Geórgia rejeita candidatos de Trump nas Primárias republicanas, em maior derrota do ex-presidente


No Estado que deu vitória a Joe Biden, republicanos que foram contra a tese de fraude eleitoral em 2020 venceram a corrida interna republicana para disputa das midterms em novembro

Por Redação
Atualização:

Desafetos do ex-presidente Donald Trump tiveram uma noite vitoriosa nas eleições das primárias do Partido Republicano na Geórgia, na terça-feira, 24. O governador Brian Kemp, o secretário de Estado Brad Raffensperger e o procurador-geral Chris Carr, que se negaram a reconhecer a tese de fraude eleitoral levantada por Trump em 2020, validando a vitória de Joe Biden, conquistaram a maioria dos votos na disputa interna do partido, conquistando o direito de disputarem a reeleição aos cargos, naquela que é a maior derrota de Trump em sua tentativa de mostrar sua dominância na legenda.

Trump entrou na disputa da Geórgia prometendo reunir os eleitores contra seus inimigos e punir os republicanos que se opuseram às suas alegações de fraude em 2020. Entretanto, o que se viu quando as urnas se abriram foi que os eleitores do tradicional reduto do Partido Republicano parecem tê-lo punido por se intrometer na política estadual.

O ex-presidente escolheu perdedores de cima a baixo na cédula republicana no Estado, alcançando a surpreendente marca de três derrotas em corridas para o governo em três semanas. O resultado negativo, principalmente para executivos-chefes, ilustra as deficiências da “turnê de vingança” de Trump.

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O governador da Geórgia, Brian Kemp, comemora a vitória nas eleições primárias do Partido Republicano. Foto: Erik S. Lesser/ EFE

Kemp derrotou facilmente o desafiante escolhido a dedo por Trump, o ex-senador David Perdue, em quem o ex-presidente investiu mais de US$ 3 milhões (cerca de R$ 14,5 milhões) na campanha. Carr, derrotou pré-candidato John Gordon, que disse querer investigar as alegações de Trump sobre fraude eleitoral. Já Raffensperger, que ganhou projeção nacional após receber um telefonema de Trump em janeiro de 2021, em que o ex-presidente sugeriu que ele “encontrasse” votos suficientes para derrubar a vitória de Biden, desbancou três oponentes, incluindo a deputada Jody Hice, endossada pelo ex-presidente.

“O que descobri é que todo georgiano quer eleições seguras e protegidas com o equilíbrio certo entre acessibilidade e segurança. É onde está a votação na Geórgia hoje”, disse Raffensperger a repórteres na terça-feira, após declarar vitória.

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Desde que deixou a Casa Branca e a máquina estatal, o ex-presidente empregou seu poder político de maneira inconstante, muitas vezes fazendo escolhas por capricho ou sem um apresentar um caminho claro para a execução. Essa abordagem o deixou repetidamente de mãos vazias e levantou novas dúvidas sobre o controle rígido que ele exerceu sobre o Partido Republicano.

Henry Barbour, membro do Comitê Nacional Republicano do Mississippi, disse que os endossos de Trump este ano foram “impulsionados por quem ele não gosta e quem está concorrendo contra eles”. “Às vezes isso pode dar certo, mas acho que, como vemos na Geórgia, é muito improvável que dê”, acrescentou.

O fraco desempenho de Trump principalmente nos apoios a candidatos a governo pode ser parcialmente atribuído ao grau de dificuldade de seu plano. As campanhas bem-sucedidas para governador geralmente devem ser adaptadas com precisão para abordar questões regionais e locais diferenciadas. As candidaturas à Câmara e ao Senado - onde o histórico de endosso do ex-presidente ainda é relevante - podem aproveitar mais facilmente os ventos políticos nacionais.

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Destituir governadores em exercício em uma primária, como Trump tentou fazer na Geórgia e no Nebraska, é ainda mais desafiador. De acordo com o Eagleton Center on the American Governor da Rutgers University, os governadores que tentam reeleição derrotam os adversários nas primárias em cerca de 95% das vezes. Dois governadores em exercício não perdem primárias no mesmo ano desde 1994.

Material de campanha do pré-candidato a governador David Perdue, apoiado por Trump. Foto: Megan Varner / AFP

Mas Trump mostrou que o improvável é praticamente impossível quando as decisões sobre endossos para cargos públicos de alto nível são baseadas em falsidades, vingança e orgulho pessoal. Sua recusa em adotar uma abordagem mais cautelosa e proteger seu capital político antes de uma provável campanha presidencial de 2024 resultou em erros não forçados que podem repercutir por meses.

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Na Geórgia, por exemplo, os republicanos estão preocupados com os danos políticos desnecessários que Trump infligiu a Kemp, que enfrentará uma revanche em novembro com Stacey Abrams, a candidata democrata que perdeu a disputa de 2018 por 54.700 votos, ou menos de meio ponto percentual. O controle político do gabinete do governador exerce influência significativa sobre as leis e regulamentos eleitorais que antecedem a votação de 2024.

“Não acredito que Kemp possa fazer isso”, disse Trump durante uma teleconferência na segunda-feira sobre as chances do governador de derrotar Abrams. “Ele tem muitas pessoas no Partido Republicano que se recusam a votar. Eles simplesmente não vão sair (às urnas).”

A derrota de Trump na Geórgia também significou uma grande vitória para a Associação de Governadores Republicanos, que manteve a posição de apoio aos mandatários e resistiu aos ataques do ex-presidente a seus membros.

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O grupo gastou US$ 5 milhões (cerca de R$ 24 milhões) na corrida de Kemp e despachou uma cavalaria de governadores atuais e ex-governadores para fazer campanha por ele, incluindo dois potenciais adversários de Trump em 2024: Chris Christie, de Nova Jersey, e o ex-vice-presidente Mike Pence, que, como Kemp, recusou-se a ajudar Trump a reverter o resultado da eleição de 2020.

Ainda não está claro se os resultados da Geórgia fornecerão um ponto de apoio para um desafio à supremacia de Trump no partido, mas os sinais de que ele perdeu algum prestígio político foram inconfundíveis ao longo das primárias.

Pressionado a 'encontrar votos' para Trump em 2020, o secretário de Estado Brad Raffensperger venceu a disputa interna republicana e disputará as midterms em novembro. Foto: Ben Gray/ AP
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Consciente de que potenciais rivais presidenciais de 2024 estão procurando brechas contra ele, Trump vem tentando há meses anunciar sua candidatura antes das eleições de meio de mandato deste ano, segundo pessoas que conversaram com ele.

A conversa anterior sobre medidas semelhantes não deu em nada, incluindo um movimento “Draft Trump” lançado pela senadora Lindsey Graham da Carolina do Sul logo após Trump deixar o cargo e a ideia de anunciar um comitê exploratório em março.

Mas Trump conversou recentemente com assessores sobre declarar sua candidatura neste ano como uma forma de rechaçar outros candidatos. Outros conselheiros disseram que ele via o anúncio como uma forma de se vincular ao sucesso que os republicanos esperam nas eleições de meio de mandato em novembro.

‘Grande noite de vitórias’

Apesar das derrotas nos confrontos mais viscerais, Trump teve alguns sucessos na noite de terça-feira, principalmente com sua ex-secretária de imprensa da Casa Branca Sarah Huckabee Sanders, que quase certamente se tornará a próxima governadora do Arkansas depois de vencer as primárias no Estado, e Herschel Walker, o ex-astro de futebol americano que Trump pediu para concorrer ao Senado, venceu com facilidade suas primárias na Geórgia. Ainda assim, eles foram exceções e enfrentaram uma oposição fraca.

Em um comunicado, Taylor Budowich, porta-voz de Trump, ignorou a série de derrotas na noite de terça-feira, chamando-a de “mais uma grande noite de vitórias para seus candidatos endossados”.

Em uma entrevista na semana passada, Trump defendeu seu histórico de endossos, dizendo que apoiou candidatos em que acreditava, não apenas aqueles que esperava vencer. Ele apontou para a vitória de J.D. Vance nas primárias do Senado de Ohio, a maior vitória de Trump nas primárias até agora.

Lá, Trump agiu depois que as pesquisas no final da corrida sugeriram que seu endosso poderia fazer a diferença para Vance, que estava atrás nas pesquisas na época - e seu anúncio impulsionou Vance a uma vitória decisiva. /NYT, AP e AFP

Desafetos do ex-presidente Donald Trump tiveram uma noite vitoriosa nas eleições das primárias do Partido Republicano na Geórgia, na terça-feira, 24. O governador Brian Kemp, o secretário de Estado Brad Raffensperger e o procurador-geral Chris Carr, que se negaram a reconhecer a tese de fraude eleitoral levantada por Trump em 2020, validando a vitória de Joe Biden, conquistaram a maioria dos votos na disputa interna do partido, conquistando o direito de disputarem a reeleição aos cargos, naquela que é a maior derrota de Trump em sua tentativa de mostrar sua dominância na legenda.

Trump entrou na disputa da Geórgia prometendo reunir os eleitores contra seus inimigos e punir os republicanos que se opuseram às suas alegações de fraude em 2020. Entretanto, o que se viu quando as urnas se abriram foi que os eleitores do tradicional reduto do Partido Republicano parecem tê-lo punido por se intrometer na política estadual.

O ex-presidente escolheu perdedores de cima a baixo na cédula republicana no Estado, alcançando a surpreendente marca de três derrotas em corridas para o governo em três semanas. O resultado negativo, principalmente para executivos-chefes, ilustra as deficiências da “turnê de vingança” de Trump.

O governador da Geórgia, Brian Kemp, comemora a vitória nas eleições primárias do Partido Republicano. Foto: Erik S. Lesser/ EFE

Kemp derrotou facilmente o desafiante escolhido a dedo por Trump, o ex-senador David Perdue, em quem o ex-presidente investiu mais de US$ 3 milhões (cerca de R$ 14,5 milhões) na campanha. Carr, derrotou pré-candidato John Gordon, que disse querer investigar as alegações de Trump sobre fraude eleitoral. Já Raffensperger, que ganhou projeção nacional após receber um telefonema de Trump em janeiro de 2021, em que o ex-presidente sugeriu que ele “encontrasse” votos suficientes para derrubar a vitória de Biden, desbancou três oponentes, incluindo a deputada Jody Hice, endossada pelo ex-presidente.

“O que descobri é que todo georgiano quer eleições seguras e protegidas com o equilíbrio certo entre acessibilidade e segurança. É onde está a votação na Geórgia hoje”, disse Raffensperger a repórteres na terça-feira, após declarar vitória.

Desde que deixou a Casa Branca e a máquina estatal, o ex-presidente empregou seu poder político de maneira inconstante, muitas vezes fazendo escolhas por capricho ou sem um apresentar um caminho claro para a execução. Essa abordagem o deixou repetidamente de mãos vazias e levantou novas dúvidas sobre o controle rígido que ele exerceu sobre o Partido Republicano.

Henry Barbour, membro do Comitê Nacional Republicano do Mississippi, disse que os endossos de Trump este ano foram “impulsionados por quem ele não gosta e quem está concorrendo contra eles”. “Às vezes isso pode dar certo, mas acho que, como vemos na Geórgia, é muito improvável que dê”, acrescentou.

O fraco desempenho de Trump principalmente nos apoios a candidatos a governo pode ser parcialmente atribuído ao grau de dificuldade de seu plano. As campanhas bem-sucedidas para governador geralmente devem ser adaptadas com precisão para abordar questões regionais e locais diferenciadas. As candidaturas à Câmara e ao Senado - onde o histórico de endosso do ex-presidente ainda é relevante - podem aproveitar mais facilmente os ventos políticos nacionais.

Destituir governadores em exercício em uma primária, como Trump tentou fazer na Geórgia e no Nebraska, é ainda mais desafiador. De acordo com o Eagleton Center on the American Governor da Rutgers University, os governadores que tentam reeleição derrotam os adversários nas primárias em cerca de 95% das vezes. Dois governadores em exercício não perdem primárias no mesmo ano desde 1994.

Material de campanha do pré-candidato a governador David Perdue, apoiado por Trump. Foto: Megan Varner / AFP

Mas Trump mostrou que o improvável é praticamente impossível quando as decisões sobre endossos para cargos públicos de alto nível são baseadas em falsidades, vingança e orgulho pessoal. Sua recusa em adotar uma abordagem mais cautelosa e proteger seu capital político antes de uma provável campanha presidencial de 2024 resultou em erros não forçados que podem repercutir por meses.

Na Geórgia, por exemplo, os republicanos estão preocupados com os danos políticos desnecessários que Trump infligiu a Kemp, que enfrentará uma revanche em novembro com Stacey Abrams, a candidata democrata que perdeu a disputa de 2018 por 54.700 votos, ou menos de meio ponto percentual. O controle político do gabinete do governador exerce influência significativa sobre as leis e regulamentos eleitorais que antecedem a votação de 2024.

“Não acredito que Kemp possa fazer isso”, disse Trump durante uma teleconferência na segunda-feira sobre as chances do governador de derrotar Abrams. “Ele tem muitas pessoas no Partido Republicano que se recusam a votar. Eles simplesmente não vão sair (às urnas).”

A derrota de Trump na Geórgia também significou uma grande vitória para a Associação de Governadores Republicanos, que manteve a posição de apoio aos mandatários e resistiu aos ataques do ex-presidente a seus membros.

O grupo gastou US$ 5 milhões (cerca de R$ 24 milhões) na corrida de Kemp e despachou uma cavalaria de governadores atuais e ex-governadores para fazer campanha por ele, incluindo dois potenciais adversários de Trump em 2024: Chris Christie, de Nova Jersey, e o ex-vice-presidente Mike Pence, que, como Kemp, recusou-se a ajudar Trump a reverter o resultado da eleição de 2020.

Ainda não está claro se os resultados da Geórgia fornecerão um ponto de apoio para um desafio à supremacia de Trump no partido, mas os sinais de que ele perdeu algum prestígio político foram inconfundíveis ao longo das primárias.

Pressionado a 'encontrar votos' para Trump em 2020, o secretário de Estado Brad Raffensperger venceu a disputa interna republicana e disputará as midterms em novembro. Foto: Ben Gray/ AP

Consciente de que potenciais rivais presidenciais de 2024 estão procurando brechas contra ele, Trump vem tentando há meses anunciar sua candidatura antes das eleições de meio de mandato deste ano, segundo pessoas que conversaram com ele.

A conversa anterior sobre medidas semelhantes não deu em nada, incluindo um movimento “Draft Trump” lançado pela senadora Lindsey Graham da Carolina do Sul logo após Trump deixar o cargo e a ideia de anunciar um comitê exploratório em março.

Mas Trump conversou recentemente com assessores sobre declarar sua candidatura neste ano como uma forma de rechaçar outros candidatos. Outros conselheiros disseram que ele via o anúncio como uma forma de se vincular ao sucesso que os republicanos esperam nas eleições de meio de mandato em novembro.

‘Grande noite de vitórias’

Apesar das derrotas nos confrontos mais viscerais, Trump teve alguns sucessos na noite de terça-feira, principalmente com sua ex-secretária de imprensa da Casa Branca Sarah Huckabee Sanders, que quase certamente se tornará a próxima governadora do Arkansas depois de vencer as primárias no Estado, e Herschel Walker, o ex-astro de futebol americano que Trump pediu para concorrer ao Senado, venceu com facilidade suas primárias na Geórgia. Ainda assim, eles foram exceções e enfrentaram uma oposição fraca.

Em um comunicado, Taylor Budowich, porta-voz de Trump, ignorou a série de derrotas na noite de terça-feira, chamando-a de “mais uma grande noite de vitórias para seus candidatos endossados”.

Em uma entrevista na semana passada, Trump defendeu seu histórico de endossos, dizendo que apoiou candidatos em que acreditava, não apenas aqueles que esperava vencer. Ele apontou para a vitória de J.D. Vance nas primárias do Senado de Ohio, a maior vitória de Trump nas primárias até agora.

Lá, Trump agiu depois que as pesquisas no final da corrida sugeriram que seu endosso poderia fazer a diferença para Vance, que estava atrás nas pesquisas na época - e seu anúncio impulsionou Vance a uma vitória decisiva. /NYT, AP e AFP

Desafetos do ex-presidente Donald Trump tiveram uma noite vitoriosa nas eleições das primárias do Partido Republicano na Geórgia, na terça-feira, 24. O governador Brian Kemp, o secretário de Estado Brad Raffensperger e o procurador-geral Chris Carr, que se negaram a reconhecer a tese de fraude eleitoral levantada por Trump em 2020, validando a vitória de Joe Biden, conquistaram a maioria dos votos na disputa interna do partido, conquistando o direito de disputarem a reeleição aos cargos, naquela que é a maior derrota de Trump em sua tentativa de mostrar sua dominância na legenda.

Trump entrou na disputa da Geórgia prometendo reunir os eleitores contra seus inimigos e punir os republicanos que se opuseram às suas alegações de fraude em 2020. Entretanto, o que se viu quando as urnas se abriram foi que os eleitores do tradicional reduto do Partido Republicano parecem tê-lo punido por se intrometer na política estadual.

O ex-presidente escolheu perdedores de cima a baixo na cédula republicana no Estado, alcançando a surpreendente marca de três derrotas em corridas para o governo em três semanas. O resultado negativo, principalmente para executivos-chefes, ilustra as deficiências da “turnê de vingança” de Trump.

O governador da Geórgia, Brian Kemp, comemora a vitória nas eleições primárias do Partido Republicano. Foto: Erik S. Lesser/ EFE

Kemp derrotou facilmente o desafiante escolhido a dedo por Trump, o ex-senador David Perdue, em quem o ex-presidente investiu mais de US$ 3 milhões (cerca de R$ 14,5 milhões) na campanha. Carr, derrotou pré-candidato John Gordon, que disse querer investigar as alegações de Trump sobre fraude eleitoral. Já Raffensperger, que ganhou projeção nacional após receber um telefonema de Trump em janeiro de 2021, em que o ex-presidente sugeriu que ele “encontrasse” votos suficientes para derrubar a vitória de Biden, desbancou três oponentes, incluindo a deputada Jody Hice, endossada pelo ex-presidente.

“O que descobri é que todo georgiano quer eleições seguras e protegidas com o equilíbrio certo entre acessibilidade e segurança. É onde está a votação na Geórgia hoje”, disse Raffensperger a repórteres na terça-feira, após declarar vitória.

Desde que deixou a Casa Branca e a máquina estatal, o ex-presidente empregou seu poder político de maneira inconstante, muitas vezes fazendo escolhas por capricho ou sem um apresentar um caminho claro para a execução. Essa abordagem o deixou repetidamente de mãos vazias e levantou novas dúvidas sobre o controle rígido que ele exerceu sobre o Partido Republicano.

Henry Barbour, membro do Comitê Nacional Republicano do Mississippi, disse que os endossos de Trump este ano foram “impulsionados por quem ele não gosta e quem está concorrendo contra eles”. “Às vezes isso pode dar certo, mas acho que, como vemos na Geórgia, é muito improvável que dê”, acrescentou.

O fraco desempenho de Trump principalmente nos apoios a candidatos a governo pode ser parcialmente atribuído ao grau de dificuldade de seu plano. As campanhas bem-sucedidas para governador geralmente devem ser adaptadas com precisão para abordar questões regionais e locais diferenciadas. As candidaturas à Câmara e ao Senado - onde o histórico de endosso do ex-presidente ainda é relevante - podem aproveitar mais facilmente os ventos políticos nacionais.

Destituir governadores em exercício em uma primária, como Trump tentou fazer na Geórgia e no Nebraska, é ainda mais desafiador. De acordo com o Eagleton Center on the American Governor da Rutgers University, os governadores que tentam reeleição derrotam os adversários nas primárias em cerca de 95% das vezes. Dois governadores em exercício não perdem primárias no mesmo ano desde 1994.

Material de campanha do pré-candidato a governador David Perdue, apoiado por Trump. Foto: Megan Varner / AFP

Mas Trump mostrou que o improvável é praticamente impossível quando as decisões sobre endossos para cargos públicos de alto nível são baseadas em falsidades, vingança e orgulho pessoal. Sua recusa em adotar uma abordagem mais cautelosa e proteger seu capital político antes de uma provável campanha presidencial de 2024 resultou em erros não forçados que podem repercutir por meses.

Na Geórgia, por exemplo, os republicanos estão preocupados com os danos políticos desnecessários que Trump infligiu a Kemp, que enfrentará uma revanche em novembro com Stacey Abrams, a candidata democrata que perdeu a disputa de 2018 por 54.700 votos, ou menos de meio ponto percentual. O controle político do gabinete do governador exerce influência significativa sobre as leis e regulamentos eleitorais que antecedem a votação de 2024.

“Não acredito que Kemp possa fazer isso”, disse Trump durante uma teleconferência na segunda-feira sobre as chances do governador de derrotar Abrams. “Ele tem muitas pessoas no Partido Republicano que se recusam a votar. Eles simplesmente não vão sair (às urnas).”

A derrota de Trump na Geórgia também significou uma grande vitória para a Associação de Governadores Republicanos, que manteve a posição de apoio aos mandatários e resistiu aos ataques do ex-presidente a seus membros.

O grupo gastou US$ 5 milhões (cerca de R$ 24 milhões) na corrida de Kemp e despachou uma cavalaria de governadores atuais e ex-governadores para fazer campanha por ele, incluindo dois potenciais adversários de Trump em 2024: Chris Christie, de Nova Jersey, e o ex-vice-presidente Mike Pence, que, como Kemp, recusou-se a ajudar Trump a reverter o resultado da eleição de 2020.

Ainda não está claro se os resultados da Geórgia fornecerão um ponto de apoio para um desafio à supremacia de Trump no partido, mas os sinais de que ele perdeu algum prestígio político foram inconfundíveis ao longo das primárias.

Pressionado a 'encontrar votos' para Trump em 2020, o secretário de Estado Brad Raffensperger venceu a disputa interna republicana e disputará as midterms em novembro. Foto: Ben Gray/ AP

Consciente de que potenciais rivais presidenciais de 2024 estão procurando brechas contra ele, Trump vem tentando há meses anunciar sua candidatura antes das eleições de meio de mandato deste ano, segundo pessoas que conversaram com ele.

A conversa anterior sobre medidas semelhantes não deu em nada, incluindo um movimento “Draft Trump” lançado pela senadora Lindsey Graham da Carolina do Sul logo após Trump deixar o cargo e a ideia de anunciar um comitê exploratório em março.

Mas Trump conversou recentemente com assessores sobre declarar sua candidatura neste ano como uma forma de rechaçar outros candidatos. Outros conselheiros disseram que ele via o anúncio como uma forma de se vincular ao sucesso que os republicanos esperam nas eleições de meio de mandato em novembro.

‘Grande noite de vitórias’

Apesar das derrotas nos confrontos mais viscerais, Trump teve alguns sucessos na noite de terça-feira, principalmente com sua ex-secretária de imprensa da Casa Branca Sarah Huckabee Sanders, que quase certamente se tornará a próxima governadora do Arkansas depois de vencer as primárias no Estado, e Herschel Walker, o ex-astro de futebol americano que Trump pediu para concorrer ao Senado, venceu com facilidade suas primárias na Geórgia. Ainda assim, eles foram exceções e enfrentaram uma oposição fraca.

Em um comunicado, Taylor Budowich, porta-voz de Trump, ignorou a série de derrotas na noite de terça-feira, chamando-a de “mais uma grande noite de vitórias para seus candidatos endossados”.

Em uma entrevista na semana passada, Trump defendeu seu histórico de endossos, dizendo que apoiou candidatos em que acreditava, não apenas aqueles que esperava vencer. Ele apontou para a vitória de J.D. Vance nas primárias do Senado de Ohio, a maior vitória de Trump nas primárias até agora.

Lá, Trump agiu depois que as pesquisas no final da corrida sugeriram que seu endosso poderia fazer a diferença para Vance, que estava atrás nas pesquisas na época - e seu anúncio impulsionou Vance a uma vitória decisiva. /NYT, AP e AFP

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