Ataques aéreos israelenses na madrugada de quarta-feira, 10, mataram 20 palestinos no centro de Gaza, incluindo seis crianças e três mulheres, algumas delas dentro de uma suposta “zona segura” declarada pelo exército israelense, disseram autoridades hospitalares.
Esta segunda noite consecutiva de ataques mortais na cidade central de Deir al-Balah e nos campos de refugiados próximos ocorreu enquanto mediadores dos EUA, Egito e Catar, bem como autoridades israelenses, se reuniram na capital catariana, Doha, para tentar avançar em um acordo de cessar-fogo e liberação de reféns. Israel e o grupo terrorista Hamas pareciam ter reduzido as diferenças nos últimos dias, mas obstáculos permanecem.
Os ataques na madrugada de quarta-feira atingiram três casas no campo de refugiados de Nuseirat, matando 12 pessoas, incluindo cinco crianças, disseram autoridades do Hospital Mártires de Al-Aqsa, onde as vítimas foram levadas. Um repórter da Associated Press contou os corpos.
O campo, como outros em Gaza, foi originalmente erguido para abrigar palestinos expulsos de suas casas durante a guerra de 1948 que cercou a criação de Israel. Ele cresceu e se tornou um bairro urbano ao longo das décadas.
Um quarto ataque na madrugada de quarta-feira matou quatro homens, três mulheres e uma criança quando atingiu uma casa em Deir al-Balah, uma área localizada dentro da “zona segura humanitária”, onde Israel disse aos palestinos para buscarem refúgio enquanto conduz ofensivas em várias partes da Faixa de Gaza.
Ataque em escola
O bombardeio noturno ocorreu horas depois que aviões de guerra israelenses atacaram a entrada de uma escola que abrigava famílias deslocadas fora da cidade de Khan Younis, no sul. O número de mortos pelo ataque subiu para 31 pessoas, incluindo oito crianças, e mais de 50 feridos, disseram autoridades do Hospital Nasser nas proximidades, na quarta-feira.
Imagens transmitidas pela televisão Al-Jazeera mostraram crianças jogando futebol no pátio da escola quando um estrondo repentino sacudiu a área, provocando gritos de “um ataque, um ataque!”. O exército israelense disse que o ataque aéreo perto da escola e os relatos de vítimas civis estavam sob revisão, e alegou que estava mirando em um militante do grupo terrorista Hamas que participou do ataque de 7 de outubro a Israel, embora não tenha fornecido evidências imediatas.
Os militares culpam o grupo terrorista Hamas pelas mortes de civis, pois os militantes lutam em áreas urbanas densas. Mas o exército raramente comenta sobre o que está mirando em ataques individuais, que muitas vezes matam mulheres e crianças.
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Mortos, feridos e reféns
Em nove meses de bombardeios e ofensivas em Gaza, Israel matou mais de 38.200 pessoas e feriu mais de 88 mil, de acordo com o Ministério da Saúde do território, que não distingue entre combatentes e civis em sua contagem. Quase toda a população foi expulsa de suas casas. Muitos foram deslocados várias vezes. Centenas de milhares estão amontoados em campos de tendas.
A investida de Israel foi desencadeada pelo ataque do grupo terrorista Hamas em 7 de outubro, no qual terroristas mataram 1.200 pessoas no sul de Israel, a maioria civis, segundo as autoridades israelenses. Os terroristas levaram cerca de 250 pessoas como reféns. Cerca de 120 ainda estão em cativeiro, com cerca de um terço das pessoas provavelmente mortas.
Nesta semana, as tropas israelenses também têm realizado uma nova investida terrestre na Cidade de Gaza, no norte do território — seu mais recente esforço para combater militantes do grupo terrorista Hamas que se reagrupam em áreas que o exército anteriormente disse terem sido pacificadas.
Grandes partes da Cidade de Gaza e áreas urbanas ao redor foram devastadas ou deixadas como uma paisagem destruída por ataques israelenses anteriores, e grande parte da população fugiu antes da guerra. Mas as últimas incursões e bombardeios provocaram uma nova fuga de pessoas.
Desocupação de hospitais
Depois que Israel, na segunda-feira, pediu a desocupação das partes leste e central da Cidade de Gaza, funcionários de dois hospitais — Al-Ahli e o Hospital da Associação Amigos dos Pacientes — correram para mover os pacientes e fechar as unidades, disse a ONU.
O exército israelense disse na terça-feira que informou aos hospitais e outras instalações médicas na Cidade de Gaza que não precisavam ser desocupadas. Mas hospitais em Gaza frequentemente fecham e movem pacientes ao menor sinal de possível ação militar israelense, temendo ataques.
Nos últimos nove meses, as tropas israelenses atacaram pelo menos oito hospitais, causando a morte de pacientes e trabalhadores médicos, além de destruição maciça nas instalações e equipamentos. Israel afirmou que o grupo terrorista Hamas usa hospitais para fins militares, embora tenha fornecido apenas evidências limitadas. Apenas 13 dos 36 hospitais de Gaza estão funcionando, e esses apenas parcialmente, de acordo com o escritório humanitário das Nações Unidas.
Proposta de cessar-fogo
Mediadores internacionais estavam fazendo um novo esforço concentrado para avançar em uma proposta de acordo de cessar-fogo. Um funcionário egípcio disse que o chefe do Serviço de Inteligência Geral do Egito, Abbas Kamel, foi a Doha para se juntar às discussões sobre o acordo. O funcionário disse que autoridades americanas e israelenses também estavam participando. Ele falou sob condição de anonimato porque não estava autorizado a informar a imprensa sobre as reuniões.
Um dia antes, o diretor da CIA, William Burns, que liderou a mediação americana, se encontrou com o presidente egípcio Abdel Fattah el-Sissi no Cairo. Obstáculos permanecem nas negociações, mesmo depois que o Hamas concordou em ceder em sua principal exigência de que Israel se comprometa a encerrar a guerra como parte de qualquer acordo.
O grupo terrorista Hamas ainda quer que os mediadores garantam que as negociações concluam com um cessar-fogo permanente. Israel rejeitou qualquer acordo que o forçaria a encerrar a guerra com o grupo terrorista Hamas.
Na segunda-feira, o grupo terrorista Hamas acusou o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, de “colocar mais obstáculos no caminho das negociações”, incluindo as operações na Cidade de Gaza. /AP