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Opinião|Olimpíada de Paris vai explicitar que política e esporte andam de mãos dadas


Cenário conflituoso no mundo pode desencadear protestos durante os Jogos Olímpicos na França

Por Filipe Figueiredo

Nesta semana começam o que prometem ser os Jogos Olímpicos mais politizados das últimas décadas. Os jogos de Paris serão os primeiros depois da invasão russa da Ucrânia, em fevereiro de 2022. Principalmente, os jogos ocorrem menos de um ano depois do ataque do Hamas contra Israel, classificado de terrorista pelo governo francês, e dos ataques israelenses contra a Faixa de Gaza que Macron, ainda em novembro de 2023, classificou como sem justificativa por causarem mortes de mulheres e crianças. Ao contrário do que muitos acreditam, esporte e política andam de mãos dadas, especialmente na arena internacional.

Esportes são um dos melhores e mais visíveis termômetros sociais que existem. A maneira como uma sociedade lida com o esporte e quais os esportes mais praticados ou os que mobilizam mais interesse popular podem mostrar muito sobre aquela cultura. O esporte internacional se torna um meio para a agitação de bandeiras, algumas vezes literalmente. O civismo, a propaganda, o orgulho nacional ou o protesto encontram uma válvula de escape no esporte. Alguns dos mais conhecidos eventos e protestos políticos da História recente foram em arenas esportivas, incluindo as olímpicas.

E nada disso é novo. Protestos em eventos esportivos não são fruto de uma época de “lacração”. Na Mesolympiada de 1906, em Atenas, o irlandês Peter O’Connor subiu ao pódio com uma bandeira irlandesa, protestando pela independência de seu país e contra o fato de ter sido obrigado a competir como um atleta britânico. Os jogos de Melbourne, em 1956, foram marcados por sete países boicotando os jogos por três razões diferentes, incluindo o boicote da República Popular da China contra a inclusão de uma delegação da República da China, popularmente conhecida como Taiwan.

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Agente da segurança nos arredores da torre Eiffel antes das Olimpíadas. Foto: Thomas Padilla/Associated Press

Na edição seguinte, atletas taiwaneses protestaram contra a proibição do uso de sua bandeira. Uma das imagens mais conhecida dos jogos ocorreu em 1968, quando os atletas Tommie Smith e John Carlos, ambos negros e dos EUA, levantaram seus punhos cerrados no pódio, em protesto pelos direitos civis e contra o racismo em seu país. E a Questão Palestina está profundamente ligada aos jogos, já que, para boa parte do mundo, o primeiro contato com o assunto veio com a repercussão do atentado terrorista do grupo Setembro Negro, que matou onze integrantes da delegação israelense em Munique, em 1972.

Em 2024, pode-se esperar protestos, demonstrações de apoio ou até mesmo alguma forma de boicote em eventos esportivos que envolvam atletas israelenses ou atletas palestinos. Um dos pontos focais de tensão provavelmente será durante a disputa do judô. Em 2016, no Rio de Janeiro, o atleta egípcio Islam El Shehaby recusou cumprimentar o judoca israelense Or Sasson. A arte marcial é muito popular tanto nos países árabes quanto em Israel, por influência soviética, seja de consultores militares na época da Guerra Fria no primeiro caso, seja por judeus que imigraram das ex-repúblicas soviéticas para Israel.

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No mundial de Abu Dhabi disputado no último mês de maio, o judoca egípcio Karim Ibrahim Sobhi se retirou da competição para não enfrentar um atleta israelense. Atletas iranianos frequentemente se retiram de competições em condições similares. A situação atual, entretanto, permite especular até mesmo um boicote por algum atleta não-árabe. Movimentos chegaram a pedir um boicote geral contra Israel, evocando os boicotes contra a África do Sul do apartheid. A acusação de apartheid contra Israel ganhou ainda mais tração, com a opinião da Corte Internacional de Justiça emitida dia 19, endossando a acusação.

Também pode-se esperar polêmica e protestos em eventos que envolvam atletas russos e bielorrussos, que competirão sob a bandeira olímpica, já que os países estão suspensos. Em paralelo, certamente ocorrerão demonstrações de apoio aos atletas ucranianos. A esperança é de que não ocorram episódios de violência, isso sim intolerável numa Olimpíada. Infelizmente, os jogos provavelmente serão acompanhados de comentários superficiais de que política e esporte deveriam ser separados, como se isso sequer fosse possível, ainda mais em uma competição internacional, um termo político por si só. Nunca foram separados.

Nesta semana começam o que prometem ser os Jogos Olímpicos mais politizados das últimas décadas. Os jogos de Paris serão os primeiros depois da invasão russa da Ucrânia, em fevereiro de 2022. Principalmente, os jogos ocorrem menos de um ano depois do ataque do Hamas contra Israel, classificado de terrorista pelo governo francês, e dos ataques israelenses contra a Faixa de Gaza que Macron, ainda em novembro de 2023, classificou como sem justificativa por causarem mortes de mulheres e crianças. Ao contrário do que muitos acreditam, esporte e política andam de mãos dadas, especialmente na arena internacional.

Esportes são um dos melhores e mais visíveis termômetros sociais que existem. A maneira como uma sociedade lida com o esporte e quais os esportes mais praticados ou os que mobilizam mais interesse popular podem mostrar muito sobre aquela cultura. O esporte internacional se torna um meio para a agitação de bandeiras, algumas vezes literalmente. O civismo, a propaganda, o orgulho nacional ou o protesto encontram uma válvula de escape no esporte. Alguns dos mais conhecidos eventos e protestos políticos da História recente foram em arenas esportivas, incluindo as olímpicas.

E nada disso é novo. Protestos em eventos esportivos não são fruto de uma época de “lacração”. Na Mesolympiada de 1906, em Atenas, o irlandês Peter O’Connor subiu ao pódio com uma bandeira irlandesa, protestando pela independência de seu país e contra o fato de ter sido obrigado a competir como um atleta britânico. Os jogos de Melbourne, em 1956, foram marcados por sete países boicotando os jogos por três razões diferentes, incluindo o boicote da República Popular da China contra a inclusão de uma delegação da República da China, popularmente conhecida como Taiwan.

Agente da segurança nos arredores da torre Eiffel antes das Olimpíadas. Foto: Thomas Padilla/Associated Press

Na edição seguinte, atletas taiwaneses protestaram contra a proibição do uso de sua bandeira. Uma das imagens mais conhecida dos jogos ocorreu em 1968, quando os atletas Tommie Smith e John Carlos, ambos negros e dos EUA, levantaram seus punhos cerrados no pódio, em protesto pelos direitos civis e contra o racismo em seu país. E a Questão Palestina está profundamente ligada aos jogos, já que, para boa parte do mundo, o primeiro contato com o assunto veio com a repercussão do atentado terrorista do grupo Setembro Negro, que matou onze integrantes da delegação israelense em Munique, em 1972.

Em 2024, pode-se esperar protestos, demonstrações de apoio ou até mesmo alguma forma de boicote em eventos esportivos que envolvam atletas israelenses ou atletas palestinos. Um dos pontos focais de tensão provavelmente será durante a disputa do judô. Em 2016, no Rio de Janeiro, o atleta egípcio Islam El Shehaby recusou cumprimentar o judoca israelense Or Sasson. A arte marcial é muito popular tanto nos países árabes quanto em Israel, por influência soviética, seja de consultores militares na época da Guerra Fria no primeiro caso, seja por judeus que imigraram das ex-repúblicas soviéticas para Israel.

No mundial de Abu Dhabi disputado no último mês de maio, o judoca egípcio Karim Ibrahim Sobhi se retirou da competição para não enfrentar um atleta israelense. Atletas iranianos frequentemente se retiram de competições em condições similares. A situação atual, entretanto, permite especular até mesmo um boicote por algum atleta não-árabe. Movimentos chegaram a pedir um boicote geral contra Israel, evocando os boicotes contra a África do Sul do apartheid. A acusação de apartheid contra Israel ganhou ainda mais tração, com a opinião da Corte Internacional de Justiça emitida dia 19, endossando a acusação.

Também pode-se esperar polêmica e protestos em eventos que envolvam atletas russos e bielorrussos, que competirão sob a bandeira olímpica, já que os países estão suspensos. Em paralelo, certamente ocorrerão demonstrações de apoio aos atletas ucranianos. A esperança é de que não ocorram episódios de violência, isso sim intolerável numa Olimpíada. Infelizmente, os jogos provavelmente serão acompanhados de comentários superficiais de que política e esporte deveriam ser separados, como se isso sequer fosse possível, ainda mais em uma competição internacional, um termo político por si só. Nunca foram separados.

Nesta semana começam o que prometem ser os Jogos Olímpicos mais politizados das últimas décadas. Os jogos de Paris serão os primeiros depois da invasão russa da Ucrânia, em fevereiro de 2022. Principalmente, os jogos ocorrem menos de um ano depois do ataque do Hamas contra Israel, classificado de terrorista pelo governo francês, e dos ataques israelenses contra a Faixa de Gaza que Macron, ainda em novembro de 2023, classificou como sem justificativa por causarem mortes de mulheres e crianças. Ao contrário do que muitos acreditam, esporte e política andam de mãos dadas, especialmente na arena internacional.

Esportes são um dos melhores e mais visíveis termômetros sociais que existem. A maneira como uma sociedade lida com o esporte e quais os esportes mais praticados ou os que mobilizam mais interesse popular podem mostrar muito sobre aquela cultura. O esporte internacional se torna um meio para a agitação de bandeiras, algumas vezes literalmente. O civismo, a propaganda, o orgulho nacional ou o protesto encontram uma válvula de escape no esporte. Alguns dos mais conhecidos eventos e protestos políticos da História recente foram em arenas esportivas, incluindo as olímpicas.

E nada disso é novo. Protestos em eventos esportivos não são fruto de uma época de “lacração”. Na Mesolympiada de 1906, em Atenas, o irlandês Peter O’Connor subiu ao pódio com uma bandeira irlandesa, protestando pela independência de seu país e contra o fato de ter sido obrigado a competir como um atleta britânico. Os jogos de Melbourne, em 1956, foram marcados por sete países boicotando os jogos por três razões diferentes, incluindo o boicote da República Popular da China contra a inclusão de uma delegação da República da China, popularmente conhecida como Taiwan.

Agente da segurança nos arredores da torre Eiffel antes das Olimpíadas. Foto: Thomas Padilla/Associated Press

Na edição seguinte, atletas taiwaneses protestaram contra a proibição do uso de sua bandeira. Uma das imagens mais conhecida dos jogos ocorreu em 1968, quando os atletas Tommie Smith e John Carlos, ambos negros e dos EUA, levantaram seus punhos cerrados no pódio, em protesto pelos direitos civis e contra o racismo em seu país. E a Questão Palestina está profundamente ligada aos jogos, já que, para boa parte do mundo, o primeiro contato com o assunto veio com a repercussão do atentado terrorista do grupo Setembro Negro, que matou onze integrantes da delegação israelense em Munique, em 1972.

Em 2024, pode-se esperar protestos, demonstrações de apoio ou até mesmo alguma forma de boicote em eventos esportivos que envolvam atletas israelenses ou atletas palestinos. Um dos pontos focais de tensão provavelmente será durante a disputa do judô. Em 2016, no Rio de Janeiro, o atleta egípcio Islam El Shehaby recusou cumprimentar o judoca israelense Or Sasson. A arte marcial é muito popular tanto nos países árabes quanto em Israel, por influência soviética, seja de consultores militares na época da Guerra Fria no primeiro caso, seja por judeus que imigraram das ex-repúblicas soviéticas para Israel.

No mundial de Abu Dhabi disputado no último mês de maio, o judoca egípcio Karim Ibrahim Sobhi se retirou da competição para não enfrentar um atleta israelense. Atletas iranianos frequentemente se retiram de competições em condições similares. A situação atual, entretanto, permite especular até mesmo um boicote por algum atleta não-árabe. Movimentos chegaram a pedir um boicote geral contra Israel, evocando os boicotes contra a África do Sul do apartheid. A acusação de apartheid contra Israel ganhou ainda mais tração, com a opinião da Corte Internacional de Justiça emitida dia 19, endossando a acusação.

Também pode-se esperar polêmica e protestos em eventos que envolvam atletas russos e bielorrussos, que competirão sob a bandeira olímpica, já que os países estão suspensos. Em paralelo, certamente ocorrerão demonstrações de apoio aos atletas ucranianos. A esperança é de que não ocorram episódios de violência, isso sim intolerável numa Olimpíada. Infelizmente, os jogos provavelmente serão acompanhados de comentários superficiais de que política e esporte deveriam ser separados, como se isso sequer fosse possível, ainda mais em uma competição internacional, um termo político por si só. Nunca foram separados.

Nesta semana começam o que prometem ser os Jogos Olímpicos mais politizados das últimas décadas. Os jogos de Paris serão os primeiros depois da invasão russa da Ucrânia, em fevereiro de 2022. Principalmente, os jogos ocorrem menos de um ano depois do ataque do Hamas contra Israel, classificado de terrorista pelo governo francês, e dos ataques israelenses contra a Faixa de Gaza que Macron, ainda em novembro de 2023, classificou como sem justificativa por causarem mortes de mulheres e crianças. Ao contrário do que muitos acreditam, esporte e política andam de mãos dadas, especialmente na arena internacional.

Esportes são um dos melhores e mais visíveis termômetros sociais que existem. A maneira como uma sociedade lida com o esporte e quais os esportes mais praticados ou os que mobilizam mais interesse popular podem mostrar muito sobre aquela cultura. O esporte internacional se torna um meio para a agitação de bandeiras, algumas vezes literalmente. O civismo, a propaganda, o orgulho nacional ou o protesto encontram uma válvula de escape no esporte. Alguns dos mais conhecidos eventos e protestos políticos da História recente foram em arenas esportivas, incluindo as olímpicas.

E nada disso é novo. Protestos em eventos esportivos não são fruto de uma época de “lacração”. Na Mesolympiada de 1906, em Atenas, o irlandês Peter O’Connor subiu ao pódio com uma bandeira irlandesa, protestando pela independência de seu país e contra o fato de ter sido obrigado a competir como um atleta britânico. Os jogos de Melbourne, em 1956, foram marcados por sete países boicotando os jogos por três razões diferentes, incluindo o boicote da República Popular da China contra a inclusão de uma delegação da República da China, popularmente conhecida como Taiwan.

Agente da segurança nos arredores da torre Eiffel antes das Olimpíadas. Foto: Thomas Padilla/Associated Press

Na edição seguinte, atletas taiwaneses protestaram contra a proibição do uso de sua bandeira. Uma das imagens mais conhecida dos jogos ocorreu em 1968, quando os atletas Tommie Smith e John Carlos, ambos negros e dos EUA, levantaram seus punhos cerrados no pódio, em protesto pelos direitos civis e contra o racismo em seu país. E a Questão Palestina está profundamente ligada aos jogos, já que, para boa parte do mundo, o primeiro contato com o assunto veio com a repercussão do atentado terrorista do grupo Setembro Negro, que matou onze integrantes da delegação israelense em Munique, em 1972.

Em 2024, pode-se esperar protestos, demonstrações de apoio ou até mesmo alguma forma de boicote em eventos esportivos que envolvam atletas israelenses ou atletas palestinos. Um dos pontos focais de tensão provavelmente será durante a disputa do judô. Em 2016, no Rio de Janeiro, o atleta egípcio Islam El Shehaby recusou cumprimentar o judoca israelense Or Sasson. A arte marcial é muito popular tanto nos países árabes quanto em Israel, por influência soviética, seja de consultores militares na época da Guerra Fria no primeiro caso, seja por judeus que imigraram das ex-repúblicas soviéticas para Israel.

No mundial de Abu Dhabi disputado no último mês de maio, o judoca egípcio Karim Ibrahim Sobhi se retirou da competição para não enfrentar um atleta israelense. Atletas iranianos frequentemente se retiram de competições em condições similares. A situação atual, entretanto, permite especular até mesmo um boicote por algum atleta não-árabe. Movimentos chegaram a pedir um boicote geral contra Israel, evocando os boicotes contra a África do Sul do apartheid. A acusação de apartheid contra Israel ganhou ainda mais tração, com a opinião da Corte Internacional de Justiça emitida dia 19, endossando a acusação.

Também pode-se esperar polêmica e protestos em eventos que envolvam atletas russos e bielorrussos, que competirão sob a bandeira olímpica, já que os países estão suspensos. Em paralelo, certamente ocorrerão demonstrações de apoio aos atletas ucranianos. A esperança é de que não ocorram episódios de violência, isso sim intolerável numa Olimpíada. Infelizmente, os jogos provavelmente serão acompanhados de comentários superficiais de que política e esporte deveriam ser separados, como se isso sequer fosse possível, ainda mais em uma competição internacional, um termo político por si só. Nunca foram separados.

Opinião por Filipe Figueiredo

Filipe Figueiredo é graduado em história pela USP, comentarista de política internacional e criador dos podcasts Xadrez Verbal e Fronteiras Invisíveis do Futebol, sobre política internacional e história

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