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Opinião|A unção de Kamala Harris por Joe Biden e pelo casal Obama


O casal Obama fez o que era esperado na Convenção do Partido Democrata: louvaram Joe Biden como um estadista que soube a hora de se retirar e afirmaram que Kamala é capaz e é o futuro

Por Filipe Figueiredo

A Convenção do Partido Democrata dos EUA ocorre enquanto esta coluna é escrita. O evento vai terminar na noite de quinta-feira, dia 22 de agosto, com o discurso de Kamala Harris aceitando a nomeação do partido para a candidatura presidencial.

Claro que o discurso é aguardado e terá repercussão, mas, na maior parte do tempo, a convenção é uma formalidade. Principalmente, as vozes que mais ressoariam nesse momento, já falaram e ungiram Kamala Harris como a candidata, com alguns recados claros.

O principal recado, nem tão sutil assim, é a abordagem demográfica da campanha democrata. Kamala Harris é uma mulher filha de imigrantes, filha de um homem negro e de uma mulher indiana. Nos parâmetros extremamente racializados da sociedade dos EUA, herança de uma sociedade institucionalmente racista, ela é tanto uma mulher tanto negra quanto asiática. Donald Trump, seu opositor, inclusive, tenta atacar essa herança dupla, como se uma pessoa tivesse que optar em ter apenas uma dessas identidades.

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A vice-presidente dos Estados Unidos e candidata presidencial, Kamala Harris, participa de um comício em Milwaukee ao lado de seu companheiro de chapa, o governador de Minnesota, Tim Walz  Foto: Jacquelyn Martin/AP

Novamente, problemas de uma sociedade racializada ao extremo. O fato é que a representatividade demográfica de Kamala Harris, uma mulher não-branca, sempre foi uma de suas principais armas, muito utilizada na eleição passada, para equilibrar o titular da chapa, Joe Biden, homem branco de terceira idade. Mostrando o peso desse aspecto demográfico na campanha de 2024, a convenção começou com uma série de discursos de pessoas negras e indígenas.

Os discursos culminaram com uma homenagem em vídeo ao pastor Jesse Jackson, primeiro candidato negro em uma primária presidencial na História dos EUA, e a Shirley Chisholm, primeira mulher negra na História do Congresso dos EUA. A campanha de Kamala Harris vai trabalhar, como pilares, a sua representatividade, por um lado, e o fato de ser uma “mulher da lei” de outro. Ou seja, ela representaria tudo o que Trump rejeita em seu discurso, e é a lei e ordem contra um criminoso condenado.

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Ao explicitar a mensagem que a campanha quer transmitir, a convenção serve para agitar as bases do partido. O evento também teve outras funções. Uma delas foi garantir uma apoteose para Joe Biden.

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, acena para apoiadores ao lado de seu neto, Beau Biden, durante a Convenção Nacional do Partido Democrata, em Chicago  Foto: Stephanie Scarbrough/AP

É notório que o atual presidente não abandonou a reeleição de bom grado. Ele teve que ser bastante persuadido, para não dizer pressionado, para isso, o que ficou claro em seu discurso na Casa Branca, em 24 de julho, quando abriu mão da reeleição, ao frisar que ele ainda acreditava que seu trabalho era merecedor de um segundo mandato.

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Abandonar a reeleição fez sua imagem melhorar. Joe Biden passou a ser visto como um estadista altruísta, que recebeu mensagens de “muito obrigado” na convenção, cujo primeiro dia foi encerrado por sua família e uma aparição surpresa de Kamala Harris, além do próprio Joe Biden. A função principal da convenção, entretanto, era a unção de Kamala Harris pelo casal Obama. A importância desse ato é por dois motivos. Primeiro, a influência dos Obama dentro do partido.

A voz de Barack Obama foi imprescindível para que Biden finalmente aceitasse que sua participação no primeiro debate televisionado com Trump foi um desastre e que ele precisava sair por cima. Segundo, a imagem dos Obama perante o público e perante o eleitorado. Essa imagem é favorável ao ponto de, após o fatídico debate, uma pesquisa Ipsos/Reuters apontar que apenas Michelle Obama conseguiria derrotar Trump naquele momento.

O ex-presidente dos Estados Unidos Barack Obama acena para apoiadores ao lado da ex-primeira-dama Michelle Obama na Convenção Nacional do Partido Democrata, em Chicago, Estados Unidos  Foto: Brynn Anderson/AP
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E o casal Obama fez o que era esperado. Louvaram Joe Biden como um estadista que soube a hora de se retirar, afirmaram que Kamala é capaz e é o futuro. E, claro, a palavra chave: ela é a esperança. O teor misturado ao tom e à verve notável de ambos os Obamas transformou a convenção em uma espécie de epopeia de investidura sacralizada.

Uma ausência do palco principal é a do governador da Pensilvânia, Josh Shapiro. Cotado para ser vice-presidente, antes da escolha de Tim Walz, ele está presente no evento, mas não está na programação de discursos.

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Talvez o partido queira evitar a exposição relacionada ao seu maior calcanhar de Aquiles no momento, o apoio militar de Joe Biden ao governo israelense de Netanyahu, o que afasta parte do eleitor jovem. Shapiro, judeu, é ferrenho apoiador dessa política. A convenção, inclusive, é em Chicago, lar da maior comunidade palestina dos EUA.

Como forma de amenizar, a convenção realizou, pela primeira vez, uma discussão sobre Direitos Humanos para palestinos. É necessário aguardar o impacto da convenção nas pesquisas eleitorais e outros figurões ainda vão discursar. Teremos também o citado discurso de aceitação da candidata. Qualquer coisa que Bill Clinton ou Tim Walz venham a falar, entretanto, não terá o mesmo impacto ou importância do que a presença do casal Obama e a unção de Kamala Harris.

A Convenção do Partido Democrata dos EUA ocorre enquanto esta coluna é escrita. O evento vai terminar na noite de quinta-feira, dia 22 de agosto, com o discurso de Kamala Harris aceitando a nomeação do partido para a candidatura presidencial.

Claro que o discurso é aguardado e terá repercussão, mas, na maior parte do tempo, a convenção é uma formalidade. Principalmente, as vozes que mais ressoariam nesse momento, já falaram e ungiram Kamala Harris como a candidata, com alguns recados claros.

O principal recado, nem tão sutil assim, é a abordagem demográfica da campanha democrata. Kamala Harris é uma mulher filha de imigrantes, filha de um homem negro e de uma mulher indiana. Nos parâmetros extremamente racializados da sociedade dos EUA, herança de uma sociedade institucionalmente racista, ela é tanto uma mulher tanto negra quanto asiática. Donald Trump, seu opositor, inclusive, tenta atacar essa herança dupla, como se uma pessoa tivesse que optar em ter apenas uma dessas identidades.

A vice-presidente dos Estados Unidos e candidata presidencial, Kamala Harris, participa de um comício em Milwaukee ao lado de seu companheiro de chapa, o governador de Minnesota, Tim Walz  Foto: Jacquelyn Martin/AP

Novamente, problemas de uma sociedade racializada ao extremo. O fato é que a representatividade demográfica de Kamala Harris, uma mulher não-branca, sempre foi uma de suas principais armas, muito utilizada na eleição passada, para equilibrar o titular da chapa, Joe Biden, homem branco de terceira idade. Mostrando o peso desse aspecto demográfico na campanha de 2024, a convenção começou com uma série de discursos de pessoas negras e indígenas.

Os discursos culminaram com uma homenagem em vídeo ao pastor Jesse Jackson, primeiro candidato negro em uma primária presidencial na História dos EUA, e a Shirley Chisholm, primeira mulher negra na História do Congresso dos EUA. A campanha de Kamala Harris vai trabalhar, como pilares, a sua representatividade, por um lado, e o fato de ser uma “mulher da lei” de outro. Ou seja, ela representaria tudo o que Trump rejeita em seu discurso, e é a lei e ordem contra um criminoso condenado.

Ao explicitar a mensagem que a campanha quer transmitir, a convenção serve para agitar as bases do partido. O evento também teve outras funções. Uma delas foi garantir uma apoteose para Joe Biden.

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, acena para apoiadores ao lado de seu neto, Beau Biden, durante a Convenção Nacional do Partido Democrata, em Chicago  Foto: Stephanie Scarbrough/AP

É notório que o atual presidente não abandonou a reeleição de bom grado. Ele teve que ser bastante persuadido, para não dizer pressionado, para isso, o que ficou claro em seu discurso na Casa Branca, em 24 de julho, quando abriu mão da reeleição, ao frisar que ele ainda acreditava que seu trabalho era merecedor de um segundo mandato.

Abandonar a reeleição fez sua imagem melhorar. Joe Biden passou a ser visto como um estadista altruísta, que recebeu mensagens de “muito obrigado” na convenção, cujo primeiro dia foi encerrado por sua família e uma aparição surpresa de Kamala Harris, além do próprio Joe Biden. A função principal da convenção, entretanto, era a unção de Kamala Harris pelo casal Obama. A importância desse ato é por dois motivos. Primeiro, a influência dos Obama dentro do partido.

A voz de Barack Obama foi imprescindível para que Biden finalmente aceitasse que sua participação no primeiro debate televisionado com Trump foi um desastre e que ele precisava sair por cima. Segundo, a imagem dos Obama perante o público e perante o eleitorado. Essa imagem é favorável ao ponto de, após o fatídico debate, uma pesquisa Ipsos/Reuters apontar que apenas Michelle Obama conseguiria derrotar Trump naquele momento.

O ex-presidente dos Estados Unidos Barack Obama acena para apoiadores ao lado da ex-primeira-dama Michelle Obama na Convenção Nacional do Partido Democrata, em Chicago, Estados Unidos  Foto: Brynn Anderson/AP

E o casal Obama fez o que era esperado. Louvaram Joe Biden como um estadista que soube a hora de se retirar, afirmaram que Kamala é capaz e é o futuro. E, claro, a palavra chave: ela é a esperança. O teor misturado ao tom e à verve notável de ambos os Obamas transformou a convenção em uma espécie de epopeia de investidura sacralizada.

Uma ausência do palco principal é a do governador da Pensilvânia, Josh Shapiro. Cotado para ser vice-presidente, antes da escolha de Tim Walz, ele está presente no evento, mas não está na programação de discursos.

Talvez o partido queira evitar a exposição relacionada ao seu maior calcanhar de Aquiles no momento, o apoio militar de Joe Biden ao governo israelense de Netanyahu, o que afasta parte do eleitor jovem. Shapiro, judeu, é ferrenho apoiador dessa política. A convenção, inclusive, é em Chicago, lar da maior comunidade palestina dos EUA.

Como forma de amenizar, a convenção realizou, pela primeira vez, uma discussão sobre Direitos Humanos para palestinos. É necessário aguardar o impacto da convenção nas pesquisas eleitorais e outros figurões ainda vão discursar. Teremos também o citado discurso de aceitação da candidata. Qualquer coisa que Bill Clinton ou Tim Walz venham a falar, entretanto, não terá o mesmo impacto ou importância do que a presença do casal Obama e a unção de Kamala Harris.

A Convenção do Partido Democrata dos EUA ocorre enquanto esta coluna é escrita. O evento vai terminar na noite de quinta-feira, dia 22 de agosto, com o discurso de Kamala Harris aceitando a nomeação do partido para a candidatura presidencial.

Claro que o discurso é aguardado e terá repercussão, mas, na maior parte do tempo, a convenção é uma formalidade. Principalmente, as vozes que mais ressoariam nesse momento, já falaram e ungiram Kamala Harris como a candidata, com alguns recados claros.

O principal recado, nem tão sutil assim, é a abordagem demográfica da campanha democrata. Kamala Harris é uma mulher filha de imigrantes, filha de um homem negro e de uma mulher indiana. Nos parâmetros extremamente racializados da sociedade dos EUA, herança de uma sociedade institucionalmente racista, ela é tanto uma mulher tanto negra quanto asiática. Donald Trump, seu opositor, inclusive, tenta atacar essa herança dupla, como se uma pessoa tivesse que optar em ter apenas uma dessas identidades.

A vice-presidente dos Estados Unidos e candidata presidencial, Kamala Harris, participa de um comício em Milwaukee ao lado de seu companheiro de chapa, o governador de Minnesota, Tim Walz  Foto: Jacquelyn Martin/AP

Novamente, problemas de uma sociedade racializada ao extremo. O fato é que a representatividade demográfica de Kamala Harris, uma mulher não-branca, sempre foi uma de suas principais armas, muito utilizada na eleição passada, para equilibrar o titular da chapa, Joe Biden, homem branco de terceira idade. Mostrando o peso desse aspecto demográfico na campanha de 2024, a convenção começou com uma série de discursos de pessoas negras e indígenas.

Os discursos culminaram com uma homenagem em vídeo ao pastor Jesse Jackson, primeiro candidato negro em uma primária presidencial na História dos EUA, e a Shirley Chisholm, primeira mulher negra na História do Congresso dos EUA. A campanha de Kamala Harris vai trabalhar, como pilares, a sua representatividade, por um lado, e o fato de ser uma “mulher da lei” de outro. Ou seja, ela representaria tudo o que Trump rejeita em seu discurso, e é a lei e ordem contra um criminoso condenado.

Ao explicitar a mensagem que a campanha quer transmitir, a convenção serve para agitar as bases do partido. O evento também teve outras funções. Uma delas foi garantir uma apoteose para Joe Biden.

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, acena para apoiadores ao lado de seu neto, Beau Biden, durante a Convenção Nacional do Partido Democrata, em Chicago  Foto: Stephanie Scarbrough/AP

É notório que o atual presidente não abandonou a reeleição de bom grado. Ele teve que ser bastante persuadido, para não dizer pressionado, para isso, o que ficou claro em seu discurso na Casa Branca, em 24 de julho, quando abriu mão da reeleição, ao frisar que ele ainda acreditava que seu trabalho era merecedor de um segundo mandato.

Abandonar a reeleição fez sua imagem melhorar. Joe Biden passou a ser visto como um estadista altruísta, que recebeu mensagens de “muito obrigado” na convenção, cujo primeiro dia foi encerrado por sua família e uma aparição surpresa de Kamala Harris, além do próprio Joe Biden. A função principal da convenção, entretanto, era a unção de Kamala Harris pelo casal Obama. A importância desse ato é por dois motivos. Primeiro, a influência dos Obama dentro do partido.

A voz de Barack Obama foi imprescindível para que Biden finalmente aceitasse que sua participação no primeiro debate televisionado com Trump foi um desastre e que ele precisava sair por cima. Segundo, a imagem dos Obama perante o público e perante o eleitorado. Essa imagem é favorável ao ponto de, após o fatídico debate, uma pesquisa Ipsos/Reuters apontar que apenas Michelle Obama conseguiria derrotar Trump naquele momento.

O ex-presidente dos Estados Unidos Barack Obama acena para apoiadores ao lado da ex-primeira-dama Michelle Obama na Convenção Nacional do Partido Democrata, em Chicago, Estados Unidos  Foto: Brynn Anderson/AP

E o casal Obama fez o que era esperado. Louvaram Joe Biden como um estadista que soube a hora de se retirar, afirmaram que Kamala é capaz e é o futuro. E, claro, a palavra chave: ela é a esperança. O teor misturado ao tom e à verve notável de ambos os Obamas transformou a convenção em uma espécie de epopeia de investidura sacralizada.

Uma ausência do palco principal é a do governador da Pensilvânia, Josh Shapiro. Cotado para ser vice-presidente, antes da escolha de Tim Walz, ele está presente no evento, mas não está na programação de discursos.

Talvez o partido queira evitar a exposição relacionada ao seu maior calcanhar de Aquiles no momento, o apoio militar de Joe Biden ao governo israelense de Netanyahu, o que afasta parte do eleitor jovem. Shapiro, judeu, é ferrenho apoiador dessa política. A convenção, inclusive, é em Chicago, lar da maior comunidade palestina dos EUA.

Como forma de amenizar, a convenção realizou, pela primeira vez, uma discussão sobre Direitos Humanos para palestinos. É necessário aguardar o impacto da convenção nas pesquisas eleitorais e outros figurões ainda vão discursar. Teremos também o citado discurso de aceitação da candidata. Qualquer coisa que Bill Clinton ou Tim Walz venham a falar, entretanto, não terá o mesmo impacto ou importância do que a presença do casal Obama e a unção de Kamala Harris.

A Convenção do Partido Democrata dos EUA ocorre enquanto esta coluna é escrita. O evento vai terminar na noite de quinta-feira, dia 22 de agosto, com o discurso de Kamala Harris aceitando a nomeação do partido para a candidatura presidencial.

Claro que o discurso é aguardado e terá repercussão, mas, na maior parte do tempo, a convenção é uma formalidade. Principalmente, as vozes que mais ressoariam nesse momento, já falaram e ungiram Kamala Harris como a candidata, com alguns recados claros.

O principal recado, nem tão sutil assim, é a abordagem demográfica da campanha democrata. Kamala Harris é uma mulher filha de imigrantes, filha de um homem negro e de uma mulher indiana. Nos parâmetros extremamente racializados da sociedade dos EUA, herança de uma sociedade institucionalmente racista, ela é tanto uma mulher tanto negra quanto asiática. Donald Trump, seu opositor, inclusive, tenta atacar essa herança dupla, como se uma pessoa tivesse que optar em ter apenas uma dessas identidades.

A vice-presidente dos Estados Unidos e candidata presidencial, Kamala Harris, participa de um comício em Milwaukee ao lado de seu companheiro de chapa, o governador de Minnesota, Tim Walz  Foto: Jacquelyn Martin/AP

Novamente, problemas de uma sociedade racializada ao extremo. O fato é que a representatividade demográfica de Kamala Harris, uma mulher não-branca, sempre foi uma de suas principais armas, muito utilizada na eleição passada, para equilibrar o titular da chapa, Joe Biden, homem branco de terceira idade. Mostrando o peso desse aspecto demográfico na campanha de 2024, a convenção começou com uma série de discursos de pessoas negras e indígenas.

Os discursos culminaram com uma homenagem em vídeo ao pastor Jesse Jackson, primeiro candidato negro em uma primária presidencial na História dos EUA, e a Shirley Chisholm, primeira mulher negra na História do Congresso dos EUA. A campanha de Kamala Harris vai trabalhar, como pilares, a sua representatividade, por um lado, e o fato de ser uma “mulher da lei” de outro. Ou seja, ela representaria tudo o que Trump rejeita em seu discurso, e é a lei e ordem contra um criminoso condenado.

Ao explicitar a mensagem que a campanha quer transmitir, a convenção serve para agitar as bases do partido. O evento também teve outras funções. Uma delas foi garantir uma apoteose para Joe Biden.

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, acena para apoiadores ao lado de seu neto, Beau Biden, durante a Convenção Nacional do Partido Democrata, em Chicago  Foto: Stephanie Scarbrough/AP

É notório que o atual presidente não abandonou a reeleição de bom grado. Ele teve que ser bastante persuadido, para não dizer pressionado, para isso, o que ficou claro em seu discurso na Casa Branca, em 24 de julho, quando abriu mão da reeleição, ao frisar que ele ainda acreditava que seu trabalho era merecedor de um segundo mandato.

Abandonar a reeleição fez sua imagem melhorar. Joe Biden passou a ser visto como um estadista altruísta, que recebeu mensagens de “muito obrigado” na convenção, cujo primeiro dia foi encerrado por sua família e uma aparição surpresa de Kamala Harris, além do próprio Joe Biden. A função principal da convenção, entretanto, era a unção de Kamala Harris pelo casal Obama. A importância desse ato é por dois motivos. Primeiro, a influência dos Obama dentro do partido.

A voz de Barack Obama foi imprescindível para que Biden finalmente aceitasse que sua participação no primeiro debate televisionado com Trump foi um desastre e que ele precisava sair por cima. Segundo, a imagem dos Obama perante o público e perante o eleitorado. Essa imagem é favorável ao ponto de, após o fatídico debate, uma pesquisa Ipsos/Reuters apontar que apenas Michelle Obama conseguiria derrotar Trump naquele momento.

O ex-presidente dos Estados Unidos Barack Obama acena para apoiadores ao lado da ex-primeira-dama Michelle Obama na Convenção Nacional do Partido Democrata, em Chicago, Estados Unidos  Foto: Brynn Anderson/AP

E o casal Obama fez o que era esperado. Louvaram Joe Biden como um estadista que soube a hora de se retirar, afirmaram que Kamala é capaz e é o futuro. E, claro, a palavra chave: ela é a esperança. O teor misturado ao tom e à verve notável de ambos os Obamas transformou a convenção em uma espécie de epopeia de investidura sacralizada.

Uma ausência do palco principal é a do governador da Pensilvânia, Josh Shapiro. Cotado para ser vice-presidente, antes da escolha de Tim Walz, ele está presente no evento, mas não está na programação de discursos.

Talvez o partido queira evitar a exposição relacionada ao seu maior calcanhar de Aquiles no momento, o apoio militar de Joe Biden ao governo israelense de Netanyahu, o que afasta parte do eleitor jovem. Shapiro, judeu, é ferrenho apoiador dessa política. A convenção, inclusive, é em Chicago, lar da maior comunidade palestina dos EUA.

Como forma de amenizar, a convenção realizou, pela primeira vez, uma discussão sobre Direitos Humanos para palestinos. É necessário aguardar o impacto da convenção nas pesquisas eleitorais e outros figurões ainda vão discursar. Teremos também o citado discurso de aceitação da candidata. Qualquer coisa que Bill Clinton ou Tim Walz venham a falar, entretanto, não terá o mesmo impacto ou importância do que a presença do casal Obama e a unção de Kamala Harris.

Opinião por Filipe Figueiredo

Filipe Figueiredo é graduado em história pela USP, comentarista de política internacional e criador dos podcasts Xadrez Verbal e Fronteiras Invisíveis do Futebol, sobre política internacional e história

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