As Forças de Defesa de Israel (FDI) avançaram até os arredores do Hospital Al-Shifa, na Cidade de Gaza, nesta segunda-feira, 13, segundo o ministério da Saúde de Gaza, que é controlado pelo Hamas. A equipe do centro médico afirmou que o hospital está com falta de combustível, remédio e alimentos para os pacientes. Bebês prematuros e pacientes em UTI estão em risco, segundo a ONG Médicos Sem Fronteira (MSF). Há combates também nos arredores do hospital de Al-Quds.
Israel pede que os civis que buscam refúgio nos hospitais do norte de Gaza fujam para o sul e acusa o Hamas de ter a sua principal base de operações embaixo do Hospital Al-Shifa e usar seus pacientes como escudo humano. Segundo os israelenses, há também indícios ainda que os terroristas mantenham reféns tomados nos atentados de 7 de outubro em hospitais da região.
O presidente americano, Joe Biden, fez um apelo público para que os hospitais na Faixa de Gaza sejam protegidos. “Espero que haja menos ações intrusivas em hospitais”, disse Biden.
A ONG Médicos Sem Fronteira (MSF) afirmou em sua conta no X, o antigo Twitter que a situação no hospital é dramática e 600 pessoas doentes precisam ser retiradas dali.
Falta de eletricidade
Médicos e autoridades de saúde de Gaza afirmam há dias que pacientes do Hospital Al-Shifa estavam morrendo por falta de eletricidade no hospital, o maior da Faixa de Gaza. Jihan Miqdad, enfermeira-chefe do pronto-socorro de Al-Shifa, afirmou em entrevista por telefone ao New York Times na segunda-feira que os pacientes que estavam recebendo suporte vital na unidade de terapia intensiva estavam morrendo porque havia pouco oxigênio. “A situação aqui é catastrófica em todos os sentidos da palavra”, disse ela.
Além disso, milhares de pessoas estão abrigadas no complexo hospitalar e dezenas de cadáveres estão em decomposição no hospital porque no centro médico não tem condição de remover os corpos, segundo o relato de uma enfermeira que trabalha no centro médico.
O hospital e outros centros médicos na Cidade de Gaza têm tentado manter as operações em meio a operação terrestre de Israel no enclave palestino após o ataque terrorista do Hamas no dia 7 de outubro, que deixou pelo menos 1.200 pessoas mortas no sul de Israel. 240 pessoas que estavam no território israelense foram feitas reféns e estão em Gaza.
O chefe da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, alertou no domingo que o Hospital Al-Shifa “não funciona mais como um hospital” e enfrenta dificuldades para prestar cuidados depois de três dias “sem eletricidade, sem água e com uma internet muito fraca”.
Autoridades israelenses dizem que o Hamas usa hospitais em Gaza, incluindo Al-Shifa, como escudos para esconder o seu centro de operações e os seus túneis subterrâneos. O grupo terrorista nega as acusações.
Bebês em risco
Na segunda-feira, veículos militares israelenses chegaram a um portão no lado leste do Hospital Al-Shifa, onde fica a maternidade, segundo o ministério da Saúde de Gaza, que é controlado pelo grupo terrorista Hamas.
Um porta-voz da pasta da saúde do enclave palestino, Dr. Medhat Abbas, afirmou em entrevista por telefone que mais de 100 corpos estavam no jardim da frente do hospital, outros 50 estavam dentro e cerca de 60 estavam no necrotério. Os cadáveres começam a se decompor, “o que torna o hospital um local perigoso do ponto de vista epidemiológico”, disse.
Os funcionários e cerca de 8.000 pessoas deslocadas abrigadas no hospital sofrem de sede e fome, disse o Dr. Abbas. As equipes médicas estão sobrevivendo com biscoitos e tâmaras, acrescentou.
Nasser Bolbol, chefe da unidade de terapia intensiva neonatal em Al-Shifa, disse em entrevista por telefone que três bebês prematuros morreram depois que o equipamento que fornece oxigênio ao departamento foi desligado. Os funcionários do hospital transferiram os 36 bebés prematuros restantes para o único outro departamento que ainda tinha oxigénio, mas esse departamento não tem as incubadoras de que os bebés necessitam, disse ele, acrescentando: “As suas vidas estão em perigo”.
Bolbol apontou que forças israelenses seguem bombardeando posições próximas ao hospital. “Parece que vivemos um terremoto há mais de 24 horas”, acrescentou.
A equipe médica não conseguiu sair do prédio para remover os cadáveres, temendo que fossem alvejados pelas forças israelenses estacionadas nas proximidades, disse Bolbol. Ele acrescentou que algumas pessoas deslocadas que tentaram deixar o hospital em busca de comida e água foram atacadas e que algumas foram mortas. “Seus corpos ainda estão caídos na rua”, disse ele.
As Forças de Defesa de Israel negam que estejam matando civis palestinos que tentam sair do complexo hospitalar.
Saiba mais
Combates prejudicam retirada de pacientes dos hospitais
Os combates perto do Hospital Al-Quds, no norte de Gaza, na segunda-feira, interromperam um esforço para retirar os pacientes e a equipe médica das instalações, de acordo com a organização humanitária Sociedade do Crescente Vermelho Palestino, que citou “bombardeios e explosões violentas” na área.
Um comboio de veículos que viajava do sul de Gaza não conseguiu chegar ao Hospital Al-Quds por causa dos bombardeamentos, segundo a organização humanitária
Em um comunicado, as forças israelenses afirmaram que um “esquadrão terrorista” posicionado entre os civis na entrada do hospital disparou granadas contra soldados israelenses. As tropas responderam ao ataque do Hamas e mataram 21 terroristas, segundo informações divulgadas por Tel-Aviv. O comunicado afirma que durante a troca de tiros, as forças israelenses viram civis saindo do prédio do hospital. “Outros terroristas que saíram dos edifícios adjacentes esconderam-se entre eles e juntaram-se à tentativa de ataque e este incidente é outro exemplo do abuso contínuo do Hamas contra estruturas civis, incluindo hospitais, para realizar ataques”, afirmou o comunicado.
O Crescente Vermelho Palestino disse no domingo que o Hospital Al-Quds, onde afirmou que mais de 14 mil pessoas deslocadas estavam abrigadas, estava “fora de serviço e não está mais operacional”, em meio a falta de combustível e cortes contínuos de energia e eletricidade. “A cessação dos serviços se deve ao esgotamento do combustível disponível e à falta de energia”, afirmou a organização./The NY Times