ONU diz que epidemia de fome é iminente em Gaza e agências humanitárias cobram Israel por mais ajuda


OMS prevê que o crescimento de morte por doenças e fome nos próximos meses possa eclipsar o número de pessoas mortas na guerra até agora — mais de 24 mil

Por Claire Parker
Atualização:

CAIRO — Descrevendo a situação humanitária na Faixa de Gaza com termos cada vez mais sombrios, agências de ajuda humanitária estão implorando a Israel para facilitar o difícil e frequentemente perigoso processo de entrega de suprimentos para civis palestinos desesperados. Segundo a ONU, uma epidemia de fome é iminente em Gaza, já que 93% da população enfrenta níveis de fome críticos. Para agravar o cenário, doenças relacionadas à desnutrição e à falta de higiene estão se espalhando rapidamente.

Israel culpa a ONU e o grupo terrorista Hamas pela crise. O governo do país diz que a inspeção é necessária para evitar a entrada de armas e o contrabando de armas para o grupo terrorista e está fazendo tudo que pode para amenizar o sofrimento dos civis.

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Agências humanitárias disseram que os principais fatores que dificultam a entrega de assistência para salvar vidas dos moradores de Gaza estão quase totalmente sob o controle de Israel — o processo de inspeção israelense é demorado e ineficiente; não há caminhões suficientes ou combustível em Gaza para distribuir a ajuda; mecanismos para proteger trabalhadores humanitários não são confiáveis; e os bens comerciais apenas começaram a chegar lá.

Palestinos esperam para receber um saco de farinha na Faixa de Gaza. O Programa Mundial Alimentos estima que 93% da população enfrenta níveis de fome críticos.  Foto: Loay Ayyoub/The Washington Post

Grandes áreas de Gaza permanecem fora dos limites dos trabalhadores humanitários. Frequentes apagões complicam o trabalho deles. E a guerra permanece acontecendo.

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“A situação humanitária em Gaza está além das palavras. Nenhum lugar e ninguém está seguro”, declarou Antonio Guterres, o secretário-geral da ONU, a jornalistas na segunda-feira, 15. “O alívio que salva vidas não está alcançando as pessoas que suportaram meses de ataques implacáveis, nem perto da escala que é necessária.”

O que diz Israel?

O porta-voz do governo Eylon Levy disse na semana passada que Israel havia facilitado a entrega de “mais de 130 mil toneladas de ajuda humanitária”. “Israel tem capacidade excedente de inspecionar e processar caminhões”, acrescentou. “Não há atrasos nem limitações da nossa parte.”

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Oficiais israelenses também acusaram a ONU de fechar os olhos para o desvio em grande escala de ajuda por parte do Hamas. Funcionários da ONU negaram as alegações.

Um oficial sênior dos Estados Unidos, falando sob condição de anonimato por discutir questões sensíveis, disse ao Post: “o governo israelense não chamou a atenção do governo dos EUA para qualquer evidência específica de roubo pelo Hamas ou desvio de assistência fornecida através da ONU e suas agências. Ponto final.”

Como a ajuda entra em Gaza?

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Entre 100 e 200 caminhões, em média, atualmente entram em Gaza todos os dias. Antes da guerra, esse número era cerca de 500, muitos carregando mercadorias comerciais. Depois do ataque do Hamas em 7 de outubro, Israel bloqueou a entrada de caminhões comerciais em Gaza. O fluxo foi retomado em meados de dezembro, mas tem sido “limitado e esporádico”, disse Shiraz Chakera, da Unicef Egito.

A ajuda que vai para Gaza havia inicialmente transitado pela passagem de Rafah, na fronteira com o Egito. Embora os portões sejam operados por oficiais egípcios e palestinos, nada pode entrar sem uma inspeção por oficiais de Israel. Grupos de ajuda descreveram que isso como um processo complexo e demorado.

Após uma triagem inicial no Egito, motoristas de caminhões egípcios levam sua carga por uma “estrada deserta e acidentada” até a passagem de Nitzana, entre Egito e Israel, uma jornada de cerca de duas horas, disse Amir Abdallah, que supervisiona comboios do Crescente Vermelho Egípcio.

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O posto de inspeção é aberto apenas durante o dia e é fechado nas tardes de sexta-feira e sábados. Motoristas esperam em uma longa fila de caminhões pela sua vez para serem inspecionados por oficiais israelenses, que usam cachorros e máquinas de scanner.

Itens incluindo bisturi para o parto de bebês, equipamento de dessalinização de água, geradores, tanques de oxigênio e tendas com barras de metal têm sido rejeitados, de acordo com voluntários, às vezes sem explicação pelas autoridades israelenses. Quando um item em um caminhão é rejeitado, toda a carga do caminhão deve repetir o processo, o que pode levar semanas.

Cargas aprovadas voltam para a passagem de Rafah, onde pode levar dias para serem transferidas para caminhões palestinos, conforme contaram dois motoristas egípcios ao Washington Post.

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Trabalhadores humanitários atribuem o atraso à falta de veículos palestinos — alguns foram danificados pelos ataques de Israel, e não há combustível suficiente para todos, de acordo com Shameza Abdulla, coordenador sênior de emergência da Unicef.

Multidão de residentes desalojados esperam por uma refeição em Rafah. Nove em cada 10 moradores de Gaza estão comendo menos do que uma refeição por dia, disse a agência da ONU.  Foto: Loay Ayyoub/The Washington Post

A Organização Mundial de Saúde prevê que o crescimento de morte por doenças e fome nos próximos meses possa ultrapassar com folga o número de pessoas mortas na guerra até agora — mais de 24 mil, de acordo com as últimas contagens do Ministério da Saúde de Gaza, controlado pelo Hamas, que não difere civis de combatentes no balanço

Promessa de alívio

Em dezembro, sob pressão dos Estados Unidos, Israel abriu uma segunda passagem em Kerem Shalom, onde o processo de inspeção é mais rápido. O Programa Mundial de Alimentos também começou a mandar comboios da Jordânia para Gaza por meio da Cisjordânia e de Israel.

“Isso é uma boa notícia, mas é importante reconhecer que isso não é uma solução permanente”, disse Steve Taravella, porta-voz do PMA. “Nós precisamos da abertura de todas as passagens fronteiriças para entrega mais rápida de ajuda.”

Mais de um milhão de pessoas desalojadas pela ofensiva de Israel estão abarrotadas em uma pequena faixa de terra no sul da fronteira com o Egito, a maioria sem um abrigo adequado. Estima-se que centenas de milhares de pessoas estão presas no norte. Nas duas primeiras semanas de janeiro, agências humanitárias conseguiram cuidar de apenas 7 das 29 missões planejadas no norte; permissões para as restantes foram negadas pelas autoridades de Israel, de acordo com o Escritório da ONU para a Coordenação de Assuntos Humanitários.

Vídeos publicados nas redes sociais nos últimos dias mostram multidões de pessoas na Cidade de Gaza correndo em direção a caminhões de ajuda, e depois fugindo enquanto soam tiros. O Washington Post verificou a localização dos vídeos, mas não conseguiu confirmar quando foram filmados.

“Pessoas estão com fome e bem desesperadas, então temos que escoltar todos os nossos comboios, o que limita quando podemos nos movimentar, quantos (veículos) podemos colocar em um comboio”, disse Scott Anderson, vice-diretor da agência da ONU de Assistência e Trabalho para Refugiados na Palestina (UNRWA).

Autoridades de ajuda humanitária enfatizaram que a guerra por si só permanece como o maior obstáculo para as entregas de ajuda. Ataques israelenses e batalhas de rua tornam impossível para trabalhadores providenciar de forma segura suprimentos para as pessoas que mais precisam, de acordo com eles, aceleraram o colapso do sistema médico de Gaza.

“Estamos ficando sem hospitais”, disse Michel-Olivier Lacharité, chefe de operações de emergência no Médicos Sem Fronteiras. “Se você quer salvar vidas, pacientes precisam ter acesso aos hospitais. Suprimentos precisam chegar nos hospitais.”

Os canais para resolver o conflito com as forças israelenses não são confiáveis, disseram trabalhadores humanitários ao Post, e não podem garantir a segurança das equipes ou de suas famílias. Até quarta-feira, 17, 152 funcionários da ONU foram mortos em Gaza, segundo Guterres, “a maior perda de vidas na história da nossa organização”.

Nesse mês, uma munição israelense matou a filha de 5 anos de idade de um funcionário do Médicos Sem Fronteiras, no que era para ser uma casa segura.

Questionado sobre o incidente, as Forças de Defesa de Israel (FDI) declararam: “Em total contraste com os ataques intencionais do Hamas a homens, mulheres e crianças israelenses, as FDI seguem o direito internacional e tomam precauções viáveis para mitigar os danos civis”.

Alegações de que Israel deliberadamente travou o fluxo de comida e suprimentos básicos em Gaza são centrais na audiência do caso de genocídio da África do Sul contra Israel na Corte Internacional de Justiça (CIJ). Israel negou veementemente o que chama de “afirmações falsas e infundadas”.

Mas face à crescente indignação internacional, a agência israelense responsável pela ligação com organizações de ajuda, conhecida como Coordenação de Atividades Governamentais nos Territórios (COGAT), revelou esta semana um novo site em inglês e árabe detalhando a assistência humanitária e os hospitais de campanha que permitiu entrar em Gaza. A COGAT também intensificou suas críticas às agências da ONU, que Israel responsabiliza pela lentidão na distribuição de ajuda.

“Nós não somos perfeitos ou infalíveis”, disse Anderson, da UNRWA. “Mas as passagens só abrem apenas por algumas horas por dias... E nos dias em que (autoridades de Israel) prometem mandar mais caminhões, eles não mandam.”

Agências da ONU estão pedindo a Israel para que abra a passagem de Erez e outras rotas em Gaza e acelere as inspeções. Mas se a guerra continuar, a ajuda humanitária sozinha não será suficiente para evitar a fome, alertam autoridades. “Acima de tudo”, disse Lucia Elmi, uma representante especial da Unicef, “o que é realmente necessário é um cessar-fogo.”

CAIRO — Descrevendo a situação humanitária na Faixa de Gaza com termos cada vez mais sombrios, agências de ajuda humanitária estão implorando a Israel para facilitar o difícil e frequentemente perigoso processo de entrega de suprimentos para civis palestinos desesperados. Segundo a ONU, uma epidemia de fome é iminente em Gaza, já que 93% da população enfrenta níveis de fome críticos. Para agravar o cenário, doenças relacionadas à desnutrição e à falta de higiene estão se espalhando rapidamente.

Israel culpa a ONU e o grupo terrorista Hamas pela crise. O governo do país diz que a inspeção é necessária para evitar a entrada de armas e o contrabando de armas para o grupo terrorista e está fazendo tudo que pode para amenizar o sofrimento dos civis.

Agências humanitárias disseram que os principais fatores que dificultam a entrega de assistência para salvar vidas dos moradores de Gaza estão quase totalmente sob o controle de Israel — o processo de inspeção israelense é demorado e ineficiente; não há caminhões suficientes ou combustível em Gaza para distribuir a ajuda; mecanismos para proteger trabalhadores humanitários não são confiáveis; e os bens comerciais apenas começaram a chegar lá.

Palestinos esperam para receber um saco de farinha na Faixa de Gaza. O Programa Mundial Alimentos estima que 93% da população enfrenta níveis de fome críticos.  Foto: Loay Ayyoub/The Washington Post

Grandes áreas de Gaza permanecem fora dos limites dos trabalhadores humanitários. Frequentes apagões complicam o trabalho deles. E a guerra permanece acontecendo.

“A situação humanitária em Gaza está além das palavras. Nenhum lugar e ninguém está seguro”, declarou Antonio Guterres, o secretário-geral da ONU, a jornalistas na segunda-feira, 15. “O alívio que salva vidas não está alcançando as pessoas que suportaram meses de ataques implacáveis, nem perto da escala que é necessária.”

O que diz Israel?

O porta-voz do governo Eylon Levy disse na semana passada que Israel havia facilitado a entrega de “mais de 130 mil toneladas de ajuda humanitária”. “Israel tem capacidade excedente de inspecionar e processar caminhões”, acrescentou. “Não há atrasos nem limitações da nossa parte.”

Oficiais israelenses também acusaram a ONU de fechar os olhos para o desvio em grande escala de ajuda por parte do Hamas. Funcionários da ONU negaram as alegações.

Um oficial sênior dos Estados Unidos, falando sob condição de anonimato por discutir questões sensíveis, disse ao Post: “o governo israelense não chamou a atenção do governo dos EUA para qualquer evidência específica de roubo pelo Hamas ou desvio de assistência fornecida através da ONU e suas agências. Ponto final.”

Como a ajuda entra em Gaza?

Entre 100 e 200 caminhões, em média, atualmente entram em Gaza todos os dias. Antes da guerra, esse número era cerca de 500, muitos carregando mercadorias comerciais. Depois do ataque do Hamas em 7 de outubro, Israel bloqueou a entrada de caminhões comerciais em Gaza. O fluxo foi retomado em meados de dezembro, mas tem sido “limitado e esporádico”, disse Shiraz Chakera, da Unicef Egito.

A ajuda que vai para Gaza havia inicialmente transitado pela passagem de Rafah, na fronteira com o Egito. Embora os portões sejam operados por oficiais egípcios e palestinos, nada pode entrar sem uma inspeção por oficiais de Israel. Grupos de ajuda descreveram que isso como um processo complexo e demorado.

Após uma triagem inicial no Egito, motoristas de caminhões egípcios levam sua carga por uma “estrada deserta e acidentada” até a passagem de Nitzana, entre Egito e Israel, uma jornada de cerca de duas horas, disse Amir Abdallah, que supervisiona comboios do Crescente Vermelho Egípcio.

O posto de inspeção é aberto apenas durante o dia e é fechado nas tardes de sexta-feira e sábados. Motoristas esperam em uma longa fila de caminhões pela sua vez para serem inspecionados por oficiais israelenses, que usam cachorros e máquinas de scanner.

Itens incluindo bisturi para o parto de bebês, equipamento de dessalinização de água, geradores, tanques de oxigênio e tendas com barras de metal têm sido rejeitados, de acordo com voluntários, às vezes sem explicação pelas autoridades israelenses. Quando um item em um caminhão é rejeitado, toda a carga do caminhão deve repetir o processo, o que pode levar semanas.

Cargas aprovadas voltam para a passagem de Rafah, onde pode levar dias para serem transferidas para caminhões palestinos, conforme contaram dois motoristas egípcios ao Washington Post.

Trabalhadores humanitários atribuem o atraso à falta de veículos palestinos — alguns foram danificados pelos ataques de Israel, e não há combustível suficiente para todos, de acordo com Shameza Abdulla, coordenador sênior de emergência da Unicef.

Multidão de residentes desalojados esperam por uma refeição em Rafah. Nove em cada 10 moradores de Gaza estão comendo menos do que uma refeição por dia, disse a agência da ONU.  Foto: Loay Ayyoub/The Washington Post

A Organização Mundial de Saúde prevê que o crescimento de morte por doenças e fome nos próximos meses possa ultrapassar com folga o número de pessoas mortas na guerra até agora — mais de 24 mil, de acordo com as últimas contagens do Ministério da Saúde de Gaza, controlado pelo Hamas, que não difere civis de combatentes no balanço

Promessa de alívio

Em dezembro, sob pressão dos Estados Unidos, Israel abriu uma segunda passagem em Kerem Shalom, onde o processo de inspeção é mais rápido. O Programa Mundial de Alimentos também começou a mandar comboios da Jordânia para Gaza por meio da Cisjordânia e de Israel.

“Isso é uma boa notícia, mas é importante reconhecer que isso não é uma solução permanente”, disse Steve Taravella, porta-voz do PMA. “Nós precisamos da abertura de todas as passagens fronteiriças para entrega mais rápida de ajuda.”

Mais de um milhão de pessoas desalojadas pela ofensiva de Israel estão abarrotadas em uma pequena faixa de terra no sul da fronteira com o Egito, a maioria sem um abrigo adequado. Estima-se que centenas de milhares de pessoas estão presas no norte. Nas duas primeiras semanas de janeiro, agências humanitárias conseguiram cuidar de apenas 7 das 29 missões planejadas no norte; permissões para as restantes foram negadas pelas autoridades de Israel, de acordo com o Escritório da ONU para a Coordenação de Assuntos Humanitários.

Vídeos publicados nas redes sociais nos últimos dias mostram multidões de pessoas na Cidade de Gaza correndo em direção a caminhões de ajuda, e depois fugindo enquanto soam tiros. O Washington Post verificou a localização dos vídeos, mas não conseguiu confirmar quando foram filmados.

“Pessoas estão com fome e bem desesperadas, então temos que escoltar todos os nossos comboios, o que limita quando podemos nos movimentar, quantos (veículos) podemos colocar em um comboio”, disse Scott Anderson, vice-diretor da agência da ONU de Assistência e Trabalho para Refugiados na Palestina (UNRWA).

Autoridades de ajuda humanitária enfatizaram que a guerra por si só permanece como o maior obstáculo para as entregas de ajuda. Ataques israelenses e batalhas de rua tornam impossível para trabalhadores providenciar de forma segura suprimentos para as pessoas que mais precisam, de acordo com eles, aceleraram o colapso do sistema médico de Gaza.

“Estamos ficando sem hospitais”, disse Michel-Olivier Lacharité, chefe de operações de emergência no Médicos Sem Fronteiras. “Se você quer salvar vidas, pacientes precisam ter acesso aos hospitais. Suprimentos precisam chegar nos hospitais.”

Os canais para resolver o conflito com as forças israelenses não são confiáveis, disseram trabalhadores humanitários ao Post, e não podem garantir a segurança das equipes ou de suas famílias. Até quarta-feira, 17, 152 funcionários da ONU foram mortos em Gaza, segundo Guterres, “a maior perda de vidas na história da nossa organização”.

Nesse mês, uma munição israelense matou a filha de 5 anos de idade de um funcionário do Médicos Sem Fronteiras, no que era para ser uma casa segura.

Questionado sobre o incidente, as Forças de Defesa de Israel (FDI) declararam: “Em total contraste com os ataques intencionais do Hamas a homens, mulheres e crianças israelenses, as FDI seguem o direito internacional e tomam precauções viáveis para mitigar os danos civis”.

Alegações de que Israel deliberadamente travou o fluxo de comida e suprimentos básicos em Gaza são centrais na audiência do caso de genocídio da África do Sul contra Israel na Corte Internacional de Justiça (CIJ). Israel negou veementemente o que chama de “afirmações falsas e infundadas”.

Mas face à crescente indignação internacional, a agência israelense responsável pela ligação com organizações de ajuda, conhecida como Coordenação de Atividades Governamentais nos Territórios (COGAT), revelou esta semana um novo site em inglês e árabe detalhando a assistência humanitária e os hospitais de campanha que permitiu entrar em Gaza. A COGAT também intensificou suas críticas às agências da ONU, que Israel responsabiliza pela lentidão na distribuição de ajuda.

“Nós não somos perfeitos ou infalíveis”, disse Anderson, da UNRWA. “Mas as passagens só abrem apenas por algumas horas por dias... E nos dias em que (autoridades de Israel) prometem mandar mais caminhões, eles não mandam.”

Agências da ONU estão pedindo a Israel para que abra a passagem de Erez e outras rotas em Gaza e acelere as inspeções. Mas se a guerra continuar, a ajuda humanitária sozinha não será suficiente para evitar a fome, alertam autoridades. “Acima de tudo”, disse Lucia Elmi, uma representante especial da Unicef, “o que é realmente necessário é um cessar-fogo.”

CAIRO — Descrevendo a situação humanitária na Faixa de Gaza com termos cada vez mais sombrios, agências de ajuda humanitária estão implorando a Israel para facilitar o difícil e frequentemente perigoso processo de entrega de suprimentos para civis palestinos desesperados. Segundo a ONU, uma epidemia de fome é iminente em Gaza, já que 93% da população enfrenta níveis de fome críticos. Para agravar o cenário, doenças relacionadas à desnutrição e à falta de higiene estão se espalhando rapidamente.

Israel culpa a ONU e o grupo terrorista Hamas pela crise. O governo do país diz que a inspeção é necessária para evitar a entrada de armas e o contrabando de armas para o grupo terrorista e está fazendo tudo que pode para amenizar o sofrimento dos civis.

Agências humanitárias disseram que os principais fatores que dificultam a entrega de assistência para salvar vidas dos moradores de Gaza estão quase totalmente sob o controle de Israel — o processo de inspeção israelense é demorado e ineficiente; não há caminhões suficientes ou combustível em Gaza para distribuir a ajuda; mecanismos para proteger trabalhadores humanitários não são confiáveis; e os bens comerciais apenas começaram a chegar lá.

Palestinos esperam para receber um saco de farinha na Faixa de Gaza. O Programa Mundial Alimentos estima que 93% da população enfrenta níveis de fome críticos.  Foto: Loay Ayyoub/The Washington Post

Grandes áreas de Gaza permanecem fora dos limites dos trabalhadores humanitários. Frequentes apagões complicam o trabalho deles. E a guerra permanece acontecendo.

“A situação humanitária em Gaza está além das palavras. Nenhum lugar e ninguém está seguro”, declarou Antonio Guterres, o secretário-geral da ONU, a jornalistas na segunda-feira, 15. “O alívio que salva vidas não está alcançando as pessoas que suportaram meses de ataques implacáveis, nem perto da escala que é necessária.”

O que diz Israel?

O porta-voz do governo Eylon Levy disse na semana passada que Israel havia facilitado a entrega de “mais de 130 mil toneladas de ajuda humanitária”. “Israel tem capacidade excedente de inspecionar e processar caminhões”, acrescentou. “Não há atrasos nem limitações da nossa parte.”

Oficiais israelenses também acusaram a ONU de fechar os olhos para o desvio em grande escala de ajuda por parte do Hamas. Funcionários da ONU negaram as alegações.

Um oficial sênior dos Estados Unidos, falando sob condição de anonimato por discutir questões sensíveis, disse ao Post: “o governo israelense não chamou a atenção do governo dos EUA para qualquer evidência específica de roubo pelo Hamas ou desvio de assistência fornecida através da ONU e suas agências. Ponto final.”

Como a ajuda entra em Gaza?

Entre 100 e 200 caminhões, em média, atualmente entram em Gaza todos os dias. Antes da guerra, esse número era cerca de 500, muitos carregando mercadorias comerciais. Depois do ataque do Hamas em 7 de outubro, Israel bloqueou a entrada de caminhões comerciais em Gaza. O fluxo foi retomado em meados de dezembro, mas tem sido “limitado e esporádico”, disse Shiraz Chakera, da Unicef Egito.

A ajuda que vai para Gaza havia inicialmente transitado pela passagem de Rafah, na fronteira com o Egito. Embora os portões sejam operados por oficiais egípcios e palestinos, nada pode entrar sem uma inspeção por oficiais de Israel. Grupos de ajuda descreveram que isso como um processo complexo e demorado.

Após uma triagem inicial no Egito, motoristas de caminhões egípcios levam sua carga por uma “estrada deserta e acidentada” até a passagem de Nitzana, entre Egito e Israel, uma jornada de cerca de duas horas, disse Amir Abdallah, que supervisiona comboios do Crescente Vermelho Egípcio.

O posto de inspeção é aberto apenas durante o dia e é fechado nas tardes de sexta-feira e sábados. Motoristas esperam em uma longa fila de caminhões pela sua vez para serem inspecionados por oficiais israelenses, que usam cachorros e máquinas de scanner.

Itens incluindo bisturi para o parto de bebês, equipamento de dessalinização de água, geradores, tanques de oxigênio e tendas com barras de metal têm sido rejeitados, de acordo com voluntários, às vezes sem explicação pelas autoridades israelenses. Quando um item em um caminhão é rejeitado, toda a carga do caminhão deve repetir o processo, o que pode levar semanas.

Cargas aprovadas voltam para a passagem de Rafah, onde pode levar dias para serem transferidas para caminhões palestinos, conforme contaram dois motoristas egípcios ao Washington Post.

Trabalhadores humanitários atribuem o atraso à falta de veículos palestinos — alguns foram danificados pelos ataques de Israel, e não há combustível suficiente para todos, de acordo com Shameza Abdulla, coordenador sênior de emergência da Unicef.

Multidão de residentes desalojados esperam por uma refeição em Rafah. Nove em cada 10 moradores de Gaza estão comendo menos do que uma refeição por dia, disse a agência da ONU.  Foto: Loay Ayyoub/The Washington Post

A Organização Mundial de Saúde prevê que o crescimento de morte por doenças e fome nos próximos meses possa ultrapassar com folga o número de pessoas mortas na guerra até agora — mais de 24 mil, de acordo com as últimas contagens do Ministério da Saúde de Gaza, controlado pelo Hamas, que não difere civis de combatentes no balanço

Promessa de alívio

Em dezembro, sob pressão dos Estados Unidos, Israel abriu uma segunda passagem em Kerem Shalom, onde o processo de inspeção é mais rápido. O Programa Mundial de Alimentos também começou a mandar comboios da Jordânia para Gaza por meio da Cisjordânia e de Israel.

“Isso é uma boa notícia, mas é importante reconhecer que isso não é uma solução permanente”, disse Steve Taravella, porta-voz do PMA. “Nós precisamos da abertura de todas as passagens fronteiriças para entrega mais rápida de ajuda.”

Mais de um milhão de pessoas desalojadas pela ofensiva de Israel estão abarrotadas em uma pequena faixa de terra no sul da fronteira com o Egito, a maioria sem um abrigo adequado. Estima-se que centenas de milhares de pessoas estão presas no norte. Nas duas primeiras semanas de janeiro, agências humanitárias conseguiram cuidar de apenas 7 das 29 missões planejadas no norte; permissões para as restantes foram negadas pelas autoridades de Israel, de acordo com o Escritório da ONU para a Coordenação de Assuntos Humanitários.

Vídeos publicados nas redes sociais nos últimos dias mostram multidões de pessoas na Cidade de Gaza correndo em direção a caminhões de ajuda, e depois fugindo enquanto soam tiros. O Washington Post verificou a localização dos vídeos, mas não conseguiu confirmar quando foram filmados.

“Pessoas estão com fome e bem desesperadas, então temos que escoltar todos os nossos comboios, o que limita quando podemos nos movimentar, quantos (veículos) podemos colocar em um comboio”, disse Scott Anderson, vice-diretor da agência da ONU de Assistência e Trabalho para Refugiados na Palestina (UNRWA).

Autoridades de ajuda humanitária enfatizaram que a guerra por si só permanece como o maior obstáculo para as entregas de ajuda. Ataques israelenses e batalhas de rua tornam impossível para trabalhadores providenciar de forma segura suprimentos para as pessoas que mais precisam, de acordo com eles, aceleraram o colapso do sistema médico de Gaza.

“Estamos ficando sem hospitais”, disse Michel-Olivier Lacharité, chefe de operações de emergência no Médicos Sem Fronteiras. “Se você quer salvar vidas, pacientes precisam ter acesso aos hospitais. Suprimentos precisam chegar nos hospitais.”

Os canais para resolver o conflito com as forças israelenses não são confiáveis, disseram trabalhadores humanitários ao Post, e não podem garantir a segurança das equipes ou de suas famílias. Até quarta-feira, 17, 152 funcionários da ONU foram mortos em Gaza, segundo Guterres, “a maior perda de vidas na história da nossa organização”.

Nesse mês, uma munição israelense matou a filha de 5 anos de idade de um funcionário do Médicos Sem Fronteiras, no que era para ser uma casa segura.

Questionado sobre o incidente, as Forças de Defesa de Israel (FDI) declararam: “Em total contraste com os ataques intencionais do Hamas a homens, mulheres e crianças israelenses, as FDI seguem o direito internacional e tomam precauções viáveis para mitigar os danos civis”.

Alegações de que Israel deliberadamente travou o fluxo de comida e suprimentos básicos em Gaza são centrais na audiência do caso de genocídio da África do Sul contra Israel na Corte Internacional de Justiça (CIJ). Israel negou veementemente o que chama de “afirmações falsas e infundadas”.

Mas face à crescente indignação internacional, a agência israelense responsável pela ligação com organizações de ajuda, conhecida como Coordenação de Atividades Governamentais nos Territórios (COGAT), revelou esta semana um novo site em inglês e árabe detalhando a assistência humanitária e os hospitais de campanha que permitiu entrar em Gaza. A COGAT também intensificou suas críticas às agências da ONU, que Israel responsabiliza pela lentidão na distribuição de ajuda.

“Nós não somos perfeitos ou infalíveis”, disse Anderson, da UNRWA. “Mas as passagens só abrem apenas por algumas horas por dias... E nos dias em que (autoridades de Israel) prometem mandar mais caminhões, eles não mandam.”

Agências da ONU estão pedindo a Israel para que abra a passagem de Erez e outras rotas em Gaza e acelere as inspeções. Mas se a guerra continuar, a ajuda humanitária sozinha não será suficiente para evitar a fome, alertam autoridades. “Acima de tudo”, disse Lucia Elmi, uma representante especial da Unicef, “o que é realmente necessário é um cessar-fogo.”

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