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Opinião|Por que Israel não é a maior prioridade de Binyamin Netanyahu


Premiê coloca sobrevivência política e jurídica perante acusações de corrupção e falhas no 7 de outubro acima dos interesses do país

Por Filipe Figueiredo

Já tem alguns anos que Binyamin Netanyahu deixa claro para todo o mundo qual a sua maior prioridade. No caso, a sua sobrevivência política e jurídica perante as acusações de corrupção que enfrenta em Israel. Isso está acima de qualquer outra questão, incluindo a segurança dos reféns sob cativeiro do Hamas, a própria segurança de Israel ou a solidez das instituições de seu país, com imenso número de exemplos recentes desse comportamento.

Em 2019, Netanyahu foi formalmente indiciado em três processos, respondendo por corrupção e o equivalente ao que é tipificado no Brasil como tráfico de influência. Os julgamentos estão em andamento, envolvendo centenas de depoimentos, muitas vezes afetados pelo cargo que Netanyahu ocupa naquele momento. Entre junho de 2021 e dezembro de 2022, Netanyahu não era o premiê israelense, quando o cargo foi ocupado primeiro por Naftali Bennett e depois por seu aliado de ocasião, Yair Lapid.

Para retornar ao poder, e garantir imunidade, Netanyahu montou o governo mais religioso e extremista da História de Israel, aceitando em seu gabinete ministros como Bezalel Smotrich e Itamar Ben-Gvir, líder do Otzma Yehudit, um partido kahanista, uma ideologia fascista cujo criador, Meir Kahane, foi condenado como terrorista tanto nos EUA quanto em Israel. Netanyahu legitima as pautas destrutivas dos extremistas religiosos em troca de sobrevivência política, uma relação de simbiose conveniente à ambos.

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Um manifestante segura um cartaz retratando o o premiê israelense, Binyamin Netanyahu, rasgando a Declaração de Independência de Israel de 1948 durante uma manifestação exigindo ações para libertar os reféns israelenses capturados pelo Hamas Foto: Jack Guez / AFP

Apoiado pelos extremistas religiosos, Netanyahu propôs uma reforma do Judiciário no início de 2023 que alienou as relações com o principal aliado de Israel, já que motivou críticas pelo governo dos EUA. Netanyahu e os extremistas religiosos usam retórica similar à vista em outras partes do globo, inclusive o Brasil: de que o Judiciário teria um viés contra “a direita” e não representava o povo.

No fim, entretanto, a única motivação de sua reforma era seu desejo de se safar das acusações de corrupção. A reforma proposta também motivou diversos protestos populares, que a detiveram, e críticas de integrantes de seu gabinete. Naquela ocasião, Netanyahu demitiu seu ministro da Defesa, Yoav Gallant. O premiê foi pesadamente criticado por ter colocado seus interesses partidários e pessoais acima da impessoalidade do cargo e Gallant retornou ao cargo. Essencial esclarecer que, em Israel, o ministério da Defesa é o segundo cargo mais importante de todo governo, atrás apenas do próprio premiê.

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Veio o ataque terrorista do Hamas no dia 7 de outubro de 2023, a maior falha de segurança e de inteligência de Israel desde 1973, no mínimo, e talvez da História do país. A aprovação popular de Netanyahu, que já era baixa, desceu ainda mais. Analistas apontaram como as políticas dos extremistas religiosos prejudicaram o país. Por exemplo, com o deslocamento de forças habitualmente estacionadas perto de Gaza para a Cisjordânia, para protegerem colonos religiosos e assentamentos ilegais.

Smotrich e Ben-Gvir aproveitam a crise causada pelo ataque terrorista para impulsionarem suas agendas e provocações. Netanyahu mantém a prioridade à uma virtualmente impossível “solução militar” pois sabe que o fim da crise significaria o fim da emergência nacional e a possibilidade de novas eleições. Benny Gantz, ex-general que disputou as eleições contra Netanyahu, já saiu do gabinete de guerra, por exemplo.

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Nos últimos meses, os protestos por um acordo apenas cresceram em Israel. Um eventual acordo não é conveniente para Netanyahu. A única coisa conveniente para ele, hoje, é a crise, é a escalada, mesmo que se torne uma guerra regional. Ele precisa disso para sobreviver politicamente, somado ao pulsão destrutivo de alguém que sabe que sua carreira está com os dias contados. As acusações de corrupção agora se somam aos erros do sete de outubro.

Já que sua carreira está para terminar, então, que ele faça o “serviço sujo” antes de ir embora, pensa Netanyahu. Não importa que a maioria dos reféns que retornaram vivos para Israel até hoje tenham ido via acordos. No dia 30 de agosto, Netanyahu teria dito “que assim seja” para a observação de que os reféns morreriam caso o governo anunciasse publicamente que deseja ocupar a fronteira de Gaza com o Egito, o crítico Corredor Philadelphi.

Desde esse dia, Netanyahu publicamente desgasta Gallant, com a imprensa israelense falando em uma situação quase demissionária, o que apenas pioraria a crise. Também não importa que o Irã, publicamente, disse que está se contendo em nome de um eventual acordo. Agora, Netanyahu quer aumentar a tensão ao norte, em uma eventual guerra com o Hezbollah. Nada disso importa. O que importa, para Netanyahu, é a imunidade contra os processos e se manter no poder. Essa é a sua prioridade.

Já tem alguns anos que Binyamin Netanyahu deixa claro para todo o mundo qual a sua maior prioridade. No caso, a sua sobrevivência política e jurídica perante as acusações de corrupção que enfrenta em Israel. Isso está acima de qualquer outra questão, incluindo a segurança dos reféns sob cativeiro do Hamas, a própria segurança de Israel ou a solidez das instituições de seu país, com imenso número de exemplos recentes desse comportamento.

Em 2019, Netanyahu foi formalmente indiciado em três processos, respondendo por corrupção e o equivalente ao que é tipificado no Brasil como tráfico de influência. Os julgamentos estão em andamento, envolvendo centenas de depoimentos, muitas vezes afetados pelo cargo que Netanyahu ocupa naquele momento. Entre junho de 2021 e dezembro de 2022, Netanyahu não era o premiê israelense, quando o cargo foi ocupado primeiro por Naftali Bennett e depois por seu aliado de ocasião, Yair Lapid.

Para retornar ao poder, e garantir imunidade, Netanyahu montou o governo mais religioso e extremista da História de Israel, aceitando em seu gabinete ministros como Bezalel Smotrich e Itamar Ben-Gvir, líder do Otzma Yehudit, um partido kahanista, uma ideologia fascista cujo criador, Meir Kahane, foi condenado como terrorista tanto nos EUA quanto em Israel. Netanyahu legitima as pautas destrutivas dos extremistas religiosos em troca de sobrevivência política, uma relação de simbiose conveniente à ambos.

Um manifestante segura um cartaz retratando o o premiê israelense, Binyamin Netanyahu, rasgando a Declaração de Independência de Israel de 1948 durante uma manifestação exigindo ações para libertar os reféns israelenses capturados pelo Hamas Foto: Jack Guez / AFP

Apoiado pelos extremistas religiosos, Netanyahu propôs uma reforma do Judiciário no início de 2023 que alienou as relações com o principal aliado de Israel, já que motivou críticas pelo governo dos EUA. Netanyahu e os extremistas religiosos usam retórica similar à vista em outras partes do globo, inclusive o Brasil: de que o Judiciário teria um viés contra “a direita” e não representava o povo.

No fim, entretanto, a única motivação de sua reforma era seu desejo de se safar das acusações de corrupção. A reforma proposta também motivou diversos protestos populares, que a detiveram, e críticas de integrantes de seu gabinete. Naquela ocasião, Netanyahu demitiu seu ministro da Defesa, Yoav Gallant. O premiê foi pesadamente criticado por ter colocado seus interesses partidários e pessoais acima da impessoalidade do cargo e Gallant retornou ao cargo. Essencial esclarecer que, em Israel, o ministério da Defesa é o segundo cargo mais importante de todo governo, atrás apenas do próprio premiê.

Veio o ataque terrorista do Hamas no dia 7 de outubro de 2023, a maior falha de segurança e de inteligência de Israel desde 1973, no mínimo, e talvez da História do país. A aprovação popular de Netanyahu, que já era baixa, desceu ainda mais. Analistas apontaram como as políticas dos extremistas religiosos prejudicaram o país. Por exemplo, com o deslocamento de forças habitualmente estacionadas perto de Gaza para a Cisjordânia, para protegerem colonos religiosos e assentamentos ilegais.

Smotrich e Ben-Gvir aproveitam a crise causada pelo ataque terrorista para impulsionarem suas agendas e provocações. Netanyahu mantém a prioridade à uma virtualmente impossível “solução militar” pois sabe que o fim da crise significaria o fim da emergência nacional e a possibilidade de novas eleições. Benny Gantz, ex-general que disputou as eleições contra Netanyahu, já saiu do gabinete de guerra, por exemplo.

Nos últimos meses, os protestos por um acordo apenas cresceram em Israel. Um eventual acordo não é conveniente para Netanyahu. A única coisa conveniente para ele, hoje, é a crise, é a escalada, mesmo que se torne uma guerra regional. Ele precisa disso para sobreviver politicamente, somado ao pulsão destrutivo de alguém que sabe que sua carreira está com os dias contados. As acusações de corrupção agora se somam aos erros do sete de outubro.

Já que sua carreira está para terminar, então, que ele faça o “serviço sujo” antes de ir embora, pensa Netanyahu. Não importa que a maioria dos reféns que retornaram vivos para Israel até hoje tenham ido via acordos. No dia 30 de agosto, Netanyahu teria dito “que assim seja” para a observação de que os reféns morreriam caso o governo anunciasse publicamente que deseja ocupar a fronteira de Gaza com o Egito, o crítico Corredor Philadelphi.

Desde esse dia, Netanyahu publicamente desgasta Gallant, com a imprensa israelense falando em uma situação quase demissionária, o que apenas pioraria a crise. Também não importa que o Irã, publicamente, disse que está se contendo em nome de um eventual acordo. Agora, Netanyahu quer aumentar a tensão ao norte, em uma eventual guerra com o Hezbollah. Nada disso importa. O que importa, para Netanyahu, é a imunidade contra os processos e se manter no poder. Essa é a sua prioridade.

Já tem alguns anos que Binyamin Netanyahu deixa claro para todo o mundo qual a sua maior prioridade. No caso, a sua sobrevivência política e jurídica perante as acusações de corrupção que enfrenta em Israel. Isso está acima de qualquer outra questão, incluindo a segurança dos reféns sob cativeiro do Hamas, a própria segurança de Israel ou a solidez das instituições de seu país, com imenso número de exemplos recentes desse comportamento.

Em 2019, Netanyahu foi formalmente indiciado em três processos, respondendo por corrupção e o equivalente ao que é tipificado no Brasil como tráfico de influência. Os julgamentos estão em andamento, envolvendo centenas de depoimentos, muitas vezes afetados pelo cargo que Netanyahu ocupa naquele momento. Entre junho de 2021 e dezembro de 2022, Netanyahu não era o premiê israelense, quando o cargo foi ocupado primeiro por Naftali Bennett e depois por seu aliado de ocasião, Yair Lapid.

Para retornar ao poder, e garantir imunidade, Netanyahu montou o governo mais religioso e extremista da História de Israel, aceitando em seu gabinete ministros como Bezalel Smotrich e Itamar Ben-Gvir, líder do Otzma Yehudit, um partido kahanista, uma ideologia fascista cujo criador, Meir Kahane, foi condenado como terrorista tanto nos EUA quanto em Israel. Netanyahu legitima as pautas destrutivas dos extremistas religiosos em troca de sobrevivência política, uma relação de simbiose conveniente à ambos.

Um manifestante segura um cartaz retratando o o premiê israelense, Binyamin Netanyahu, rasgando a Declaração de Independência de Israel de 1948 durante uma manifestação exigindo ações para libertar os reféns israelenses capturados pelo Hamas Foto: Jack Guez / AFP

Apoiado pelos extremistas religiosos, Netanyahu propôs uma reforma do Judiciário no início de 2023 que alienou as relações com o principal aliado de Israel, já que motivou críticas pelo governo dos EUA. Netanyahu e os extremistas religiosos usam retórica similar à vista em outras partes do globo, inclusive o Brasil: de que o Judiciário teria um viés contra “a direita” e não representava o povo.

No fim, entretanto, a única motivação de sua reforma era seu desejo de se safar das acusações de corrupção. A reforma proposta também motivou diversos protestos populares, que a detiveram, e críticas de integrantes de seu gabinete. Naquela ocasião, Netanyahu demitiu seu ministro da Defesa, Yoav Gallant. O premiê foi pesadamente criticado por ter colocado seus interesses partidários e pessoais acima da impessoalidade do cargo e Gallant retornou ao cargo. Essencial esclarecer que, em Israel, o ministério da Defesa é o segundo cargo mais importante de todo governo, atrás apenas do próprio premiê.

Veio o ataque terrorista do Hamas no dia 7 de outubro de 2023, a maior falha de segurança e de inteligência de Israel desde 1973, no mínimo, e talvez da História do país. A aprovação popular de Netanyahu, que já era baixa, desceu ainda mais. Analistas apontaram como as políticas dos extremistas religiosos prejudicaram o país. Por exemplo, com o deslocamento de forças habitualmente estacionadas perto de Gaza para a Cisjordânia, para protegerem colonos religiosos e assentamentos ilegais.

Smotrich e Ben-Gvir aproveitam a crise causada pelo ataque terrorista para impulsionarem suas agendas e provocações. Netanyahu mantém a prioridade à uma virtualmente impossível “solução militar” pois sabe que o fim da crise significaria o fim da emergência nacional e a possibilidade de novas eleições. Benny Gantz, ex-general que disputou as eleições contra Netanyahu, já saiu do gabinete de guerra, por exemplo.

Nos últimos meses, os protestos por um acordo apenas cresceram em Israel. Um eventual acordo não é conveniente para Netanyahu. A única coisa conveniente para ele, hoje, é a crise, é a escalada, mesmo que se torne uma guerra regional. Ele precisa disso para sobreviver politicamente, somado ao pulsão destrutivo de alguém que sabe que sua carreira está com os dias contados. As acusações de corrupção agora se somam aos erros do sete de outubro.

Já que sua carreira está para terminar, então, que ele faça o “serviço sujo” antes de ir embora, pensa Netanyahu. Não importa que a maioria dos reféns que retornaram vivos para Israel até hoje tenham ido via acordos. No dia 30 de agosto, Netanyahu teria dito “que assim seja” para a observação de que os reféns morreriam caso o governo anunciasse publicamente que deseja ocupar a fronteira de Gaza com o Egito, o crítico Corredor Philadelphi.

Desde esse dia, Netanyahu publicamente desgasta Gallant, com a imprensa israelense falando em uma situação quase demissionária, o que apenas pioraria a crise. Também não importa que o Irã, publicamente, disse que está se contendo em nome de um eventual acordo. Agora, Netanyahu quer aumentar a tensão ao norte, em uma eventual guerra com o Hezbollah. Nada disso importa. O que importa, para Netanyahu, é a imunidade contra os processos e se manter no poder. Essa é a sua prioridade.

Opinião por Filipe Figueiredo

Filipe Figueiredo é graduado em história pela USP, comentarista de política internacional e criador dos podcasts Xadrez Verbal e Fronteiras Invisíveis do Futebol, sobre política internacional e história

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