BUENOS AIRES - Depois de sete dias de buscas, parentes dos tripulantes do ARA San Juan, submarino argentino desaparecido no Atlântico, começam a perder as esperanças e a criticar o governo pela demora no resgate. “Não posso acreditar que o próprio país que eles serviram vá deixá-los morrer assim”, disse na quarta-feira, dia 22, Elena Alfaro, irmã de Cristian Ibáñez, marinheiro responsável pelo radar da embarcação.
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A impaciência dos parentes dos tripulantes do ARA San Juan é cada vez maior. “Lá dentro (na base onde estão as famílias) é um velório. Sinto que estamos esperando por um corpo, mas não quero enterrá-lo, quero que esteja vivo. Eu imploro ao governo que não os deixe morrer”, disse Elena, aos prantos.
Na quarta, dia 22, pela primeira vez, ela falou com jornalistas ao chegar à Base Naval de Mar del Plata, balneário a cerca de 400 quilômetros de Buenos Aires, onde a Marinha coordena as buscas pelo submarino. “Sinto uma dor terrível pelas decisões que foram tomadas. Por que tanto protocolo?”
O porta-voz da Base Naval de Mar del Plata, Gabriel Galeazzi, disse que a Marinha “jamais subestimou a emergência da situação” e disse que os parentes receberam desde o começo as informações corretas. “Trouxemos os parentes para cá para eles ficarem a par de cada informação e cada novidade das buscas”, disse Galeazzi.
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O professor Claudio Rodríguez, irmão do marinheiro Hernán Rodríguez, de 44 anos, que há 11 anos trabalha na equipe do ARA San Juan, ainda tem esperanças de encontrar o irmão. “São várias pessoas envolvidas na operação, mas não há nada ainda”, lamentou o professor, entrevistado pelo jornal La Nación. “Não encontram nenhum pedaço de nada, nenhuma chamada de rádio. Temos acesso aos comandantes da base naval, e nos dão todos os detalhes, mas nada de concreto.”
A Marinha argentina admitiu que não tem nenhum vestígio do submarino. “No momento, não temos nem sinais, nem rastros, nem pistas de onde está o ARA San Juan”, afirmou entrevista coletiva o porta-voz da Marinha argentina, Enrique Balbi. “Os sinais detectados e os ruídos captados foram deixados de lado depois de pesquisas na região de onde eles vinham.”
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As buscas pelo submarino entraram em uma fase crítica na quarta-feira. Desde o dia 15, especialistas da Marinha explicaram mais de uma vez que, em condições normais, o submarino poderia passar até 90 dias sem ajuda externa, em relação a combustível, água, comida e oxigênio. Para tanto, a embarcação tem de emergir para ativar o snorkel e, assim, liberar os gases internos e dos motores, tóxicos à tripulação. Se a embarcação não utilizar o snorkel para renovar o ar, ela teria sete dias de oxigênio.
“A chave é o oxigênio. Se o ambiente fica fechado, devemos controlar a atmosfera para que o nível de oxigênio que cai seja reabastecido, e para remover o dióxido de carbono produzido”, explicou Gustavo Mauvecin, médico da Marinha.
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Segundo ele, a tripulação tem mecanismos para consumir menos ar e para injetar artificialmente oxigênio. “Os submarinistas são pessoas treinadas. Um dos recursos que eles têm dentro do submarino para consumir a menor quantidade possível de oxigênio é enviar a equipe para dormir ou ficar em repouso.”
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Em meio ao clima de incertezas, os parentes não escondem a angústia. “Nunca nos preparam para isso”, escreveu em sua conta no Twitter Jesica Gopar, mulher do tripulante Fernando Santilli, com quem tem um filho. “Estamos à espera de um milagre. Estou pedindo ajuda psicológica. Estou perdendo as esperanças e penso como será tudo sem ele (Fernando). Minha alma dói. Quero morrer.”
A operação de resgate entra nesta quinta-feira, dia 23, no oitavo dia – um além do prazo para se esgotar o oxigênio. Com magnitude jamais vista na região, a operação envolve 4 mil militares de vários países, incluindo EUA, Reino Unido, França, Alemanha, Brasil, Chile, Peru, Colômbia e Uruguai. / AFP, REUTERS, AP e EFE