LONDRES - A fila para ver o caixão da rainha Elizabeth II no Westminster Hall, em Londres, se estende por ao menos 5 quilômetros.
Na quarta-feira, 14, o caixão com o corpo da rainha chegou ao Palácio de Westminster onde será velado por cinco dias, em uma cerimônia montada para que os súditos britânicos possam dar um último adeus à monarca mais longeva da História do país.
Alguns enfrentaram a chuva durante o trajeto e outros até dormiram na calçada para garantir seus lugares.
Segundo a agência Reuters, 750 mil pessoas devem esperar até 30 horas para chegar próximo ao corpo da ex-chefe da monarquia britânica e o tamanho da fila pode atingir 16 quilômetros.
Ainda na quarta, uma procissão reunindo os principais integrantes da família real partiu do Palácio de Buckingham com o corpo da rainha em direção à sede do Parlamento, onde o cortejo foi recebido pelo arcebispo de Canterbury.
A marcha solene até Westminster foi acompanhada pelo rei Charles III, que caminhou atrás do caixão por todo o trajeto, por seus irmãos, a princesa Anne, o príncipe Andrew, duque de York, e o príncipe Edward, conde de Wessex, e por seus filhos, o príncipe de Gales, William, e Harry. A rainha consorte, Camilla Parker Bowles, a princesa de Gales, Kate Middleton, e Meghan Markle, esposa de Harry, seguiram o cortejo em um carro oficial.
Procissão real leva caixão da rainha Elizabeth II ao Palácio de Westminster
Ao chegar em Westminster, o caixão da rainha foi posicionado em uma plataforma elevada, conhecida como catafalco, com a cor roxa da realeza. Uma rápida cerimônia foi realizada pelo arcebispo de Canteburry, Justin Welby. Ao fim, o rei Charles III e a rainha consorte retornaram ao Palácio de Buckingham.
Nesta quinta-feira, 15, ao entrar na fila, as pessoas receberão uma pulseira colorida numerada que permitirá que elas saiam brevemente para usar um banheiro ou obter comida e bebida.
Os súditos podem contemplar o caixão, coberto pelo estandarte real e pela coroa imperial, passando em fila em ambos os lados, sem poder parar ou bater fotos. Também está proibido depositar flores e bichos de pelúcia no salão de Westminster.
Mais de 1.000 voluntários e policiais foram escalados para organizar a fila. Além disso, profissionais de saúde estarão no local para auxiliar aqueles que se sentirem mal, mas não querem abandonar a espera.
O velório público será encerrado às 06h30 (02h30 em Brasília) da segunda-feira, 19, data para a qual está marcado o funeral de Estado no Castelo de Windson.
Mais de 100 chefes de Estado e de Governo e outras personalidades devem comparecer ao “funeral do século”, como o presidente americano, Joe Biden, o brasileiro Jair Bolsonaro, o rei da Espanha, Felipe VI, e o imperador do Japão, Naruhito.
O arcebispo de York, Stephen Cottrell, —segundo na hierarquia da Igreja Anglicana, atrás apenas do agora rei Charles 3º— conversou com algumas pessoas que estavam na fila. “Estamos honrando duas grandes tradições britânicas, amar a rainha e amar uma fila”, brincou.
À Reuters, o britânico Kenneth Taylor, 72, disse que passou a noite em uma barraca para ser um dos primeiros na fila. “Perdemos alguém especial”, disse Taylor, emocionado. “Seu serviço a este país foi realmente firme e inabalável e ela é provavelmente o que eu chamaria de rainha das rainhas”, afirmou.
As centenas de milhares de pessoas aguardadas se alinham ao longo da margem sul do rio Tâmisa, passando por pontos turísticos da capital britânica, como a roda gigante London Eye e o teatro Shakespeare’s Globe.
Felicidade de esperar na fila
“Todo mundo está feliz por estar aqui, mas vai ser triste quando chegar o momento de ficar diante da rainha”, disse Lisa Doodson, que mora nos subúrbios de Londres e entrou na fila às 6h00 (2h00 de Brasília).
Elizabeth II faleceu na quinta-feira da semana passada, 8 de setembro, aos 96 anos, após sete décadas de reinado. Ela foi sucedida por seu filho, Charles III.
O caixão com o corpo da monarca foi levado para Westminster Hall, a área mais antiga do Parlamento, uma sala majestosa do século XI que é o berço institucional do Reino Unido.
A fila avançava de maneira tranquila e quase 10 cadeiras de camping estavam na entrada do Parlamento, abandonadas por pessoas que conseguiram entrar no local.
“Diria que foi muito rápido. Há um ambiente muito agradável. Todos conversam, muitas pessoas simpáticas, com tantas histórias diferentes”, disse Robert Sutton, professor de Inglês que entrou na fila pouco depois da meia-noite.
“Cada um tem seus motivos pessoais para estar aqui, mas, obviamente, todos queremos apresentar nossos respeitos à rainha”, completou.
Despedida de Elizabeth II
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Harvey, um contador de 50 anos, descreveu como uma experiência “incrivelmente emocionante” passar diante da rainha. Ele disse que muitas pessoas choravam, “mas em silêncio total”.
O uso de celulares está proibido no local.A meteorologia deve ajudar, com a previsão de tempo ensolarado para os próximos dias.
Carmen Martínez, uma advogada colombiana casada com um britânico e grávida de sete meses do primeiro filho, afirmou se sentia bem ao participar na manifestação de luto. “Ela representa tudo para o país. É como a avó de todos”, disse Martínez.
Joan Bucklehurst, uma trabalhadora de varejo de 50 anos de Cheshire, no noroeste da Inglaterra, disse que a rainha “significava muito para todos”. “Ela foi incrível”, acrescentou, engasgada de emoção. “Então, nós tínhamos que estar aqui. Já estivemos aqui algumas vezes quando houve ocasiões especiais, mas esta, eu não poderia perder isso”.
Geoff Colgan, um taxista que tirou o dia de folga para testemunhar o momento, ficou atordoado nos momentos após a passagem do caixão da rainha. “É uma daquelas coisas que você sabe que vai acontecer, mas quando acontece você não consegue acreditar”, disse ele, segurando seu filho nos braços.
Reunir as centenas de milhares de pessoas que querem ver o caixão da monarca testa as famosas habilidades de organização de fila dos britânicos até o limite. As autoridades que supervisionam o gigantesco desafio logístico consultaram especialistas em gerenciamento de filas e cientistas comportamentais para criar mais do que uma fila, uma “comunidade temporária”.
A “infraestrutura de filas” tem 16 km, incluindo barreiras móveis e mais de 500 banheiros portáteis ao longo de uma rota entre Buckingham e Westminster. Centenas de policiais, voluntários de primeiros socorros e membros da organização, 30 pastores multirreligiosos e dois intérpretes de linguagem de sinais estão designados para cuidar do bem-estar das pessoas que esperam na fila.
Chris Bond, de Truro, no sudoeste da Inglaterra, estava entre os que faziam fila ao longo das margens do rio Tâmisa. Em 2002, ele também acompanhou a cerimônia da rainha-mãe.
“Obviamente, é muito difícil enfrentar a fila o dia todo, mas quando você entra por aquelas portas no Palácio de Westminster, aquele maravilhoso edifício histórico, há uma grande sensação de silêncio”, disse. “Sabemos que a rainha tinha uma boa idade e serviu o país por muito tempo, mas esperávamos que esse dia nunca chegasse”, acrescentou.
Dia de descanso para o rei
O rei Charles III tem nesta quinta-feira seu primeiro dia sem compromissos oficiais desde a morte de sua mãe. Ele passará o dia em sua residência de campo de Highgrove, após os primeiros dias de reinado que provocaram polêmica por suas demonstrações de irritação.
Imagens divulgadas na terça-feira mostraram o novo rei inconformado com uma caneta utilizada para assinar um livro de honra que parecia perder a tinta. “Oh, Deus, eu odeio isso! (...) Eu não aguento essa maldita coisa””, disse o monarca./ AFP e AP