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Opinião|O papel de Brasil e Colômbia e o futuro político da Venezuela após as eleições


Brasil e Colômbia são também os poucos atores com legitimidade em um eventual processo de mediação ou de revelação de potenciais fraudes

Por Filipe Figueiredo

De acordo com os resultados eleitorais oficiais, Nicolás Maduro foi reeleito presidente da Venezuela com 51,2% dos votos. O principal candidato da oposição, Edmundo González, ficou com 44,2% dos votos. Ele ocupa o lugar que originalmente era de María Corina Machado, barrada de disputar o pleito por ter aceito a nacionalidade panamenha anos atrás. Os números já foram contestados e, principalmente, as reações internacionais podem dizer bastante sobre como devem ser os próximos dias da política na Venezuela.

É necessário que qualquer comentário sobre as eleições venezuelanas parta de alguns fatos. Primeiro, a situação política do país é cada vez mais autoritária, especialmente desde a derrota do governo Maduro nas eleições legislativas de 2015, que não foram aceitas pelo governo. Todos os principais índices de saúde democrática qualificam a Venezuela como um país autoritário. E a meta de qualquer governo autoritário é se manter no poder, custe o que custar. Segundo, existem milhões de críticos de Maduro.

Eles estão à direita e também à esquerda, como o Partido Comunista da Venezuela, assim como existem milhões de seus defensores. Criticar o autoritarismo venezuelano não pode implicar em achar que essas pessoas não existem. Terceiro, o sistema eleitoral venezuelano possui vários méritos, implementando inclusive medidas que são propostas no Brasil, como o uso de um comprovante impresso junto ao voto computado na urna eletrônica. Tais méritos, entretanto, não significam necessariamente que foram eleições livres e justas.

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Venezuelan President Nicolas Maduro, who is seeking a third term, attends a campaign rally in Caracas, Venezuela, July 16, 2024. (AP Photo/Cristian Hernandez) Foto: Cristian Hernandez/AP

As campanhas não tiveram os mesmos espaços e o governo impediu o voto de muitos venezuelanos ao fechar as fronteiras, por exemplo. Finalmente, é interessante apontar que, hoje, a oposição venezuelana é multifacetada, incluindo antigos apoiadores do finado Hugo Chávez que hoje estão decepcionados com os rumos dados ao país por Maduro. Sim, Corina Machado tem laços com o partido neofranquista espanhol Vox, e figuras como o autoritário Leopoldo López ainda possuem espaço, mas não se trata de apenas isso.

A contestação da oposição possui substância, incluindo a contagem de atas públicas explicitando que é quase estatisticamente impossível que Maduro tenha o resultado eleitoral oficial. Em suma, trata-se de um cenário complexo e com novos desdobramentos ocorrendo rapidamente nas próximas horas. O que pode realmente ser decisivo para o futuro da Venezuela nesse momento são as respostas de alguns atores. Internamente, os militares são o verdadeiro pilar de Maduro.

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Sem o general Padrino López, ministro da Defesa, Maduro não estaria no poder, um aspecto do regime venezuelano que foge ao olhar de muitas pessoas. É possível que alguma articulação política consiga atrair os militares para o outro lado, ou alguma prova cabal de fraude explícita. Alguns generais, entretanto, manterão a associação a Maduro até o fim, por variadas razões, incluindo seus bolsos. Não é à toa que os atores políticos da oposição, repetidas vezes, apelaram aos militares para que eles “impusessem” a vontade das urnas.

Externamente, os atores principais são dois, Brasil e Colômbia, ambos países  vizinhos, governados por presidentes da esquerda e que repetidas vezes estenderam a mão para Maduro. Os dois países optaram pela cautela e por aguardar. Na prática, isso significa não reconhecer os resultados oficiais, ao contrário dos governos de Bolívia, Honduras e Irã, dentre outros. Brasil e Colômbia têm o papel e a responsabilidade de tentar encontrar uma solução, até por serem os países que mais carregam o fardo da crise venezuelana.

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A líder da oposição, María Corina Machado, participa de coletiva de imprensa ao lado do candidato presidencial Edmundo González Urrutia, em Caracas  Foto: Federico Parra/AFP

São países que acolhem imigrantes e enfrentam crises de abastecimento em suas fronteiras. O Brasil é o único país com um representante de alto nível na Venezuela, com Celso Amorim, hoje assessor especial da presidência. A Colômbia, via as redes sociais de seu chanceler, frisou o papel do diálogo e pediu celeridade no processo que confere as atas eleitorais. O Brasil decidiu aguardar os comentários das missões observadoras da ONU e do Carter Center. Novamente, essa espera significa que Brasil e Colômbia não reconheceram os resultados.

A observação internacional poderia ser um caminho para a legitimidade do pleito, mas Maduro optou por ofender o TSE brasileiro e impedir a presença de outros observadores. Brasil e Colômbia são também os poucos atores com legitimidade em um eventual processo de mediação ou de revelação de potenciais fraudes. Qualquer papel de uma potência internacional, como os EUA, será frontalmente rejeitado. Trata-se de verdadeira prova de fogo para a Colômbia de Petro e para o Brasil de Lula.

De acordo com os resultados eleitorais oficiais, Nicolás Maduro foi reeleito presidente da Venezuela com 51,2% dos votos. O principal candidato da oposição, Edmundo González, ficou com 44,2% dos votos. Ele ocupa o lugar que originalmente era de María Corina Machado, barrada de disputar o pleito por ter aceito a nacionalidade panamenha anos atrás. Os números já foram contestados e, principalmente, as reações internacionais podem dizer bastante sobre como devem ser os próximos dias da política na Venezuela.

É necessário que qualquer comentário sobre as eleições venezuelanas parta de alguns fatos. Primeiro, a situação política do país é cada vez mais autoritária, especialmente desde a derrota do governo Maduro nas eleições legislativas de 2015, que não foram aceitas pelo governo. Todos os principais índices de saúde democrática qualificam a Venezuela como um país autoritário. E a meta de qualquer governo autoritário é se manter no poder, custe o que custar. Segundo, existem milhões de críticos de Maduro.

Eles estão à direita e também à esquerda, como o Partido Comunista da Venezuela, assim como existem milhões de seus defensores. Criticar o autoritarismo venezuelano não pode implicar em achar que essas pessoas não existem. Terceiro, o sistema eleitoral venezuelano possui vários méritos, implementando inclusive medidas que são propostas no Brasil, como o uso de um comprovante impresso junto ao voto computado na urna eletrônica. Tais méritos, entretanto, não significam necessariamente que foram eleições livres e justas.

Venezuelan President Nicolas Maduro, who is seeking a third term, attends a campaign rally in Caracas, Venezuela, July 16, 2024. (AP Photo/Cristian Hernandez) Foto: Cristian Hernandez/AP

As campanhas não tiveram os mesmos espaços e o governo impediu o voto de muitos venezuelanos ao fechar as fronteiras, por exemplo. Finalmente, é interessante apontar que, hoje, a oposição venezuelana é multifacetada, incluindo antigos apoiadores do finado Hugo Chávez que hoje estão decepcionados com os rumos dados ao país por Maduro. Sim, Corina Machado tem laços com o partido neofranquista espanhol Vox, e figuras como o autoritário Leopoldo López ainda possuem espaço, mas não se trata de apenas isso.

A contestação da oposição possui substância, incluindo a contagem de atas públicas explicitando que é quase estatisticamente impossível que Maduro tenha o resultado eleitoral oficial. Em suma, trata-se de um cenário complexo e com novos desdobramentos ocorrendo rapidamente nas próximas horas. O que pode realmente ser decisivo para o futuro da Venezuela nesse momento são as respostas de alguns atores. Internamente, os militares são o verdadeiro pilar de Maduro.

Sem o general Padrino López, ministro da Defesa, Maduro não estaria no poder, um aspecto do regime venezuelano que foge ao olhar de muitas pessoas. É possível que alguma articulação política consiga atrair os militares para o outro lado, ou alguma prova cabal de fraude explícita. Alguns generais, entretanto, manterão a associação a Maduro até o fim, por variadas razões, incluindo seus bolsos. Não é à toa que os atores políticos da oposição, repetidas vezes, apelaram aos militares para que eles “impusessem” a vontade das urnas.

Externamente, os atores principais são dois, Brasil e Colômbia, ambos países  vizinhos, governados por presidentes da esquerda e que repetidas vezes estenderam a mão para Maduro. Os dois países optaram pela cautela e por aguardar. Na prática, isso significa não reconhecer os resultados oficiais, ao contrário dos governos de Bolívia, Honduras e Irã, dentre outros. Brasil e Colômbia têm o papel e a responsabilidade de tentar encontrar uma solução, até por serem os países que mais carregam o fardo da crise venezuelana.

A líder da oposição, María Corina Machado, participa de coletiva de imprensa ao lado do candidato presidencial Edmundo González Urrutia, em Caracas  Foto: Federico Parra/AFP

São países que acolhem imigrantes e enfrentam crises de abastecimento em suas fronteiras. O Brasil é o único país com um representante de alto nível na Venezuela, com Celso Amorim, hoje assessor especial da presidência. A Colômbia, via as redes sociais de seu chanceler, frisou o papel do diálogo e pediu celeridade no processo que confere as atas eleitorais. O Brasil decidiu aguardar os comentários das missões observadoras da ONU e do Carter Center. Novamente, essa espera significa que Brasil e Colômbia não reconheceram os resultados.

A observação internacional poderia ser um caminho para a legitimidade do pleito, mas Maduro optou por ofender o TSE brasileiro e impedir a presença de outros observadores. Brasil e Colômbia são também os poucos atores com legitimidade em um eventual processo de mediação ou de revelação de potenciais fraudes. Qualquer papel de uma potência internacional, como os EUA, será frontalmente rejeitado. Trata-se de verdadeira prova de fogo para a Colômbia de Petro e para o Brasil de Lula.

De acordo com os resultados eleitorais oficiais, Nicolás Maduro foi reeleito presidente da Venezuela com 51,2% dos votos. O principal candidato da oposição, Edmundo González, ficou com 44,2% dos votos. Ele ocupa o lugar que originalmente era de María Corina Machado, barrada de disputar o pleito por ter aceito a nacionalidade panamenha anos atrás. Os números já foram contestados e, principalmente, as reações internacionais podem dizer bastante sobre como devem ser os próximos dias da política na Venezuela.

É necessário que qualquer comentário sobre as eleições venezuelanas parta de alguns fatos. Primeiro, a situação política do país é cada vez mais autoritária, especialmente desde a derrota do governo Maduro nas eleições legislativas de 2015, que não foram aceitas pelo governo. Todos os principais índices de saúde democrática qualificam a Venezuela como um país autoritário. E a meta de qualquer governo autoritário é se manter no poder, custe o que custar. Segundo, existem milhões de críticos de Maduro.

Eles estão à direita e também à esquerda, como o Partido Comunista da Venezuela, assim como existem milhões de seus defensores. Criticar o autoritarismo venezuelano não pode implicar em achar que essas pessoas não existem. Terceiro, o sistema eleitoral venezuelano possui vários méritos, implementando inclusive medidas que são propostas no Brasil, como o uso de um comprovante impresso junto ao voto computado na urna eletrônica. Tais méritos, entretanto, não significam necessariamente que foram eleições livres e justas.

Venezuelan President Nicolas Maduro, who is seeking a third term, attends a campaign rally in Caracas, Venezuela, July 16, 2024. (AP Photo/Cristian Hernandez) Foto: Cristian Hernandez/AP

As campanhas não tiveram os mesmos espaços e o governo impediu o voto de muitos venezuelanos ao fechar as fronteiras, por exemplo. Finalmente, é interessante apontar que, hoje, a oposição venezuelana é multifacetada, incluindo antigos apoiadores do finado Hugo Chávez que hoje estão decepcionados com os rumos dados ao país por Maduro. Sim, Corina Machado tem laços com o partido neofranquista espanhol Vox, e figuras como o autoritário Leopoldo López ainda possuem espaço, mas não se trata de apenas isso.

A contestação da oposição possui substância, incluindo a contagem de atas públicas explicitando que é quase estatisticamente impossível que Maduro tenha o resultado eleitoral oficial. Em suma, trata-se de um cenário complexo e com novos desdobramentos ocorrendo rapidamente nas próximas horas. O que pode realmente ser decisivo para o futuro da Venezuela nesse momento são as respostas de alguns atores. Internamente, os militares são o verdadeiro pilar de Maduro.

Sem o general Padrino López, ministro da Defesa, Maduro não estaria no poder, um aspecto do regime venezuelano que foge ao olhar de muitas pessoas. É possível que alguma articulação política consiga atrair os militares para o outro lado, ou alguma prova cabal de fraude explícita. Alguns generais, entretanto, manterão a associação a Maduro até o fim, por variadas razões, incluindo seus bolsos. Não é à toa que os atores políticos da oposição, repetidas vezes, apelaram aos militares para que eles “impusessem” a vontade das urnas.

Externamente, os atores principais são dois, Brasil e Colômbia, ambos países  vizinhos, governados por presidentes da esquerda e que repetidas vezes estenderam a mão para Maduro. Os dois países optaram pela cautela e por aguardar. Na prática, isso significa não reconhecer os resultados oficiais, ao contrário dos governos de Bolívia, Honduras e Irã, dentre outros. Brasil e Colômbia têm o papel e a responsabilidade de tentar encontrar uma solução, até por serem os países que mais carregam o fardo da crise venezuelana.

A líder da oposição, María Corina Machado, participa de coletiva de imprensa ao lado do candidato presidencial Edmundo González Urrutia, em Caracas  Foto: Federico Parra/AFP

São países que acolhem imigrantes e enfrentam crises de abastecimento em suas fronteiras. O Brasil é o único país com um representante de alto nível na Venezuela, com Celso Amorim, hoje assessor especial da presidência. A Colômbia, via as redes sociais de seu chanceler, frisou o papel do diálogo e pediu celeridade no processo que confere as atas eleitorais. O Brasil decidiu aguardar os comentários das missões observadoras da ONU e do Carter Center. Novamente, essa espera significa que Brasil e Colômbia não reconheceram os resultados.

A observação internacional poderia ser um caminho para a legitimidade do pleito, mas Maduro optou por ofender o TSE brasileiro e impedir a presença de outros observadores. Brasil e Colômbia são também os poucos atores com legitimidade em um eventual processo de mediação ou de revelação de potenciais fraudes. Qualquer papel de uma potência internacional, como os EUA, será frontalmente rejeitado. Trata-se de verdadeira prova de fogo para a Colômbia de Petro e para o Brasil de Lula.

Opinião por Filipe Figueiredo

Filipe Figueiredo é graduado em história pela USP, comentarista de política internacional e criador dos podcasts Xadrez Verbal e Fronteiras Invisíveis do Futebol, sobre política internacional e história

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