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Opinião|A Venezuela não é o país foco na cúpula do Brics


O país que realmente promete gerar debates e eventuais tensões no Brics é outro, a Turquia

Por Filipe Figueiredo

A cúpula do Brics de 2024 ocorre esta semana em Kazan, na Rússia, e muito se fala na imprensa brasileira sobre as relações da Venezuela com o bloco. A adição do país vizinho ao bloco na nova categoria de país associado afeta diretamente o Brasil, o que justifica tamanhos comentários. A questão venezuelana não é, entretanto, a mais importante da cúpula do Brics, longe disso, com outro país foco de maiores atenções.

O Brics é um fórum que pode ser importantíssimo aos seus países-membros. No mínimo, fornece contato direto, de alto nível e constante com algumas das principais potências mundiais, especialmente a China, maior parceiro comercial brasileiro e maior economia mundial em alguns critérios. Essa dimensão, mesmo que mínima, já é de alto valor e não pode ser ignorada, especialmente em meio às atuais disputas sobre o bloco.

Tais disputas retratam o Brics como o “lado chinês” em um mundo que estaria retornando para uma bipolaridade similar à do período da Guerra Fria. É uma perspectiva superficial e tão ideológica quanto o que busca criticar. Foi essa perspectiva a adotada pelo governo Javier Milei, na Argentina. Mesmo com a entrada assegurada do país como membro, o governo argentino desistiu, especialmente por razões ideológicas e romantizadas.

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O ditador da Venezuela, Nicolás Maduro, e o presidente da Rússia, Vladimir Putin, em encontro durante a cúpula do Brics em Kazan, na Rússia Foto: Alexander Nemenov/AP

Claro que o Brics possui outras facetas além de um contato de alto nível, e tais componentes podem ser ou não interessantes para seus países-membros, variando de ocasião em ocasião. Os integrantes possuem discordâncias e o Brics não é um bloco coeso, ainda mais com a recente expansão, que viu o bloco ir de cinco para nove países-membros. Agora, serão provavelmente mais doze países com o status de associados.

O que a Venezuela poderia trazer ao Brics? A entrada do país vizinho é de interesse da Rússia e da China, hoje os principais parceiros do país do governo autoritário de Nicolás Maduro. Serviria como uma expansão na “vizinhança” dos EUA. E somente isso. Rússia e China não dependem de um fórum como o Brics para defender seus interesses na Venezuela, já que Maduro não possui muitas opções.

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Embora detentora das maiores reservas de petróleo do mundo, o petróleo venezuelano perdeu espaço no mercado internacional e, no caso do Brics, o bloco já reúne seis dos nove maiores produtores de petróleo do mundo. O Brasil, que não reconhece a “reeleição” de Maduro, teria solicitado que a associação venezuelana fosse colocada em suspenso, priorizando Cuba e Bolívia como países latino-americanos.

Caso isso se concretize, ótimo para a diplomacia brasileira em seus esforços regionais. Em uma visão macro, entretanto, pouco muda. A Venezuela continuará comprando armamentos da Rússia, negociando petróleo com a China e expandindo suas relações com o Irã, expansão motivada pelo fato de ambos estarem sob sanções dos EUA. O país que realmente promete gerar debates e eventuais tensões no Brics é outro, a Turquia.

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A Turquia de Erdogan, que governa o país desde 2003 e conduziu um expurgo interno em 2016, oficializou sua intenção de entrar no bloco no atual ano e pode ser já declarada um dos países associados. Erdogan busca, com isso, contrabalancear o congelamento das negociações entre Turquia e União Europeia, além do esfriamento de relações com os EUA, agravado pela situação do clérigo Fethullah Gulen, antigo aliado que se tornou rival e faleceu recentemente.

A Turquia também expressou desejo de entrar na Organização para Cooperação de Xangai, mesmo sendo um país-membro da Otan. Rússia e China possuem relações dúbias com a Turquia, com muita proximidade em algumas áreas e confronto direto em outras. Os dois países também veem com desconfiança a expansão da influência turca pela Ásia Central desde a fundação da Organização dos Estados Túrquicos, em 2009.

Turquia e China frequentemente alternam farpas e afagos, especialmente sobre a questão dos uigures de Xinjiang, um povo túrquico e muçulmano. A presença turca na África também afeta Egito e Etiópia, e o Cáucaso do Sul é ponto de contenção entre turcos e o Irã, todos esses novos membros do bloco. Uma eventual entrada da Turquia no bloco, se concretizada, pode afetar severamente a já debatível coesão do Brics, com contradições internas e uma expansão sem critérios claros. Venezuela é peixe pequeno perto da Turquia.

A cúpula do Brics de 2024 ocorre esta semana em Kazan, na Rússia, e muito se fala na imprensa brasileira sobre as relações da Venezuela com o bloco. A adição do país vizinho ao bloco na nova categoria de país associado afeta diretamente o Brasil, o que justifica tamanhos comentários. A questão venezuelana não é, entretanto, a mais importante da cúpula do Brics, longe disso, com outro país foco de maiores atenções.

O Brics é um fórum que pode ser importantíssimo aos seus países-membros. No mínimo, fornece contato direto, de alto nível e constante com algumas das principais potências mundiais, especialmente a China, maior parceiro comercial brasileiro e maior economia mundial em alguns critérios. Essa dimensão, mesmo que mínima, já é de alto valor e não pode ser ignorada, especialmente em meio às atuais disputas sobre o bloco.

Tais disputas retratam o Brics como o “lado chinês” em um mundo que estaria retornando para uma bipolaridade similar à do período da Guerra Fria. É uma perspectiva superficial e tão ideológica quanto o que busca criticar. Foi essa perspectiva a adotada pelo governo Javier Milei, na Argentina. Mesmo com a entrada assegurada do país como membro, o governo argentino desistiu, especialmente por razões ideológicas e romantizadas.

O ditador da Venezuela, Nicolás Maduro, e o presidente da Rússia, Vladimir Putin, em encontro durante a cúpula do Brics em Kazan, na Rússia Foto: Alexander Nemenov/AP

Claro que o Brics possui outras facetas além de um contato de alto nível, e tais componentes podem ser ou não interessantes para seus países-membros, variando de ocasião em ocasião. Os integrantes possuem discordâncias e o Brics não é um bloco coeso, ainda mais com a recente expansão, que viu o bloco ir de cinco para nove países-membros. Agora, serão provavelmente mais doze países com o status de associados.

O que a Venezuela poderia trazer ao Brics? A entrada do país vizinho é de interesse da Rússia e da China, hoje os principais parceiros do país do governo autoritário de Nicolás Maduro. Serviria como uma expansão na “vizinhança” dos EUA. E somente isso. Rússia e China não dependem de um fórum como o Brics para defender seus interesses na Venezuela, já que Maduro não possui muitas opções.

Embora detentora das maiores reservas de petróleo do mundo, o petróleo venezuelano perdeu espaço no mercado internacional e, no caso do Brics, o bloco já reúne seis dos nove maiores produtores de petróleo do mundo. O Brasil, que não reconhece a “reeleição” de Maduro, teria solicitado que a associação venezuelana fosse colocada em suspenso, priorizando Cuba e Bolívia como países latino-americanos.

Caso isso se concretize, ótimo para a diplomacia brasileira em seus esforços regionais. Em uma visão macro, entretanto, pouco muda. A Venezuela continuará comprando armamentos da Rússia, negociando petróleo com a China e expandindo suas relações com o Irã, expansão motivada pelo fato de ambos estarem sob sanções dos EUA. O país que realmente promete gerar debates e eventuais tensões no Brics é outro, a Turquia.

A Turquia de Erdogan, que governa o país desde 2003 e conduziu um expurgo interno em 2016, oficializou sua intenção de entrar no bloco no atual ano e pode ser já declarada um dos países associados. Erdogan busca, com isso, contrabalancear o congelamento das negociações entre Turquia e União Europeia, além do esfriamento de relações com os EUA, agravado pela situação do clérigo Fethullah Gulen, antigo aliado que se tornou rival e faleceu recentemente.

A Turquia também expressou desejo de entrar na Organização para Cooperação de Xangai, mesmo sendo um país-membro da Otan. Rússia e China possuem relações dúbias com a Turquia, com muita proximidade em algumas áreas e confronto direto em outras. Os dois países também veem com desconfiança a expansão da influência turca pela Ásia Central desde a fundação da Organização dos Estados Túrquicos, em 2009.

Turquia e China frequentemente alternam farpas e afagos, especialmente sobre a questão dos uigures de Xinjiang, um povo túrquico e muçulmano. A presença turca na África também afeta Egito e Etiópia, e o Cáucaso do Sul é ponto de contenção entre turcos e o Irã, todos esses novos membros do bloco. Uma eventual entrada da Turquia no bloco, se concretizada, pode afetar severamente a já debatível coesão do Brics, com contradições internas e uma expansão sem critérios claros. Venezuela é peixe pequeno perto da Turquia.

A cúpula do Brics de 2024 ocorre esta semana em Kazan, na Rússia, e muito se fala na imprensa brasileira sobre as relações da Venezuela com o bloco. A adição do país vizinho ao bloco na nova categoria de país associado afeta diretamente o Brasil, o que justifica tamanhos comentários. A questão venezuelana não é, entretanto, a mais importante da cúpula do Brics, longe disso, com outro país foco de maiores atenções.

O Brics é um fórum que pode ser importantíssimo aos seus países-membros. No mínimo, fornece contato direto, de alto nível e constante com algumas das principais potências mundiais, especialmente a China, maior parceiro comercial brasileiro e maior economia mundial em alguns critérios. Essa dimensão, mesmo que mínima, já é de alto valor e não pode ser ignorada, especialmente em meio às atuais disputas sobre o bloco.

Tais disputas retratam o Brics como o “lado chinês” em um mundo que estaria retornando para uma bipolaridade similar à do período da Guerra Fria. É uma perspectiva superficial e tão ideológica quanto o que busca criticar. Foi essa perspectiva a adotada pelo governo Javier Milei, na Argentina. Mesmo com a entrada assegurada do país como membro, o governo argentino desistiu, especialmente por razões ideológicas e romantizadas.

O ditador da Venezuela, Nicolás Maduro, e o presidente da Rússia, Vladimir Putin, em encontro durante a cúpula do Brics em Kazan, na Rússia Foto: Alexander Nemenov/AP

Claro que o Brics possui outras facetas além de um contato de alto nível, e tais componentes podem ser ou não interessantes para seus países-membros, variando de ocasião em ocasião. Os integrantes possuem discordâncias e o Brics não é um bloco coeso, ainda mais com a recente expansão, que viu o bloco ir de cinco para nove países-membros. Agora, serão provavelmente mais doze países com o status de associados.

O que a Venezuela poderia trazer ao Brics? A entrada do país vizinho é de interesse da Rússia e da China, hoje os principais parceiros do país do governo autoritário de Nicolás Maduro. Serviria como uma expansão na “vizinhança” dos EUA. E somente isso. Rússia e China não dependem de um fórum como o Brics para defender seus interesses na Venezuela, já que Maduro não possui muitas opções.

Embora detentora das maiores reservas de petróleo do mundo, o petróleo venezuelano perdeu espaço no mercado internacional e, no caso do Brics, o bloco já reúne seis dos nove maiores produtores de petróleo do mundo. O Brasil, que não reconhece a “reeleição” de Maduro, teria solicitado que a associação venezuelana fosse colocada em suspenso, priorizando Cuba e Bolívia como países latino-americanos.

Caso isso se concretize, ótimo para a diplomacia brasileira em seus esforços regionais. Em uma visão macro, entretanto, pouco muda. A Venezuela continuará comprando armamentos da Rússia, negociando petróleo com a China e expandindo suas relações com o Irã, expansão motivada pelo fato de ambos estarem sob sanções dos EUA. O país que realmente promete gerar debates e eventuais tensões no Brics é outro, a Turquia.

A Turquia de Erdogan, que governa o país desde 2003 e conduziu um expurgo interno em 2016, oficializou sua intenção de entrar no bloco no atual ano e pode ser já declarada um dos países associados. Erdogan busca, com isso, contrabalancear o congelamento das negociações entre Turquia e União Europeia, além do esfriamento de relações com os EUA, agravado pela situação do clérigo Fethullah Gulen, antigo aliado que se tornou rival e faleceu recentemente.

A Turquia também expressou desejo de entrar na Organização para Cooperação de Xangai, mesmo sendo um país-membro da Otan. Rússia e China possuem relações dúbias com a Turquia, com muita proximidade em algumas áreas e confronto direto em outras. Os dois países também veem com desconfiança a expansão da influência turca pela Ásia Central desde a fundação da Organização dos Estados Túrquicos, em 2009.

Turquia e China frequentemente alternam farpas e afagos, especialmente sobre a questão dos uigures de Xinjiang, um povo túrquico e muçulmano. A presença turca na África também afeta Egito e Etiópia, e o Cáucaso do Sul é ponto de contenção entre turcos e o Irã, todos esses novos membros do bloco. Uma eventual entrada da Turquia no bloco, se concretizada, pode afetar severamente a já debatível coesão do Brics, com contradições internas e uma expansão sem critérios claros. Venezuela é peixe pequeno perto da Turquia.

A cúpula do Brics de 2024 ocorre esta semana em Kazan, na Rússia, e muito se fala na imprensa brasileira sobre as relações da Venezuela com o bloco. A adição do país vizinho ao bloco na nova categoria de país associado afeta diretamente o Brasil, o que justifica tamanhos comentários. A questão venezuelana não é, entretanto, a mais importante da cúpula do Brics, longe disso, com outro país foco de maiores atenções.

O Brics é um fórum que pode ser importantíssimo aos seus países-membros. No mínimo, fornece contato direto, de alto nível e constante com algumas das principais potências mundiais, especialmente a China, maior parceiro comercial brasileiro e maior economia mundial em alguns critérios. Essa dimensão, mesmo que mínima, já é de alto valor e não pode ser ignorada, especialmente em meio às atuais disputas sobre o bloco.

Tais disputas retratam o Brics como o “lado chinês” em um mundo que estaria retornando para uma bipolaridade similar à do período da Guerra Fria. É uma perspectiva superficial e tão ideológica quanto o que busca criticar. Foi essa perspectiva a adotada pelo governo Javier Milei, na Argentina. Mesmo com a entrada assegurada do país como membro, o governo argentino desistiu, especialmente por razões ideológicas e romantizadas.

O ditador da Venezuela, Nicolás Maduro, e o presidente da Rússia, Vladimir Putin, em encontro durante a cúpula do Brics em Kazan, na Rússia Foto: Alexander Nemenov/AP

Claro que o Brics possui outras facetas além de um contato de alto nível, e tais componentes podem ser ou não interessantes para seus países-membros, variando de ocasião em ocasião. Os integrantes possuem discordâncias e o Brics não é um bloco coeso, ainda mais com a recente expansão, que viu o bloco ir de cinco para nove países-membros. Agora, serão provavelmente mais doze países com o status de associados.

O que a Venezuela poderia trazer ao Brics? A entrada do país vizinho é de interesse da Rússia e da China, hoje os principais parceiros do país do governo autoritário de Nicolás Maduro. Serviria como uma expansão na “vizinhança” dos EUA. E somente isso. Rússia e China não dependem de um fórum como o Brics para defender seus interesses na Venezuela, já que Maduro não possui muitas opções.

Embora detentora das maiores reservas de petróleo do mundo, o petróleo venezuelano perdeu espaço no mercado internacional e, no caso do Brics, o bloco já reúne seis dos nove maiores produtores de petróleo do mundo. O Brasil, que não reconhece a “reeleição” de Maduro, teria solicitado que a associação venezuelana fosse colocada em suspenso, priorizando Cuba e Bolívia como países latino-americanos.

Caso isso se concretize, ótimo para a diplomacia brasileira em seus esforços regionais. Em uma visão macro, entretanto, pouco muda. A Venezuela continuará comprando armamentos da Rússia, negociando petróleo com a China e expandindo suas relações com o Irã, expansão motivada pelo fato de ambos estarem sob sanções dos EUA. O país que realmente promete gerar debates e eventuais tensões no Brics é outro, a Turquia.

A Turquia de Erdogan, que governa o país desde 2003 e conduziu um expurgo interno em 2016, oficializou sua intenção de entrar no bloco no atual ano e pode ser já declarada um dos países associados. Erdogan busca, com isso, contrabalancear o congelamento das negociações entre Turquia e União Europeia, além do esfriamento de relações com os EUA, agravado pela situação do clérigo Fethullah Gulen, antigo aliado que se tornou rival e faleceu recentemente.

A Turquia também expressou desejo de entrar na Organização para Cooperação de Xangai, mesmo sendo um país-membro da Otan. Rússia e China possuem relações dúbias com a Turquia, com muita proximidade em algumas áreas e confronto direto em outras. Os dois países também veem com desconfiança a expansão da influência turca pela Ásia Central desde a fundação da Organização dos Estados Túrquicos, em 2009.

Turquia e China frequentemente alternam farpas e afagos, especialmente sobre a questão dos uigures de Xinjiang, um povo túrquico e muçulmano. A presença turca na África também afeta Egito e Etiópia, e o Cáucaso do Sul é ponto de contenção entre turcos e o Irã, todos esses novos membros do bloco. Uma eventual entrada da Turquia no bloco, se concretizada, pode afetar severamente a já debatível coesão do Brics, com contradições internas e uma expansão sem critérios claros. Venezuela é peixe pequeno perto da Turquia.

A cúpula do Brics de 2024 ocorre esta semana em Kazan, na Rússia, e muito se fala na imprensa brasileira sobre as relações da Venezuela com o bloco. A adição do país vizinho ao bloco na nova categoria de país associado afeta diretamente o Brasil, o que justifica tamanhos comentários. A questão venezuelana não é, entretanto, a mais importante da cúpula do Brics, longe disso, com outro país foco de maiores atenções.

O Brics é um fórum que pode ser importantíssimo aos seus países-membros. No mínimo, fornece contato direto, de alto nível e constante com algumas das principais potências mundiais, especialmente a China, maior parceiro comercial brasileiro e maior economia mundial em alguns critérios. Essa dimensão, mesmo que mínima, já é de alto valor e não pode ser ignorada, especialmente em meio às atuais disputas sobre o bloco.

Tais disputas retratam o Brics como o “lado chinês” em um mundo que estaria retornando para uma bipolaridade similar à do período da Guerra Fria. É uma perspectiva superficial e tão ideológica quanto o que busca criticar. Foi essa perspectiva a adotada pelo governo Javier Milei, na Argentina. Mesmo com a entrada assegurada do país como membro, o governo argentino desistiu, especialmente por razões ideológicas e romantizadas.

O ditador da Venezuela, Nicolás Maduro, e o presidente da Rússia, Vladimir Putin, em encontro durante a cúpula do Brics em Kazan, na Rússia Foto: Alexander Nemenov/AP

Claro que o Brics possui outras facetas além de um contato de alto nível, e tais componentes podem ser ou não interessantes para seus países-membros, variando de ocasião em ocasião. Os integrantes possuem discordâncias e o Brics não é um bloco coeso, ainda mais com a recente expansão, que viu o bloco ir de cinco para nove países-membros. Agora, serão provavelmente mais doze países com o status de associados.

O que a Venezuela poderia trazer ao Brics? A entrada do país vizinho é de interesse da Rússia e da China, hoje os principais parceiros do país do governo autoritário de Nicolás Maduro. Serviria como uma expansão na “vizinhança” dos EUA. E somente isso. Rússia e China não dependem de um fórum como o Brics para defender seus interesses na Venezuela, já que Maduro não possui muitas opções.

Embora detentora das maiores reservas de petróleo do mundo, o petróleo venezuelano perdeu espaço no mercado internacional e, no caso do Brics, o bloco já reúne seis dos nove maiores produtores de petróleo do mundo. O Brasil, que não reconhece a “reeleição” de Maduro, teria solicitado que a associação venezuelana fosse colocada em suspenso, priorizando Cuba e Bolívia como países latino-americanos.

Caso isso se concretize, ótimo para a diplomacia brasileira em seus esforços regionais. Em uma visão macro, entretanto, pouco muda. A Venezuela continuará comprando armamentos da Rússia, negociando petróleo com a China e expandindo suas relações com o Irã, expansão motivada pelo fato de ambos estarem sob sanções dos EUA. O país que realmente promete gerar debates e eventuais tensões no Brics é outro, a Turquia.

A Turquia de Erdogan, que governa o país desde 2003 e conduziu um expurgo interno em 2016, oficializou sua intenção de entrar no bloco no atual ano e pode ser já declarada um dos países associados. Erdogan busca, com isso, contrabalancear o congelamento das negociações entre Turquia e União Europeia, além do esfriamento de relações com os EUA, agravado pela situação do clérigo Fethullah Gulen, antigo aliado que se tornou rival e faleceu recentemente.

A Turquia também expressou desejo de entrar na Organização para Cooperação de Xangai, mesmo sendo um país-membro da Otan. Rússia e China possuem relações dúbias com a Turquia, com muita proximidade em algumas áreas e confronto direto em outras. Os dois países também veem com desconfiança a expansão da influência turca pela Ásia Central desde a fundação da Organização dos Estados Túrquicos, em 2009.

Turquia e China frequentemente alternam farpas e afagos, especialmente sobre a questão dos uigures de Xinjiang, um povo túrquico e muçulmano. A presença turca na África também afeta Egito e Etiópia, e o Cáucaso do Sul é ponto de contenção entre turcos e o Irã, todos esses novos membros do bloco. Uma eventual entrada da Turquia no bloco, se concretizada, pode afetar severamente a já debatível coesão do Brics, com contradições internas e uma expansão sem critérios claros. Venezuela é peixe pequeno perto da Turquia.

Opinião por Filipe Figueiredo

Filipe Figueiredo é graduado em história pela USP, comentarista de política internacional e criador dos podcasts Xadrez Verbal e Fronteiras Invisíveis do Futebol, sobre política internacional e história

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