Sem demonstrar remorso, o general Paul Aussaresses, antigo responsável pelas "operações especiais" dos serviços secretos franceses na Indochina e na Argélia, hoje com 83 anos, compareceu, nesta segunda-feira, ao tribunal correcional de Paris, para ser julgado por "fazer apologia de crimes de guerra", no livro de sua autoria Serviços Especiais - Argélia 1955-1957. Na obra, o general - ex-adido militar francês em Brasília durante a ditadura militar -, revela ter autorizado tortura e execuções sumárias de numerosos opositores da Frente de Libertação Nacional da Argélia que se opunham à dominação do país pela França. Logo no primeiro dia de audiência, o general revelou que o ex-presidente François Mitterrand, ministro da Justiça na época da guerra da Argélia, foi conivente. Ele era informado diariamente sobre a repressão, as torturas e as execuções sumárias. Pela primeira vez, desde 1962, data da independência argelina, um alto chefe militar comparece diante de um tribunal francês por recorrer à tortura durante a Guerra da Argélia. Aussaresses define-se como "maestro da orquestra da ofensiva contra o terror". Outros suspeitos de prática ou autorização de torturas, como o general Jacques Massu e o atual líder da extrema direita Jean-Marie Le Pen, mesmo acusados por algumas de suas vítimas, não chegaram a ser processados, pois as leis de anistia votadas em 1968 impedem os tribunais de levar adiante processos por tortura na Argélia. No caso, o general Aussaresses não está sendo processado pelos crimes de guerra praticados e confessados, mas apenas pelo que escreveu. Os métodos de tortura praticados na Argélia, bem como a legislação que anistia os autores, acabaram sendo copiados pelos regimes militares sul-americanos.