TEERÃ - Os pais de Mahsa Amini rejeitaram o relatório médico oficial, segundo o qual a morte da jovem iraniana durante sua detenção não se deveu a agressões, disse o advogado da família à imprensa local nesta quinta-feira, 20. O laudo médico, divulgado em 7 de outubro, relaciona a causa da morte a uma cirurgia que Mahsa fez na infância.
A morte da jovem curdo-iraniana de 22 anos após sua detenção pela polícia moral do país tem provocado protestos intensos por mais de um mês. Mahsa morreu em 16 de setembro, três dias depois de ser detida em Teerã por supostamente ter violado o código de vestimenta do país. Desde então, os iranianos vão às ruas para protestar contra o governo e as mulheres iranianas tem recebido apoio pelo mundo, incluindo do presidente Joe Biden.
Em 7 de outubro, a Organização Forense do Irã informou que a morte de Mahsa Amini não foi causada por golpes na cabeça, ou nos órgãos vitais, mas está relacionada com uma cirurgia de tumor cerebral aos oito anos de idade, conforme texto publicado pela televisão estatal.
“Os advogados rejeitaram o relatório em uma declaração à autoridade judiciária”, disse Saleh Nikbakht, um advogado dos pais de Mahsa, ao jornal Etemad. Eles pediram que a causa da morte seja revisada e solicitaram à Justiça que escolha cinco especialistas (incluindo um neurocirurgião e um cardiologista) de uma lista de dez médicos selecionados pelos pais de Mahsa Amini, acrescentou.
“A defesa deve poder obter esclarecimentos sobre a forma como a investigação foi conduzida e sobre o papel da pessoa, ou das pessoas, envolvidas na detenção de Mahsa e sua transferência para a delegacia da polícia moral, para poder defender os direitos dos pais e eliminar as incertezas sobre a causa da morte”, destacou.
Em 19 de setembro, o pai de Mahsa, Amjad Amini, garantiu à agência de notícias Fars que sua filha estava perfeitamente saudável. No final de setembro, Nikbakht informou que a família Amini apresentou uma denúncia contra os policiais que prenderam a jovem.
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Mahsa Amini: Jovem de 22 anos morreu após ser detida pela polícia moral do #Irã por uso ‘inadequado’ da indumentária obrigatória
Mais de um mês de protestos
A indignação pela morte desta jovem provocou as maiores manifestações no Irã desde os protestos de 2019 contra o aumento do preço da gasolina. Os iranianos tem adotado uma série de táticas para prolongar as manifestações, apesar da repressão mortal no país.
Apesar das restrições de acesso à Internet impostas pelas autoridades e do bloqueio de aplicativos populares como Instagram e WhatsApp, os jovens iranianos ainda conseguem publicar vídeos das manifestações feitos com seus próprios celulares.
Os vídeos mostram motoristas buzinando em Teerã em apoio aos manifestantes e bloqueando estradas com seus carros para atrasar a chegada das forças de segurança que, por sua vez, usam motos para abrir caminho nos engarrafamentos. Os policiais chegam a arrancar as placas dos veículos para identificar os motoristas. Alguns atiram nos manifestantes com espingardas e balas de tinta para tentar localizá-los mais tarde, de acordo com os vídeos.
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Para lidar com a repressão, os jovens usam máscaras e jaquetas com capuz, colocam seus celulares no modo avião para evitar serem vistos e carregam roupas extras para substituir as manchadas de tinta.
Nos vídeos compartilhados nas redes sociais, manifestantes desmontam uma câmera de vigilância em Sanandaj, capital da província do Curdistão de onde era Mahsa Amini. Alguns organizam encontros mais restritos, longe das praças das grandes cidades.
Nova fase
“A revolta continua, mas vemos menos vídeos devido às severas restrições de acesso à Internet”, tuitou Shadi Sadr, diretor da ONG Justice for Iran, com sede em Londres. Porém, aqueles intimidados demais para participar dos protestos encontraram outros meios mais discretos de se manifestar.
Duas semanas atrás, fontes em Teerã pareciam estar cheias de sangue depois que um artista tingiu suas águas de vermelho para refletir a repressão. Estudantes de arte de uma universidade de Teerã gravaram um vídeo mostrando suas mãos levantadas e cobertas de tinta vermelha.
“Esta nova fase dos protestos está mais descentralizada que as anteriores. Acontece sem liderança, organização ou reivindicações particulares”, destacou Omid Memarian, analista iraniano da ONG Democracy for the Arab World Now (DAWN), à AFP. “Pelo contrário, pedem a morte do ditador e o fim da República Islâmica.”
Desafiando as autoridades, militantes do grupo de hackers Edalat e Ali invadiram um noticiário ao vivo da televisão estatal, divulgando uma imagem do líder supremo Ali Khamenei em chamas. “Até o momento, nem o Estado nem os manifestantes são capazes de superar o desafio levantado pelo outro, o que sugere que os protestos e as violências atuais poderiam durar muito tempo”, afirma Henry Rome, especialista em Irã no Washington Institute./AFP