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Opinião|Por que Alberto Fujimori deixa um legado de corrupção, personalismo e violência no Peru


A relação de Fujimori com o autoritarismo era quase simbiótica e ele foi condenado por variados crimes: violações de Direitos Humanos, crimes contra a humanidade, corrupção ativa e assassinato

Por Filipe Figueiredo

Alberto Fujimori foi a pessoa com a segunda maior permanência no poder na História de seu país, com mais de dez anos como líder do Peru. Somente isso o credenciaria como uma figura de importância histórica, não apenas peruana, mas também para a região. A maioria das personalidades que alcançam tais marcas costumam ter aspectos positivos e negativos, por vezes dúbias e contraditórias. No caso de Fujimori, entretanto, seria necessária muita boa-vontade para encontrar algo de positivo em seu legado.

Sua eleição, em 1990, foi marcada por ser um dos maiores estelionatos eleitorais da História recente. Fujimori passou a campanha inteira afirmando que seu principal opositor, o conservador Mario Vargas Llosa, seguiria o “Consenso de Washington”, tão em voga naquele período, e que as “medidas neoliberais” destruiriam os pobres peruanos e significariam o colapso da economia do país. Fujimori, naquele momento, era o candidato “anti-sistema”, nem de direita, como Vargas Llosa, nem de esquerda, como Luis Alva Castro.

O ex-presidente do Peru Alberto Fujimori participa de sua audiência judicial em Lima, Peru, em 2016  Foto: Martin Mejia/AP
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Fujimori venceu a eleição e fez tudo que acusou Vargas Llosa de pretender fazer. Seu “choque econômico”, formulado pelo economista Hernando de Soto, deixou sequelas socioeconômicas. Fujimori perdeu de vez o diálogo com o Congresso de seu país. Em cinco de abril de 1992, veio o golpe de Estado. Com apoio dos militares, ordenou o fechamento do Legislativo e a “reorganização” do Judiciário. Declarou estado de emergência e usou a situação para aprovar leis de emergência, fortalecendo seus poderes e a autoridade militar.

Sete meses depois foi realizada nova eleição para o Congresso, agora unicameral. Basicamente apenas aliados de Fujimori e partidos pequenos disputaram o pleito, e a maioria na casa permitiu que Fujimori aprovasse uma nova constituição, com mais poderes para o presidente. O autoritarismo de Fujimori e de seu governo resultou nas mesmas coisas que sempre resultam de autoritários: personalismo, violência e corrupção.

O então presidente do Peru Alberto Fujimori acena para apoiadores em julho de 1990 em Lima, capital do Peru  Foto: Alejandro Balaguer/AP
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A relação de Fujimori com o autoritarismo era quase simbiótica. De um lado, ele assumiu um país militarizado, com governos militares e uma guerra civil contra a guerrilha comunista do Sendero Luminoso, presente no sul do Peru e formada especialmente por indígenas. Por outro lado, ele não teve problema nenhum em se associar a esses mesmos militares e se beneficiar do autoritarismo que não apenas herdou, mas também impulsionou.

Não é razoável dizer que Fujimori era um democrata que foi rendido “pelas circunstâncias” ou que “fez o que tinha que fazer”. O autoritarismo estava no cerne de sua ascensão, de suas relações políticas, de seu governo e de sua maneira de encarar como se deve governar. Sob a justificativa de combater o Sendero Luminoso, Fujimori conduziu uma política de esterilização forçada que atingiu centenas de milhares de pessoas indígenas, em uma política que pode ser definida como genocida, talvez o maior crime possível.

Policiais chilenos cercam o ex-presidente do Peru Alberto Fujimori em Santiago, para que concluir o processo de extradição ao Peru, em 2007  Foto: Claudio Santana/AP
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O aparato de segurança peruano, o Serviço de Inteligência Nacional, herdado da ditadura militar, era conduzido por Vladimiro Montesinos, eminência parda do regime. Treinado pelos EUA, Montesinos supervisionou massacres e extorsões, alguns nos contextos das reeleições fraudulentas de Fujimori. Junto com a violência e a fraude, vieram a corrupção pessoal e a vida de luxo. Após dar diamantes de presente para uma cantora russa no Brasil, Fujimori levantou suspeitas e causou indignação em seu país.

Gravações de Montesinos deixavam claro o cenário de corrupção generalizada. Fujimori completou a sina do autoritário: fugiu. Ficou por cinco anos na terra natal de seus pais, o Japão, de onde veio um fax renunciando ao cargo de presidente. Em uma visita ao Chile, em 2005, foi preso e extraditado para o Peru. Foi condenado diversas vezes por variados crimes: violações de Direitos Humanos, crimes contra a humanidade, corrupção ativa e assassinato.

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Fujimori iniciou sua sentença em 2009. Seu legado autoritário e corrupto, entretanto, continuaram sacudindo a política peruana. Sua filha, Keiko Fujimori, usava sua influência política e o nome do pai para seus jogos políticos, incluindo ceder apoio no congresso em troca de um indulto presidencial. A crise política que assola o Peru desde 2017 tem as digitais fujimoristas, desde a problemática constituição até o uso de seu nome na política.

A corrupção endêmica, o autoritarismo, o personalismo, todos esses elementos da política peruana não foram necessariamente criados por Fujimori, mas certamente foi ele que permitiu que essas raízes problemáticas chegassem ainda mais fundo. Seu cadáver certamente será usado como trunfo político por sua filha no futuro próximo. Posteriormente, quem sabe, o Peru consiga começar a construir uma sociedade mais justa e com uma democracia mais saudável, se desvencilhando do legado de um criminoso contra a humanidade.

Alberto Fujimori foi a pessoa com a segunda maior permanência no poder na História de seu país, com mais de dez anos como líder do Peru. Somente isso o credenciaria como uma figura de importância histórica, não apenas peruana, mas também para a região. A maioria das personalidades que alcançam tais marcas costumam ter aspectos positivos e negativos, por vezes dúbias e contraditórias. No caso de Fujimori, entretanto, seria necessária muita boa-vontade para encontrar algo de positivo em seu legado.

Sua eleição, em 1990, foi marcada por ser um dos maiores estelionatos eleitorais da História recente. Fujimori passou a campanha inteira afirmando que seu principal opositor, o conservador Mario Vargas Llosa, seguiria o “Consenso de Washington”, tão em voga naquele período, e que as “medidas neoliberais” destruiriam os pobres peruanos e significariam o colapso da economia do país. Fujimori, naquele momento, era o candidato “anti-sistema”, nem de direita, como Vargas Llosa, nem de esquerda, como Luis Alva Castro.

O ex-presidente do Peru Alberto Fujimori participa de sua audiência judicial em Lima, Peru, em 2016  Foto: Martin Mejia/AP

Fujimori venceu a eleição e fez tudo que acusou Vargas Llosa de pretender fazer. Seu “choque econômico”, formulado pelo economista Hernando de Soto, deixou sequelas socioeconômicas. Fujimori perdeu de vez o diálogo com o Congresso de seu país. Em cinco de abril de 1992, veio o golpe de Estado. Com apoio dos militares, ordenou o fechamento do Legislativo e a “reorganização” do Judiciário. Declarou estado de emergência e usou a situação para aprovar leis de emergência, fortalecendo seus poderes e a autoridade militar.

Sete meses depois foi realizada nova eleição para o Congresso, agora unicameral. Basicamente apenas aliados de Fujimori e partidos pequenos disputaram o pleito, e a maioria na casa permitiu que Fujimori aprovasse uma nova constituição, com mais poderes para o presidente. O autoritarismo de Fujimori e de seu governo resultou nas mesmas coisas que sempre resultam de autoritários: personalismo, violência e corrupção.

O então presidente do Peru Alberto Fujimori acena para apoiadores em julho de 1990 em Lima, capital do Peru  Foto: Alejandro Balaguer/AP

A relação de Fujimori com o autoritarismo era quase simbiótica. De um lado, ele assumiu um país militarizado, com governos militares e uma guerra civil contra a guerrilha comunista do Sendero Luminoso, presente no sul do Peru e formada especialmente por indígenas. Por outro lado, ele não teve problema nenhum em se associar a esses mesmos militares e se beneficiar do autoritarismo que não apenas herdou, mas também impulsionou.

Não é razoável dizer que Fujimori era um democrata que foi rendido “pelas circunstâncias” ou que “fez o que tinha que fazer”. O autoritarismo estava no cerne de sua ascensão, de suas relações políticas, de seu governo e de sua maneira de encarar como se deve governar. Sob a justificativa de combater o Sendero Luminoso, Fujimori conduziu uma política de esterilização forçada que atingiu centenas de milhares de pessoas indígenas, em uma política que pode ser definida como genocida, talvez o maior crime possível.

Policiais chilenos cercam o ex-presidente do Peru Alberto Fujimori em Santiago, para que concluir o processo de extradição ao Peru, em 2007  Foto: Claudio Santana/AP

O aparato de segurança peruano, o Serviço de Inteligência Nacional, herdado da ditadura militar, era conduzido por Vladimiro Montesinos, eminência parda do regime. Treinado pelos EUA, Montesinos supervisionou massacres e extorsões, alguns nos contextos das reeleições fraudulentas de Fujimori. Junto com a violência e a fraude, vieram a corrupção pessoal e a vida de luxo. Após dar diamantes de presente para uma cantora russa no Brasil, Fujimori levantou suspeitas e causou indignação em seu país.

Gravações de Montesinos deixavam claro o cenário de corrupção generalizada. Fujimori completou a sina do autoritário: fugiu. Ficou por cinco anos na terra natal de seus pais, o Japão, de onde veio um fax renunciando ao cargo de presidente. Em uma visita ao Chile, em 2005, foi preso e extraditado para o Peru. Foi condenado diversas vezes por variados crimes: violações de Direitos Humanos, crimes contra a humanidade, corrupção ativa e assassinato.

Fujimori iniciou sua sentença em 2009. Seu legado autoritário e corrupto, entretanto, continuaram sacudindo a política peruana. Sua filha, Keiko Fujimori, usava sua influência política e o nome do pai para seus jogos políticos, incluindo ceder apoio no congresso em troca de um indulto presidencial. A crise política que assola o Peru desde 2017 tem as digitais fujimoristas, desde a problemática constituição até o uso de seu nome na política.

A corrupção endêmica, o autoritarismo, o personalismo, todos esses elementos da política peruana não foram necessariamente criados por Fujimori, mas certamente foi ele que permitiu que essas raízes problemáticas chegassem ainda mais fundo. Seu cadáver certamente será usado como trunfo político por sua filha no futuro próximo. Posteriormente, quem sabe, o Peru consiga começar a construir uma sociedade mais justa e com uma democracia mais saudável, se desvencilhando do legado de um criminoso contra a humanidade.

Alberto Fujimori foi a pessoa com a segunda maior permanência no poder na História de seu país, com mais de dez anos como líder do Peru. Somente isso o credenciaria como uma figura de importância histórica, não apenas peruana, mas também para a região. A maioria das personalidades que alcançam tais marcas costumam ter aspectos positivos e negativos, por vezes dúbias e contraditórias. No caso de Fujimori, entretanto, seria necessária muita boa-vontade para encontrar algo de positivo em seu legado.

Sua eleição, em 1990, foi marcada por ser um dos maiores estelionatos eleitorais da História recente. Fujimori passou a campanha inteira afirmando que seu principal opositor, o conservador Mario Vargas Llosa, seguiria o “Consenso de Washington”, tão em voga naquele período, e que as “medidas neoliberais” destruiriam os pobres peruanos e significariam o colapso da economia do país. Fujimori, naquele momento, era o candidato “anti-sistema”, nem de direita, como Vargas Llosa, nem de esquerda, como Luis Alva Castro.

O ex-presidente do Peru Alberto Fujimori participa de sua audiência judicial em Lima, Peru, em 2016  Foto: Martin Mejia/AP

Fujimori venceu a eleição e fez tudo que acusou Vargas Llosa de pretender fazer. Seu “choque econômico”, formulado pelo economista Hernando de Soto, deixou sequelas socioeconômicas. Fujimori perdeu de vez o diálogo com o Congresso de seu país. Em cinco de abril de 1992, veio o golpe de Estado. Com apoio dos militares, ordenou o fechamento do Legislativo e a “reorganização” do Judiciário. Declarou estado de emergência e usou a situação para aprovar leis de emergência, fortalecendo seus poderes e a autoridade militar.

Sete meses depois foi realizada nova eleição para o Congresso, agora unicameral. Basicamente apenas aliados de Fujimori e partidos pequenos disputaram o pleito, e a maioria na casa permitiu que Fujimori aprovasse uma nova constituição, com mais poderes para o presidente. O autoritarismo de Fujimori e de seu governo resultou nas mesmas coisas que sempre resultam de autoritários: personalismo, violência e corrupção.

O então presidente do Peru Alberto Fujimori acena para apoiadores em julho de 1990 em Lima, capital do Peru  Foto: Alejandro Balaguer/AP

A relação de Fujimori com o autoritarismo era quase simbiótica. De um lado, ele assumiu um país militarizado, com governos militares e uma guerra civil contra a guerrilha comunista do Sendero Luminoso, presente no sul do Peru e formada especialmente por indígenas. Por outro lado, ele não teve problema nenhum em se associar a esses mesmos militares e se beneficiar do autoritarismo que não apenas herdou, mas também impulsionou.

Não é razoável dizer que Fujimori era um democrata que foi rendido “pelas circunstâncias” ou que “fez o que tinha que fazer”. O autoritarismo estava no cerne de sua ascensão, de suas relações políticas, de seu governo e de sua maneira de encarar como se deve governar. Sob a justificativa de combater o Sendero Luminoso, Fujimori conduziu uma política de esterilização forçada que atingiu centenas de milhares de pessoas indígenas, em uma política que pode ser definida como genocida, talvez o maior crime possível.

Policiais chilenos cercam o ex-presidente do Peru Alberto Fujimori em Santiago, para que concluir o processo de extradição ao Peru, em 2007  Foto: Claudio Santana/AP

O aparato de segurança peruano, o Serviço de Inteligência Nacional, herdado da ditadura militar, era conduzido por Vladimiro Montesinos, eminência parda do regime. Treinado pelos EUA, Montesinos supervisionou massacres e extorsões, alguns nos contextos das reeleições fraudulentas de Fujimori. Junto com a violência e a fraude, vieram a corrupção pessoal e a vida de luxo. Após dar diamantes de presente para uma cantora russa no Brasil, Fujimori levantou suspeitas e causou indignação em seu país.

Gravações de Montesinos deixavam claro o cenário de corrupção generalizada. Fujimori completou a sina do autoritário: fugiu. Ficou por cinco anos na terra natal de seus pais, o Japão, de onde veio um fax renunciando ao cargo de presidente. Em uma visita ao Chile, em 2005, foi preso e extraditado para o Peru. Foi condenado diversas vezes por variados crimes: violações de Direitos Humanos, crimes contra a humanidade, corrupção ativa e assassinato.

Fujimori iniciou sua sentença em 2009. Seu legado autoritário e corrupto, entretanto, continuaram sacudindo a política peruana. Sua filha, Keiko Fujimori, usava sua influência política e o nome do pai para seus jogos políticos, incluindo ceder apoio no congresso em troca de um indulto presidencial. A crise política que assola o Peru desde 2017 tem as digitais fujimoristas, desde a problemática constituição até o uso de seu nome na política.

A corrupção endêmica, o autoritarismo, o personalismo, todos esses elementos da política peruana não foram necessariamente criados por Fujimori, mas certamente foi ele que permitiu que essas raízes problemáticas chegassem ainda mais fundo. Seu cadáver certamente será usado como trunfo político por sua filha no futuro próximo. Posteriormente, quem sabe, o Peru consiga começar a construir uma sociedade mais justa e com uma democracia mais saudável, se desvencilhando do legado de um criminoso contra a humanidade.

Alberto Fujimori foi a pessoa com a segunda maior permanência no poder na História de seu país, com mais de dez anos como líder do Peru. Somente isso o credenciaria como uma figura de importância histórica, não apenas peruana, mas também para a região. A maioria das personalidades que alcançam tais marcas costumam ter aspectos positivos e negativos, por vezes dúbias e contraditórias. No caso de Fujimori, entretanto, seria necessária muita boa-vontade para encontrar algo de positivo em seu legado.

Sua eleição, em 1990, foi marcada por ser um dos maiores estelionatos eleitorais da História recente. Fujimori passou a campanha inteira afirmando que seu principal opositor, o conservador Mario Vargas Llosa, seguiria o “Consenso de Washington”, tão em voga naquele período, e que as “medidas neoliberais” destruiriam os pobres peruanos e significariam o colapso da economia do país. Fujimori, naquele momento, era o candidato “anti-sistema”, nem de direita, como Vargas Llosa, nem de esquerda, como Luis Alva Castro.

O ex-presidente do Peru Alberto Fujimori participa de sua audiência judicial em Lima, Peru, em 2016  Foto: Martin Mejia/AP

Fujimori venceu a eleição e fez tudo que acusou Vargas Llosa de pretender fazer. Seu “choque econômico”, formulado pelo economista Hernando de Soto, deixou sequelas socioeconômicas. Fujimori perdeu de vez o diálogo com o Congresso de seu país. Em cinco de abril de 1992, veio o golpe de Estado. Com apoio dos militares, ordenou o fechamento do Legislativo e a “reorganização” do Judiciário. Declarou estado de emergência e usou a situação para aprovar leis de emergência, fortalecendo seus poderes e a autoridade militar.

Sete meses depois foi realizada nova eleição para o Congresso, agora unicameral. Basicamente apenas aliados de Fujimori e partidos pequenos disputaram o pleito, e a maioria na casa permitiu que Fujimori aprovasse uma nova constituição, com mais poderes para o presidente. O autoritarismo de Fujimori e de seu governo resultou nas mesmas coisas que sempre resultam de autoritários: personalismo, violência e corrupção.

O então presidente do Peru Alberto Fujimori acena para apoiadores em julho de 1990 em Lima, capital do Peru  Foto: Alejandro Balaguer/AP

A relação de Fujimori com o autoritarismo era quase simbiótica. De um lado, ele assumiu um país militarizado, com governos militares e uma guerra civil contra a guerrilha comunista do Sendero Luminoso, presente no sul do Peru e formada especialmente por indígenas. Por outro lado, ele não teve problema nenhum em se associar a esses mesmos militares e se beneficiar do autoritarismo que não apenas herdou, mas também impulsionou.

Não é razoável dizer que Fujimori era um democrata que foi rendido “pelas circunstâncias” ou que “fez o que tinha que fazer”. O autoritarismo estava no cerne de sua ascensão, de suas relações políticas, de seu governo e de sua maneira de encarar como se deve governar. Sob a justificativa de combater o Sendero Luminoso, Fujimori conduziu uma política de esterilização forçada que atingiu centenas de milhares de pessoas indígenas, em uma política que pode ser definida como genocida, talvez o maior crime possível.

Policiais chilenos cercam o ex-presidente do Peru Alberto Fujimori em Santiago, para que concluir o processo de extradição ao Peru, em 2007  Foto: Claudio Santana/AP

O aparato de segurança peruano, o Serviço de Inteligência Nacional, herdado da ditadura militar, era conduzido por Vladimiro Montesinos, eminência parda do regime. Treinado pelos EUA, Montesinos supervisionou massacres e extorsões, alguns nos contextos das reeleições fraudulentas de Fujimori. Junto com a violência e a fraude, vieram a corrupção pessoal e a vida de luxo. Após dar diamantes de presente para uma cantora russa no Brasil, Fujimori levantou suspeitas e causou indignação em seu país.

Gravações de Montesinos deixavam claro o cenário de corrupção generalizada. Fujimori completou a sina do autoritário: fugiu. Ficou por cinco anos na terra natal de seus pais, o Japão, de onde veio um fax renunciando ao cargo de presidente. Em uma visita ao Chile, em 2005, foi preso e extraditado para o Peru. Foi condenado diversas vezes por variados crimes: violações de Direitos Humanos, crimes contra a humanidade, corrupção ativa e assassinato.

Fujimori iniciou sua sentença em 2009. Seu legado autoritário e corrupto, entretanto, continuaram sacudindo a política peruana. Sua filha, Keiko Fujimori, usava sua influência política e o nome do pai para seus jogos políticos, incluindo ceder apoio no congresso em troca de um indulto presidencial. A crise política que assola o Peru desde 2017 tem as digitais fujimoristas, desde a problemática constituição até o uso de seu nome na política.

A corrupção endêmica, o autoritarismo, o personalismo, todos esses elementos da política peruana não foram necessariamente criados por Fujimori, mas certamente foi ele que permitiu que essas raízes problemáticas chegassem ainda mais fundo. Seu cadáver certamente será usado como trunfo político por sua filha no futuro próximo. Posteriormente, quem sabe, o Peru consiga começar a construir uma sociedade mais justa e com uma democracia mais saudável, se desvencilhando do legado de um criminoso contra a humanidade.

Alberto Fujimori foi a pessoa com a segunda maior permanência no poder na História de seu país, com mais de dez anos como líder do Peru. Somente isso o credenciaria como uma figura de importância histórica, não apenas peruana, mas também para a região. A maioria das personalidades que alcançam tais marcas costumam ter aspectos positivos e negativos, por vezes dúbias e contraditórias. No caso de Fujimori, entretanto, seria necessária muita boa-vontade para encontrar algo de positivo em seu legado.

Sua eleição, em 1990, foi marcada por ser um dos maiores estelionatos eleitorais da História recente. Fujimori passou a campanha inteira afirmando que seu principal opositor, o conservador Mario Vargas Llosa, seguiria o “Consenso de Washington”, tão em voga naquele período, e que as “medidas neoliberais” destruiriam os pobres peruanos e significariam o colapso da economia do país. Fujimori, naquele momento, era o candidato “anti-sistema”, nem de direita, como Vargas Llosa, nem de esquerda, como Luis Alva Castro.

O ex-presidente do Peru Alberto Fujimori participa de sua audiência judicial em Lima, Peru, em 2016  Foto: Martin Mejia/AP

Fujimori venceu a eleição e fez tudo que acusou Vargas Llosa de pretender fazer. Seu “choque econômico”, formulado pelo economista Hernando de Soto, deixou sequelas socioeconômicas. Fujimori perdeu de vez o diálogo com o Congresso de seu país. Em cinco de abril de 1992, veio o golpe de Estado. Com apoio dos militares, ordenou o fechamento do Legislativo e a “reorganização” do Judiciário. Declarou estado de emergência e usou a situação para aprovar leis de emergência, fortalecendo seus poderes e a autoridade militar.

Sete meses depois foi realizada nova eleição para o Congresso, agora unicameral. Basicamente apenas aliados de Fujimori e partidos pequenos disputaram o pleito, e a maioria na casa permitiu que Fujimori aprovasse uma nova constituição, com mais poderes para o presidente. O autoritarismo de Fujimori e de seu governo resultou nas mesmas coisas que sempre resultam de autoritários: personalismo, violência e corrupção.

O então presidente do Peru Alberto Fujimori acena para apoiadores em julho de 1990 em Lima, capital do Peru  Foto: Alejandro Balaguer/AP

A relação de Fujimori com o autoritarismo era quase simbiótica. De um lado, ele assumiu um país militarizado, com governos militares e uma guerra civil contra a guerrilha comunista do Sendero Luminoso, presente no sul do Peru e formada especialmente por indígenas. Por outro lado, ele não teve problema nenhum em se associar a esses mesmos militares e se beneficiar do autoritarismo que não apenas herdou, mas também impulsionou.

Não é razoável dizer que Fujimori era um democrata que foi rendido “pelas circunstâncias” ou que “fez o que tinha que fazer”. O autoritarismo estava no cerne de sua ascensão, de suas relações políticas, de seu governo e de sua maneira de encarar como se deve governar. Sob a justificativa de combater o Sendero Luminoso, Fujimori conduziu uma política de esterilização forçada que atingiu centenas de milhares de pessoas indígenas, em uma política que pode ser definida como genocida, talvez o maior crime possível.

Policiais chilenos cercam o ex-presidente do Peru Alberto Fujimori em Santiago, para que concluir o processo de extradição ao Peru, em 2007  Foto: Claudio Santana/AP

O aparato de segurança peruano, o Serviço de Inteligência Nacional, herdado da ditadura militar, era conduzido por Vladimiro Montesinos, eminência parda do regime. Treinado pelos EUA, Montesinos supervisionou massacres e extorsões, alguns nos contextos das reeleições fraudulentas de Fujimori. Junto com a violência e a fraude, vieram a corrupção pessoal e a vida de luxo. Após dar diamantes de presente para uma cantora russa no Brasil, Fujimori levantou suspeitas e causou indignação em seu país.

Gravações de Montesinos deixavam claro o cenário de corrupção generalizada. Fujimori completou a sina do autoritário: fugiu. Ficou por cinco anos na terra natal de seus pais, o Japão, de onde veio um fax renunciando ao cargo de presidente. Em uma visita ao Chile, em 2005, foi preso e extraditado para o Peru. Foi condenado diversas vezes por variados crimes: violações de Direitos Humanos, crimes contra a humanidade, corrupção ativa e assassinato.

Fujimori iniciou sua sentença em 2009. Seu legado autoritário e corrupto, entretanto, continuaram sacudindo a política peruana. Sua filha, Keiko Fujimori, usava sua influência política e o nome do pai para seus jogos políticos, incluindo ceder apoio no congresso em troca de um indulto presidencial. A crise política que assola o Peru desde 2017 tem as digitais fujimoristas, desde a problemática constituição até o uso de seu nome na política.

A corrupção endêmica, o autoritarismo, o personalismo, todos esses elementos da política peruana não foram necessariamente criados por Fujimori, mas certamente foi ele que permitiu que essas raízes problemáticas chegassem ainda mais fundo. Seu cadáver certamente será usado como trunfo político por sua filha no futuro próximo. Posteriormente, quem sabe, o Peru consiga começar a construir uma sociedade mais justa e com uma democracia mais saudável, se desvencilhando do legado de um criminoso contra a humanidade.

Opinião por Filipe Figueiredo

Filipe Figueiredo é graduado em história pela USP, comentarista de política internacional e criador dos podcasts Xadrez Verbal e Fronteiras Invisíveis do Futebol, sobre política internacional e história

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