Floresta amazônica se torna 'refém' dos guerrilheiros em negociações na Colômbia


Dissidentes das Farc ordenam ou impedem extração de madeira de acordo com a pressão que quer exercer sobre o governo colombiano nas negociações de paz

Por David Salazar

Os dissidentes da extinta guerrilha Farc que não renunciaram às armas na Colômbia tem um novo “refém”: a floresta amazônica. Ao ordenar ou impedir a extração da madeira, marcam o ritmo do desmatamento para pressionar o governo ambientalista nas negociações de país.

Cada árvore derrubada na enorme floresta do sul do país tem a aprovação do denominado Estado-Maior Central (EMC), uma organização ilegal dos 3,5 mil membros que se separaram da histórica guerrilha.

Alguns deles rejeitaram o acordo de paz de 2016 que desarmou o grosso daquela que foi a guerrilha mais poderosa do continente. A maioria é composta por novos recrutas que seguem controlando a selva, mas, desta vez, eles a usam como ferramenta de chantagem.

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Guerrilheiro patrulha plantação de coca em Micay Canyon, área montanhosa no departamento de Cauca, Colômbia, em imagem de março. Guerrilheiros passaram a usar floresta amazônica como arma para suas negociações com o governo Petro Foto: Raul Arboleda/AFP

Assim denunciou a ministra do Meio Ambiente, Susana Muhamad, quando alertou sobre um “pico histórico” de desmatamento justo quando as negociações de paz entre o Executivo e o EMC passam por seu pior momento desde que entraram em ação no final de 2023.

No último trimestre desse ano e nos primeiros três meses de 2024, a perda de floresta aumentou 41% e 40%, respectivamente, em comparação ao mesmo período do ano anterior, segundo Muhamad.

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A ministra culpou o fenômeno climático do El Niño e a maior dissidência das Farc de estimular essa atividade “como uma forma de pressão armada” contra o presidente Gustavo Petro. “Está se colocando a natureza no meio do conflito e isso é uma violação ao direito humanitário onde claramente” a “destruição do meio ambiente é proibida”, reclamou.

O aumento do desmatamento é um golpe para Petro, que, no ano passado, celebrou o número mais baixo em uma década, quando a Colômbia perdeu 123.517 hectares de floresta em 2022.

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Em 16 de abril, o governo assegurou que o EMC se dividiu em duas facções e está negociando apenas com a metade de seus combatentes.

De “defensores” a predadores

Sob um forte discurso ambiental, as Farc puniam a extração de madeira e impediam a chegada de pecuaristas aos seus territórios antes da desmobilização.

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Na verdade, faziam isso para “montar acampamentos” e “para mover tropas sem serem detectados pela inteligência aérea”, explica à AFP Bram Ebus, pesquisador do centro de estudos Crisis Group.

O Parque Nacional de Chiribiquete (sudeste), declarado patrimônio da humanidade pela Unesco (2018), deve parte de sua conservação a décadas de domínio das Farc no Amazonas.

A guerra manteve em segredo seus tepuis, as enormes rochas com centenas de metros de altura e comprimento que abrigam mais de 75 mil pinturas rupestres milenares.

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Imagem de março mostra guerrilheiro dissidente das Farc próximo a uma plantação de coca em Micay Canyon, no departamento de Cauca Foto: Raul Arboleda/AFP

Após o acordo de paz, o EMC iniciou a reconquista da Amazônia, onde agora eles são o Estado de facto.

Em 2022, quando os guerrilheiros viram que o então candidato Petro era “uma opção real de poder”, foi quando proibiram a extração, explica Juanita Vélez, pesquisadora da Fundação Conflict Responses.

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No ano passado, a ONG teve acesso a panfletos e áudios nos quais o líder Jorge Suárez Briceño do EMC ordenava às populações que deixassem a floresta intacta. Mas com o decorrer do tempo começaram a usar os “momentos difíceis da mesa” de negociações “para mudar suas regras” e ordenar ou permitir a extração.

“Entendem o tema ambiental como uma forma de criar um discurso político que justifique” a “negociação com o Estado”, destaca Vélez.

Imagem ante a COP

A fissura interna do EMC levou o governo a reconhecer ‘Andrey’, no comando da frente Jorge Suárez Briceño, entre outros, como o principal interlocutor nas negociações. Mas outra de suas estruturas que opera na Amazônia foi colocada sob o comando de “Iván Mordisco”, um poderoso rebelde que foi afastado da mesa de negociações. Ainda não se sabe se a divisão terá efeito sobre o desmatamento.

De acordo com Bram Ebus, o EMC obtém receitas milionárias por permitir que terceiros desmatem a floresta.

Desmatar lhes “gera dinheiro (...) sabemos que eles estão cobrando impostos” aos desmatadores e aos pecuaristas “pela quantidade extraída”, explica. Também cobram uma porcentagem “sobre a produção de coca”, a planta base da cocaína, e os “mineiros ilegais que estão avançando na Amazônia”, acrescenta.

Imagem mostra símbolo da guerrilha Carlos Patino, uma dissidência das Farc que atua na região montanhosa de Micay Canyon. Governo Petro tem dificuldade nas negociações de paz com guerrilheiros Foto: Raul Arboleda/AFP

Se a “tendência de aumento” de desmatamento se mantiver, como prevê a ministra Muhamad, a Colômbia sediará a COP-16 sobre biodiversidade em outubro com o chamado “Pulmão do Mundo” sob sérios problemas.

Para o presidente Petro, a conferência internacional é uma vitrine para mostrar ao mundo a “riqueza natural da Colômbia, que realmente é grande parte da Amazônia”, segundo Ebus.

Mas duas de suas principais bandeiras, as negociações de paz e a defesa da natureza, estarão a meio mastro diante dos olhos dos países-membros da ONU.

Pode ficar evidência que a floresta “está sob controle do grupo guerrilheira”, alerta o especialista.

Os dissidentes da extinta guerrilha Farc que não renunciaram às armas na Colômbia tem um novo “refém”: a floresta amazônica. Ao ordenar ou impedir a extração da madeira, marcam o ritmo do desmatamento para pressionar o governo ambientalista nas negociações de país.

Cada árvore derrubada na enorme floresta do sul do país tem a aprovação do denominado Estado-Maior Central (EMC), uma organização ilegal dos 3,5 mil membros que se separaram da histórica guerrilha.

Alguns deles rejeitaram o acordo de paz de 2016 que desarmou o grosso daquela que foi a guerrilha mais poderosa do continente. A maioria é composta por novos recrutas que seguem controlando a selva, mas, desta vez, eles a usam como ferramenta de chantagem.

Guerrilheiro patrulha plantação de coca em Micay Canyon, área montanhosa no departamento de Cauca, Colômbia, em imagem de março. Guerrilheiros passaram a usar floresta amazônica como arma para suas negociações com o governo Petro Foto: Raul Arboleda/AFP

Assim denunciou a ministra do Meio Ambiente, Susana Muhamad, quando alertou sobre um “pico histórico” de desmatamento justo quando as negociações de paz entre o Executivo e o EMC passam por seu pior momento desde que entraram em ação no final de 2023.

No último trimestre desse ano e nos primeiros três meses de 2024, a perda de floresta aumentou 41% e 40%, respectivamente, em comparação ao mesmo período do ano anterior, segundo Muhamad.

A ministra culpou o fenômeno climático do El Niño e a maior dissidência das Farc de estimular essa atividade “como uma forma de pressão armada” contra o presidente Gustavo Petro. “Está se colocando a natureza no meio do conflito e isso é uma violação ao direito humanitário onde claramente” a “destruição do meio ambiente é proibida”, reclamou.

O aumento do desmatamento é um golpe para Petro, que, no ano passado, celebrou o número mais baixo em uma década, quando a Colômbia perdeu 123.517 hectares de floresta em 2022.

Em 16 de abril, o governo assegurou que o EMC se dividiu em duas facções e está negociando apenas com a metade de seus combatentes.

De “defensores” a predadores

Sob um forte discurso ambiental, as Farc puniam a extração de madeira e impediam a chegada de pecuaristas aos seus territórios antes da desmobilização.

Na verdade, faziam isso para “montar acampamentos” e “para mover tropas sem serem detectados pela inteligência aérea”, explica à AFP Bram Ebus, pesquisador do centro de estudos Crisis Group.

O Parque Nacional de Chiribiquete (sudeste), declarado patrimônio da humanidade pela Unesco (2018), deve parte de sua conservação a décadas de domínio das Farc no Amazonas.

A guerra manteve em segredo seus tepuis, as enormes rochas com centenas de metros de altura e comprimento que abrigam mais de 75 mil pinturas rupestres milenares.

Imagem de março mostra guerrilheiro dissidente das Farc próximo a uma plantação de coca em Micay Canyon, no departamento de Cauca Foto: Raul Arboleda/AFP

Após o acordo de paz, o EMC iniciou a reconquista da Amazônia, onde agora eles são o Estado de facto.

Em 2022, quando os guerrilheiros viram que o então candidato Petro era “uma opção real de poder”, foi quando proibiram a extração, explica Juanita Vélez, pesquisadora da Fundação Conflict Responses.

No ano passado, a ONG teve acesso a panfletos e áudios nos quais o líder Jorge Suárez Briceño do EMC ordenava às populações que deixassem a floresta intacta. Mas com o decorrer do tempo começaram a usar os “momentos difíceis da mesa” de negociações “para mudar suas regras” e ordenar ou permitir a extração.

“Entendem o tema ambiental como uma forma de criar um discurso político que justifique” a “negociação com o Estado”, destaca Vélez.

Imagem ante a COP

A fissura interna do EMC levou o governo a reconhecer ‘Andrey’, no comando da frente Jorge Suárez Briceño, entre outros, como o principal interlocutor nas negociações. Mas outra de suas estruturas que opera na Amazônia foi colocada sob o comando de “Iván Mordisco”, um poderoso rebelde que foi afastado da mesa de negociações. Ainda não se sabe se a divisão terá efeito sobre o desmatamento.

De acordo com Bram Ebus, o EMC obtém receitas milionárias por permitir que terceiros desmatem a floresta.

Desmatar lhes “gera dinheiro (...) sabemos que eles estão cobrando impostos” aos desmatadores e aos pecuaristas “pela quantidade extraída”, explica. Também cobram uma porcentagem “sobre a produção de coca”, a planta base da cocaína, e os “mineiros ilegais que estão avançando na Amazônia”, acrescenta.

Imagem mostra símbolo da guerrilha Carlos Patino, uma dissidência das Farc que atua na região montanhosa de Micay Canyon. Governo Petro tem dificuldade nas negociações de paz com guerrilheiros Foto: Raul Arboleda/AFP

Se a “tendência de aumento” de desmatamento se mantiver, como prevê a ministra Muhamad, a Colômbia sediará a COP-16 sobre biodiversidade em outubro com o chamado “Pulmão do Mundo” sob sérios problemas.

Para o presidente Petro, a conferência internacional é uma vitrine para mostrar ao mundo a “riqueza natural da Colômbia, que realmente é grande parte da Amazônia”, segundo Ebus.

Mas duas de suas principais bandeiras, as negociações de paz e a defesa da natureza, estarão a meio mastro diante dos olhos dos países-membros da ONU.

Pode ficar evidência que a floresta “está sob controle do grupo guerrilheira”, alerta o especialista.

Os dissidentes da extinta guerrilha Farc que não renunciaram às armas na Colômbia tem um novo “refém”: a floresta amazônica. Ao ordenar ou impedir a extração da madeira, marcam o ritmo do desmatamento para pressionar o governo ambientalista nas negociações de país.

Cada árvore derrubada na enorme floresta do sul do país tem a aprovação do denominado Estado-Maior Central (EMC), uma organização ilegal dos 3,5 mil membros que se separaram da histórica guerrilha.

Alguns deles rejeitaram o acordo de paz de 2016 que desarmou o grosso daquela que foi a guerrilha mais poderosa do continente. A maioria é composta por novos recrutas que seguem controlando a selva, mas, desta vez, eles a usam como ferramenta de chantagem.

Guerrilheiro patrulha plantação de coca em Micay Canyon, área montanhosa no departamento de Cauca, Colômbia, em imagem de março. Guerrilheiros passaram a usar floresta amazônica como arma para suas negociações com o governo Petro Foto: Raul Arboleda/AFP

Assim denunciou a ministra do Meio Ambiente, Susana Muhamad, quando alertou sobre um “pico histórico” de desmatamento justo quando as negociações de paz entre o Executivo e o EMC passam por seu pior momento desde que entraram em ação no final de 2023.

No último trimestre desse ano e nos primeiros três meses de 2024, a perda de floresta aumentou 41% e 40%, respectivamente, em comparação ao mesmo período do ano anterior, segundo Muhamad.

A ministra culpou o fenômeno climático do El Niño e a maior dissidência das Farc de estimular essa atividade “como uma forma de pressão armada” contra o presidente Gustavo Petro. “Está se colocando a natureza no meio do conflito e isso é uma violação ao direito humanitário onde claramente” a “destruição do meio ambiente é proibida”, reclamou.

O aumento do desmatamento é um golpe para Petro, que, no ano passado, celebrou o número mais baixo em uma década, quando a Colômbia perdeu 123.517 hectares de floresta em 2022.

Em 16 de abril, o governo assegurou que o EMC se dividiu em duas facções e está negociando apenas com a metade de seus combatentes.

De “defensores” a predadores

Sob um forte discurso ambiental, as Farc puniam a extração de madeira e impediam a chegada de pecuaristas aos seus territórios antes da desmobilização.

Na verdade, faziam isso para “montar acampamentos” e “para mover tropas sem serem detectados pela inteligência aérea”, explica à AFP Bram Ebus, pesquisador do centro de estudos Crisis Group.

O Parque Nacional de Chiribiquete (sudeste), declarado patrimônio da humanidade pela Unesco (2018), deve parte de sua conservação a décadas de domínio das Farc no Amazonas.

A guerra manteve em segredo seus tepuis, as enormes rochas com centenas de metros de altura e comprimento que abrigam mais de 75 mil pinturas rupestres milenares.

Imagem de março mostra guerrilheiro dissidente das Farc próximo a uma plantação de coca em Micay Canyon, no departamento de Cauca Foto: Raul Arboleda/AFP

Após o acordo de paz, o EMC iniciou a reconquista da Amazônia, onde agora eles são o Estado de facto.

Em 2022, quando os guerrilheiros viram que o então candidato Petro era “uma opção real de poder”, foi quando proibiram a extração, explica Juanita Vélez, pesquisadora da Fundação Conflict Responses.

No ano passado, a ONG teve acesso a panfletos e áudios nos quais o líder Jorge Suárez Briceño do EMC ordenava às populações que deixassem a floresta intacta. Mas com o decorrer do tempo começaram a usar os “momentos difíceis da mesa” de negociações “para mudar suas regras” e ordenar ou permitir a extração.

“Entendem o tema ambiental como uma forma de criar um discurso político que justifique” a “negociação com o Estado”, destaca Vélez.

Imagem ante a COP

A fissura interna do EMC levou o governo a reconhecer ‘Andrey’, no comando da frente Jorge Suárez Briceño, entre outros, como o principal interlocutor nas negociações. Mas outra de suas estruturas que opera na Amazônia foi colocada sob o comando de “Iván Mordisco”, um poderoso rebelde que foi afastado da mesa de negociações. Ainda não se sabe se a divisão terá efeito sobre o desmatamento.

De acordo com Bram Ebus, o EMC obtém receitas milionárias por permitir que terceiros desmatem a floresta.

Desmatar lhes “gera dinheiro (...) sabemos que eles estão cobrando impostos” aos desmatadores e aos pecuaristas “pela quantidade extraída”, explica. Também cobram uma porcentagem “sobre a produção de coca”, a planta base da cocaína, e os “mineiros ilegais que estão avançando na Amazônia”, acrescenta.

Imagem mostra símbolo da guerrilha Carlos Patino, uma dissidência das Farc que atua na região montanhosa de Micay Canyon. Governo Petro tem dificuldade nas negociações de paz com guerrilheiros Foto: Raul Arboleda/AFP

Se a “tendência de aumento” de desmatamento se mantiver, como prevê a ministra Muhamad, a Colômbia sediará a COP-16 sobre biodiversidade em outubro com o chamado “Pulmão do Mundo” sob sérios problemas.

Para o presidente Petro, a conferência internacional é uma vitrine para mostrar ao mundo a “riqueza natural da Colômbia, que realmente é grande parte da Amazônia”, segundo Ebus.

Mas duas de suas principais bandeiras, as negociações de paz e a defesa da natureza, estarão a meio mastro diante dos olhos dos países-membros da ONU.

Pode ficar evidência que a floresta “está sob controle do grupo guerrilheira”, alerta o especialista.

Os dissidentes da extinta guerrilha Farc que não renunciaram às armas na Colômbia tem um novo “refém”: a floresta amazônica. Ao ordenar ou impedir a extração da madeira, marcam o ritmo do desmatamento para pressionar o governo ambientalista nas negociações de país.

Cada árvore derrubada na enorme floresta do sul do país tem a aprovação do denominado Estado-Maior Central (EMC), uma organização ilegal dos 3,5 mil membros que se separaram da histórica guerrilha.

Alguns deles rejeitaram o acordo de paz de 2016 que desarmou o grosso daquela que foi a guerrilha mais poderosa do continente. A maioria é composta por novos recrutas que seguem controlando a selva, mas, desta vez, eles a usam como ferramenta de chantagem.

Guerrilheiro patrulha plantação de coca em Micay Canyon, área montanhosa no departamento de Cauca, Colômbia, em imagem de março. Guerrilheiros passaram a usar floresta amazônica como arma para suas negociações com o governo Petro Foto: Raul Arboleda/AFP

Assim denunciou a ministra do Meio Ambiente, Susana Muhamad, quando alertou sobre um “pico histórico” de desmatamento justo quando as negociações de paz entre o Executivo e o EMC passam por seu pior momento desde que entraram em ação no final de 2023.

No último trimestre desse ano e nos primeiros três meses de 2024, a perda de floresta aumentou 41% e 40%, respectivamente, em comparação ao mesmo período do ano anterior, segundo Muhamad.

A ministra culpou o fenômeno climático do El Niño e a maior dissidência das Farc de estimular essa atividade “como uma forma de pressão armada” contra o presidente Gustavo Petro. “Está se colocando a natureza no meio do conflito e isso é uma violação ao direito humanitário onde claramente” a “destruição do meio ambiente é proibida”, reclamou.

O aumento do desmatamento é um golpe para Petro, que, no ano passado, celebrou o número mais baixo em uma década, quando a Colômbia perdeu 123.517 hectares de floresta em 2022.

Em 16 de abril, o governo assegurou que o EMC se dividiu em duas facções e está negociando apenas com a metade de seus combatentes.

De “defensores” a predadores

Sob um forte discurso ambiental, as Farc puniam a extração de madeira e impediam a chegada de pecuaristas aos seus territórios antes da desmobilização.

Na verdade, faziam isso para “montar acampamentos” e “para mover tropas sem serem detectados pela inteligência aérea”, explica à AFP Bram Ebus, pesquisador do centro de estudos Crisis Group.

O Parque Nacional de Chiribiquete (sudeste), declarado patrimônio da humanidade pela Unesco (2018), deve parte de sua conservação a décadas de domínio das Farc no Amazonas.

A guerra manteve em segredo seus tepuis, as enormes rochas com centenas de metros de altura e comprimento que abrigam mais de 75 mil pinturas rupestres milenares.

Imagem de março mostra guerrilheiro dissidente das Farc próximo a uma plantação de coca em Micay Canyon, no departamento de Cauca Foto: Raul Arboleda/AFP

Após o acordo de paz, o EMC iniciou a reconquista da Amazônia, onde agora eles são o Estado de facto.

Em 2022, quando os guerrilheiros viram que o então candidato Petro era “uma opção real de poder”, foi quando proibiram a extração, explica Juanita Vélez, pesquisadora da Fundação Conflict Responses.

No ano passado, a ONG teve acesso a panfletos e áudios nos quais o líder Jorge Suárez Briceño do EMC ordenava às populações que deixassem a floresta intacta. Mas com o decorrer do tempo começaram a usar os “momentos difíceis da mesa” de negociações “para mudar suas regras” e ordenar ou permitir a extração.

“Entendem o tema ambiental como uma forma de criar um discurso político que justifique” a “negociação com o Estado”, destaca Vélez.

Imagem ante a COP

A fissura interna do EMC levou o governo a reconhecer ‘Andrey’, no comando da frente Jorge Suárez Briceño, entre outros, como o principal interlocutor nas negociações. Mas outra de suas estruturas que opera na Amazônia foi colocada sob o comando de “Iván Mordisco”, um poderoso rebelde que foi afastado da mesa de negociações. Ainda não se sabe se a divisão terá efeito sobre o desmatamento.

De acordo com Bram Ebus, o EMC obtém receitas milionárias por permitir que terceiros desmatem a floresta.

Desmatar lhes “gera dinheiro (...) sabemos que eles estão cobrando impostos” aos desmatadores e aos pecuaristas “pela quantidade extraída”, explica. Também cobram uma porcentagem “sobre a produção de coca”, a planta base da cocaína, e os “mineiros ilegais que estão avançando na Amazônia”, acrescenta.

Imagem mostra símbolo da guerrilha Carlos Patino, uma dissidência das Farc que atua na região montanhosa de Micay Canyon. Governo Petro tem dificuldade nas negociações de paz com guerrilheiros Foto: Raul Arboleda/AFP

Se a “tendência de aumento” de desmatamento se mantiver, como prevê a ministra Muhamad, a Colômbia sediará a COP-16 sobre biodiversidade em outubro com o chamado “Pulmão do Mundo” sob sérios problemas.

Para o presidente Petro, a conferência internacional é uma vitrine para mostrar ao mundo a “riqueza natural da Colômbia, que realmente é grande parte da Amazônia”, segundo Ebus.

Mas duas de suas principais bandeiras, as negociações de paz e a defesa da natureza, estarão a meio mastro diante dos olhos dos países-membros da ONU.

Pode ficar evidência que a floresta “está sob controle do grupo guerrilheira”, alerta o especialista.

Os dissidentes da extinta guerrilha Farc que não renunciaram às armas na Colômbia tem um novo “refém”: a floresta amazônica. Ao ordenar ou impedir a extração da madeira, marcam o ritmo do desmatamento para pressionar o governo ambientalista nas negociações de país.

Cada árvore derrubada na enorme floresta do sul do país tem a aprovação do denominado Estado-Maior Central (EMC), uma organização ilegal dos 3,5 mil membros que se separaram da histórica guerrilha.

Alguns deles rejeitaram o acordo de paz de 2016 que desarmou o grosso daquela que foi a guerrilha mais poderosa do continente. A maioria é composta por novos recrutas que seguem controlando a selva, mas, desta vez, eles a usam como ferramenta de chantagem.

Guerrilheiro patrulha plantação de coca em Micay Canyon, área montanhosa no departamento de Cauca, Colômbia, em imagem de março. Guerrilheiros passaram a usar floresta amazônica como arma para suas negociações com o governo Petro Foto: Raul Arboleda/AFP

Assim denunciou a ministra do Meio Ambiente, Susana Muhamad, quando alertou sobre um “pico histórico” de desmatamento justo quando as negociações de paz entre o Executivo e o EMC passam por seu pior momento desde que entraram em ação no final de 2023.

No último trimestre desse ano e nos primeiros três meses de 2024, a perda de floresta aumentou 41% e 40%, respectivamente, em comparação ao mesmo período do ano anterior, segundo Muhamad.

A ministra culpou o fenômeno climático do El Niño e a maior dissidência das Farc de estimular essa atividade “como uma forma de pressão armada” contra o presidente Gustavo Petro. “Está se colocando a natureza no meio do conflito e isso é uma violação ao direito humanitário onde claramente” a “destruição do meio ambiente é proibida”, reclamou.

O aumento do desmatamento é um golpe para Petro, que, no ano passado, celebrou o número mais baixo em uma década, quando a Colômbia perdeu 123.517 hectares de floresta em 2022.

Em 16 de abril, o governo assegurou que o EMC se dividiu em duas facções e está negociando apenas com a metade de seus combatentes.

De “defensores” a predadores

Sob um forte discurso ambiental, as Farc puniam a extração de madeira e impediam a chegada de pecuaristas aos seus territórios antes da desmobilização.

Na verdade, faziam isso para “montar acampamentos” e “para mover tropas sem serem detectados pela inteligência aérea”, explica à AFP Bram Ebus, pesquisador do centro de estudos Crisis Group.

O Parque Nacional de Chiribiquete (sudeste), declarado patrimônio da humanidade pela Unesco (2018), deve parte de sua conservação a décadas de domínio das Farc no Amazonas.

A guerra manteve em segredo seus tepuis, as enormes rochas com centenas de metros de altura e comprimento que abrigam mais de 75 mil pinturas rupestres milenares.

Imagem de março mostra guerrilheiro dissidente das Farc próximo a uma plantação de coca em Micay Canyon, no departamento de Cauca Foto: Raul Arboleda/AFP

Após o acordo de paz, o EMC iniciou a reconquista da Amazônia, onde agora eles são o Estado de facto.

Em 2022, quando os guerrilheiros viram que o então candidato Petro era “uma opção real de poder”, foi quando proibiram a extração, explica Juanita Vélez, pesquisadora da Fundação Conflict Responses.

No ano passado, a ONG teve acesso a panfletos e áudios nos quais o líder Jorge Suárez Briceño do EMC ordenava às populações que deixassem a floresta intacta. Mas com o decorrer do tempo começaram a usar os “momentos difíceis da mesa” de negociações “para mudar suas regras” e ordenar ou permitir a extração.

“Entendem o tema ambiental como uma forma de criar um discurso político que justifique” a “negociação com o Estado”, destaca Vélez.

Imagem ante a COP

A fissura interna do EMC levou o governo a reconhecer ‘Andrey’, no comando da frente Jorge Suárez Briceño, entre outros, como o principal interlocutor nas negociações. Mas outra de suas estruturas que opera na Amazônia foi colocada sob o comando de “Iván Mordisco”, um poderoso rebelde que foi afastado da mesa de negociações. Ainda não se sabe se a divisão terá efeito sobre o desmatamento.

De acordo com Bram Ebus, o EMC obtém receitas milionárias por permitir que terceiros desmatem a floresta.

Desmatar lhes “gera dinheiro (...) sabemos que eles estão cobrando impostos” aos desmatadores e aos pecuaristas “pela quantidade extraída”, explica. Também cobram uma porcentagem “sobre a produção de coca”, a planta base da cocaína, e os “mineiros ilegais que estão avançando na Amazônia”, acrescenta.

Imagem mostra símbolo da guerrilha Carlos Patino, uma dissidência das Farc que atua na região montanhosa de Micay Canyon. Governo Petro tem dificuldade nas negociações de paz com guerrilheiros Foto: Raul Arboleda/AFP

Se a “tendência de aumento” de desmatamento se mantiver, como prevê a ministra Muhamad, a Colômbia sediará a COP-16 sobre biodiversidade em outubro com o chamado “Pulmão do Mundo” sob sérios problemas.

Para o presidente Petro, a conferência internacional é uma vitrine para mostrar ao mundo a “riqueza natural da Colômbia, que realmente é grande parte da Amazônia”, segundo Ebus.

Mas duas de suas principais bandeiras, as negociações de paz e a defesa da natureza, estarão a meio mastro diante dos olhos dos países-membros da ONU.

Pode ficar evidência que a floresta “está sob controle do grupo guerrilheira”, alerta o especialista.

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