Famílias do massacre de Sandy Hook suspeitam que Alex Jones esconde fortuna para não pagar pena


Teórico da conspiração foi condenado a pagar cerca de R$ 7,9 bilhões por difamações sobre massacre

Por Jonathan O'Connell
Atualização:

O apresentador e editor no canal e site Infowars, Alex Jones, condenado por promover falsas teorias da conspiração sobre o massacre da escola Sandy Hook, realizou transações financeiras entre a sua empresa, Free Speech Systems, e outras nas quais ele é sócio ou que contam com a participação de parentes enquanto era processado pelas famílias de vítimas de Sandy Hook. As movimentações levantam a suspeita de que Jones agiu para esconder a fortuna e não pagar as indenizações de quase US$ 1,5 bilhão (R$ 7,9 bilhões), estabelecidas nas suas sentenças.

Segundo uma investigação do The Washington Post, as transações de maior volume começaram no momento em que o processo o qual ele era réu começou a lhe desfavorecer. Os documentos anexados à Justiça dos EUA mostram que entre agosto de 2020 e novembro de 2021, Jones pagou dívidas de US$ 55 milhões (R$ 292 milhões) da Free Speech System com uma empresa em que ele é sócio junto com o pai, chamada PQPR Holdings.

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As dívidas são referentes a uma compra antiga de suplementos alimentares feita pela Free Speech Systems a PQPR para Jones vendê-los durante o programa em formato televisivo que ele promovia na internet, indicam os documentos. De acordo com o seu advogado, trata-se de uma despesa que havia passado “despercebida” na contabilidade da empresa.

O teórico da conspiração Alex Jones durante um de seus julgamentos nos EUA Foto: Tyler Sizemore/Hearst Connecticut Media via AP - 22/09/2022

Além dessas transações, o teórico da conspiração passou a realizar pagamentos de US$ 10 mil (R$ 53,1 mil) ao seu personal trainer por semana que, segundo seus advogados, também estão ligados ao marketing dos suplementos da PQPR. Outra empresa, controlada pela irmã de Alex Jones, recebeu US$ 240 mil (R$ 1,2 bilhão), mostram os registros.

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As transferências colocam o dinheiro da Free Speech Systems, condenada nos processos, em empresas que estão fora do alcance judicial e consequentemente das famílias que processaram Jones por causa das alegações mentirosas de que o massacre de Sandy Hook se tratou de uma farsa. Somando os dois processos no qual Alex Jones foi condenado, a Justiça determinou o pagamento de quase US$ 1,5 bilhão por danos causados (R$ 7,9 bilhões) – valor que inclui os honorários advocatícios de US$ 323 milhões gastos pelos parentes das vítimas.

Alex Jones afirma que pretende recorrer aos processos, mas enquanto isso declarou falência da Free Speech Systems por causa das transações recentes, feitas às suas empresas e outras. Como resultado, as famílias de Sandy Hook podem entrar em uma lista com outros credores da empresa – incluindo companhias ligadas a ele – para poder receber os pagamentos, tornando o processo mais lento.

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O processo judicial de falência vai determinar, em último caso, quais credores devem receber o dinheiro e quanto deve ser pago. A mesma ação vai investigar se as transações são legítimas ou fraudulentas, como defendem os advogados de parentes das vítimas. Esses processaram a PQPR em um tribunal estadual do Texas com a alegação de que não se trata de uma empresa independente. “No meio do processo (de difamação contra as vítimas), as empresas começaram a registrar dívidas que não apareciam antes”, declarou recentemente o advogado de acusação, Avi Moshenberg.

Um funcionário do Departamento de Justiça que atua no processo de falência para garantir a integridade do processo também criticou as transações feitas por Alex Jones em uma entrevista.

Ao Washington Post, Alex Jones, seu advogado e os advogados da Free Speech Systems e da PQPR, assim como o pai do conspirador, não responderam os pedidos de comentários ou as perguntas enviadas.

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Empresa paralela foi criada em 2013 e é legítima, diz Defesa

Nos processos judiciais, Alex Jon Systems, Raymond Battaglia, a empresa nunca adotou “controles apropriados de gestão e contabilidade” e, portanto, não notou a dívida que se acumulou com a PQPR.iu um lugar de gerência na empresa. De acordo com um fiscal contratado por Jones no processo, ela é legítima e tem ligação com a Free Speech Systems para viabilizar o modelo de negócio, incluindo a obtenção de certificações do governo e negociação com fornecedores.

Segundo o advogado da Free Speech System, Raymond Battaglia, a empresa nunca adotou “controles apropriados de gestão e contabilidade” e, portanto, não notou a dívida que se acumulou com a PQPR.

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Especialistas em falência judicial afirmam que a estrutura corporativa não é incomum. Muitos proprietários de pequenas empresas criam empresas separadas, mas relacionadas, para organizar e proteger os ativos. Eles também dizem que o fato da PQPR não ter funcionários, escritórios ou sócios além de Alex Jones e seu pai não significa que ela seja ilegal ou de fachada.

No fim, apenas a Justiça pode determinar se foram pagamentos lícitos ou não, afirmou o professor de direito financeiro da Universidade do Texas, Jay Westbrook. “A questão do caso é se esses são pagamentos válidos”, declarou.

Imagem mostra parentes de vítimas de Sandy Hook abraçando advogados após Justiça condenar Alex Jones, em 12 de outubro deste ano Foto: Brian A. Pounds/Hearst Connecticut via AP
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A investigação do Washington Post encontrou semelhanças entre as transações atuais, ocorridas durante o processo de Sandy Hook, e transações de quase dez anos atrás, feitas durante o processo de divórcio de Alex Jones e a então esposa e que colocou em risco a sua fortuna, estimada no processo entre US$ 135 milhões e US$ 270 milhões (equivalentes a R$ 718 milhões e R$ 1,4 bilhão, respectivamente). Jones contesta as estimativas.

Registros financeiros mostram que a venda de suplementos alimentares, ligada à PQPR, é a principal fonte da fortuna do teórico da conspiração. Entre os produtos, estão o suplemento dietético Super Male Vitality e as cápsulas DNA Force Plus, criado para regular a função cardíaca e a produção de energia celular, por exemplo. Eles constituem a maior parte da renda da Free Speech Systems no ano passado, de US$ 65 milhões (R$ 345 milhões).

Segundo o advogado de acusação, as famílias de Sandy Hook estão dispostas a estabelecer um acordo com Alex Jones para receber menos dinheiro caso ele garanta o fim da carreira como apresentador. A ideia é rejeitada pelo réu. “Eles nos querem fora do ar, esse é o objetivo”, disse ele durante um dos seus programas no mês passado. “Você tem meu compromisso: não vou recuar”, acrescentou.

Um império construído sobre conspirações e suplementos

Alex Jones se tornou um milionário americano após uma carreira baseada em teorias da conspiração e venda de suplementos alimentares.

Nascido no Texas, ele começou a trabalhar na televisão em um programa de Austin no início da década de 1990 e anos depois ganhou um programa próprio em uma estação de rádio local, que tinha seu pai como patrocinador. No fim da década, o programa era exibido em dezenas de emissoras no país.

Neste período, Alex Jones passou a disseminar teorias da conspiração sobre o cerco de Waco, um acontecimento que ocorreu ao norte de Austin quando ele tinha 19 anos e morava na cidade, no qual agentes federais invadiram a sede de uma seita chamada Ramo Davidiano em uma operação da Agência de Álcool, Tabaco, Armas de Fogo e Explosivos que terminou com 76 mortos. No ar, Jones passou a afirmar que a operação teve o intuito de ferir o livre exercício religioso estabelecido na Primeira Emenda da Constituição americana e a pedir aos ouvintes que enviassem doações para ajudar a seita a construir uma nova igreja.

Nos anos que se seguiram, ele continuou a criticar o governo, a mídia e a falar em uma “Nova Ordem Mundial”. Grandes eventos mundiais, como crises políticas, eram descredibilizados pelo conspirador, chamados de “crises encenadas” para servir de pretexto a um suposto poder secreto global e corporações multinacionais.

Em 1999, ele criou o site chamado Info Wars e à medida que a internet se popularizou lançou um streaming de vídeo por assinatura e começou a vender vídeos, livros e camisetas. Em 2007, criou a Free Speech Systems junto com a então esposa, Kelly, para reunir uma série de empresas produtoras de conteúdo. Dois anos depois, a empresa obteve US$ 6,2 milhões (R$ 32,9 milhões) em receitas.

Em 2013, dois meses antes de Kelly iniciar o processo de divórcio, Alex Jones criou a PQPR com a justificativa de dar amparo legal aos negócios de suplementos alimentares, que passou a vender em seus programas. Em entrevista ao Washington Post, a ex-esposa alegou que a criação da empresa foi para proteger a fortuna que ele havia obtido na Free Speech Systems.

“Nosso casamento foi absolutamente terrível naquela época. Estávamos em negociações para nos separarmos”, disse ela. “Ele fez isso para esconder seus bens para quando nos separássemos.”

Pagamentos a amigos e familiares estão sob escrutínio

Em 2018, três anos após o divórcio ter sido finalizado, as famílias de Sandy Hook entraram com uma série de ações judiciais contra Jones após o apresentador afirmar em seus programas que os pais das crianças vítimas do massacre eram atores e que o evento foi encenado para promover o controle de armas.

À medida que o processo evoluiu e a Justiça recusou o arquivamento, Alex Jones passou a realizar as transferências entre as suas empresas e a se desfazer de ativos pessoais, como uma residência em Austin avaliada em US$ 2,8 milhões (R$ 14,9 milhões) transferida para o nome da esposa.

Memorial construído próximo ao local onde aconteceu o massacre de Sandy Hook em novembro de 2012 na cidade de Newtown, Connecticut, para homenagear vítimas Foto: John Moore/Getty Images/AFP

Após realizar as movimentações financeiras, um juiz de Connecticut determinou no dia 10 de novembro que Alex Jones só pode acessar o dinheiro da Free Speech Systems para “despesas comuns”.

A Justiça do Texas deve determinar se as transações foram legais ou fraudulentas, com o objetivo de não pagar as indenizações, em breve. Se o tribunal considerar que foi fraude, o dinheiro pago como dívida entre as suas empresas pode ser destinado aos autores do processo, segundo o professor de direito da Universidade de Georgetown, Adam Levitin.

O mais provável, disse Levitin, é que a Free Speech Systems seja diluída – o que provavelmente significaria que Alex Jones renunciaria aos direitos de programas, marcas e propriedade intelectual, incluindo o nome Infowars – e liquidada, significando que não poderá pagar as dívidas restantes.

Em um dos processos que enfrenta, o conspirador pediu desculpas às famílias de Sandy Hook e disse que agora acredita que os assassinatos ocorreram, mas em seus programas ele se mantém desafiando a Justiça. “Não perco o sono à noite pensando se vou dar a eles um bilhão de dólares”, disse em uma entrevista coletiva em outubro. “Eles simplesmente distorcem quanto dinheiro eu tenho. É uma fraude”.

O apresentador e editor no canal e site Infowars, Alex Jones, condenado por promover falsas teorias da conspiração sobre o massacre da escola Sandy Hook, realizou transações financeiras entre a sua empresa, Free Speech Systems, e outras nas quais ele é sócio ou que contam com a participação de parentes enquanto era processado pelas famílias de vítimas de Sandy Hook. As movimentações levantam a suspeita de que Jones agiu para esconder a fortuna e não pagar as indenizações de quase US$ 1,5 bilhão (R$ 7,9 bilhões), estabelecidas nas suas sentenças.

Segundo uma investigação do The Washington Post, as transações de maior volume começaram no momento em que o processo o qual ele era réu começou a lhe desfavorecer. Os documentos anexados à Justiça dos EUA mostram que entre agosto de 2020 e novembro de 2021, Jones pagou dívidas de US$ 55 milhões (R$ 292 milhões) da Free Speech System com uma empresa em que ele é sócio junto com o pai, chamada PQPR Holdings.

As dívidas são referentes a uma compra antiga de suplementos alimentares feita pela Free Speech Systems a PQPR para Jones vendê-los durante o programa em formato televisivo que ele promovia na internet, indicam os documentos. De acordo com o seu advogado, trata-se de uma despesa que havia passado “despercebida” na contabilidade da empresa.

O teórico da conspiração Alex Jones durante um de seus julgamentos nos EUA Foto: Tyler Sizemore/Hearst Connecticut Media via AP - 22/09/2022

Além dessas transações, o teórico da conspiração passou a realizar pagamentos de US$ 10 mil (R$ 53,1 mil) ao seu personal trainer por semana que, segundo seus advogados, também estão ligados ao marketing dos suplementos da PQPR. Outra empresa, controlada pela irmã de Alex Jones, recebeu US$ 240 mil (R$ 1,2 bilhão), mostram os registros.

As transferências colocam o dinheiro da Free Speech Systems, condenada nos processos, em empresas que estão fora do alcance judicial e consequentemente das famílias que processaram Jones por causa das alegações mentirosas de que o massacre de Sandy Hook se tratou de uma farsa. Somando os dois processos no qual Alex Jones foi condenado, a Justiça determinou o pagamento de quase US$ 1,5 bilhão por danos causados (R$ 7,9 bilhões) – valor que inclui os honorários advocatícios de US$ 323 milhões gastos pelos parentes das vítimas.

Alex Jones afirma que pretende recorrer aos processos, mas enquanto isso declarou falência da Free Speech Systems por causa das transações recentes, feitas às suas empresas e outras. Como resultado, as famílias de Sandy Hook podem entrar em uma lista com outros credores da empresa – incluindo companhias ligadas a ele – para poder receber os pagamentos, tornando o processo mais lento.

O processo judicial de falência vai determinar, em último caso, quais credores devem receber o dinheiro e quanto deve ser pago. A mesma ação vai investigar se as transações são legítimas ou fraudulentas, como defendem os advogados de parentes das vítimas. Esses processaram a PQPR em um tribunal estadual do Texas com a alegação de que não se trata de uma empresa independente. “No meio do processo (de difamação contra as vítimas), as empresas começaram a registrar dívidas que não apareciam antes”, declarou recentemente o advogado de acusação, Avi Moshenberg.

Um funcionário do Departamento de Justiça que atua no processo de falência para garantir a integridade do processo também criticou as transações feitas por Alex Jones em uma entrevista.

Ao Washington Post, Alex Jones, seu advogado e os advogados da Free Speech Systems e da PQPR, assim como o pai do conspirador, não responderam os pedidos de comentários ou as perguntas enviadas.

Empresa paralela foi criada em 2013 e é legítima, diz Defesa

Nos processos judiciais, Alex Jon Systems, Raymond Battaglia, a empresa nunca adotou “controles apropriados de gestão e contabilidade” e, portanto, não notou a dívida que se acumulou com a PQPR.iu um lugar de gerência na empresa. De acordo com um fiscal contratado por Jones no processo, ela é legítima e tem ligação com a Free Speech Systems para viabilizar o modelo de negócio, incluindo a obtenção de certificações do governo e negociação com fornecedores.

Segundo o advogado da Free Speech System, Raymond Battaglia, a empresa nunca adotou “controles apropriados de gestão e contabilidade” e, portanto, não notou a dívida que se acumulou com a PQPR.

Especialistas em falência judicial afirmam que a estrutura corporativa não é incomum. Muitos proprietários de pequenas empresas criam empresas separadas, mas relacionadas, para organizar e proteger os ativos. Eles também dizem que o fato da PQPR não ter funcionários, escritórios ou sócios além de Alex Jones e seu pai não significa que ela seja ilegal ou de fachada.

No fim, apenas a Justiça pode determinar se foram pagamentos lícitos ou não, afirmou o professor de direito financeiro da Universidade do Texas, Jay Westbrook. “A questão do caso é se esses são pagamentos válidos”, declarou.

Imagem mostra parentes de vítimas de Sandy Hook abraçando advogados após Justiça condenar Alex Jones, em 12 de outubro deste ano Foto: Brian A. Pounds/Hearst Connecticut via AP

A investigação do Washington Post encontrou semelhanças entre as transações atuais, ocorridas durante o processo de Sandy Hook, e transações de quase dez anos atrás, feitas durante o processo de divórcio de Alex Jones e a então esposa e que colocou em risco a sua fortuna, estimada no processo entre US$ 135 milhões e US$ 270 milhões (equivalentes a R$ 718 milhões e R$ 1,4 bilhão, respectivamente). Jones contesta as estimativas.

Registros financeiros mostram que a venda de suplementos alimentares, ligada à PQPR, é a principal fonte da fortuna do teórico da conspiração. Entre os produtos, estão o suplemento dietético Super Male Vitality e as cápsulas DNA Force Plus, criado para regular a função cardíaca e a produção de energia celular, por exemplo. Eles constituem a maior parte da renda da Free Speech Systems no ano passado, de US$ 65 milhões (R$ 345 milhões).

Segundo o advogado de acusação, as famílias de Sandy Hook estão dispostas a estabelecer um acordo com Alex Jones para receber menos dinheiro caso ele garanta o fim da carreira como apresentador. A ideia é rejeitada pelo réu. “Eles nos querem fora do ar, esse é o objetivo”, disse ele durante um dos seus programas no mês passado. “Você tem meu compromisso: não vou recuar”, acrescentou.

Um império construído sobre conspirações e suplementos

Alex Jones se tornou um milionário americano após uma carreira baseada em teorias da conspiração e venda de suplementos alimentares.

Nascido no Texas, ele começou a trabalhar na televisão em um programa de Austin no início da década de 1990 e anos depois ganhou um programa próprio em uma estação de rádio local, que tinha seu pai como patrocinador. No fim da década, o programa era exibido em dezenas de emissoras no país.

Neste período, Alex Jones passou a disseminar teorias da conspiração sobre o cerco de Waco, um acontecimento que ocorreu ao norte de Austin quando ele tinha 19 anos e morava na cidade, no qual agentes federais invadiram a sede de uma seita chamada Ramo Davidiano em uma operação da Agência de Álcool, Tabaco, Armas de Fogo e Explosivos que terminou com 76 mortos. No ar, Jones passou a afirmar que a operação teve o intuito de ferir o livre exercício religioso estabelecido na Primeira Emenda da Constituição americana e a pedir aos ouvintes que enviassem doações para ajudar a seita a construir uma nova igreja.

Nos anos que se seguiram, ele continuou a criticar o governo, a mídia e a falar em uma “Nova Ordem Mundial”. Grandes eventos mundiais, como crises políticas, eram descredibilizados pelo conspirador, chamados de “crises encenadas” para servir de pretexto a um suposto poder secreto global e corporações multinacionais.

Em 1999, ele criou o site chamado Info Wars e à medida que a internet se popularizou lançou um streaming de vídeo por assinatura e começou a vender vídeos, livros e camisetas. Em 2007, criou a Free Speech Systems junto com a então esposa, Kelly, para reunir uma série de empresas produtoras de conteúdo. Dois anos depois, a empresa obteve US$ 6,2 milhões (R$ 32,9 milhões) em receitas.

Em 2013, dois meses antes de Kelly iniciar o processo de divórcio, Alex Jones criou a PQPR com a justificativa de dar amparo legal aos negócios de suplementos alimentares, que passou a vender em seus programas. Em entrevista ao Washington Post, a ex-esposa alegou que a criação da empresa foi para proteger a fortuna que ele havia obtido na Free Speech Systems.

“Nosso casamento foi absolutamente terrível naquela época. Estávamos em negociações para nos separarmos”, disse ela. “Ele fez isso para esconder seus bens para quando nos separássemos.”

Pagamentos a amigos e familiares estão sob escrutínio

Em 2018, três anos após o divórcio ter sido finalizado, as famílias de Sandy Hook entraram com uma série de ações judiciais contra Jones após o apresentador afirmar em seus programas que os pais das crianças vítimas do massacre eram atores e que o evento foi encenado para promover o controle de armas.

À medida que o processo evoluiu e a Justiça recusou o arquivamento, Alex Jones passou a realizar as transferências entre as suas empresas e a se desfazer de ativos pessoais, como uma residência em Austin avaliada em US$ 2,8 milhões (R$ 14,9 milhões) transferida para o nome da esposa.

Memorial construído próximo ao local onde aconteceu o massacre de Sandy Hook em novembro de 2012 na cidade de Newtown, Connecticut, para homenagear vítimas Foto: John Moore/Getty Images/AFP

Após realizar as movimentações financeiras, um juiz de Connecticut determinou no dia 10 de novembro que Alex Jones só pode acessar o dinheiro da Free Speech Systems para “despesas comuns”.

A Justiça do Texas deve determinar se as transações foram legais ou fraudulentas, com o objetivo de não pagar as indenizações, em breve. Se o tribunal considerar que foi fraude, o dinheiro pago como dívida entre as suas empresas pode ser destinado aos autores do processo, segundo o professor de direito da Universidade de Georgetown, Adam Levitin.

O mais provável, disse Levitin, é que a Free Speech Systems seja diluída – o que provavelmente significaria que Alex Jones renunciaria aos direitos de programas, marcas e propriedade intelectual, incluindo o nome Infowars – e liquidada, significando que não poderá pagar as dívidas restantes.

Em um dos processos que enfrenta, o conspirador pediu desculpas às famílias de Sandy Hook e disse que agora acredita que os assassinatos ocorreram, mas em seus programas ele se mantém desafiando a Justiça. “Não perco o sono à noite pensando se vou dar a eles um bilhão de dólares”, disse em uma entrevista coletiva em outubro. “Eles simplesmente distorcem quanto dinheiro eu tenho. É uma fraude”.

O apresentador e editor no canal e site Infowars, Alex Jones, condenado por promover falsas teorias da conspiração sobre o massacre da escola Sandy Hook, realizou transações financeiras entre a sua empresa, Free Speech Systems, e outras nas quais ele é sócio ou que contam com a participação de parentes enquanto era processado pelas famílias de vítimas de Sandy Hook. As movimentações levantam a suspeita de que Jones agiu para esconder a fortuna e não pagar as indenizações de quase US$ 1,5 bilhão (R$ 7,9 bilhões), estabelecidas nas suas sentenças.

Segundo uma investigação do The Washington Post, as transações de maior volume começaram no momento em que o processo o qual ele era réu começou a lhe desfavorecer. Os documentos anexados à Justiça dos EUA mostram que entre agosto de 2020 e novembro de 2021, Jones pagou dívidas de US$ 55 milhões (R$ 292 milhões) da Free Speech System com uma empresa em que ele é sócio junto com o pai, chamada PQPR Holdings.

As dívidas são referentes a uma compra antiga de suplementos alimentares feita pela Free Speech Systems a PQPR para Jones vendê-los durante o programa em formato televisivo que ele promovia na internet, indicam os documentos. De acordo com o seu advogado, trata-se de uma despesa que havia passado “despercebida” na contabilidade da empresa.

O teórico da conspiração Alex Jones durante um de seus julgamentos nos EUA Foto: Tyler Sizemore/Hearst Connecticut Media via AP - 22/09/2022

Além dessas transações, o teórico da conspiração passou a realizar pagamentos de US$ 10 mil (R$ 53,1 mil) ao seu personal trainer por semana que, segundo seus advogados, também estão ligados ao marketing dos suplementos da PQPR. Outra empresa, controlada pela irmã de Alex Jones, recebeu US$ 240 mil (R$ 1,2 bilhão), mostram os registros.

As transferências colocam o dinheiro da Free Speech Systems, condenada nos processos, em empresas que estão fora do alcance judicial e consequentemente das famílias que processaram Jones por causa das alegações mentirosas de que o massacre de Sandy Hook se tratou de uma farsa. Somando os dois processos no qual Alex Jones foi condenado, a Justiça determinou o pagamento de quase US$ 1,5 bilhão por danos causados (R$ 7,9 bilhões) – valor que inclui os honorários advocatícios de US$ 323 milhões gastos pelos parentes das vítimas.

Alex Jones afirma que pretende recorrer aos processos, mas enquanto isso declarou falência da Free Speech Systems por causa das transações recentes, feitas às suas empresas e outras. Como resultado, as famílias de Sandy Hook podem entrar em uma lista com outros credores da empresa – incluindo companhias ligadas a ele – para poder receber os pagamentos, tornando o processo mais lento.

O processo judicial de falência vai determinar, em último caso, quais credores devem receber o dinheiro e quanto deve ser pago. A mesma ação vai investigar se as transações são legítimas ou fraudulentas, como defendem os advogados de parentes das vítimas. Esses processaram a PQPR em um tribunal estadual do Texas com a alegação de que não se trata de uma empresa independente. “No meio do processo (de difamação contra as vítimas), as empresas começaram a registrar dívidas que não apareciam antes”, declarou recentemente o advogado de acusação, Avi Moshenberg.

Um funcionário do Departamento de Justiça que atua no processo de falência para garantir a integridade do processo também criticou as transações feitas por Alex Jones em uma entrevista.

Ao Washington Post, Alex Jones, seu advogado e os advogados da Free Speech Systems e da PQPR, assim como o pai do conspirador, não responderam os pedidos de comentários ou as perguntas enviadas.

Empresa paralela foi criada em 2013 e é legítima, diz Defesa

Nos processos judiciais, Alex Jon Systems, Raymond Battaglia, a empresa nunca adotou “controles apropriados de gestão e contabilidade” e, portanto, não notou a dívida que se acumulou com a PQPR.iu um lugar de gerência na empresa. De acordo com um fiscal contratado por Jones no processo, ela é legítima e tem ligação com a Free Speech Systems para viabilizar o modelo de negócio, incluindo a obtenção de certificações do governo e negociação com fornecedores.

Segundo o advogado da Free Speech System, Raymond Battaglia, a empresa nunca adotou “controles apropriados de gestão e contabilidade” e, portanto, não notou a dívida que se acumulou com a PQPR.

Especialistas em falência judicial afirmam que a estrutura corporativa não é incomum. Muitos proprietários de pequenas empresas criam empresas separadas, mas relacionadas, para organizar e proteger os ativos. Eles também dizem que o fato da PQPR não ter funcionários, escritórios ou sócios além de Alex Jones e seu pai não significa que ela seja ilegal ou de fachada.

No fim, apenas a Justiça pode determinar se foram pagamentos lícitos ou não, afirmou o professor de direito financeiro da Universidade do Texas, Jay Westbrook. “A questão do caso é se esses são pagamentos válidos”, declarou.

Imagem mostra parentes de vítimas de Sandy Hook abraçando advogados após Justiça condenar Alex Jones, em 12 de outubro deste ano Foto: Brian A. Pounds/Hearst Connecticut via AP

A investigação do Washington Post encontrou semelhanças entre as transações atuais, ocorridas durante o processo de Sandy Hook, e transações de quase dez anos atrás, feitas durante o processo de divórcio de Alex Jones e a então esposa e que colocou em risco a sua fortuna, estimada no processo entre US$ 135 milhões e US$ 270 milhões (equivalentes a R$ 718 milhões e R$ 1,4 bilhão, respectivamente). Jones contesta as estimativas.

Registros financeiros mostram que a venda de suplementos alimentares, ligada à PQPR, é a principal fonte da fortuna do teórico da conspiração. Entre os produtos, estão o suplemento dietético Super Male Vitality e as cápsulas DNA Force Plus, criado para regular a função cardíaca e a produção de energia celular, por exemplo. Eles constituem a maior parte da renda da Free Speech Systems no ano passado, de US$ 65 milhões (R$ 345 milhões).

Segundo o advogado de acusação, as famílias de Sandy Hook estão dispostas a estabelecer um acordo com Alex Jones para receber menos dinheiro caso ele garanta o fim da carreira como apresentador. A ideia é rejeitada pelo réu. “Eles nos querem fora do ar, esse é o objetivo”, disse ele durante um dos seus programas no mês passado. “Você tem meu compromisso: não vou recuar”, acrescentou.

Um império construído sobre conspirações e suplementos

Alex Jones se tornou um milionário americano após uma carreira baseada em teorias da conspiração e venda de suplementos alimentares.

Nascido no Texas, ele começou a trabalhar na televisão em um programa de Austin no início da década de 1990 e anos depois ganhou um programa próprio em uma estação de rádio local, que tinha seu pai como patrocinador. No fim da década, o programa era exibido em dezenas de emissoras no país.

Neste período, Alex Jones passou a disseminar teorias da conspiração sobre o cerco de Waco, um acontecimento que ocorreu ao norte de Austin quando ele tinha 19 anos e morava na cidade, no qual agentes federais invadiram a sede de uma seita chamada Ramo Davidiano em uma operação da Agência de Álcool, Tabaco, Armas de Fogo e Explosivos que terminou com 76 mortos. No ar, Jones passou a afirmar que a operação teve o intuito de ferir o livre exercício religioso estabelecido na Primeira Emenda da Constituição americana e a pedir aos ouvintes que enviassem doações para ajudar a seita a construir uma nova igreja.

Nos anos que se seguiram, ele continuou a criticar o governo, a mídia e a falar em uma “Nova Ordem Mundial”. Grandes eventos mundiais, como crises políticas, eram descredibilizados pelo conspirador, chamados de “crises encenadas” para servir de pretexto a um suposto poder secreto global e corporações multinacionais.

Em 1999, ele criou o site chamado Info Wars e à medida que a internet se popularizou lançou um streaming de vídeo por assinatura e começou a vender vídeos, livros e camisetas. Em 2007, criou a Free Speech Systems junto com a então esposa, Kelly, para reunir uma série de empresas produtoras de conteúdo. Dois anos depois, a empresa obteve US$ 6,2 milhões (R$ 32,9 milhões) em receitas.

Em 2013, dois meses antes de Kelly iniciar o processo de divórcio, Alex Jones criou a PQPR com a justificativa de dar amparo legal aos negócios de suplementos alimentares, que passou a vender em seus programas. Em entrevista ao Washington Post, a ex-esposa alegou que a criação da empresa foi para proteger a fortuna que ele havia obtido na Free Speech Systems.

“Nosso casamento foi absolutamente terrível naquela época. Estávamos em negociações para nos separarmos”, disse ela. “Ele fez isso para esconder seus bens para quando nos separássemos.”

Pagamentos a amigos e familiares estão sob escrutínio

Em 2018, três anos após o divórcio ter sido finalizado, as famílias de Sandy Hook entraram com uma série de ações judiciais contra Jones após o apresentador afirmar em seus programas que os pais das crianças vítimas do massacre eram atores e que o evento foi encenado para promover o controle de armas.

À medida que o processo evoluiu e a Justiça recusou o arquivamento, Alex Jones passou a realizar as transferências entre as suas empresas e a se desfazer de ativos pessoais, como uma residência em Austin avaliada em US$ 2,8 milhões (R$ 14,9 milhões) transferida para o nome da esposa.

Memorial construído próximo ao local onde aconteceu o massacre de Sandy Hook em novembro de 2012 na cidade de Newtown, Connecticut, para homenagear vítimas Foto: John Moore/Getty Images/AFP

Após realizar as movimentações financeiras, um juiz de Connecticut determinou no dia 10 de novembro que Alex Jones só pode acessar o dinheiro da Free Speech Systems para “despesas comuns”.

A Justiça do Texas deve determinar se as transações foram legais ou fraudulentas, com o objetivo de não pagar as indenizações, em breve. Se o tribunal considerar que foi fraude, o dinheiro pago como dívida entre as suas empresas pode ser destinado aos autores do processo, segundo o professor de direito da Universidade de Georgetown, Adam Levitin.

O mais provável, disse Levitin, é que a Free Speech Systems seja diluída – o que provavelmente significaria que Alex Jones renunciaria aos direitos de programas, marcas e propriedade intelectual, incluindo o nome Infowars – e liquidada, significando que não poderá pagar as dívidas restantes.

Em um dos processos que enfrenta, o conspirador pediu desculpas às famílias de Sandy Hook e disse que agora acredita que os assassinatos ocorreram, mas em seus programas ele se mantém desafiando a Justiça. “Não perco o sono à noite pensando se vou dar a eles um bilhão de dólares”, disse em uma entrevista coletiva em outubro. “Eles simplesmente distorcem quanto dinheiro eu tenho. É uma fraude”.

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