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Opinião|Visita de Putin a Kim Jong-un pretende criar ‘fortaleza estratégica’ na região


A parceria entre os dois países é resultado direto de uma conveniência recente estimulada pela guerra na Ucrânia

Por Filipe Figueiredo

A viagem de Putin a Pyongyang, capital da Coreia do Norte, é a sua primeira visita de Estado ao vizinho mais oriental após mais de vinte anos como principal mandatário russo. Com a declarada intenção de criar uma “fortaleza estratégica”, essa relação de conveniência vai se aprofundando cada vez mais. Especialmente com a guerra na Ucrânia, o que aproxima Putin e Kim Jong-un?

É importante ressaltar que, durante a Guerra Fria, era a União Soviética, não a China, a principal parceira da Coreia do Norte governada por Kim Il-sung, avô do atual ditador norte-coreano. Muito da infraestrutura norte-coreana tem origem dos tempos soviéticos, tornando a cooperação tecnológica em áreas fabris e ferroviárias importante para os coreanos. Essa mesma infraestrutura se tornou um trunfo nos últimos anos.

A imensa maioria dos equipamentos militares e munições utilizados pela Coreia do Norte são de origem soviética, mesmo que versões modernizadas atuais. A economia norte-coreana é bastante militarizada, com as Forças Armadas sendo a prioridade da produção econômica de acordo com a doutrina Songun. Essa é uma doutrina de Estado que busca garantir a segurança e independência da república norte-coreana em meio ao conflito congelado na península.

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O presidente russo Vladimir Putin, à esquerda, e o líder da Coreia do Norte, Kim Jong-un, se cumprimentam após assinatura de acordo em Pyongyang, Coreia do Norte, na quarta-feira, 19 de junho de 2024 Foto: Kristina Kormilitsyna/AP

Como resultado, a Coreia do Norte produz uma quantidade de armamentos desproporcional ao tamanho de sua economia ou de sua população. Segundo a própria mídia estatal do país, 16% do produto interno bruto (PIB) é gasto em Defesa. Estimativas exteriores colocam o número na casa dos 25% em anos recentes, a maior proporção do mundo, exceção feita ao caso da Ucrânia.

O conflito na Ucrânia tornou-se tanto um moedor de gente quanto gerou uma demanda em escala global por munições, em ambos os lados. A invasora Rússia precisa garantir o abastecimento de peças e de munições, tornando as relações com a Coreia do Norte mais atrativas nesse contexto. Essa é, então, uma das principais pautas dessa nova “fortaleza estratégica”: o fornecimento de munições e peças para suprir uma demanda gigantesca.

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Essa pauta já foi o principal foco das conversas de setembro de 2023, quando Kim Jong-un visitou Putin em Vladivostok e no novo cosmódromo de Vostochni, no que é outro lado dessas conversas.

Se a Rússia recebe munições, a Coreia do Norte está recebendo expertise em projetos espaciais. Não é coincidência que apenas após essa visita, na terceira tentativa, que a Coreia do Norte conseguiu colocar seu novo satélite Malligyong-1 em órbita.

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A importância do programa espacial norte-coreano não se limita aos lançamentos de satélites espiões. A diferença entre um foguete e um míssil balístico intercontinental é basicamente o destinatário, e investir no programa espacial é uma maneira da Coreia do Norte aprimorar seu arsenal de mísseis capazes de atingir o território dos EUA. O que dialoga com outro aspecto da recente aproximação, no último dia 28 de março.

Kim Jong-un, à esquerda, e Vladimir Putin preparam-se para dirigir uma limusine russa Aurus, presenteada pelo presidente russo ao ditador norte coreano durante encontro em Pyongyang, na Coreia do Norte  Foto: Gavriil Grigorov / Sputnik / via AP

A Rússia vetou, no Conselho de Segurança da ONU,  a renovação do mandato do painel de peritos que monitorava as eventuais violações das sanções impostas pelo mesmo Conselho de Segurança contra a Coreia do Norte por seu programa nuclear e também por seus mísseis balísticos. A coluna fala em recente aproximação pois, no pós-Guerra Fria, a relação entre os dois países foi marcada basicamente por aspectos comerciais e humanitários.

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Na política, a Rússia desempenha papel no Diálogo a Seis sobre o conflito congelado na península coreana. Existe também uma considerável comunidade de norte-coreanos na Rússia, que envia dinheiro para casa; muitos deles são trabalhadores em postos insalubres, na região da Sibéria, pouco habitada. A primeira visita de Kim Jong-un à Rússia foi apenas em 2019, depois de oito anos no poder.

Apenas com a invasão da Ucrânia que a Coreia do Norte se tornou mais interessante aos olhos de Moscou. Ao mesmo tempo, Kim Jong-un se interessa em aprofundar essa relação pensando não apenas no que pode receber da Rússia, mas também como maneira de contrabalançar a virtual dependência de seu país em relação aos chineses. A parceria entre os dois países certamente vai se aprofundar, mas é guiada por conveniência recente.

A viagem de Putin a Pyongyang, capital da Coreia do Norte, é a sua primeira visita de Estado ao vizinho mais oriental após mais de vinte anos como principal mandatário russo. Com a declarada intenção de criar uma “fortaleza estratégica”, essa relação de conveniência vai se aprofundando cada vez mais. Especialmente com a guerra na Ucrânia, o que aproxima Putin e Kim Jong-un?

É importante ressaltar que, durante a Guerra Fria, era a União Soviética, não a China, a principal parceira da Coreia do Norte governada por Kim Il-sung, avô do atual ditador norte-coreano. Muito da infraestrutura norte-coreana tem origem dos tempos soviéticos, tornando a cooperação tecnológica em áreas fabris e ferroviárias importante para os coreanos. Essa mesma infraestrutura se tornou um trunfo nos últimos anos.

A imensa maioria dos equipamentos militares e munições utilizados pela Coreia do Norte são de origem soviética, mesmo que versões modernizadas atuais. A economia norte-coreana é bastante militarizada, com as Forças Armadas sendo a prioridade da produção econômica de acordo com a doutrina Songun. Essa é uma doutrina de Estado que busca garantir a segurança e independência da república norte-coreana em meio ao conflito congelado na península.

O presidente russo Vladimir Putin, à esquerda, e o líder da Coreia do Norte, Kim Jong-un, se cumprimentam após assinatura de acordo em Pyongyang, Coreia do Norte, na quarta-feira, 19 de junho de 2024 Foto: Kristina Kormilitsyna/AP

Como resultado, a Coreia do Norte produz uma quantidade de armamentos desproporcional ao tamanho de sua economia ou de sua população. Segundo a própria mídia estatal do país, 16% do produto interno bruto (PIB) é gasto em Defesa. Estimativas exteriores colocam o número na casa dos 25% em anos recentes, a maior proporção do mundo, exceção feita ao caso da Ucrânia.

O conflito na Ucrânia tornou-se tanto um moedor de gente quanto gerou uma demanda em escala global por munições, em ambos os lados. A invasora Rússia precisa garantir o abastecimento de peças e de munições, tornando as relações com a Coreia do Norte mais atrativas nesse contexto. Essa é, então, uma das principais pautas dessa nova “fortaleza estratégica”: o fornecimento de munições e peças para suprir uma demanda gigantesca.

Essa pauta já foi o principal foco das conversas de setembro de 2023, quando Kim Jong-un visitou Putin em Vladivostok e no novo cosmódromo de Vostochni, no que é outro lado dessas conversas.

Se a Rússia recebe munições, a Coreia do Norte está recebendo expertise em projetos espaciais. Não é coincidência que apenas após essa visita, na terceira tentativa, que a Coreia do Norte conseguiu colocar seu novo satélite Malligyong-1 em órbita.

A importância do programa espacial norte-coreano não se limita aos lançamentos de satélites espiões. A diferença entre um foguete e um míssil balístico intercontinental é basicamente o destinatário, e investir no programa espacial é uma maneira da Coreia do Norte aprimorar seu arsenal de mísseis capazes de atingir o território dos EUA. O que dialoga com outro aspecto da recente aproximação, no último dia 28 de março.

Kim Jong-un, à esquerda, e Vladimir Putin preparam-se para dirigir uma limusine russa Aurus, presenteada pelo presidente russo ao ditador norte coreano durante encontro em Pyongyang, na Coreia do Norte  Foto: Gavriil Grigorov / Sputnik / via AP

A Rússia vetou, no Conselho de Segurança da ONU,  a renovação do mandato do painel de peritos que monitorava as eventuais violações das sanções impostas pelo mesmo Conselho de Segurança contra a Coreia do Norte por seu programa nuclear e também por seus mísseis balísticos. A coluna fala em recente aproximação pois, no pós-Guerra Fria, a relação entre os dois países foi marcada basicamente por aspectos comerciais e humanitários.

Na política, a Rússia desempenha papel no Diálogo a Seis sobre o conflito congelado na península coreana. Existe também uma considerável comunidade de norte-coreanos na Rússia, que envia dinheiro para casa; muitos deles são trabalhadores em postos insalubres, na região da Sibéria, pouco habitada. A primeira visita de Kim Jong-un à Rússia foi apenas em 2019, depois de oito anos no poder.

Apenas com a invasão da Ucrânia que a Coreia do Norte se tornou mais interessante aos olhos de Moscou. Ao mesmo tempo, Kim Jong-un se interessa em aprofundar essa relação pensando não apenas no que pode receber da Rússia, mas também como maneira de contrabalançar a virtual dependência de seu país em relação aos chineses. A parceria entre os dois países certamente vai se aprofundar, mas é guiada por conveniência recente.

A viagem de Putin a Pyongyang, capital da Coreia do Norte, é a sua primeira visita de Estado ao vizinho mais oriental após mais de vinte anos como principal mandatário russo. Com a declarada intenção de criar uma “fortaleza estratégica”, essa relação de conveniência vai se aprofundando cada vez mais. Especialmente com a guerra na Ucrânia, o que aproxima Putin e Kim Jong-un?

É importante ressaltar que, durante a Guerra Fria, era a União Soviética, não a China, a principal parceira da Coreia do Norte governada por Kim Il-sung, avô do atual ditador norte-coreano. Muito da infraestrutura norte-coreana tem origem dos tempos soviéticos, tornando a cooperação tecnológica em áreas fabris e ferroviárias importante para os coreanos. Essa mesma infraestrutura se tornou um trunfo nos últimos anos.

A imensa maioria dos equipamentos militares e munições utilizados pela Coreia do Norte são de origem soviética, mesmo que versões modernizadas atuais. A economia norte-coreana é bastante militarizada, com as Forças Armadas sendo a prioridade da produção econômica de acordo com a doutrina Songun. Essa é uma doutrina de Estado que busca garantir a segurança e independência da república norte-coreana em meio ao conflito congelado na península.

O presidente russo Vladimir Putin, à esquerda, e o líder da Coreia do Norte, Kim Jong-un, se cumprimentam após assinatura de acordo em Pyongyang, Coreia do Norte, na quarta-feira, 19 de junho de 2024 Foto: Kristina Kormilitsyna/AP

Como resultado, a Coreia do Norte produz uma quantidade de armamentos desproporcional ao tamanho de sua economia ou de sua população. Segundo a própria mídia estatal do país, 16% do produto interno bruto (PIB) é gasto em Defesa. Estimativas exteriores colocam o número na casa dos 25% em anos recentes, a maior proporção do mundo, exceção feita ao caso da Ucrânia.

O conflito na Ucrânia tornou-se tanto um moedor de gente quanto gerou uma demanda em escala global por munições, em ambos os lados. A invasora Rússia precisa garantir o abastecimento de peças e de munições, tornando as relações com a Coreia do Norte mais atrativas nesse contexto. Essa é, então, uma das principais pautas dessa nova “fortaleza estratégica”: o fornecimento de munições e peças para suprir uma demanda gigantesca.

Essa pauta já foi o principal foco das conversas de setembro de 2023, quando Kim Jong-un visitou Putin em Vladivostok e no novo cosmódromo de Vostochni, no que é outro lado dessas conversas.

Se a Rússia recebe munições, a Coreia do Norte está recebendo expertise em projetos espaciais. Não é coincidência que apenas após essa visita, na terceira tentativa, que a Coreia do Norte conseguiu colocar seu novo satélite Malligyong-1 em órbita.

A importância do programa espacial norte-coreano não se limita aos lançamentos de satélites espiões. A diferença entre um foguete e um míssil balístico intercontinental é basicamente o destinatário, e investir no programa espacial é uma maneira da Coreia do Norte aprimorar seu arsenal de mísseis capazes de atingir o território dos EUA. O que dialoga com outro aspecto da recente aproximação, no último dia 28 de março.

Kim Jong-un, à esquerda, e Vladimir Putin preparam-se para dirigir uma limusine russa Aurus, presenteada pelo presidente russo ao ditador norte coreano durante encontro em Pyongyang, na Coreia do Norte  Foto: Gavriil Grigorov / Sputnik / via AP

A Rússia vetou, no Conselho de Segurança da ONU,  a renovação do mandato do painel de peritos que monitorava as eventuais violações das sanções impostas pelo mesmo Conselho de Segurança contra a Coreia do Norte por seu programa nuclear e também por seus mísseis balísticos. A coluna fala em recente aproximação pois, no pós-Guerra Fria, a relação entre os dois países foi marcada basicamente por aspectos comerciais e humanitários.

Na política, a Rússia desempenha papel no Diálogo a Seis sobre o conflito congelado na península coreana. Existe também uma considerável comunidade de norte-coreanos na Rússia, que envia dinheiro para casa; muitos deles são trabalhadores em postos insalubres, na região da Sibéria, pouco habitada. A primeira visita de Kim Jong-un à Rússia foi apenas em 2019, depois de oito anos no poder.

Apenas com a invasão da Ucrânia que a Coreia do Norte se tornou mais interessante aos olhos de Moscou. Ao mesmo tempo, Kim Jong-un se interessa em aprofundar essa relação pensando não apenas no que pode receber da Rússia, mas também como maneira de contrabalançar a virtual dependência de seu país em relação aos chineses. A parceria entre os dois países certamente vai se aprofundar, mas é guiada por conveniência recente.

A viagem de Putin a Pyongyang, capital da Coreia do Norte, é a sua primeira visita de Estado ao vizinho mais oriental após mais de vinte anos como principal mandatário russo. Com a declarada intenção de criar uma “fortaleza estratégica”, essa relação de conveniência vai se aprofundando cada vez mais. Especialmente com a guerra na Ucrânia, o que aproxima Putin e Kim Jong-un?

É importante ressaltar que, durante a Guerra Fria, era a União Soviética, não a China, a principal parceira da Coreia do Norte governada por Kim Il-sung, avô do atual ditador norte-coreano. Muito da infraestrutura norte-coreana tem origem dos tempos soviéticos, tornando a cooperação tecnológica em áreas fabris e ferroviárias importante para os coreanos. Essa mesma infraestrutura se tornou um trunfo nos últimos anos.

A imensa maioria dos equipamentos militares e munições utilizados pela Coreia do Norte são de origem soviética, mesmo que versões modernizadas atuais. A economia norte-coreana é bastante militarizada, com as Forças Armadas sendo a prioridade da produção econômica de acordo com a doutrina Songun. Essa é uma doutrina de Estado que busca garantir a segurança e independência da república norte-coreana em meio ao conflito congelado na península.

O presidente russo Vladimir Putin, à esquerda, e o líder da Coreia do Norte, Kim Jong-un, se cumprimentam após assinatura de acordo em Pyongyang, Coreia do Norte, na quarta-feira, 19 de junho de 2024 Foto: Kristina Kormilitsyna/AP

Como resultado, a Coreia do Norte produz uma quantidade de armamentos desproporcional ao tamanho de sua economia ou de sua população. Segundo a própria mídia estatal do país, 16% do produto interno bruto (PIB) é gasto em Defesa. Estimativas exteriores colocam o número na casa dos 25% em anos recentes, a maior proporção do mundo, exceção feita ao caso da Ucrânia.

O conflito na Ucrânia tornou-se tanto um moedor de gente quanto gerou uma demanda em escala global por munições, em ambos os lados. A invasora Rússia precisa garantir o abastecimento de peças e de munições, tornando as relações com a Coreia do Norte mais atrativas nesse contexto. Essa é, então, uma das principais pautas dessa nova “fortaleza estratégica”: o fornecimento de munições e peças para suprir uma demanda gigantesca.

Essa pauta já foi o principal foco das conversas de setembro de 2023, quando Kim Jong-un visitou Putin em Vladivostok e no novo cosmódromo de Vostochni, no que é outro lado dessas conversas.

Se a Rússia recebe munições, a Coreia do Norte está recebendo expertise em projetos espaciais. Não é coincidência que apenas após essa visita, na terceira tentativa, que a Coreia do Norte conseguiu colocar seu novo satélite Malligyong-1 em órbita.

A importância do programa espacial norte-coreano não se limita aos lançamentos de satélites espiões. A diferença entre um foguete e um míssil balístico intercontinental é basicamente o destinatário, e investir no programa espacial é uma maneira da Coreia do Norte aprimorar seu arsenal de mísseis capazes de atingir o território dos EUA. O que dialoga com outro aspecto da recente aproximação, no último dia 28 de março.

Kim Jong-un, à esquerda, e Vladimir Putin preparam-se para dirigir uma limusine russa Aurus, presenteada pelo presidente russo ao ditador norte coreano durante encontro em Pyongyang, na Coreia do Norte  Foto: Gavriil Grigorov / Sputnik / via AP

A Rússia vetou, no Conselho de Segurança da ONU,  a renovação do mandato do painel de peritos que monitorava as eventuais violações das sanções impostas pelo mesmo Conselho de Segurança contra a Coreia do Norte por seu programa nuclear e também por seus mísseis balísticos. A coluna fala em recente aproximação pois, no pós-Guerra Fria, a relação entre os dois países foi marcada basicamente por aspectos comerciais e humanitários.

Na política, a Rússia desempenha papel no Diálogo a Seis sobre o conflito congelado na península coreana. Existe também uma considerável comunidade de norte-coreanos na Rússia, que envia dinheiro para casa; muitos deles são trabalhadores em postos insalubres, na região da Sibéria, pouco habitada. A primeira visita de Kim Jong-un à Rússia foi apenas em 2019, depois de oito anos no poder.

Apenas com a invasão da Ucrânia que a Coreia do Norte se tornou mais interessante aos olhos de Moscou. Ao mesmo tempo, Kim Jong-un se interessa em aprofundar essa relação pensando não apenas no que pode receber da Rússia, mas também como maneira de contrabalançar a virtual dependência de seu país em relação aos chineses. A parceria entre os dois países certamente vai se aprofundar, mas é guiada por conveniência recente.

A viagem de Putin a Pyongyang, capital da Coreia do Norte, é a sua primeira visita de Estado ao vizinho mais oriental após mais de vinte anos como principal mandatário russo. Com a declarada intenção de criar uma “fortaleza estratégica”, essa relação de conveniência vai se aprofundando cada vez mais. Especialmente com a guerra na Ucrânia, o que aproxima Putin e Kim Jong-un?

É importante ressaltar que, durante a Guerra Fria, era a União Soviética, não a China, a principal parceira da Coreia do Norte governada por Kim Il-sung, avô do atual ditador norte-coreano. Muito da infraestrutura norte-coreana tem origem dos tempos soviéticos, tornando a cooperação tecnológica em áreas fabris e ferroviárias importante para os coreanos. Essa mesma infraestrutura se tornou um trunfo nos últimos anos.

A imensa maioria dos equipamentos militares e munições utilizados pela Coreia do Norte são de origem soviética, mesmo que versões modernizadas atuais. A economia norte-coreana é bastante militarizada, com as Forças Armadas sendo a prioridade da produção econômica de acordo com a doutrina Songun. Essa é uma doutrina de Estado que busca garantir a segurança e independência da república norte-coreana em meio ao conflito congelado na península.

O presidente russo Vladimir Putin, à esquerda, e o líder da Coreia do Norte, Kim Jong-un, se cumprimentam após assinatura de acordo em Pyongyang, Coreia do Norte, na quarta-feira, 19 de junho de 2024 Foto: Kristina Kormilitsyna/AP

Como resultado, a Coreia do Norte produz uma quantidade de armamentos desproporcional ao tamanho de sua economia ou de sua população. Segundo a própria mídia estatal do país, 16% do produto interno bruto (PIB) é gasto em Defesa. Estimativas exteriores colocam o número na casa dos 25% em anos recentes, a maior proporção do mundo, exceção feita ao caso da Ucrânia.

O conflito na Ucrânia tornou-se tanto um moedor de gente quanto gerou uma demanda em escala global por munições, em ambos os lados. A invasora Rússia precisa garantir o abastecimento de peças e de munições, tornando as relações com a Coreia do Norte mais atrativas nesse contexto. Essa é, então, uma das principais pautas dessa nova “fortaleza estratégica”: o fornecimento de munições e peças para suprir uma demanda gigantesca.

Essa pauta já foi o principal foco das conversas de setembro de 2023, quando Kim Jong-un visitou Putin em Vladivostok e no novo cosmódromo de Vostochni, no que é outro lado dessas conversas.

Se a Rússia recebe munições, a Coreia do Norte está recebendo expertise em projetos espaciais. Não é coincidência que apenas após essa visita, na terceira tentativa, que a Coreia do Norte conseguiu colocar seu novo satélite Malligyong-1 em órbita.

A importância do programa espacial norte-coreano não se limita aos lançamentos de satélites espiões. A diferença entre um foguete e um míssil balístico intercontinental é basicamente o destinatário, e investir no programa espacial é uma maneira da Coreia do Norte aprimorar seu arsenal de mísseis capazes de atingir o território dos EUA. O que dialoga com outro aspecto da recente aproximação, no último dia 28 de março.

Kim Jong-un, à esquerda, e Vladimir Putin preparam-se para dirigir uma limusine russa Aurus, presenteada pelo presidente russo ao ditador norte coreano durante encontro em Pyongyang, na Coreia do Norte  Foto: Gavriil Grigorov / Sputnik / via AP

A Rússia vetou, no Conselho de Segurança da ONU,  a renovação do mandato do painel de peritos que monitorava as eventuais violações das sanções impostas pelo mesmo Conselho de Segurança contra a Coreia do Norte por seu programa nuclear e também por seus mísseis balísticos. A coluna fala em recente aproximação pois, no pós-Guerra Fria, a relação entre os dois países foi marcada basicamente por aspectos comerciais e humanitários.

Na política, a Rússia desempenha papel no Diálogo a Seis sobre o conflito congelado na península coreana. Existe também uma considerável comunidade de norte-coreanos na Rússia, que envia dinheiro para casa; muitos deles são trabalhadores em postos insalubres, na região da Sibéria, pouco habitada. A primeira visita de Kim Jong-un à Rússia foi apenas em 2019, depois de oito anos no poder.

Apenas com a invasão da Ucrânia que a Coreia do Norte se tornou mais interessante aos olhos de Moscou. Ao mesmo tempo, Kim Jong-un se interessa em aprofundar essa relação pensando não apenas no que pode receber da Rússia, mas também como maneira de contrabalançar a virtual dependência de seu país em relação aos chineses. A parceria entre os dois países certamente vai se aprofundar, mas é guiada por conveniência recente.

Opinião por Filipe Figueiredo

Filipe Figueiredo é graduado em história pela USP, comentarista de política internacional e criador dos podcasts Xadrez Verbal e Fronteiras Invisíveis do Futebol, sobre política internacional e história

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