A violência já era terrível quando granadas explodiram do lado de fora de sua igreja em plena luz do dia, há cerca de cinco anos. Depois, as crianças da cidade foram sequestradas, desaparecendo sem deixar pistas. Em seguida, os corpos dos executados foram despejados nas ruas da cidade.
E, então, chegou o dia, no mês passado, em que homens armados invadiram sua casa, arrastaram o filho de 15 anos dela e dois dos amigos dele para fora e os mataram a tiros, deixando Guadalupe - que não quis ser identificada pelo nome completo por medo dos assassinos – apavorada demais para sair de casa.
“Não quero que a noite chegue”, disse ela em meio às lágrimas. “Viver com medo não é vida de jeito nenhum.”
Para a maioria da população de Fresnillo, uma cidade mineira no centro do México, uma vida com medo é a única que conhecem. Ao menos 96% dos residentes dizem que não se sentem seguros, a maior porcentagem de qualquer cidade do México, de acordo com uma pesquisa recente da agência nacional de estatísticas do país.
A economia pode ir de vento em popa ou quebrar, presidentes, partidos e suas promessas podem ir e vir, mas para seus habitantes, assim como para muitos no México, há uma sensação crescente de que não importam as mudanças, a violência continua.
Desde que o governo do México começou sua guerra contra os cartéis de drogas, há aproximadamente 15 anos, as estatísticas de assassinatos aumentaram inexoravelmente.
Decepção
Em 2018, durante sua disputa pela presidência, Andrés Manuel López Obrador ofereceu uma visão grandiosa para refazer o México – e uma forma radicalmente nova de combater a violência. Ele romperia com as táticas fracassadas de seus antecessores, afirmou. Em vez de prender e matar traficantes como os líderes anteriores haviam feito, ele focaria nas causas da violência: “abraços, não balas”, defendia. E conseguiu ganhar as eleições.
Mas três anos depois de sua vitória esmagadora, e com seu partido, Movimento Regeneração Nacional(Morena), no controle do Congresso, o padrão de mortes continua.“Estamos vivendo no inferno”, disse Victor Piña, que concorreu à prefeitura de Fresnillo nas eleições de junho e viu um assessor ser morto a tiros ao lado dele durante um evento antes da campanha.
Zacatecas, estado em que fica a cidade de Fresnillo, tem a maior taxa de homicídios do país. Ultimamente, o lugar se tornou um show de terror nacional, com cadáveres encontrados pendurados em pontes, enfiados em sacos plásticos ou até mesmo amarrados a uma cruz.
Fazendo fronteira com outros oito estados, Zacatecas há muito tem sido um ponto central para o narcotráfico; um ponto de intersecção entre o Pacífico, para onde os narcóticos e produtos para fabricação de drogas são enviados, e os estados do norte ao longo da fronteira com os Estados Unidos. Fresnillo, que fica no centro de importantes estradas e rodovias, é estrategicamente vital.
Mas durante grande parte de sua história recente, os residentes dizem que foram, em grande parte, deixados em paz. Isso começou a mudar por volta de 2007 e 2008, quando a investida do governo contra os cartéis os levou a se fragmentar, evoluir e se espalhar.
Recentemente, a região tem sido envolvida em uma batalha entre dois dos grupos de crime organizado mais poderosos do país: o Cartel de Sinaloa e o Cartel da Nova Geração de Jalisco.
Presos no meio do conflito estão pessoas como Guadalupe. Ela se lembra de ficar sentada na frente de casa com os vizinhos até a meia-noite, quando era uma menina. Agora, a cidade fica deserta depois que o sol se põe.
Guadalupe não deixa os filhos brincarem do lado de fora da casa sem supervisão, mas mesmo assim não conseguiu impedir que a violência destruísse sua família. Na noite em que seu filho foi assassinado, , quatro homens armados invadiram sua casa, arrastaram para fora seu filho, Henry, e dois amigos dele que estavam dormindo. Os tiros foram disparados e, em seguida, os assassinos foram embora. Foi Guadalupe quem encontrou os corpos dos adolescentes. / NYT