O governo francês pediu calma nesta quarta-feira, 28, após uma noite de violência causada pela morte de um jovem em um subúrbio de Paris baleado por um agente após se recusar a parar seu carro em um posto de controle da polícia.
A morte de Nahel, de 17 anos, chocou o país e foi lamentada ou condenada por autoridades, políticos e celebridades, do presidente centrista Emmanuel Macron ao jogador de futebol Kylian Mbappé.
Deputados e membros do Governo respeitaram um minuto de silêncio na Assembleia Nacional (Câmara dos Deputados) em homenagem à adolescente.
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Policiais inicialmente indicaram que um policial abriu fogo quando o motorista do veículo tentou atropelar dois membros da polícia motorizada na terça-feira, 27, no departamento de Nanterre, a oeste de Paris.
Mas um vídeo publicado nas redes sociais, verificado pela AFP, mostra um policial segurando o motorista sob a mira de uma arma e atirando à queima-roupa enquanto ele se afastava. Na gravação, ouve-se alguém exclamar: “Vai levar uma bala na cabeça!”, embora não se saiba quem o diz.
A fuga do jovem terminou a algumas dezenas de metros, quando o carro bateu em um poste. A vítima morreu logo após ser atingida no tórax.
O agente responsável pelo disparo, de 38 anos, encontra-se em prisão preventiva no âmbito de uma investigação por homicídio voluntário cometido por funcionário público, informou o Ministério Público.
“Nada, nada justifica a morte de um jovem”, disse Macron. O porta-voz do governo, Olivier Véran, havia pedido recentemente “calma” em um contexto de “emoção muito forte”.
“As imagens sugerem que o quadro legal de intervenção” da polícia não foi respeitado, afirmou a primeira-ministra Elisabeth Borne.
“Minha França me dói”, tuitou o astro do Paris Saint-Germain (PSG) Kylian Mbappé, que em 2020 já havia reagido ao espancamento por policiais de um produtor musical negro, Michel Zecler, em Paris.
Essas posições foram criticadas por um dos principais sindicatos policiais, o Alliance, e por líderes da extrema direita.
A Alliance considerou “inconcebível que o Presidente da República, como alguns dirigentes políticos, artistas ou outros, zombem da separação de poderes e da independência do poder judicial condenando os nossos colegas antes de ela ser pronunciada”.
A líder e ex-candidata presidencial Marine Le Pen, do Reagrupamento Nacional (RN, extrema-direita), denunciou uma reação “irresponsável” de Macron.
Medo de novos confrontos
Após a morte de Nahel, tumultos noturnos eclodiram na região de Paris e especialmente em Nanterre, com um saldo de 31 detidos, 24 policiais feridos e mais de quarenta carros queimados, segundo o balanço oficial.
“Nossa cidade acordou chocada, danificada, marcada e preocupada com esta onda de violência”, disse o prefeito de Nanterre, Patrick Jarry, pedindo calma e pedindo “justiça para Nahel”.
As autoridades planejam enviar cerca de 2.000 policiais de choque na noite de quarta-feira para evitar mais distúrbios.
A mãe de Nahel convocou na rede social TikTok para uma passeata em homenagem ao filho nesta quinta-feira, às 14h (12h de Brasília), próximo ao local onde ele perdeu a vida. “É um tumulto para o meu filho”, disse ele.
As forças de segurança na França costumam ser alvo de acusações de uso excessivo da força, como durante a caótica final da Liga dos Campeões de 2022 ou os protestos deste ano contra uma reforma previdenciária impopular.
Mas esta nova tragédia relançou o debate recorrente sobre a violência policial, especialmente quando 13 pessoas morreram em circunstâncias semelhantes em 2022. Em meados de junho, um guineense foi morto perto de Angoulême (centro) por um tiroteio de um policial.
Em maio, vários países expressaram sua preocupação às Nações Unidas sobre a violência policial na França, bem como a discriminação racial, durante a revisão periódica que os países da ONU realizam a cada quatro anos./AFP