O analista argentino Gustavo Marangoni acredita que o julgamento da vice-presidente Cristina Kirchner, que ocorre nesta terça-feira, 6, por licitações fraudulentas será uma ferramenta que permitirá a cada uma das coalizões políticas do país se unir em torno de uma posição, num momento de disputas políticas visando as eleições do ano que vem.
Qual é o impacto da decisão para o contexto político argentino?
Do ponto de vista político, nada vai mudar significativamente. Ou seja, independente das características do processo, aqueles que consideram que Cristina é vítima da perseguição e os que consideram que ela é culpada, continuarão pensando o mesmo e os indiferentes não devem mudar de opinião depois do que ocorrer. Isso do ponto de vista político e da opinião pública.
E para o futuro de Cristina Kirchner?
Claro que a questão jurídica anda por outros trilhos, mas não me parece que vá afetar muito o futuro imediato de Cristina porque há instâncias de apelação, primeiro a Câmara e depois a Corte (Suprema de Justiça). Além disso, por sua condição de vice-presidente tem foro. E mesmo que não tivesse, não seria condenada com cumprimento imediato porque é preciso que as apelações tenham sido julgadas.
Do ponto de vista político, será uma ferramenta que vai permitir a cada uma das duas coalizões se reunir de forma unificada em torno de uma posição. Nesta tarde, por exemplo, vimos um pronunciamento em rede nacional do presidente da república falando sobre a reunião de magistrados com empresários, o qual parece ser um elemento de aproximação entre o presidente e a vice, sendo que havia um distanciamento entre os dois há um tempo.
Mais sobre o caso
Há o risco de um colapso nas ruas após a decisão?
Acho que não. Com certeza ocorrerão manifestações a favor e contra, mas não acredito que nada além do esperado. Alguns setores próximos ao kirchnerismo e Cristina, grêmios como a Associação de Trabalhadores do Estado, disseram de fazer uma paralisação por tempo indeterminado com outras organizações sociais. Mas nesse aspecto não acredito que venha algo extraordinário.
No Brasil, vimos muitas acusações sobre o envolvimento de política e justiça. Há algum paralelo?
Podem haver algumas semelhanças, mas me parece que para o presidente Lula, agora eleito pela terceira vez, ficou para trás em sua história a maior parte de sua questões judiciais, enquanto que para Cristina, além desse processo, existem outras causas que vão circulando. Além disso, as eleições na Argentina serão no ano que vem e, nesse sentido, as pesquisas de intenção de voto, o resultado das primárias, conforme formos nos aproximando das eleições, influenciarão para melhorar ou piorar sua situação judicial.