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Opinião|Vitória de Trump coloca Ucrânia e Europa em uma encruzilhada


Boa parte dos países europeus teme a promessa do republicano de acabar com a ajuda militar ao país que vive uma guerra com a Rússia

Por Filipe Figueiredo

Donald Trump venceu de forma categórica as eleições presidenciais de seu país e vai retornar ao cargo, a primeira vez desde Grover Cleveland, em 1892, que um ex-presidente retorna ao cargo. O Partido Republicano provavelmente controlará ambas as casas do Congresso dos EUA, dando tranquilidade para Trump aprovar boa parte das medidas que desejar. Tranquilidade, entretanto, não é o sentimento reinante em boa parte da Europa, especialmente na Ucrânia, que teme a promessa de Trump de acabar com a ajuda militar ao país.

Deixe-se de lado qualquer ideia de que Trump age por “amizade” com Vladimir Putin, ou, ainda, que ele seria passível de ser chantageado pela inteligência russa. Essas especulações não são necessárias quando se tem as palavras públicas do próprio Donald Trump. Ele já disse que vai acabar com a guerra com um “rápido acordo”, que Zelenski vai aos EUA apenas “para buscar cheques” e que o auxílio de mais de uma centena de bilhões de dólares dos EUA aos ucranianos vai acabar.

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Donald Trump sorri durante discurso em Palm Beach, na Flórida, quando havia ganhado em dois Estados-pêndulos Foto: Evan Vucci/AP

Trump também já disse que vai fazer os países da Otan “pagarem de forma justa”, tal como ele teria feito em seu governo anterior. O leitor pode achar que Trump faz isso pela suposta amizade com Putin, ou por ligações espúrias com a Rússia. Isso pode até se provar verdade, mas o ponto focal aqui não são as motivações, mas o que foi anunciado. O fim do auxílio dos EUA representaria um revés seríssimo para a Ucrânia. Não apenas no campo militar, sem os armamentos, munições e inteligência fornecidos pelos EUA, mas também para o funcionamento do próprio Estado ucraniano.

Os salários de professores, de profissionais de saúde, todo o aparato público ucraniano hoje, funciona basicamente a partir do auxílio externo. O tal “rápido acordo” defendido por Trump precisaria envolver concessões territoriais ucranianas. A Rússia jamais assinaria algum acordo que não contemple, no mínimo, a região da bacia do Donets, conhecida como Donbass, e a península da Crimeia. Também exigiria garantias de que a Ucrânia não será integrante da Otan no futuro.

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Sem auxílio militar e forçados ao tal acordo, os ucranianos veriam isso nada menos do que uma capitulação, inaceitável internamente. Provavelmente se veriam traídos ou abandonados pelo chamado Ocidente, um sentimento dificilmente reversível em uma ou duas gerações. Também não confiariam em um acordo com a Rússia, que violou o Memorando de Budapeste de 1992 ao invadir o país. A única maneira de um acordo ser visto como legítimo é se ele envolver os próprios ucranianos, que não aceitariam tais termos. Os mesmos termos essenciais para a Rússia. Normalmente, não haveria acordo. A diferença é que, agora, o governo em Washington lavaria suas mãos.

Resta ver o que os países da Europa farão, especialmente França, Alemanha e Polônia. Aceitarão essa eventual abordagem do novo governo Trump? Ou buscarão preencher a lacuna e, sem os EUA, mas agindo em conjunto, fornecerão a ajuda que os ucranianos necessitariam? Uma maior cooperação militar europeia deveria ocorrer independente do governo da vez em Washington. A Europa não pode mais praticamente terceirizar sua capacidade de defesa para os EUA.

Donald Trump venceu de forma categórica as eleições presidenciais de seu país e vai retornar ao cargo, a primeira vez desde Grover Cleveland, em 1892, que um ex-presidente retorna ao cargo. O Partido Republicano provavelmente controlará ambas as casas do Congresso dos EUA, dando tranquilidade para Trump aprovar boa parte das medidas que desejar. Tranquilidade, entretanto, não é o sentimento reinante em boa parte da Europa, especialmente na Ucrânia, que teme a promessa de Trump de acabar com a ajuda militar ao país.

Deixe-se de lado qualquer ideia de que Trump age por “amizade” com Vladimir Putin, ou, ainda, que ele seria passível de ser chantageado pela inteligência russa. Essas especulações não são necessárias quando se tem as palavras públicas do próprio Donald Trump. Ele já disse que vai acabar com a guerra com um “rápido acordo”, que Zelenski vai aos EUA apenas “para buscar cheques” e que o auxílio de mais de uma centena de bilhões de dólares dos EUA aos ucranianos vai acabar.

Donald Trump sorri durante discurso em Palm Beach, na Flórida, quando havia ganhado em dois Estados-pêndulos Foto: Evan Vucci/AP

Trump também já disse que vai fazer os países da Otan “pagarem de forma justa”, tal como ele teria feito em seu governo anterior. O leitor pode achar que Trump faz isso pela suposta amizade com Putin, ou por ligações espúrias com a Rússia. Isso pode até se provar verdade, mas o ponto focal aqui não são as motivações, mas o que foi anunciado. O fim do auxílio dos EUA representaria um revés seríssimo para a Ucrânia. Não apenas no campo militar, sem os armamentos, munições e inteligência fornecidos pelos EUA, mas também para o funcionamento do próprio Estado ucraniano.

Os salários de professores, de profissionais de saúde, todo o aparato público ucraniano hoje, funciona basicamente a partir do auxílio externo. O tal “rápido acordo” defendido por Trump precisaria envolver concessões territoriais ucranianas. A Rússia jamais assinaria algum acordo que não contemple, no mínimo, a região da bacia do Donets, conhecida como Donbass, e a península da Crimeia. Também exigiria garantias de que a Ucrânia não será integrante da Otan no futuro.

Sem auxílio militar e forçados ao tal acordo, os ucranianos veriam isso nada menos do que uma capitulação, inaceitável internamente. Provavelmente se veriam traídos ou abandonados pelo chamado Ocidente, um sentimento dificilmente reversível em uma ou duas gerações. Também não confiariam em um acordo com a Rússia, que violou o Memorando de Budapeste de 1992 ao invadir o país. A única maneira de um acordo ser visto como legítimo é se ele envolver os próprios ucranianos, que não aceitariam tais termos. Os mesmos termos essenciais para a Rússia. Normalmente, não haveria acordo. A diferença é que, agora, o governo em Washington lavaria suas mãos.

Resta ver o que os países da Europa farão, especialmente França, Alemanha e Polônia. Aceitarão essa eventual abordagem do novo governo Trump? Ou buscarão preencher a lacuna e, sem os EUA, mas agindo em conjunto, fornecerão a ajuda que os ucranianos necessitariam? Uma maior cooperação militar europeia deveria ocorrer independente do governo da vez em Washington. A Europa não pode mais praticamente terceirizar sua capacidade de defesa para os EUA.

Donald Trump venceu de forma categórica as eleições presidenciais de seu país e vai retornar ao cargo, a primeira vez desde Grover Cleveland, em 1892, que um ex-presidente retorna ao cargo. O Partido Republicano provavelmente controlará ambas as casas do Congresso dos EUA, dando tranquilidade para Trump aprovar boa parte das medidas que desejar. Tranquilidade, entretanto, não é o sentimento reinante em boa parte da Europa, especialmente na Ucrânia, que teme a promessa de Trump de acabar com a ajuda militar ao país.

Deixe-se de lado qualquer ideia de que Trump age por “amizade” com Vladimir Putin, ou, ainda, que ele seria passível de ser chantageado pela inteligência russa. Essas especulações não são necessárias quando se tem as palavras públicas do próprio Donald Trump. Ele já disse que vai acabar com a guerra com um “rápido acordo”, que Zelenski vai aos EUA apenas “para buscar cheques” e que o auxílio de mais de uma centena de bilhões de dólares dos EUA aos ucranianos vai acabar.

Donald Trump sorri durante discurso em Palm Beach, na Flórida, quando havia ganhado em dois Estados-pêndulos Foto: Evan Vucci/AP

Trump também já disse que vai fazer os países da Otan “pagarem de forma justa”, tal como ele teria feito em seu governo anterior. O leitor pode achar que Trump faz isso pela suposta amizade com Putin, ou por ligações espúrias com a Rússia. Isso pode até se provar verdade, mas o ponto focal aqui não são as motivações, mas o que foi anunciado. O fim do auxílio dos EUA representaria um revés seríssimo para a Ucrânia. Não apenas no campo militar, sem os armamentos, munições e inteligência fornecidos pelos EUA, mas também para o funcionamento do próprio Estado ucraniano.

Os salários de professores, de profissionais de saúde, todo o aparato público ucraniano hoje, funciona basicamente a partir do auxílio externo. O tal “rápido acordo” defendido por Trump precisaria envolver concessões territoriais ucranianas. A Rússia jamais assinaria algum acordo que não contemple, no mínimo, a região da bacia do Donets, conhecida como Donbass, e a península da Crimeia. Também exigiria garantias de que a Ucrânia não será integrante da Otan no futuro.

Sem auxílio militar e forçados ao tal acordo, os ucranianos veriam isso nada menos do que uma capitulação, inaceitável internamente. Provavelmente se veriam traídos ou abandonados pelo chamado Ocidente, um sentimento dificilmente reversível em uma ou duas gerações. Também não confiariam em um acordo com a Rússia, que violou o Memorando de Budapeste de 1992 ao invadir o país. A única maneira de um acordo ser visto como legítimo é se ele envolver os próprios ucranianos, que não aceitariam tais termos. Os mesmos termos essenciais para a Rússia. Normalmente, não haveria acordo. A diferença é que, agora, o governo em Washington lavaria suas mãos.

Resta ver o que os países da Europa farão, especialmente França, Alemanha e Polônia. Aceitarão essa eventual abordagem do novo governo Trump? Ou buscarão preencher a lacuna e, sem os EUA, mas agindo em conjunto, fornecerão a ajuda que os ucranianos necessitariam? Uma maior cooperação militar europeia deveria ocorrer independente do governo da vez em Washington. A Europa não pode mais praticamente terceirizar sua capacidade de defesa para os EUA.

Opinião por Filipe Figueiredo

Filipe Figueiredo é graduado em história pela USP, comentarista de política internacional e criador dos podcasts Xadrez Verbal e Fronteiras Invisíveis do Futebol, sobre política internacional e história

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