Quando George Santos, deputado americano por Nova York de origem brasileira, expressou pela primeira vez interesse em concorrer a um cargo público pelo Partido Republicano, em 2020, o comitê do condado de Nassau enviou a ele um questionário de verificação padrão e pediu para ver suas qualificações. O currículo entregue foi impressionante, especialmente para um iniciante na vida política.
Ele alegou ter se formado entre os 1% melhores de sua classe no Baruch College, disse ter obtido um MBA na New York University e mais que dobrado a receita como gerente de projetos na Goldman Sachs, de acordo com uma cópia do documento de duas páginas obtido pelo The New York Times.
Se os republicanos do condado nova-iorquino tivessem investigado qualquer uma das reivindicações, provavelmente teriam descoberto que grande parte do relato de Santos foi totalmente inventado. Em vez disso, sem outro candidato interessado na disputa, eles cometeram um erro crítico: aceitaram a palavra de Santos e ofereceram apoio a sua candidatura ao Parlamento estadual, em 2020, renovando-o em 2022 para ajudar a levá-lo à vitória para a Câmara Federal.
Honrarias acadêmicas
O deputado de origem brasileira afirmou ter se formado com honrarias e uma média de 3,89 (em uma escala que vai até 4) no Baruch College em 2010. Ele também disse que obteve um MBA em 2013, depois de marcar impressionantes 710 pontos Graduate Management Admission Test (GMAT), prova de aptidão lógica e verbal que soma até 800 pontos e é pré-requisito para inscrição em muitos cursos de pós-graduação e em universidades nos EUA. Nenhuma das informações era verdadeira.
Trabalhos de destaque no setor financeiro
O documento também mostra como Santos inventou e inflou sua experiência profissional. Ele disse que trabalhou como gerente associado de ativos no Citigroup de fevereiro de 2011 a janeiro de 2014, com responsabilidades tão variadas quanto “educação do consumidor sobre novas oportunidades” e “orientação de investimento na base LP”. Ele também afirmou ter “crescimento de receita duas vezes maior (300 milhões para 600 milhões)” nos pouco mais de sete meses em que trabalhou como gerente de projetos na Goldman Sachs em 2017 e ter desenvolvido uma nova estratégia de vendas “para o departamento”.
Ambas as empresas disseram ao The New York Times que não têm registro de que ele tenha trabalhado lá e, na época em que Santos afirma que trabalhava no Citigroup, na verdade trabalhava para a Dish Network como agente de atendimento ao cliente.
Mas nem tudo foi mentira. Santos trabalhou na MetGlobal, uma empresa de tecnologia hoteleira com sede na Turquia, conforme constava do currículo. E no momento em que ele apresentou os documentos para verificação, há evidências de que ele realmente trabalhava para a LinkBridge Investors, uma empresa que diz conectar investidores a gestores de fundos. No entanto, as alegações de Santos de que ele ajudou a empresa a triplicar as vendas em seis meses e aumentar sua receita 24 vezes não puderam ser verificadas imediatamente.
Autoestima alta e estrela do vôlei
Na hora de avaliar suas próprias qualidades, Santos não se conteve. Ele disse ter experiência nas áreas de imóveis, supervisão orçamentária, oratória, relações com investidores, propostas e apresentações e até acrescentou que tinha experiência como “contador de moedas”
“Líder entusiasmado capaz de fornecer um alto nível de serviço e entusiasmo para construir experiências positivas com um histórico de transformar operações ineficientes e de baixo desempenho em empreendimentos de sucesso”, escreveu ele no início do currículo.
Evidentemente não satisfeito com o fato de o registro escrito ser suficiente, Santos disse às autoridades republicanas do condado de Nassau que ele também fez parte de um time de vôlei campeão em Baruch, de acordo com Cairo.
“Ele disse que era uma estrela e que eles ganharam o campeonato e ele era um atacante”, disse Cairo na quarta-feira./ NYT