BRUXELAS - Laurence Tesson, de Douai, no norte da França, há três anos sente saudades do filho de 34 anos que mora na Califórnia.
Por meses, como muitos europeus, Tesson esperou frustrada enquanto os Estados Unidos mantinham em vigor a proibição de viagens relacionada à covid, mesmo depois que a União Europeia suspendeu sua própria proibição aos americanos. Enquanto ela se preparava para embarcar em um dos primeiros voos para Los Angeles nesta segunda-feira, 8, quando as restrições foram levantadas, a tristeza dava lugar à euforia, ainda que houvesse a preocupação de que algo ainda pudesse dar errado.
“Somente quando eu colocar o pé no aeroporto de Los Angeles estarei aliviada”, disse Tesson, de 54 anos, neste fim de semana, enquanto limpava sua casa para aliviar a tensão.
O levantamento das restrições de viagem permitirá que casais e famílias se reúnam após 18 meses de eventos, nascimentos, casamentos e funerais perdidos. Também encerrará uma disputa diplomática entre os Estados Unidos e a União Europeia, que chegou a contar com uma campanha pelo fim da proibição nas redes sociais, sob a hashtag #LoveIsNotTourism (AmorNãoÉTurismo, em português).
Em junho, a União Europeia pediu aos países membros que reabrissem suas fronteiras aos viajantes dos EUA, e seus líderes esperavam que o governo Biden retribuísse em breve. A União Europeia estava se aproximando das taxas de vacinação americanas - ultrapassou-as em julho - e os países membros continham infecções por coronavírus à medida que os casos aumentavam nos Estados Unidos.
“Precisamos resolver esse problema o mais rápido possível”, disse Ursula von der Leyen, a presidente da Comissão Europeia, em comentários inusitadamente contundentes em agosto. “Isso não pode se arrastar por semanas.”
Mas se arrastou por meses.
Eirini Linardaki, uma artista visual franco-grega que voou para Nova York na segunda-feira para se reunir com seu parceiro, disse que se sentiu injustiçada durante o verão ao ver aviões dos Estados Unidos pousando em Paris. “A ideia de que não poderíamos visitar nosso ente querido no país em que eles estão, nós, como europeus, não estávamos familiarizados com isso”, disse ela sobre viagens pré-pandêmicas.
Linardaki, de 45 anos, ainda não considera nada garantido: “Eu fico me perguntando, isso é real?”
Mesmo com as fronteiras abertas novamente, muitos europeus lutaram para entender por que a proibição permaneceu em vigor por tanto tempo, disse Edward Alden, membro sênior do Conselho de Relações Exteriores especializado em imigração e comércio. “Isso separou muitos casais e famílias e durou muito mais tempo do que a maioria das pessoas pensava”, disse ele, “então tem havido uma enorme frustração”. Nos últimos meses, disse Alden, alguns líderes europeus ficaram frustrados com o governo Biden por causa de questões como a retirada caótica das tropas americanas do Afeganistão.
O levantamento da proibição de viagens foi um passo em direção a um objetivo maior de aliviar as tensões. “Foi um osso que Biden poderia jogar para os europeus”, disse Alden. Outro, disse ele, foi o acordo recentemente anunciado para reverter as tarifas sobre aço e alumínio que haviam sido impostas durante o governo Trump.
Enquanto os viajantes se preparavam para voar para os Estados Unidos nesta semana, muitos relataram emoções confusas.
“Mais estressada do que animada”, disse Line Laumann, uma dinamarquesa de 23 anos que voou para Denver na segunda-feira para se encontrar com o namorado. “Fomos decepcionados muitas vezes.” A espera no aeroporto de Frankfurt, onde ela fez escala, foi indolor, disse Laumann - “contanto que você tenha toda a papelada certa”.
Esse não foi o caso em Amsterdã, de acordo com Jessica Borgers, que também voou para Denver e teve que esperar duas horas e meia para fazer o check-in na manhã de segunda-feira. "Loucura", disse ela em uma mensagem, com uma imagem mostrando centenas de passageiros em fila.
No nordeste da Inglaterra, Jonny Grant estava se preparando para passar uma semana em Orlando, Flórida, para que seu filho de 4 anos pudesse conhecer o Walt Disney World.
Outros, como Nick Vermeyen, um homem de 32 anos que mora na Bélgica e voa para Los Angeles no sábado para ficar com o namorado, planejam ficar fora enquanto as regras de viagem permitirem - “89 dias”, disse Vermeyen.
“Não nos vemos há dois anos”, disse ele, “então pensamos: Ação de Graças, Natal, Véspera de Ano Novo. Por que não?"
O governo Biden está suspendendo a proibição semanas antes da temporada de férias, e os europeus agora podem entrar nos Estados Unidos com prova de vacinação e um teste de covid negativo com não mais de 72 horas.
Mas a abertura ocorre no momento em que a Europa enfrenta um nível quase recorde de infecções por coronavírus. E embora 65% dos habitantes da UE tenham sido vacinados, há grandes discrepâncias dentro do bloco, com a maioria dos países do Leste Europeu ficando para trás.
Isso deixou muitos europeus preocupados com a possibilidade de as restrições a viagens serem reimpostas em breve, embora Alden, do Conselho de Relações Exteriores, tenha duvidado que o governo Biden reverta o curso nas próximas semanas, citando pressão de companhias aéreas e parceiros estrangeiros.
Muitos disseram que aproveitaram a oportunidade para voar o mais rápido que puderam, não importando o custo.
“Espero que não seja mais um ano e meio de novo”, disse Luise Greve, uma estudante de 23 anos da Alemanha que ia nesta segunda-feira a Kansas City para visitar o namorado.
Claudio Tomassi, um empresário italiano de 46 anos que mora na Pensilvânia, voltou para sua cidade natal perto de Roma em setembro porque a saúde de sua mãe estava piorando. Ela melhorou logo após seu retorno, disse Tomassi, mas ele ficou preso na Itália, longe de sua esposa e dois filhos, porque não é um cidadão americano.
Quando o governo Biden anunciou em setembro que a proibição de viagens seria suspensa, a demanda por passagens aéreas com destino aos Estados Unidos aumentou, disse Tomassi, com voos só de ida disparando para cerca de 1.400 euros, muito mais do que preço normal. Mas ele comprou uma passagem para terça-feira de qualquer maneira, temendo que, com o vírus novamente se espalhando pela Europa, as regras mudassem mais uma vez. “Fiquei com medo”, disse Tomassi. “Eles podem decidir não permitir voos, e o que eu faço?”