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Opinião|Grande trunfo de Trump no debate não foi o que ele disse, mas o que Kamala omitiu


No cerne das perguntas sobre a economia, especialmente no início do debate, ela se esquivou e se omitiu. Em um momento de inflação, a economia é o maior flanco de Kamala

Por Filipe Figueiredo

Kamala Harris teve um desempenho melhor e mais assertivo do que Donald Trump no recente debate entre os dois, salvo no que talvez seja o assunto principal de uma eleição.

Na noite dessa terça-feira, 10, ocorreu o primeiro, e talvez único, debate presidencial dos EUA com os atuais candidatos. Se o debate anterior causou desespero entre os democratas, o mais recente certamente foi diferente.

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Após o debate de junho, comentamos aqui que Biden deveria retirar sua candidatura. Ele relutou, mas foi o que aconteceu. Naquela ocasião, também lembramos que um debate televisionado possui duas funções: seduzir eleitores indecisos e movimentar a sua própria base eleitoral.

Pessoas assistem ao debate presidencial entre o republicano Donald Trump e a democrata Kamala Harris em um telão montado na casa noturna Gipsy Las Vegas, em Las Vegas Foto: John Locher/AP

Tanto Harris quanto Trump conseguiram agitar suas bases. O republicano manteve sua estratégia de, sempre que possível, trazer o tema da imigração e que uma suposta imigração desenfreada seria o motivo de todas as mazelas dos EUA.

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Chegou ao ponto dele ser desmentido por um dos apresentadores, quando disse que imigrantes estariam comendo os cachorros de estimação de cidadãos. Também acusou os democratas de “matarem bebês aos nove meses de gestação”, no que também teve que ser desmentido. Talvez, entretanto, Trump tenha agitado suas bases até demais, se concentrando apenas nela, com um discurso quase caricato.

Afirmou, por exemplo, que Kamala Harris transformaria os EUA “na versão piorada da Venezuela” e que ela é uma “marxista”. Nesse sentido, ele se saiu melhor quando, no lugar de usar rótulos, disse que era difícil confiar nela pois ela muda constantemente de opiniões.

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Só que Trump pouco apresentou ao eleitor indeciso. Ele basicamente repetiu seus pontos habituais, embora com uma postura menos agressiva do que a que teve com Joe Biden. Harris, por outro lado, agitou suas bases, mas soube também acenar ao eleitor médio.

Isso foi visto desde o início, quando ela se dirigiu até Trump, até o púlpito dele, para cumprimentá-lo, com ele claramente evitando ir ao centro do palco.  O gesto de cumprimentar Trump parece banal, mas ela buscou transmitir a ideia de que era a “adulta responsável” na sala.

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Kamala Harris equilibrou a defesa de pautas como o aborto de gestação com críticas a Trump, mas mantendo sempre a mensagem de que ela quer “oportunidades para a classe média”, de onde ela veio, contrastando sua origem com a origem de Trump, que seria um herdeiro e alguém que quer apenas beneficiar os ricos com seus cortes de impostos, dentre outras críticas.

A postura corporal de Harris foi de encarar, rir de respostas, chamar Trump de mentiroso e fazer expressões de deboche, algo que Trump está habituado a monopolizar em um debate. O momento mais proveitoso para Harris certamente foi quando os mediadores trouxeram o tema do 6 de janeiro de 2021, com ela afirmando que o então presidente incitou uma turba violenta para atacar as instituições do país, que policiais ficaram feridos e que Trump sofreu impeachment. Ela seguiu e associou os eventos com Charlottesville, com milícias supremacistas e com o recente comentário de Trump sobre um “banho de sangue”.

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Para ela, seria então hora de “virar a página”. Trump pouco conseguiu responder. Harris também frisou o tema quando os mediadores perguntaram se Trump reconhecia a derrota nas eleições de 2020, e ele voltou a negar o reconhecimento. A democrata também frequentemente usou a cartada de ter sido procuradora, de ser a candidata “da lei” contra um criminoso, citando vários tipos de processos contra Trump.

De seu lado, Trump buscou sempre associar Kamala Harris ao governo Biden, ao ponto que a candidata disse que “precisava lembrar” que Biden não era candidato. O pronunciamento final de Trump girou em torno da argumentação de que Kamala “diz que vai fazer tal coisa”, mas não fizeram nada, tiveram três anos e meio e não fizeram nada e que seria o pior governo da História. A argumentação de Trump nesse encerramento seria mais convincente caso ele fosse um candidato “outsider”, como era em 2016.

O candidato republicano, o ex-Presidente Donald Trump, e a democrata, a Vice-Presidente Kamala Harris, participam de debate presidencial da ABC News, na Filadélfia Foto: Alex Brandon/AP
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Não é mais o caso, com muitas pessoas sabendo bem o que esperar dele. O grande trunfo de Trump, na verdade, não foi o que ele disse. Foi o que Kamala Harris não disse. No cerne das perguntas sobre a economia, especialmente no início do debate, ela se esquivou e se omitiu. Em um momento de inflação, a economia é o maior flanco de Harris, e onde Trump vai investir. Obviamente não é um assunto marginal.

Resta ver como o debate será refletido nas pesquisas nos estados-pêndulo que costumam decidir a eleição. O evento, inclusive, foi em um desses estados, na Pensilvânia, com temas caros aos eleitores locais, como combustíveis fósseis. Pouco depois do debate, em um comunicado carregado de ironia com Trump nas redes sociais, a popular cantora Taylor Swift formalizou seu apoio à candidata democrata. Se Kamala já tinha a sensação de ter vencido o debate, essa notícia foi a cereja no bolo.

Kamala Harris teve um desempenho melhor e mais assertivo do que Donald Trump no recente debate entre os dois, salvo no que talvez seja o assunto principal de uma eleição.

Na noite dessa terça-feira, 10, ocorreu o primeiro, e talvez único, debate presidencial dos EUA com os atuais candidatos. Se o debate anterior causou desespero entre os democratas, o mais recente certamente foi diferente.

Após o debate de junho, comentamos aqui que Biden deveria retirar sua candidatura. Ele relutou, mas foi o que aconteceu. Naquela ocasião, também lembramos que um debate televisionado possui duas funções: seduzir eleitores indecisos e movimentar a sua própria base eleitoral.

Pessoas assistem ao debate presidencial entre o republicano Donald Trump e a democrata Kamala Harris em um telão montado na casa noturna Gipsy Las Vegas, em Las Vegas Foto: John Locher/AP

Tanto Harris quanto Trump conseguiram agitar suas bases. O republicano manteve sua estratégia de, sempre que possível, trazer o tema da imigração e que uma suposta imigração desenfreada seria o motivo de todas as mazelas dos EUA.

Chegou ao ponto dele ser desmentido por um dos apresentadores, quando disse que imigrantes estariam comendo os cachorros de estimação de cidadãos. Também acusou os democratas de “matarem bebês aos nove meses de gestação”, no que também teve que ser desmentido. Talvez, entretanto, Trump tenha agitado suas bases até demais, se concentrando apenas nela, com um discurso quase caricato.

Afirmou, por exemplo, que Kamala Harris transformaria os EUA “na versão piorada da Venezuela” e que ela é uma “marxista”. Nesse sentido, ele se saiu melhor quando, no lugar de usar rótulos, disse que era difícil confiar nela pois ela muda constantemente de opiniões.

Só que Trump pouco apresentou ao eleitor indeciso. Ele basicamente repetiu seus pontos habituais, embora com uma postura menos agressiva do que a que teve com Joe Biden. Harris, por outro lado, agitou suas bases, mas soube também acenar ao eleitor médio.

Isso foi visto desde o início, quando ela se dirigiu até Trump, até o púlpito dele, para cumprimentá-lo, com ele claramente evitando ir ao centro do palco.  O gesto de cumprimentar Trump parece banal, mas ela buscou transmitir a ideia de que era a “adulta responsável” na sala.

Kamala Harris equilibrou a defesa de pautas como o aborto de gestação com críticas a Trump, mas mantendo sempre a mensagem de que ela quer “oportunidades para a classe média”, de onde ela veio, contrastando sua origem com a origem de Trump, que seria um herdeiro e alguém que quer apenas beneficiar os ricos com seus cortes de impostos, dentre outras críticas.

A postura corporal de Harris foi de encarar, rir de respostas, chamar Trump de mentiroso e fazer expressões de deboche, algo que Trump está habituado a monopolizar em um debate. O momento mais proveitoso para Harris certamente foi quando os mediadores trouxeram o tema do 6 de janeiro de 2021, com ela afirmando que o então presidente incitou uma turba violenta para atacar as instituições do país, que policiais ficaram feridos e que Trump sofreu impeachment. Ela seguiu e associou os eventos com Charlottesville, com milícias supremacistas e com o recente comentário de Trump sobre um “banho de sangue”.

Para ela, seria então hora de “virar a página”. Trump pouco conseguiu responder. Harris também frisou o tema quando os mediadores perguntaram se Trump reconhecia a derrota nas eleições de 2020, e ele voltou a negar o reconhecimento. A democrata também frequentemente usou a cartada de ter sido procuradora, de ser a candidata “da lei” contra um criminoso, citando vários tipos de processos contra Trump.

De seu lado, Trump buscou sempre associar Kamala Harris ao governo Biden, ao ponto que a candidata disse que “precisava lembrar” que Biden não era candidato. O pronunciamento final de Trump girou em torno da argumentação de que Kamala “diz que vai fazer tal coisa”, mas não fizeram nada, tiveram três anos e meio e não fizeram nada e que seria o pior governo da História. A argumentação de Trump nesse encerramento seria mais convincente caso ele fosse um candidato “outsider”, como era em 2016.

O candidato republicano, o ex-Presidente Donald Trump, e a democrata, a Vice-Presidente Kamala Harris, participam de debate presidencial da ABC News, na Filadélfia Foto: Alex Brandon/AP

Não é mais o caso, com muitas pessoas sabendo bem o que esperar dele. O grande trunfo de Trump, na verdade, não foi o que ele disse. Foi o que Kamala Harris não disse. No cerne das perguntas sobre a economia, especialmente no início do debate, ela se esquivou e se omitiu. Em um momento de inflação, a economia é o maior flanco de Harris, e onde Trump vai investir. Obviamente não é um assunto marginal.

Resta ver como o debate será refletido nas pesquisas nos estados-pêndulo que costumam decidir a eleição. O evento, inclusive, foi em um desses estados, na Pensilvânia, com temas caros aos eleitores locais, como combustíveis fósseis. Pouco depois do debate, em um comunicado carregado de ironia com Trump nas redes sociais, a popular cantora Taylor Swift formalizou seu apoio à candidata democrata. Se Kamala já tinha a sensação de ter vencido o debate, essa notícia foi a cereja no bolo.

Kamala Harris teve um desempenho melhor e mais assertivo do que Donald Trump no recente debate entre os dois, salvo no que talvez seja o assunto principal de uma eleição.

Na noite dessa terça-feira, 10, ocorreu o primeiro, e talvez único, debate presidencial dos EUA com os atuais candidatos. Se o debate anterior causou desespero entre os democratas, o mais recente certamente foi diferente.

Após o debate de junho, comentamos aqui que Biden deveria retirar sua candidatura. Ele relutou, mas foi o que aconteceu. Naquela ocasião, também lembramos que um debate televisionado possui duas funções: seduzir eleitores indecisos e movimentar a sua própria base eleitoral.

Pessoas assistem ao debate presidencial entre o republicano Donald Trump e a democrata Kamala Harris em um telão montado na casa noturna Gipsy Las Vegas, em Las Vegas Foto: John Locher/AP

Tanto Harris quanto Trump conseguiram agitar suas bases. O republicano manteve sua estratégia de, sempre que possível, trazer o tema da imigração e que uma suposta imigração desenfreada seria o motivo de todas as mazelas dos EUA.

Chegou ao ponto dele ser desmentido por um dos apresentadores, quando disse que imigrantes estariam comendo os cachorros de estimação de cidadãos. Também acusou os democratas de “matarem bebês aos nove meses de gestação”, no que também teve que ser desmentido. Talvez, entretanto, Trump tenha agitado suas bases até demais, se concentrando apenas nela, com um discurso quase caricato.

Afirmou, por exemplo, que Kamala Harris transformaria os EUA “na versão piorada da Venezuela” e que ela é uma “marxista”. Nesse sentido, ele se saiu melhor quando, no lugar de usar rótulos, disse que era difícil confiar nela pois ela muda constantemente de opiniões.

Só que Trump pouco apresentou ao eleitor indeciso. Ele basicamente repetiu seus pontos habituais, embora com uma postura menos agressiva do que a que teve com Joe Biden. Harris, por outro lado, agitou suas bases, mas soube também acenar ao eleitor médio.

Isso foi visto desde o início, quando ela se dirigiu até Trump, até o púlpito dele, para cumprimentá-lo, com ele claramente evitando ir ao centro do palco.  O gesto de cumprimentar Trump parece banal, mas ela buscou transmitir a ideia de que era a “adulta responsável” na sala.

Kamala Harris equilibrou a defesa de pautas como o aborto de gestação com críticas a Trump, mas mantendo sempre a mensagem de que ela quer “oportunidades para a classe média”, de onde ela veio, contrastando sua origem com a origem de Trump, que seria um herdeiro e alguém que quer apenas beneficiar os ricos com seus cortes de impostos, dentre outras críticas.

A postura corporal de Harris foi de encarar, rir de respostas, chamar Trump de mentiroso e fazer expressões de deboche, algo que Trump está habituado a monopolizar em um debate. O momento mais proveitoso para Harris certamente foi quando os mediadores trouxeram o tema do 6 de janeiro de 2021, com ela afirmando que o então presidente incitou uma turba violenta para atacar as instituições do país, que policiais ficaram feridos e que Trump sofreu impeachment. Ela seguiu e associou os eventos com Charlottesville, com milícias supremacistas e com o recente comentário de Trump sobre um “banho de sangue”.

Para ela, seria então hora de “virar a página”. Trump pouco conseguiu responder. Harris também frisou o tema quando os mediadores perguntaram se Trump reconhecia a derrota nas eleições de 2020, e ele voltou a negar o reconhecimento. A democrata também frequentemente usou a cartada de ter sido procuradora, de ser a candidata “da lei” contra um criminoso, citando vários tipos de processos contra Trump.

De seu lado, Trump buscou sempre associar Kamala Harris ao governo Biden, ao ponto que a candidata disse que “precisava lembrar” que Biden não era candidato. O pronunciamento final de Trump girou em torno da argumentação de que Kamala “diz que vai fazer tal coisa”, mas não fizeram nada, tiveram três anos e meio e não fizeram nada e que seria o pior governo da História. A argumentação de Trump nesse encerramento seria mais convincente caso ele fosse um candidato “outsider”, como era em 2016.

O candidato republicano, o ex-Presidente Donald Trump, e a democrata, a Vice-Presidente Kamala Harris, participam de debate presidencial da ABC News, na Filadélfia Foto: Alex Brandon/AP

Não é mais o caso, com muitas pessoas sabendo bem o que esperar dele. O grande trunfo de Trump, na verdade, não foi o que ele disse. Foi o que Kamala Harris não disse. No cerne das perguntas sobre a economia, especialmente no início do debate, ela se esquivou e se omitiu. Em um momento de inflação, a economia é o maior flanco de Harris, e onde Trump vai investir. Obviamente não é um assunto marginal.

Resta ver como o debate será refletido nas pesquisas nos estados-pêndulo que costumam decidir a eleição. O evento, inclusive, foi em um desses estados, na Pensilvânia, com temas caros aos eleitores locais, como combustíveis fósseis. Pouco depois do debate, em um comunicado carregado de ironia com Trump nas redes sociais, a popular cantora Taylor Swift formalizou seu apoio à candidata democrata. Se Kamala já tinha a sensação de ter vencido o debate, essa notícia foi a cereja no bolo.

Kamala Harris teve um desempenho melhor e mais assertivo do que Donald Trump no recente debate entre os dois, salvo no que talvez seja o assunto principal de uma eleição.

Na noite dessa terça-feira, 10, ocorreu o primeiro, e talvez único, debate presidencial dos EUA com os atuais candidatos. Se o debate anterior causou desespero entre os democratas, o mais recente certamente foi diferente.

Após o debate de junho, comentamos aqui que Biden deveria retirar sua candidatura. Ele relutou, mas foi o que aconteceu. Naquela ocasião, também lembramos que um debate televisionado possui duas funções: seduzir eleitores indecisos e movimentar a sua própria base eleitoral.

Pessoas assistem ao debate presidencial entre o republicano Donald Trump e a democrata Kamala Harris em um telão montado na casa noturna Gipsy Las Vegas, em Las Vegas Foto: John Locher/AP

Tanto Harris quanto Trump conseguiram agitar suas bases. O republicano manteve sua estratégia de, sempre que possível, trazer o tema da imigração e que uma suposta imigração desenfreada seria o motivo de todas as mazelas dos EUA.

Chegou ao ponto dele ser desmentido por um dos apresentadores, quando disse que imigrantes estariam comendo os cachorros de estimação de cidadãos. Também acusou os democratas de “matarem bebês aos nove meses de gestação”, no que também teve que ser desmentido. Talvez, entretanto, Trump tenha agitado suas bases até demais, se concentrando apenas nela, com um discurso quase caricato.

Afirmou, por exemplo, que Kamala Harris transformaria os EUA “na versão piorada da Venezuela” e que ela é uma “marxista”. Nesse sentido, ele se saiu melhor quando, no lugar de usar rótulos, disse que era difícil confiar nela pois ela muda constantemente de opiniões.

Só que Trump pouco apresentou ao eleitor indeciso. Ele basicamente repetiu seus pontos habituais, embora com uma postura menos agressiva do que a que teve com Joe Biden. Harris, por outro lado, agitou suas bases, mas soube também acenar ao eleitor médio.

Isso foi visto desde o início, quando ela se dirigiu até Trump, até o púlpito dele, para cumprimentá-lo, com ele claramente evitando ir ao centro do palco.  O gesto de cumprimentar Trump parece banal, mas ela buscou transmitir a ideia de que era a “adulta responsável” na sala.

Kamala Harris equilibrou a defesa de pautas como o aborto de gestação com críticas a Trump, mas mantendo sempre a mensagem de que ela quer “oportunidades para a classe média”, de onde ela veio, contrastando sua origem com a origem de Trump, que seria um herdeiro e alguém que quer apenas beneficiar os ricos com seus cortes de impostos, dentre outras críticas.

A postura corporal de Harris foi de encarar, rir de respostas, chamar Trump de mentiroso e fazer expressões de deboche, algo que Trump está habituado a monopolizar em um debate. O momento mais proveitoso para Harris certamente foi quando os mediadores trouxeram o tema do 6 de janeiro de 2021, com ela afirmando que o então presidente incitou uma turba violenta para atacar as instituições do país, que policiais ficaram feridos e que Trump sofreu impeachment. Ela seguiu e associou os eventos com Charlottesville, com milícias supremacistas e com o recente comentário de Trump sobre um “banho de sangue”.

Para ela, seria então hora de “virar a página”. Trump pouco conseguiu responder. Harris também frisou o tema quando os mediadores perguntaram se Trump reconhecia a derrota nas eleições de 2020, e ele voltou a negar o reconhecimento. A democrata também frequentemente usou a cartada de ter sido procuradora, de ser a candidata “da lei” contra um criminoso, citando vários tipos de processos contra Trump.

De seu lado, Trump buscou sempre associar Kamala Harris ao governo Biden, ao ponto que a candidata disse que “precisava lembrar” que Biden não era candidato. O pronunciamento final de Trump girou em torno da argumentação de que Kamala “diz que vai fazer tal coisa”, mas não fizeram nada, tiveram três anos e meio e não fizeram nada e que seria o pior governo da História. A argumentação de Trump nesse encerramento seria mais convincente caso ele fosse um candidato “outsider”, como era em 2016.

O candidato republicano, o ex-Presidente Donald Trump, e a democrata, a Vice-Presidente Kamala Harris, participam de debate presidencial da ABC News, na Filadélfia Foto: Alex Brandon/AP

Não é mais o caso, com muitas pessoas sabendo bem o que esperar dele. O grande trunfo de Trump, na verdade, não foi o que ele disse. Foi o que Kamala Harris não disse. No cerne das perguntas sobre a economia, especialmente no início do debate, ela se esquivou e se omitiu. Em um momento de inflação, a economia é o maior flanco de Harris, e onde Trump vai investir. Obviamente não é um assunto marginal.

Resta ver como o debate será refletido nas pesquisas nos estados-pêndulo que costumam decidir a eleição. O evento, inclusive, foi em um desses estados, na Pensilvânia, com temas caros aos eleitores locais, como combustíveis fósseis. Pouco depois do debate, em um comunicado carregado de ironia com Trump nas redes sociais, a popular cantora Taylor Swift formalizou seu apoio à candidata democrata. Se Kamala já tinha a sensação de ter vencido o debate, essa notícia foi a cereja no bolo.

Kamala Harris teve um desempenho melhor e mais assertivo do que Donald Trump no recente debate entre os dois, salvo no que talvez seja o assunto principal de uma eleição.

Na noite dessa terça-feira, 10, ocorreu o primeiro, e talvez único, debate presidencial dos EUA com os atuais candidatos. Se o debate anterior causou desespero entre os democratas, o mais recente certamente foi diferente.

Após o debate de junho, comentamos aqui que Biden deveria retirar sua candidatura. Ele relutou, mas foi o que aconteceu. Naquela ocasião, também lembramos que um debate televisionado possui duas funções: seduzir eleitores indecisos e movimentar a sua própria base eleitoral.

Pessoas assistem ao debate presidencial entre o republicano Donald Trump e a democrata Kamala Harris em um telão montado na casa noturna Gipsy Las Vegas, em Las Vegas Foto: John Locher/AP

Tanto Harris quanto Trump conseguiram agitar suas bases. O republicano manteve sua estratégia de, sempre que possível, trazer o tema da imigração e que uma suposta imigração desenfreada seria o motivo de todas as mazelas dos EUA.

Chegou ao ponto dele ser desmentido por um dos apresentadores, quando disse que imigrantes estariam comendo os cachorros de estimação de cidadãos. Também acusou os democratas de “matarem bebês aos nove meses de gestação”, no que também teve que ser desmentido. Talvez, entretanto, Trump tenha agitado suas bases até demais, se concentrando apenas nela, com um discurso quase caricato.

Afirmou, por exemplo, que Kamala Harris transformaria os EUA “na versão piorada da Venezuela” e que ela é uma “marxista”. Nesse sentido, ele se saiu melhor quando, no lugar de usar rótulos, disse que era difícil confiar nela pois ela muda constantemente de opiniões.

Só que Trump pouco apresentou ao eleitor indeciso. Ele basicamente repetiu seus pontos habituais, embora com uma postura menos agressiva do que a que teve com Joe Biden. Harris, por outro lado, agitou suas bases, mas soube também acenar ao eleitor médio.

Isso foi visto desde o início, quando ela se dirigiu até Trump, até o púlpito dele, para cumprimentá-lo, com ele claramente evitando ir ao centro do palco.  O gesto de cumprimentar Trump parece banal, mas ela buscou transmitir a ideia de que era a “adulta responsável” na sala.

Kamala Harris equilibrou a defesa de pautas como o aborto de gestação com críticas a Trump, mas mantendo sempre a mensagem de que ela quer “oportunidades para a classe média”, de onde ela veio, contrastando sua origem com a origem de Trump, que seria um herdeiro e alguém que quer apenas beneficiar os ricos com seus cortes de impostos, dentre outras críticas.

A postura corporal de Harris foi de encarar, rir de respostas, chamar Trump de mentiroso e fazer expressões de deboche, algo que Trump está habituado a monopolizar em um debate. O momento mais proveitoso para Harris certamente foi quando os mediadores trouxeram o tema do 6 de janeiro de 2021, com ela afirmando que o então presidente incitou uma turba violenta para atacar as instituições do país, que policiais ficaram feridos e que Trump sofreu impeachment. Ela seguiu e associou os eventos com Charlottesville, com milícias supremacistas e com o recente comentário de Trump sobre um “banho de sangue”.

Para ela, seria então hora de “virar a página”. Trump pouco conseguiu responder. Harris também frisou o tema quando os mediadores perguntaram se Trump reconhecia a derrota nas eleições de 2020, e ele voltou a negar o reconhecimento. A democrata também frequentemente usou a cartada de ter sido procuradora, de ser a candidata “da lei” contra um criminoso, citando vários tipos de processos contra Trump.

De seu lado, Trump buscou sempre associar Kamala Harris ao governo Biden, ao ponto que a candidata disse que “precisava lembrar” que Biden não era candidato. O pronunciamento final de Trump girou em torno da argumentação de que Kamala “diz que vai fazer tal coisa”, mas não fizeram nada, tiveram três anos e meio e não fizeram nada e que seria o pior governo da História. A argumentação de Trump nesse encerramento seria mais convincente caso ele fosse um candidato “outsider”, como era em 2016.

O candidato republicano, o ex-Presidente Donald Trump, e a democrata, a Vice-Presidente Kamala Harris, participam de debate presidencial da ABC News, na Filadélfia Foto: Alex Brandon/AP

Não é mais o caso, com muitas pessoas sabendo bem o que esperar dele. O grande trunfo de Trump, na verdade, não foi o que ele disse. Foi o que Kamala Harris não disse. No cerne das perguntas sobre a economia, especialmente no início do debate, ela se esquivou e se omitiu. Em um momento de inflação, a economia é o maior flanco de Harris, e onde Trump vai investir. Obviamente não é um assunto marginal.

Resta ver como o debate será refletido nas pesquisas nos estados-pêndulo que costumam decidir a eleição. O evento, inclusive, foi em um desses estados, na Pensilvânia, com temas caros aos eleitores locais, como combustíveis fósseis. Pouco depois do debate, em um comunicado carregado de ironia com Trump nas redes sociais, a popular cantora Taylor Swift formalizou seu apoio à candidata democrata. Se Kamala já tinha a sensação de ter vencido o debate, essa notícia foi a cereja no bolo.

Opinião por Filipe Figueiredo

Filipe Figueiredo é graduado em história pela USP, comentarista de política internacional e criador dos podcasts Xadrez Verbal e Fronteiras Invisíveis do Futebol, sobre política internacional e história

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