Como vitória da extrema direita no Parlamento Europeu pode modificar políticas da UE


Radicais tiveram ganhos nos principais países do bloco, como Alemanha, França, Holanda, Espanha, Itália e Portugal

Por Daniel Gateno
Atualização:

Com questões relacionadas a imigração, política ambiental e o apoio à Ucrânia na guerra contra a Rússia, a eleição do Parlamento Europeu, que terminou no domingo, 9, representou uma Europa em transformação. Em vez de integração e abertura, muitos eleitores sinalizaram nas urnas que desejam políticas migratórias mais restritivas e menos regulações verdes. A insatisfação foi um prato cheio para a extrema direita, que teve seu melhor resultado eleitoral na história, segundo projeções do Parlamento Europeu.

Apesar do avanço da direita radical no pleito europeu, a dianteira ficou com partidos centristas tradicionais. Segundo projeções divulgadas pelo Parlamento Europeu, o Partido Popular Europeu (PPE), de centro-direita, deve conquistar 185 cadeiras, seguido pela Aliança Progressista dos Socialistas e Democratas, de centro-esquerda, que deve conquistar 137 cadeiras. O partido centrista Renovar a Europa, liderado pelo presidente da França, Emmanuel Macron, será a terceira força do Parlamento, com 79 cadeiras, uma perda de 23 assentos. Já os Reformistas e Conservadores Europeus (RCE), de extrema direita, devem chegar a 73 cadeiras e o Identidade e Democracia (ID), também da direita radical, ficará com 58 cadeiras.

O projeto político europeu ficou mais polarizado, avalia Nathalie Tocci, cientista política e diretora do Instituto de Assuntos Internacionais da Itália. “Antes os eleitores votavam no Parlamento Europeu com base nas questões nacionais e por isso a participação popular no pleito europeu era baixa, mas agora as questões são cada vez mais europeias”.

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Na França, o partido Reagrupamento Nacional, da eurocética Marine Le Pen, ficou na primeira colocação com 31% dos votos. Já na Alemanha, a União Democrata-Cristã, de centro-direita, recebeu 30% dos votos, seguida pelo partido de extrema direita Alternativa para a Alemanha (AFD), que teve 15,9%. O Partido Social-Democrata da Alemanha (SPD), do chanceler alemão, Olaf Scholz, ficou apenas em terceiro com 13,9%.

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A extrema direita também obteve ganhos na Holanda. O Partido pela Liberdade, de Geert Wilders, ficou em segundo no pleito para o Parlamento Europeu, atrás apenas de uma aliança entre o Partido Trabalhista e o Partido Verde. A legenda de Wilders venceu as eleições na Holanda no final de 2023, mas ele não conseguiu fazer um acordo com outros partidos para a formação de uma coalizão. Em Roma, o Irmãos da Itália, partido da direita radical da primeira-ministra Giorgia Meloni foi o mais votado.

Na Espanha, o Partido Popular (PP), da direita tradicional, obteve 34,2% dos votos. Já o Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE), do primeiro-ministro Pedro Sánchez, teve 30,2% e o VOX, de extrema direita, ficou com 9,6% dos votos. Já em Portugal, o Partido Socialista (PS) ficou em primeiro, seguido pela Aliança Democrática (AD), da direita tradicional, e o Chega, de extrema direita, em terceiro lugar.

Marine Le Pen, do Partido de extrema direita francês Reagrupamento Nacional, participa de um comício ao lado do líder da legenda, Jordan Bardella, em Paris, França  Foto: Stephane De Sakutin/AFP
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Principais pautas

A disputa no bloco europeu foi um referendo das principais questões envolvendo o Parlamento nos últimos anos, que envolvem imigração, política ambiental e economia. A crise de competitividade da Europa também foi avaliada nas eleições, de acordo com o professor de Ciência Política da Universidade de Lisboa, António Costa. “O que cimenta a União Europeia é a Europa econômica e como se relaciona e compete com a China e os Estados Unidos”.

Mario Draghi, ex-primeiro-ministro da Itália e ex-presidente do Banco Central Europeu (BCE) está escrevendo um relatório que só será divulgado após todos a apuração de todos os resultados do pleito. Apesar do documento não ter sido divulgado, Draghi revelou ao The New York Times que o bloco europeu precisa de uma “mudança radical”. Segundo ele, a União Europeia tem muitas regulamentações e a liderança do bloco em Bruxelas tem pouco poder. Além disso, os mercados financeiros estão fragmentados e as empresas são pequenas para competir na escala global.

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Os outros dois temas chave destas eleições serviram de escada para a extrema direita. Em abril, o Parlamento Europeu aprovou uma reforma de asilo que endurece o controle das fronteiras e estabelece regras para os 27 países membros lidarem com refugiados que tentarem entrar no bloco europeu sem autorização. Segundo o projeto, é possível realizar de forma mais rápida o processo de rastreamento dos imigrantes que estão na UE de forma ilegal, assim como a avaliação de qualificação para asilo político até uma possível deportação, mas muitas legendas da direita radical acreditam que não é o suficiente e pedem ainda mais endurecimento. “A imigração tem sido o tema mais mobilizador da direita radical”, aponta Costa.

A extrema direita também se aproveitou da crescente revolta entre os agricultores europeus. Os agricultores protestam continuamente desde fevereiro e reclamam da burocracia complexa da UE, rendimentos muito baixos, inflação, concorrência externa e acúmulo de regulamentações. A revolta deles pode remodelar a política europeia e fazer o Parlamento Europeu dar um passo atrás em algumas regras. O novo Parlamento terá a tarefa de encontrar um equilíbrio entre reformas políticas que funcionem para os agricultores e a minimização dos danos que a agricultura pode causar ao ambiente.

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Extrema direita fragmentada

Há uma divisão no bloco da extrema direita no Parlamento Europeu. São duas coalizões: o Identidade e Democracia (ID), liderada pelo partido Reagrupamento Nacional, da francesa Marine Le Pen, e os Reformistas e Conservadores Europeus (RCE), da primeira-ministra da Itália, Giorgia Meloni.

No primeiro grupo estão partidos de extrema direita como os italianos da Liga Norte, os holandeses do Partido da Liberdade e os húngaros do Fidesz. No segundo, estão legendas como o espanhol Vox, o polonês PiS e o italiano Fratelli D’Italia.

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Apesar de uma agenda comum em temas de imigração e um ceticismo quanto à União Europeia, os dois grupos discordam sobretudo no apoio à guerra na Ucrânia. A primeira-ministra italiana é declaradamente pró-Ucrânia, a política francesa Marine Le Pen é mais tímida no apoio a Kiev.

O RCE começou como um bloco mais ao centro, quando era liderado pelo Partido Conservador do Reino Unido. Nos últimos anos, no entanto, recebeu adesões de partidos mais radicais, como o Vox.

De acordo com a cientista política Nathalie Tocci, os partidos da extrema direita podem ter uma influência reduzida no Parlamento Europeu por não conseguirem trabalhar juntos. “Estes partidos são tão nacionalistas que na arena internacional não conseguem cooperar. Eles podem odiar imigrantes, mas discordam em como lidar com a questão. Eles também discordam em relação à Rússia, por exemplo”, apontou a diretora do Instituto de Assuntos Internacionais da Itália.

A primeira-ministra da Itália, Giorgia Meloni, participa de uma coletiva de imprensa em Shengjin, na Albânia  Foto: Adnan Beci/AFP

Além disso, o ID teve uma perda de peso com a decisão da legenda de expulsar o partido Alternativa para a Alemanha, depois de declarações controversas e revisionistas de Maximilian Krah, então principal nome do partido para as eleições no Parlamento Europeu. Krah afirmou em entrevista ao jornal italiano La Reppublica que nem todos os membros da SS, organização paramilitar nazista, eram criminosos.

Emre Peker, diretor para Europa da consultoria de risco Eurasia, concorda com a avaliação de Tocci. Para ele, mesmo que ao todo a extrema direita tenha uma grande quantidade de eurodeputados, eles não vão conseguir ter uma plataforma efetiva por conta de suas desavenças.

Partidos tradicionais

Nas eleições para o Parlamento Europeu, os eleitores votam nos partidos políticos nacionais, que se juntam em grupos de maior afinidade política quando são eleitos para o Parlamento. Os 720 assentos do Parlamento são divididos por países. A distribuição leva em conta o tamanho da população de cada país, com a Alemanha liderando a conta. O país pode eleger 96 parlamentares, enquanto a França elege 81. Países menores como Malta e Chipre possuem apenas 6 parlamentares eleitos.

Com isso, o Partido Popular da Europa (PPE), de centro-direita, deve continuar sendo o maior partido do Parlamento Europeu, seguido pela Aliança Progressista dos Socialistas e Democratas, de centro-esquerda.

Maximilian Krah, do partido de extrema direita Alternativa para a Alemanha, saiu da liderança do partido no Parlamento Europeu  Foto: Jean-francois Badias/AP

Uma guinada maior para a direita fez com que existisse uma possibilidade de uma aliança do PPE, de centro-direita, com os partidos de extrema-direita para a formação de uma maioria, mas segundo Peker, da Eurásia, esta possibilidade não existe. “Os partidos de extrema direita podem se alinhar ao PPE em algumas votações com o intuito de exercer influência, mas não farão parte da maioria. O PPE não faria uma aliança permanente com os partidos de extrema direita”.

O PPE, de centro-direita, foi o mais votado no pleito de 2019, seguido pela Aliança Progressista dos Socialistas e Democratas, de centro-esquerda, que tem o PSOE espanhol do primeiro-ministro Pedro Sánchez como maior destaque. A terceira maior força do Parlamento Europeu neste momento é o partido centrista Renovar a Europa, do presidente francês, Emmanuel Macron. Estes três partidos foram o bloco majoritário na atual conjuntura.

Ursula von der Leyen

O novo Parlamento Europeu também deverá escolher o próximo presidente da Comissão Europeia. A atual presidente, Ursula von der Leyen, sinalizou que quer se candidatar para um novo mandato de cinco anos. A Comissão Europeia é o órgão executivo da UE e é responsável por propor leis. O órgão conta com 27 comissários, contando com o presidente e cada um dos comissários representa um país-membro da UE.

O nome do candidato à presidência precisa ter o aval dos Estados-membros e deve ser do partido com o maior número de parlamentares. Von der Leyen é do Partido Popular da Europa (PPE), legenda mais votada. Por isso, o partido deve indicar von der Leyen para o cargo.

A primeira-ministra da Itália, Giorgia Meloni, conversa com a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen  Foto: Roberto Monaldo/AP

Após a indicação, o nome precisa ser aprovado por uma maioria simples dos parlamentares, ou seja 361 eurodeputados. Caso a indicação não seja chancelada pelo Parlamento, os Estados-membros precisam propor um novo nome via Conselho Europeu que seja aprovado pelo Parlamento.

Von der Leyen já está se movimentando para garantir os votos necessários e pode garantir até o apoio de nomes da extrema direita. “Von der leyen deve buscar apoio em partidos centristas e pró-UE, como o PPE, a Aliança Progressista dos Socialistas e Democratas, o partido Renovar a Europa e os Verdes”, avalia Peker, da Eurásia. “Alguns eurodeputados destes partidos podem não votar nela, mas nós avaliamos que ela terá o apoio de todos os líderes da UE, incluindo Giorgia Meloni e seu partido no Parlamento. Ela não deve pedir pelo apoio de partidos de extrema direita, mas vai contar com estes votos”.

Com questões relacionadas a imigração, política ambiental e o apoio à Ucrânia na guerra contra a Rússia, a eleição do Parlamento Europeu, que terminou no domingo, 9, representou uma Europa em transformação. Em vez de integração e abertura, muitos eleitores sinalizaram nas urnas que desejam políticas migratórias mais restritivas e menos regulações verdes. A insatisfação foi um prato cheio para a extrema direita, que teve seu melhor resultado eleitoral na história, segundo projeções do Parlamento Europeu.

Apesar do avanço da direita radical no pleito europeu, a dianteira ficou com partidos centristas tradicionais. Segundo projeções divulgadas pelo Parlamento Europeu, o Partido Popular Europeu (PPE), de centro-direita, deve conquistar 185 cadeiras, seguido pela Aliança Progressista dos Socialistas e Democratas, de centro-esquerda, que deve conquistar 137 cadeiras. O partido centrista Renovar a Europa, liderado pelo presidente da França, Emmanuel Macron, será a terceira força do Parlamento, com 79 cadeiras, uma perda de 23 assentos. Já os Reformistas e Conservadores Europeus (RCE), de extrema direita, devem chegar a 73 cadeiras e o Identidade e Democracia (ID), também da direita radical, ficará com 58 cadeiras.

O projeto político europeu ficou mais polarizado, avalia Nathalie Tocci, cientista política e diretora do Instituto de Assuntos Internacionais da Itália. “Antes os eleitores votavam no Parlamento Europeu com base nas questões nacionais e por isso a participação popular no pleito europeu era baixa, mas agora as questões são cada vez mais europeias”.

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Na França, o partido Reagrupamento Nacional, da eurocética Marine Le Pen, ficou na primeira colocação com 31% dos votos. Já na Alemanha, a União Democrata-Cristã, de centro-direita, recebeu 30% dos votos, seguida pelo partido de extrema direita Alternativa para a Alemanha (AFD), que teve 15,9%. O Partido Social-Democrata da Alemanha (SPD), do chanceler alemão, Olaf Scholz, ficou apenas em terceiro com 13,9%.

A extrema direita também obteve ganhos na Holanda. O Partido pela Liberdade, de Geert Wilders, ficou em segundo no pleito para o Parlamento Europeu, atrás apenas de uma aliança entre o Partido Trabalhista e o Partido Verde. A legenda de Wilders venceu as eleições na Holanda no final de 2023, mas ele não conseguiu fazer um acordo com outros partidos para a formação de uma coalizão. Em Roma, o Irmãos da Itália, partido da direita radical da primeira-ministra Giorgia Meloni foi o mais votado.

Na Espanha, o Partido Popular (PP), da direita tradicional, obteve 34,2% dos votos. Já o Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE), do primeiro-ministro Pedro Sánchez, teve 30,2% e o VOX, de extrema direita, ficou com 9,6% dos votos. Já em Portugal, o Partido Socialista (PS) ficou em primeiro, seguido pela Aliança Democrática (AD), da direita tradicional, e o Chega, de extrema direita, em terceiro lugar.

Marine Le Pen, do Partido de extrema direita francês Reagrupamento Nacional, participa de um comício ao lado do líder da legenda, Jordan Bardella, em Paris, França  Foto: Stephane De Sakutin/AFP

Principais pautas

A disputa no bloco europeu foi um referendo das principais questões envolvendo o Parlamento nos últimos anos, que envolvem imigração, política ambiental e economia. A crise de competitividade da Europa também foi avaliada nas eleições, de acordo com o professor de Ciência Política da Universidade de Lisboa, António Costa. “O que cimenta a União Europeia é a Europa econômica e como se relaciona e compete com a China e os Estados Unidos”.

Mario Draghi, ex-primeiro-ministro da Itália e ex-presidente do Banco Central Europeu (BCE) está escrevendo um relatório que só será divulgado após todos a apuração de todos os resultados do pleito. Apesar do documento não ter sido divulgado, Draghi revelou ao The New York Times que o bloco europeu precisa de uma “mudança radical”. Segundo ele, a União Europeia tem muitas regulamentações e a liderança do bloco em Bruxelas tem pouco poder. Além disso, os mercados financeiros estão fragmentados e as empresas são pequenas para competir na escala global.

Os outros dois temas chave destas eleições serviram de escada para a extrema direita. Em abril, o Parlamento Europeu aprovou uma reforma de asilo que endurece o controle das fronteiras e estabelece regras para os 27 países membros lidarem com refugiados que tentarem entrar no bloco europeu sem autorização. Segundo o projeto, é possível realizar de forma mais rápida o processo de rastreamento dos imigrantes que estão na UE de forma ilegal, assim como a avaliação de qualificação para asilo político até uma possível deportação, mas muitas legendas da direita radical acreditam que não é o suficiente e pedem ainda mais endurecimento. “A imigração tem sido o tema mais mobilizador da direita radical”, aponta Costa.

A extrema direita também se aproveitou da crescente revolta entre os agricultores europeus. Os agricultores protestam continuamente desde fevereiro e reclamam da burocracia complexa da UE, rendimentos muito baixos, inflação, concorrência externa e acúmulo de regulamentações. A revolta deles pode remodelar a política europeia e fazer o Parlamento Europeu dar um passo atrás em algumas regras. O novo Parlamento terá a tarefa de encontrar um equilíbrio entre reformas políticas que funcionem para os agricultores e a minimização dos danos que a agricultura pode causar ao ambiente.

Extrema direita fragmentada

Há uma divisão no bloco da extrema direita no Parlamento Europeu. São duas coalizões: o Identidade e Democracia (ID), liderada pelo partido Reagrupamento Nacional, da francesa Marine Le Pen, e os Reformistas e Conservadores Europeus (RCE), da primeira-ministra da Itália, Giorgia Meloni.

No primeiro grupo estão partidos de extrema direita como os italianos da Liga Norte, os holandeses do Partido da Liberdade e os húngaros do Fidesz. No segundo, estão legendas como o espanhol Vox, o polonês PiS e o italiano Fratelli D’Italia.

Apesar de uma agenda comum em temas de imigração e um ceticismo quanto à União Europeia, os dois grupos discordam sobretudo no apoio à guerra na Ucrânia. A primeira-ministra italiana é declaradamente pró-Ucrânia, a política francesa Marine Le Pen é mais tímida no apoio a Kiev.

O RCE começou como um bloco mais ao centro, quando era liderado pelo Partido Conservador do Reino Unido. Nos últimos anos, no entanto, recebeu adesões de partidos mais radicais, como o Vox.

De acordo com a cientista política Nathalie Tocci, os partidos da extrema direita podem ter uma influência reduzida no Parlamento Europeu por não conseguirem trabalhar juntos. “Estes partidos são tão nacionalistas que na arena internacional não conseguem cooperar. Eles podem odiar imigrantes, mas discordam em como lidar com a questão. Eles também discordam em relação à Rússia, por exemplo”, apontou a diretora do Instituto de Assuntos Internacionais da Itália.

A primeira-ministra da Itália, Giorgia Meloni, participa de uma coletiva de imprensa em Shengjin, na Albânia  Foto: Adnan Beci/AFP

Além disso, o ID teve uma perda de peso com a decisão da legenda de expulsar o partido Alternativa para a Alemanha, depois de declarações controversas e revisionistas de Maximilian Krah, então principal nome do partido para as eleições no Parlamento Europeu. Krah afirmou em entrevista ao jornal italiano La Reppublica que nem todos os membros da SS, organização paramilitar nazista, eram criminosos.

Emre Peker, diretor para Europa da consultoria de risco Eurasia, concorda com a avaliação de Tocci. Para ele, mesmo que ao todo a extrema direita tenha uma grande quantidade de eurodeputados, eles não vão conseguir ter uma plataforma efetiva por conta de suas desavenças.

Partidos tradicionais

Nas eleições para o Parlamento Europeu, os eleitores votam nos partidos políticos nacionais, que se juntam em grupos de maior afinidade política quando são eleitos para o Parlamento. Os 720 assentos do Parlamento são divididos por países. A distribuição leva em conta o tamanho da população de cada país, com a Alemanha liderando a conta. O país pode eleger 96 parlamentares, enquanto a França elege 81. Países menores como Malta e Chipre possuem apenas 6 parlamentares eleitos.

Com isso, o Partido Popular da Europa (PPE), de centro-direita, deve continuar sendo o maior partido do Parlamento Europeu, seguido pela Aliança Progressista dos Socialistas e Democratas, de centro-esquerda.

Maximilian Krah, do partido de extrema direita Alternativa para a Alemanha, saiu da liderança do partido no Parlamento Europeu  Foto: Jean-francois Badias/AP

Uma guinada maior para a direita fez com que existisse uma possibilidade de uma aliança do PPE, de centro-direita, com os partidos de extrema-direita para a formação de uma maioria, mas segundo Peker, da Eurásia, esta possibilidade não existe. “Os partidos de extrema direita podem se alinhar ao PPE em algumas votações com o intuito de exercer influência, mas não farão parte da maioria. O PPE não faria uma aliança permanente com os partidos de extrema direita”.

O PPE, de centro-direita, foi o mais votado no pleito de 2019, seguido pela Aliança Progressista dos Socialistas e Democratas, de centro-esquerda, que tem o PSOE espanhol do primeiro-ministro Pedro Sánchez como maior destaque. A terceira maior força do Parlamento Europeu neste momento é o partido centrista Renovar a Europa, do presidente francês, Emmanuel Macron. Estes três partidos foram o bloco majoritário na atual conjuntura.

Ursula von der Leyen

O novo Parlamento Europeu também deverá escolher o próximo presidente da Comissão Europeia. A atual presidente, Ursula von der Leyen, sinalizou que quer se candidatar para um novo mandato de cinco anos. A Comissão Europeia é o órgão executivo da UE e é responsável por propor leis. O órgão conta com 27 comissários, contando com o presidente e cada um dos comissários representa um país-membro da UE.

O nome do candidato à presidência precisa ter o aval dos Estados-membros e deve ser do partido com o maior número de parlamentares. Von der Leyen é do Partido Popular da Europa (PPE), legenda mais votada. Por isso, o partido deve indicar von der Leyen para o cargo.

A primeira-ministra da Itália, Giorgia Meloni, conversa com a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen  Foto: Roberto Monaldo/AP

Após a indicação, o nome precisa ser aprovado por uma maioria simples dos parlamentares, ou seja 361 eurodeputados. Caso a indicação não seja chancelada pelo Parlamento, os Estados-membros precisam propor um novo nome via Conselho Europeu que seja aprovado pelo Parlamento.

Von der Leyen já está se movimentando para garantir os votos necessários e pode garantir até o apoio de nomes da extrema direita. “Von der leyen deve buscar apoio em partidos centristas e pró-UE, como o PPE, a Aliança Progressista dos Socialistas e Democratas, o partido Renovar a Europa e os Verdes”, avalia Peker, da Eurásia. “Alguns eurodeputados destes partidos podem não votar nela, mas nós avaliamos que ela terá o apoio de todos os líderes da UE, incluindo Giorgia Meloni e seu partido no Parlamento. Ela não deve pedir pelo apoio de partidos de extrema direita, mas vai contar com estes votos”.

Com questões relacionadas a imigração, política ambiental e o apoio à Ucrânia na guerra contra a Rússia, a eleição do Parlamento Europeu, que terminou no domingo, 9, representou uma Europa em transformação. Em vez de integração e abertura, muitos eleitores sinalizaram nas urnas que desejam políticas migratórias mais restritivas e menos regulações verdes. A insatisfação foi um prato cheio para a extrema direita, que teve seu melhor resultado eleitoral na história, segundo projeções do Parlamento Europeu.

Apesar do avanço da direita radical no pleito europeu, a dianteira ficou com partidos centristas tradicionais. Segundo projeções divulgadas pelo Parlamento Europeu, o Partido Popular Europeu (PPE), de centro-direita, deve conquistar 185 cadeiras, seguido pela Aliança Progressista dos Socialistas e Democratas, de centro-esquerda, que deve conquistar 137 cadeiras. O partido centrista Renovar a Europa, liderado pelo presidente da França, Emmanuel Macron, será a terceira força do Parlamento, com 79 cadeiras, uma perda de 23 assentos. Já os Reformistas e Conservadores Europeus (RCE), de extrema direita, devem chegar a 73 cadeiras e o Identidade e Democracia (ID), também da direita radical, ficará com 58 cadeiras.

O projeto político europeu ficou mais polarizado, avalia Nathalie Tocci, cientista política e diretora do Instituto de Assuntos Internacionais da Itália. “Antes os eleitores votavam no Parlamento Europeu com base nas questões nacionais e por isso a participação popular no pleito europeu era baixa, mas agora as questões são cada vez mais europeias”.

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Na França, o partido Reagrupamento Nacional, da eurocética Marine Le Pen, ficou na primeira colocação com 31% dos votos. Já na Alemanha, a União Democrata-Cristã, de centro-direita, recebeu 30% dos votos, seguida pelo partido de extrema direita Alternativa para a Alemanha (AFD), que teve 15,9%. O Partido Social-Democrata da Alemanha (SPD), do chanceler alemão, Olaf Scholz, ficou apenas em terceiro com 13,9%.

A extrema direita também obteve ganhos na Holanda. O Partido pela Liberdade, de Geert Wilders, ficou em segundo no pleito para o Parlamento Europeu, atrás apenas de uma aliança entre o Partido Trabalhista e o Partido Verde. A legenda de Wilders venceu as eleições na Holanda no final de 2023, mas ele não conseguiu fazer um acordo com outros partidos para a formação de uma coalizão. Em Roma, o Irmãos da Itália, partido da direita radical da primeira-ministra Giorgia Meloni foi o mais votado.

Na Espanha, o Partido Popular (PP), da direita tradicional, obteve 34,2% dos votos. Já o Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE), do primeiro-ministro Pedro Sánchez, teve 30,2% e o VOX, de extrema direita, ficou com 9,6% dos votos. Já em Portugal, o Partido Socialista (PS) ficou em primeiro, seguido pela Aliança Democrática (AD), da direita tradicional, e o Chega, de extrema direita, em terceiro lugar.

Marine Le Pen, do Partido de extrema direita francês Reagrupamento Nacional, participa de um comício ao lado do líder da legenda, Jordan Bardella, em Paris, França  Foto: Stephane De Sakutin/AFP

Principais pautas

A disputa no bloco europeu foi um referendo das principais questões envolvendo o Parlamento nos últimos anos, que envolvem imigração, política ambiental e economia. A crise de competitividade da Europa também foi avaliada nas eleições, de acordo com o professor de Ciência Política da Universidade de Lisboa, António Costa. “O que cimenta a União Europeia é a Europa econômica e como se relaciona e compete com a China e os Estados Unidos”.

Mario Draghi, ex-primeiro-ministro da Itália e ex-presidente do Banco Central Europeu (BCE) está escrevendo um relatório que só será divulgado após todos a apuração de todos os resultados do pleito. Apesar do documento não ter sido divulgado, Draghi revelou ao The New York Times que o bloco europeu precisa de uma “mudança radical”. Segundo ele, a União Europeia tem muitas regulamentações e a liderança do bloco em Bruxelas tem pouco poder. Além disso, os mercados financeiros estão fragmentados e as empresas são pequenas para competir na escala global.

Os outros dois temas chave destas eleições serviram de escada para a extrema direita. Em abril, o Parlamento Europeu aprovou uma reforma de asilo que endurece o controle das fronteiras e estabelece regras para os 27 países membros lidarem com refugiados que tentarem entrar no bloco europeu sem autorização. Segundo o projeto, é possível realizar de forma mais rápida o processo de rastreamento dos imigrantes que estão na UE de forma ilegal, assim como a avaliação de qualificação para asilo político até uma possível deportação, mas muitas legendas da direita radical acreditam que não é o suficiente e pedem ainda mais endurecimento. “A imigração tem sido o tema mais mobilizador da direita radical”, aponta Costa.

A extrema direita também se aproveitou da crescente revolta entre os agricultores europeus. Os agricultores protestam continuamente desde fevereiro e reclamam da burocracia complexa da UE, rendimentos muito baixos, inflação, concorrência externa e acúmulo de regulamentações. A revolta deles pode remodelar a política europeia e fazer o Parlamento Europeu dar um passo atrás em algumas regras. O novo Parlamento terá a tarefa de encontrar um equilíbrio entre reformas políticas que funcionem para os agricultores e a minimização dos danos que a agricultura pode causar ao ambiente.

Extrema direita fragmentada

Há uma divisão no bloco da extrema direita no Parlamento Europeu. São duas coalizões: o Identidade e Democracia (ID), liderada pelo partido Reagrupamento Nacional, da francesa Marine Le Pen, e os Reformistas e Conservadores Europeus (RCE), da primeira-ministra da Itália, Giorgia Meloni.

No primeiro grupo estão partidos de extrema direita como os italianos da Liga Norte, os holandeses do Partido da Liberdade e os húngaros do Fidesz. No segundo, estão legendas como o espanhol Vox, o polonês PiS e o italiano Fratelli D’Italia.

Apesar de uma agenda comum em temas de imigração e um ceticismo quanto à União Europeia, os dois grupos discordam sobretudo no apoio à guerra na Ucrânia. A primeira-ministra italiana é declaradamente pró-Ucrânia, a política francesa Marine Le Pen é mais tímida no apoio a Kiev.

O RCE começou como um bloco mais ao centro, quando era liderado pelo Partido Conservador do Reino Unido. Nos últimos anos, no entanto, recebeu adesões de partidos mais radicais, como o Vox.

De acordo com a cientista política Nathalie Tocci, os partidos da extrema direita podem ter uma influência reduzida no Parlamento Europeu por não conseguirem trabalhar juntos. “Estes partidos são tão nacionalistas que na arena internacional não conseguem cooperar. Eles podem odiar imigrantes, mas discordam em como lidar com a questão. Eles também discordam em relação à Rússia, por exemplo”, apontou a diretora do Instituto de Assuntos Internacionais da Itália.

A primeira-ministra da Itália, Giorgia Meloni, participa de uma coletiva de imprensa em Shengjin, na Albânia  Foto: Adnan Beci/AFP

Além disso, o ID teve uma perda de peso com a decisão da legenda de expulsar o partido Alternativa para a Alemanha, depois de declarações controversas e revisionistas de Maximilian Krah, então principal nome do partido para as eleições no Parlamento Europeu. Krah afirmou em entrevista ao jornal italiano La Reppublica que nem todos os membros da SS, organização paramilitar nazista, eram criminosos.

Emre Peker, diretor para Europa da consultoria de risco Eurasia, concorda com a avaliação de Tocci. Para ele, mesmo que ao todo a extrema direita tenha uma grande quantidade de eurodeputados, eles não vão conseguir ter uma plataforma efetiva por conta de suas desavenças.

Partidos tradicionais

Nas eleições para o Parlamento Europeu, os eleitores votam nos partidos políticos nacionais, que se juntam em grupos de maior afinidade política quando são eleitos para o Parlamento. Os 720 assentos do Parlamento são divididos por países. A distribuição leva em conta o tamanho da população de cada país, com a Alemanha liderando a conta. O país pode eleger 96 parlamentares, enquanto a França elege 81. Países menores como Malta e Chipre possuem apenas 6 parlamentares eleitos.

Com isso, o Partido Popular da Europa (PPE), de centro-direita, deve continuar sendo o maior partido do Parlamento Europeu, seguido pela Aliança Progressista dos Socialistas e Democratas, de centro-esquerda.

Maximilian Krah, do partido de extrema direita Alternativa para a Alemanha, saiu da liderança do partido no Parlamento Europeu  Foto: Jean-francois Badias/AP

Uma guinada maior para a direita fez com que existisse uma possibilidade de uma aliança do PPE, de centro-direita, com os partidos de extrema-direita para a formação de uma maioria, mas segundo Peker, da Eurásia, esta possibilidade não existe. “Os partidos de extrema direita podem se alinhar ao PPE em algumas votações com o intuito de exercer influência, mas não farão parte da maioria. O PPE não faria uma aliança permanente com os partidos de extrema direita”.

O PPE, de centro-direita, foi o mais votado no pleito de 2019, seguido pela Aliança Progressista dos Socialistas e Democratas, de centro-esquerda, que tem o PSOE espanhol do primeiro-ministro Pedro Sánchez como maior destaque. A terceira maior força do Parlamento Europeu neste momento é o partido centrista Renovar a Europa, do presidente francês, Emmanuel Macron. Estes três partidos foram o bloco majoritário na atual conjuntura.

Ursula von der Leyen

O novo Parlamento Europeu também deverá escolher o próximo presidente da Comissão Europeia. A atual presidente, Ursula von der Leyen, sinalizou que quer se candidatar para um novo mandato de cinco anos. A Comissão Europeia é o órgão executivo da UE e é responsável por propor leis. O órgão conta com 27 comissários, contando com o presidente e cada um dos comissários representa um país-membro da UE.

O nome do candidato à presidência precisa ter o aval dos Estados-membros e deve ser do partido com o maior número de parlamentares. Von der Leyen é do Partido Popular da Europa (PPE), legenda mais votada. Por isso, o partido deve indicar von der Leyen para o cargo.

A primeira-ministra da Itália, Giorgia Meloni, conversa com a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen  Foto: Roberto Monaldo/AP

Após a indicação, o nome precisa ser aprovado por uma maioria simples dos parlamentares, ou seja 361 eurodeputados. Caso a indicação não seja chancelada pelo Parlamento, os Estados-membros precisam propor um novo nome via Conselho Europeu que seja aprovado pelo Parlamento.

Von der Leyen já está se movimentando para garantir os votos necessários e pode garantir até o apoio de nomes da extrema direita. “Von der leyen deve buscar apoio em partidos centristas e pró-UE, como o PPE, a Aliança Progressista dos Socialistas e Democratas, o partido Renovar a Europa e os Verdes”, avalia Peker, da Eurásia. “Alguns eurodeputados destes partidos podem não votar nela, mas nós avaliamos que ela terá o apoio de todos os líderes da UE, incluindo Giorgia Meloni e seu partido no Parlamento. Ela não deve pedir pelo apoio de partidos de extrema direita, mas vai contar com estes votos”.

Com questões relacionadas a imigração, política ambiental e o apoio à Ucrânia na guerra contra a Rússia, a eleição do Parlamento Europeu, que terminou no domingo, 9, representou uma Europa em transformação. Em vez de integração e abertura, muitos eleitores sinalizaram nas urnas que desejam políticas migratórias mais restritivas e menos regulações verdes. A insatisfação foi um prato cheio para a extrema direita, que teve seu melhor resultado eleitoral na história, segundo projeções do Parlamento Europeu.

Apesar do avanço da direita radical no pleito europeu, a dianteira ficou com partidos centristas tradicionais. Segundo projeções divulgadas pelo Parlamento Europeu, o Partido Popular Europeu (PPE), de centro-direita, deve conquistar 185 cadeiras, seguido pela Aliança Progressista dos Socialistas e Democratas, de centro-esquerda, que deve conquistar 137 cadeiras. O partido centrista Renovar a Europa, liderado pelo presidente da França, Emmanuel Macron, será a terceira força do Parlamento, com 79 cadeiras, uma perda de 23 assentos. Já os Reformistas e Conservadores Europeus (RCE), de extrema direita, devem chegar a 73 cadeiras e o Identidade e Democracia (ID), também da direita radical, ficará com 58 cadeiras.

O projeto político europeu ficou mais polarizado, avalia Nathalie Tocci, cientista política e diretora do Instituto de Assuntos Internacionais da Itália. “Antes os eleitores votavam no Parlamento Europeu com base nas questões nacionais e por isso a participação popular no pleito europeu era baixa, mas agora as questões são cada vez mais europeias”.

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Na França, o partido Reagrupamento Nacional, da eurocética Marine Le Pen, ficou na primeira colocação com 31% dos votos. Já na Alemanha, a União Democrata-Cristã, de centro-direita, recebeu 30% dos votos, seguida pelo partido de extrema direita Alternativa para a Alemanha (AFD), que teve 15,9%. O Partido Social-Democrata da Alemanha (SPD), do chanceler alemão, Olaf Scholz, ficou apenas em terceiro com 13,9%.

A extrema direita também obteve ganhos na Holanda. O Partido pela Liberdade, de Geert Wilders, ficou em segundo no pleito para o Parlamento Europeu, atrás apenas de uma aliança entre o Partido Trabalhista e o Partido Verde. A legenda de Wilders venceu as eleições na Holanda no final de 2023, mas ele não conseguiu fazer um acordo com outros partidos para a formação de uma coalizão. Em Roma, o Irmãos da Itália, partido da direita radical da primeira-ministra Giorgia Meloni foi o mais votado.

Na Espanha, o Partido Popular (PP), da direita tradicional, obteve 34,2% dos votos. Já o Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE), do primeiro-ministro Pedro Sánchez, teve 30,2% e o VOX, de extrema direita, ficou com 9,6% dos votos. Já em Portugal, o Partido Socialista (PS) ficou em primeiro, seguido pela Aliança Democrática (AD), da direita tradicional, e o Chega, de extrema direita, em terceiro lugar.

Marine Le Pen, do Partido de extrema direita francês Reagrupamento Nacional, participa de um comício ao lado do líder da legenda, Jordan Bardella, em Paris, França  Foto: Stephane De Sakutin/AFP

Principais pautas

A disputa no bloco europeu foi um referendo das principais questões envolvendo o Parlamento nos últimos anos, que envolvem imigração, política ambiental e economia. A crise de competitividade da Europa também foi avaliada nas eleições, de acordo com o professor de Ciência Política da Universidade de Lisboa, António Costa. “O que cimenta a União Europeia é a Europa econômica e como se relaciona e compete com a China e os Estados Unidos”.

Mario Draghi, ex-primeiro-ministro da Itália e ex-presidente do Banco Central Europeu (BCE) está escrevendo um relatório que só será divulgado após todos a apuração de todos os resultados do pleito. Apesar do documento não ter sido divulgado, Draghi revelou ao The New York Times que o bloco europeu precisa de uma “mudança radical”. Segundo ele, a União Europeia tem muitas regulamentações e a liderança do bloco em Bruxelas tem pouco poder. Além disso, os mercados financeiros estão fragmentados e as empresas são pequenas para competir na escala global.

Os outros dois temas chave destas eleições serviram de escada para a extrema direita. Em abril, o Parlamento Europeu aprovou uma reforma de asilo que endurece o controle das fronteiras e estabelece regras para os 27 países membros lidarem com refugiados que tentarem entrar no bloco europeu sem autorização. Segundo o projeto, é possível realizar de forma mais rápida o processo de rastreamento dos imigrantes que estão na UE de forma ilegal, assim como a avaliação de qualificação para asilo político até uma possível deportação, mas muitas legendas da direita radical acreditam que não é o suficiente e pedem ainda mais endurecimento. “A imigração tem sido o tema mais mobilizador da direita radical”, aponta Costa.

A extrema direita também se aproveitou da crescente revolta entre os agricultores europeus. Os agricultores protestam continuamente desde fevereiro e reclamam da burocracia complexa da UE, rendimentos muito baixos, inflação, concorrência externa e acúmulo de regulamentações. A revolta deles pode remodelar a política europeia e fazer o Parlamento Europeu dar um passo atrás em algumas regras. O novo Parlamento terá a tarefa de encontrar um equilíbrio entre reformas políticas que funcionem para os agricultores e a minimização dos danos que a agricultura pode causar ao ambiente.

Extrema direita fragmentada

Há uma divisão no bloco da extrema direita no Parlamento Europeu. São duas coalizões: o Identidade e Democracia (ID), liderada pelo partido Reagrupamento Nacional, da francesa Marine Le Pen, e os Reformistas e Conservadores Europeus (RCE), da primeira-ministra da Itália, Giorgia Meloni.

No primeiro grupo estão partidos de extrema direita como os italianos da Liga Norte, os holandeses do Partido da Liberdade e os húngaros do Fidesz. No segundo, estão legendas como o espanhol Vox, o polonês PiS e o italiano Fratelli D’Italia.

Apesar de uma agenda comum em temas de imigração e um ceticismo quanto à União Europeia, os dois grupos discordam sobretudo no apoio à guerra na Ucrânia. A primeira-ministra italiana é declaradamente pró-Ucrânia, a política francesa Marine Le Pen é mais tímida no apoio a Kiev.

O RCE começou como um bloco mais ao centro, quando era liderado pelo Partido Conservador do Reino Unido. Nos últimos anos, no entanto, recebeu adesões de partidos mais radicais, como o Vox.

De acordo com a cientista política Nathalie Tocci, os partidos da extrema direita podem ter uma influência reduzida no Parlamento Europeu por não conseguirem trabalhar juntos. “Estes partidos são tão nacionalistas que na arena internacional não conseguem cooperar. Eles podem odiar imigrantes, mas discordam em como lidar com a questão. Eles também discordam em relação à Rússia, por exemplo”, apontou a diretora do Instituto de Assuntos Internacionais da Itália.

A primeira-ministra da Itália, Giorgia Meloni, participa de uma coletiva de imprensa em Shengjin, na Albânia  Foto: Adnan Beci/AFP

Além disso, o ID teve uma perda de peso com a decisão da legenda de expulsar o partido Alternativa para a Alemanha, depois de declarações controversas e revisionistas de Maximilian Krah, então principal nome do partido para as eleições no Parlamento Europeu. Krah afirmou em entrevista ao jornal italiano La Reppublica que nem todos os membros da SS, organização paramilitar nazista, eram criminosos.

Emre Peker, diretor para Europa da consultoria de risco Eurasia, concorda com a avaliação de Tocci. Para ele, mesmo que ao todo a extrema direita tenha uma grande quantidade de eurodeputados, eles não vão conseguir ter uma plataforma efetiva por conta de suas desavenças.

Partidos tradicionais

Nas eleições para o Parlamento Europeu, os eleitores votam nos partidos políticos nacionais, que se juntam em grupos de maior afinidade política quando são eleitos para o Parlamento. Os 720 assentos do Parlamento são divididos por países. A distribuição leva em conta o tamanho da população de cada país, com a Alemanha liderando a conta. O país pode eleger 96 parlamentares, enquanto a França elege 81. Países menores como Malta e Chipre possuem apenas 6 parlamentares eleitos.

Com isso, o Partido Popular da Europa (PPE), de centro-direita, deve continuar sendo o maior partido do Parlamento Europeu, seguido pela Aliança Progressista dos Socialistas e Democratas, de centro-esquerda.

Maximilian Krah, do partido de extrema direita Alternativa para a Alemanha, saiu da liderança do partido no Parlamento Europeu  Foto: Jean-francois Badias/AP

Uma guinada maior para a direita fez com que existisse uma possibilidade de uma aliança do PPE, de centro-direita, com os partidos de extrema-direita para a formação de uma maioria, mas segundo Peker, da Eurásia, esta possibilidade não existe. “Os partidos de extrema direita podem se alinhar ao PPE em algumas votações com o intuito de exercer influência, mas não farão parte da maioria. O PPE não faria uma aliança permanente com os partidos de extrema direita”.

O PPE, de centro-direita, foi o mais votado no pleito de 2019, seguido pela Aliança Progressista dos Socialistas e Democratas, de centro-esquerda, que tem o PSOE espanhol do primeiro-ministro Pedro Sánchez como maior destaque. A terceira maior força do Parlamento Europeu neste momento é o partido centrista Renovar a Europa, do presidente francês, Emmanuel Macron. Estes três partidos foram o bloco majoritário na atual conjuntura.

Ursula von der Leyen

O novo Parlamento Europeu também deverá escolher o próximo presidente da Comissão Europeia. A atual presidente, Ursula von der Leyen, sinalizou que quer se candidatar para um novo mandato de cinco anos. A Comissão Europeia é o órgão executivo da UE e é responsável por propor leis. O órgão conta com 27 comissários, contando com o presidente e cada um dos comissários representa um país-membro da UE.

O nome do candidato à presidência precisa ter o aval dos Estados-membros e deve ser do partido com o maior número de parlamentares. Von der Leyen é do Partido Popular da Europa (PPE), legenda mais votada. Por isso, o partido deve indicar von der Leyen para o cargo.

A primeira-ministra da Itália, Giorgia Meloni, conversa com a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen  Foto: Roberto Monaldo/AP

Após a indicação, o nome precisa ser aprovado por uma maioria simples dos parlamentares, ou seja 361 eurodeputados. Caso a indicação não seja chancelada pelo Parlamento, os Estados-membros precisam propor um novo nome via Conselho Europeu que seja aprovado pelo Parlamento.

Von der Leyen já está se movimentando para garantir os votos necessários e pode garantir até o apoio de nomes da extrema direita. “Von der leyen deve buscar apoio em partidos centristas e pró-UE, como o PPE, a Aliança Progressista dos Socialistas e Democratas, o partido Renovar a Europa e os Verdes”, avalia Peker, da Eurásia. “Alguns eurodeputados destes partidos podem não votar nela, mas nós avaliamos que ela terá o apoio de todos os líderes da UE, incluindo Giorgia Meloni e seu partido no Parlamento. Ela não deve pedir pelo apoio de partidos de extrema direita, mas vai contar com estes votos”.

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