As tropas israelenses que entraram durante a madrugada desta quarta-feira, 15, no hospital Al-Shifa na Cidade de Gaza se retiraram do centro médico e estabeleceram uma base ao redor do complexo, que, segundo o governo de Israel, serve de base para o grupo terrorista Hamas, segundo um jornalista que colabora com a AFP.
Os soldados interrogaram dezenas de civis antes de liberá-los, segundo o repórter que está no hospital, o maior da Faixa de Gaza. De acordo com a ONU, o estabelecimento abriga, atualmente, 2.300 pessoas, entre pacientes, profissionais da saúde e deslocados pela ofensiva israelense no enclave palestino.
Uma fonte do Exército de Israel disse ao NYT que armas foram encontradas durante a operação. Líderes da Autoridade Palestina, que controla a Cisjordânia, agências humanitárias da ONU que trabalham em Gaza e autoridades da Turquia e da Jordânia criticaram a operação, que teve poucos detalhes revelados ao público. Comunicações telefônicas e via internet na região do hospital estão intermitentes.
Após a invasão, o primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, disse na rede social X, o antigo Twitter, que ‘não há nenhum local em Gaza que esteja fora do alcance de Israel’.
Segundo a AFP, os soldados israelenses mandaram todos os homens com mais de 16 anos presentes no complexo se render. Ao menos 200 foram presos.
Revista
Ainda de acordo com a AFP, os soldados israelenses atiraram para o alto de quarto em quarto, em busca de combatentes do Hamas. Mulheres e crianças assustadas e chorando foram revistadas, e outras tiveram de passar por um posto equipado com uma câmera de reconhecimento, segundo o jornalista.
Os detidos foram revistados e tiveram de tirar parte de suas roupas. Tanques israelenses entraram no complexo médico e foram estacionados diante de várias unidades, incluindo o pronto-socorro.
Natalie Thurtle, uma das coordenadoras da organização Médicos Sem Fronteiras nos Territórios Palestinos, explicou à AFP que não será possível retirar os pacientes, “que, em sua maioria, não podem se deslocar, e levando-se em consideração a situação de segurança nos arredores do hospital”.
Crise
Ao menos nove bebês prematuros morreram depois que foram retirados de suas incubadoras. Vinte e sete pacientes que estavam na UTI faleceram, porque não tinham um respirador operacional, segundo o Ministério da Saúde do Hamas.
Uma vala comum foi aberta no complexo, onde já foram enterrados 179 corpos, informou o diretor do hospital, o médico Mohammed Abu Salmiya.
O governo de Israel diz ter doado incubadoras e outros suprimentos ao hospital, mas tem resistido a liberar a entrada de combustível em Gaza, com o temor de que ele seja confiscado pelo Hamas. Apesar disso, uma pequena carga entrou pela fronteira com o Egito nesta manhã.
Ao menos seis bebês já morreram por falta de combustível para gerar a energia elétrica que alimenta as incubadoras, segundo médicos do hospital.
Saiba mais
Não há detalhes sobre o escopo, a escala ou o prazo da operação dentro do hospital, que está incomunicável, segundo o NYT.
O diretor do hospital, Dr. Mohammed Abu Salmiya, disse que os médicos realizaram cirurgias na segunda-feira sem anestesia e oxigênio e que os pacientes morreram. O hospital teve que enterrar corpos em decomposição no local, disseram ele e autoridades de saúde de Gaza, que são comandadas pelo Hamas.
Os militares israelenses disseram que o objetivo do ataque de quarta-feira não era prejudicar os civis e que suas tropas estavam acompanhadas por equipes médicas fluentes em árabe. Os militares afirmaram num comunicado que as “autoridades relevantes em Gaza” foram avisadas na segunda-feira de que “todas as atividades militares dentro do hospital devem cessar dentro de 12 horas” e que não o fizeram./AFP e NYT