesses países, as potências ocidentais fizeram isso no século 19, mas depois pararam. Então, a China está ocupando um vácuo”, afirma Lanxin Xiang, professor do Instituto de Graduação em Estudos Internacionais e de Desenvolvimento de Genebra. “É importante salientar que a maioria dos países envolvidos, incluindo a Rússia, parece convencida de que a intenção da China é pacífica, o que torna menos provável um confronto militar”, diz.

+China pode se beneficiar da queda de Mugabe

A estratégia de “desenvolvimento pacífico” da China, no entanto, pode criar desafios inesperados para o mundo. A Comissão Europeia se opôs aos investimentos chineses na região e afirma que os processos de licitação podem não ter cumprido as regras da UE. Países asiáticos, como Sri Lanka e Mianmar, rechaçam qualquer possibilidade de negociação na iniciativa. 

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“Mais cedo ou mais tarde, os EUA e a União Europeia vão se preocupar com essa iniciativa expansionista chinesa, que vai indicar uma erosão total de sua influência global”, afirma Matt Ferchen, professor de relações internacionais na Universidade de Tsinghua. “O xadrez internacional em torno do One Belt, One Road acaba de começar.” 

Quando Xi Jinping se tornou o homem mais forte da China desde Mao Tsé-tung, com a inclusão de seu nome nos estatutos do Partido Comunista da China (PCC), ele deixou claro em seu discurso na convenção do PCC que o objetivo chinês era ser “um líder global em termos de poder e influência internacional”. “A tendência de multipolaridade está avançando – e mudando a ordem internacional.” 

O corolário de Xi para a China no século 21 começou a ser posto em prática em 2013, com o programa One Belt, One Road (um cinturão, uma rota). Naquele ano, Xi inaugurou o programa ao visitar o Casaquistão e sugerir um projeto de cooperação econômica entre China, Ásia Central e Europa. 

A ideia por trás do Obor, como ficou conhecido o plano, é investir amplamente em obras de infraestrutura, como ferrovias, portos e oleodutos, nos 68 países parceiros, situados na África, na Ásia, na Europa, na Oceania e no Oriente Médio. Os quatro princípios que norteiam o audacioso projeto, segundo Xi, são “a cooperação pacífica, o aprendizado mútuo, a vantagem recíproca e a integração ampla”. 

A Obor é prioridade máxima da diplomacia chinesa, e o país está gastando cerca de US$ 150 bilhões por ano nos países parceiros. Seu objetivo final é tornar a Eurásia (dominada pela China) uma área econômica e comercial para rivalizar com a transatlântica (dominada pelos Estados Unidos). 

Na prática, trata-se de uma releitura moderna da Rota da Seda, a rede de comércio criada durante a dinastia Han, quase 2 mil anos atrás, que ligava a China à Ásia Central e ao mundo árabe. A nova rota da seda é um pouco mais ambiciosa que a antiga. O Conselho de Estado da China autorizou um plano de ação em 2015 com dois componentes principais: o Cinturão Econômico da Estrada da Seda e a Rota Marítima da Estrada da Seda. O primeiro inclui três rotas que ligam a China à Europa (via Ásia Central), o Golfo Pérsico, o Mediterrâneo (pela Ásia Ocidental) e o Oceano Índico (pelo sul da Ásia). 

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A Estrada da Seda Marítima do século 21 pretende criar conexões entre vias navegáveis regionais. O ambicioso projeto não está apenas no papel. As obras na Ásia Central estão aceleradas. Na África, os chineses já levantaram algumas ferrovias e portos em mais de dez países. Na Europa, os chineses firmaram uma série de parcerias comerciais com países geralmente relegados pela União Europeia. 

Há um mês, representantes de 50 países se reuniram em Tbilisi, na Geórgia, para mais uma conferência dos países signatários da Belt and Road Initiative (Iniciativa Cinturão & Rota, como os chineses preferem chamar). Nos últimos dois anos, a China investiu cerca de US$ 19 bilhões para criar uma ferrovia e um porto. A intenção é transformar a Geórgia em um centro logístico na conexão entre China e União Europeia. 

O presidente da China, Xi Jinping Foto: Feng Li/Reuters

A ação na Europa Central é idêntica. Na semana passada, o primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, e o primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orban, abriram a sexta cúpula “16 + 1”, envolvendo a China e 16 nações da Europa Central e Oriental, em Budapeste. Nos Bálcãs, a China investiu mais de US$ 8 bilhões na Sérvia, em Montenegro e na Bósnia-Herzegovina. 

Por trás desse imperativo estratégico, há uma infinidade de motivações secundárias. Ao investir em infraestrutura, a China espera encontrar mais lucro com suas enormes reservas cambiais, hoje investidas em títulos de governo americano. Também espera criar novos mercados para companhias chinesas, como empresas ferroviárias de alta velocidade e exportar parte do vasto excesso de capacidade do país em cimento, aço e outros metais.

Para isso, os chineses se aproveitam da necessidade dos países parceiros. “O Banco Mundial não tem feito o suficiente nesses países, as potências ocidentais fizeram isso no século 19, mas depois pararam. Então, a China está ocupando um vácuo”, afirma Lanxin Xiang, professor do Instituto de Graduação em Estudos Internacionais e de Desenvolvimento de Genebra. “É importante salientar que a maioria dos países envolvidos, incluindo a Rússia, parece convencida de que a intenção da China é pacífica, o que torna menos provável um confronto militar”, diz.

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A estratégia de “desenvolvimento pacífico” da China, no entanto, pode criar desafios inesperados para o mundo. A Comissão Europeia se opôs aos investimentos chineses na região e afirma que os processos de licitação podem não ter cumprido as regras da UE. Países asiáticos, como Sri Lanka e Mianmar, rechaçam qualquer possibilidade de negociação na iniciativa. 

“Mais cedo ou mais tarde, os EUA e a União Europeia vão se preocupar com essa iniciativa expansionista chinesa, que vai indicar uma erosão total de sua influência global”, afirma Matt Ferchen, professor de relações internacionais na Universidade de Tsinghua. “O xadrez internacional em torno do One Belt, One Road acaba de começar.” 

Quando Xi Jinping se tornou o homem mais forte da China desde Mao Tsé-tung, com a inclusão de seu nome nos estatutos do Partido Comunista da China (PCC), ele deixou claro em seu discurso na convenção do PCC que o objetivo chinês era ser “um líder global em termos de poder e influência internacional”. “A tendência de multipolaridade está avançando – e mudando a ordem internacional.” 

O corolário de Xi para a China no século 21 começou a ser posto em prática em 2013, com o programa One Belt, One Road (um cinturão, uma rota). Naquele ano, Xi inaugurou o programa ao visitar o Casaquistão e sugerir um projeto de cooperação econômica entre China, Ásia Central e Europa. 

A ideia por trás do Obor, como ficou conhecido o plano, é investir amplamente em obras de infraestrutura, como ferrovias, portos e oleodutos, nos 68 países parceiros, situados na África, na Ásia, na Europa, na Oceania e no Oriente Médio. Os quatro princípios que norteiam o audacioso projeto, segundo Xi, são “a cooperação pacífica, o aprendizado mútuo, a vantagem recíproca e a integração ampla”. 

A Obor é prioridade máxima da diplomacia chinesa, e o país está gastando cerca de US$ 150 bilhões por ano nos países parceiros. Seu objetivo final é tornar a Eurásia (dominada pela China) uma área econômica e comercial para rivalizar com a transatlântica (dominada pelos Estados Unidos). 

Na prática, trata-se de uma releitura moderna da Rota da Seda, a rede de comércio criada durante a dinastia Han, quase 2 mil anos atrás, que ligava a China à Ásia Central e ao mundo árabe. A nova rota da seda é um pouco mais ambiciosa que a antiga. O Conselho de Estado da China autorizou um plano de ação em 2015 com dois componentes principais: o Cinturão Econômico da Estrada da Seda e a Rota Marítima da Estrada da Seda. O primeiro inclui três rotas que ligam a China à Europa (via Ásia Central), o Golfo Pérsico, o Mediterrâneo (pela Ásia Ocidental) e o Oceano Índico (pelo sul da Ásia). 

+Na China, comunistas serão obrigados a ler livro do presidente

A Estrada da Seda Marítima do século 21 pretende criar conexões entre vias navegáveis regionais. O ambicioso projeto não está apenas no papel. As obras na Ásia Central estão aceleradas. Na África, os chineses já levantaram algumas ferrovias e portos em mais de dez países. Na Europa, os chineses firmaram uma série de parcerias comerciais com países geralmente relegados pela União Europeia. 

Há um mês, representantes de 50 países se reuniram em Tbilisi, na Geórgia, para mais uma conferência dos países signatários da Belt and Road Initiative (Iniciativa Cinturão & Rota, como os chineses preferem chamar). Nos últimos dois anos, a China investiu cerca de US$ 19 bilhões para criar uma ferrovia e um porto. A intenção é transformar a Geórgia em um centro logístico na conexão entre China e União Europeia. 

O presidente da China, Xi Jinping Foto: Feng Li/Reuters

A ação na Europa Central é idêntica. Na semana passada, o primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, e o primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orban, abriram a sexta cúpula “16 + 1”, envolvendo a China e 16 nações da Europa Central e Oriental, em Budapeste. Nos Bálcãs, a China investiu mais de US$ 8 bilhões na Sérvia, em Montenegro e na Bósnia-Herzegovina. 

Por trás desse imperativo estratégico, há uma infinidade de motivações secundárias. Ao investir em infraestrutura, a China espera encontrar mais lucro com suas enormes reservas cambiais, hoje investidas em títulos de governo americano. Também espera criar novos mercados para companhias chinesas, como empresas ferroviárias de alta velocidade e exportar parte do vasto excesso de capacidade do país em cimento, aço e outros metais.

Para isso, os chineses se aproveitam da necessidade dos países parceiros. “O Banco Mundial não tem feito o suficiente nesses países, as potências ocidentais fizeram isso no século 19, mas depois pararam. Então, a China está ocupando um vácuo”, afirma Lanxin Xiang, professor do Instituto de Graduação em Estudos Internacionais e de Desenvolvimento de Genebra. “É importante salientar que a maioria dos países envolvidos, incluindo a Rússia, parece convencida de que a intenção da China é pacífica, o que torna menos provável um confronto militar”, diz.

+China pode se beneficiar da queda de Mugabe

A estratégia de “desenvolvimento pacífico” da China, no entanto, pode criar desafios inesperados para o mundo. A Comissão Europeia se opôs aos investimentos chineses na região e afirma que os processos de licitação podem não ter cumprido as regras da UE. Países asiáticos, como Sri Lanka e Mianmar, rechaçam qualquer possibilidade de negociação na iniciativa. 

“Mais cedo ou mais tarde, os EUA e a União Europeia vão se preocupar com essa iniciativa expansionista chinesa, que vai indicar uma erosão total de sua influência global”, afirma Matt Ferchen, professor de relações internacionais na Universidade de Tsinghua. “O xadrez internacional em torno do One Belt, One Road acaba de começar.” 

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