A China e a perseguição aos muçulmanos uigures


O que os documentos dizem é que os muçulmanos de Xinjiang estão passando por um regime cujo equivalente seria a obra-prima de George Orwell: drones disfarçados de pombos e reconhecimento facial ininterrupto

Por Gilles Lapouge
Atualização:

Foram anos de suspeitas. Os viajantes que retornavam dessa longínqua província chinesa de Xinjiang diziam que a minoria muçulmana dos uigures era objeto de vigilância, no limite de perseguição, por parte de Pequim. Alguns poucos jornais no Ocidente ecoavam esses rumores e sussurros, mas não havia um discurso coerente, muito menos provas irrefutáveis, pois a ação de Pequim se dava da maneira obviamente chinesa: silêncio, mentiras e sombras.

Hoje, não existem mais dúvidas. O New York Times traz documentos precisos, abundantes e nevrálgicos entregues por um denunciante, provavelmente um chinês de alto escalão do governo. Os discursos do líder absoluto da China, Xi Jinping, por exemplo, revelam a mecânica de uma ação cruel, violenta e implacável contra os uigures, sempre controlada de forma tão sutil que poderia funcionar por anos sem o conhecimento dos investigadores.

Um campo de reeducação para a minoria étnica uigur, em Hotan, na província chinesa de Xinjiang, em 4 de agosto de 2019 Foto: Gilles Sabrié/The New York Times
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O que os documentos dizem é que os muçulmanos de Xinjiang estão passando por um regime cujo equivalente seria a obra-prima de George Orwell, 1984, na qual o grande visionário descreveu, com 60 ou 70 anos de antecedência, o universo que toma forma diante de nossos olhos na China, que amanhã, provavelmente, estará nas felizes paisagens da Europa e dos EUA.

Alguns exemplos: drones disfarçados de pombos, reconhecimento facial ininterrupto, coleta de dados biométricos, até mesmo de bebês e idosos (com DNA, sinais na íris, voz, sangue, cabelos). Ou seja, vigilância permanente dos cidadãos e de todos os seus movimentos.

Mas alguns uigures são insuportáveis. Eles sabem como evitar a espionagem “pós-moderna”, sem dor nem violência. Nesses casos, o poder precisa atacar. Interrogatórios extremos são realizados, os resistentes são submetidos a tratamentos especiais, famílias são separadas, crianças são forçadas à felicidade comunista, irmãos são obrigados a delatar irmãos.

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O partido vigia cada um de seus cidadãos. Determina qual deve ser a vestimenta. É perigoso usar barba e beber álcool. Se alguém teima em não obedecer, precisa ser doutrinado nas escolas de correção. Uma frase de Xi nos documentos revelados agora: “Para nós, comunistas, fazer guerra contra o povo deve ser natural. Somos os melhores organizadores que se pode imaginar.”

Esses documentos nos dizem que, nos últimos três anos, um novo personagem esteve à frente da região, Chen Quanguo. Um pesquisador alemão, Adrian Zenz, calculou que esse homem havia instalado mil campos de reeducação pelos quais já passaram 3 milhões de uigures. “É necessário”, diz Xi Jinping, em um dos documentos, “que os criminosos sejam educados e transformados. Mesmo depois de liberados, devemos continuar sua reabilitação”.

A passividade dos ocidentais diante dessas práticas até agora foi total. Para aqueles que ficaram estupefatos, a resposta foi que não havia certeza. Os chineses são astutos. Um pouco como esses animais que depois de executarem suas presas apagam as pegadas que restam com o rabo. Até agora, os outros poderes não reagiram às práticas. Se alguém confrontasse os chineses, eles teriam uma resposta conveniente: “Ah? De novo essa história de direitos humanos, essas ideias fora de moda, europeias. Francesas, ainda por cima.”

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De agora em diante, com a revelação desses documentos secretos, não podemos justificar a passividade ocidental com o argumento da falta de provas. Como as nações livres reagirão? Veremos. A China tem mais de um bilhão de cidadãos e centenas de milhões de produtores e consumidores. / TRADUÇÃO DE ROBERTO MUNIZ

*É CORRESPONDENTE EM PARIS

Foram anos de suspeitas. Os viajantes que retornavam dessa longínqua província chinesa de Xinjiang diziam que a minoria muçulmana dos uigures era objeto de vigilância, no limite de perseguição, por parte de Pequim. Alguns poucos jornais no Ocidente ecoavam esses rumores e sussurros, mas não havia um discurso coerente, muito menos provas irrefutáveis, pois a ação de Pequim se dava da maneira obviamente chinesa: silêncio, mentiras e sombras.

Hoje, não existem mais dúvidas. O New York Times traz documentos precisos, abundantes e nevrálgicos entregues por um denunciante, provavelmente um chinês de alto escalão do governo. Os discursos do líder absoluto da China, Xi Jinping, por exemplo, revelam a mecânica de uma ação cruel, violenta e implacável contra os uigures, sempre controlada de forma tão sutil que poderia funcionar por anos sem o conhecimento dos investigadores.

Um campo de reeducação para a minoria étnica uigur, em Hotan, na província chinesa de Xinjiang, em 4 de agosto de 2019 Foto: Gilles Sabrié/The New York Times

O que os documentos dizem é que os muçulmanos de Xinjiang estão passando por um regime cujo equivalente seria a obra-prima de George Orwell, 1984, na qual o grande visionário descreveu, com 60 ou 70 anos de antecedência, o universo que toma forma diante de nossos olhos na China, que amanhã, provavelmente, estará nas felizes paisagens da Europa e dos EUA.

Alguns exemplos: drones disfarçados de pombos, reconhecimento facial ininterrupto, coleta de dados biométricos, até mesmo de bebês e idosos (com DNA, sinais na íris, voz, sangue, cabelos). Ou seja, vigilância permanente dos cidadãos e de todos os seus movimentos.

Mas alguns uigures são insuportáveis. Eles sabem como evitar a espionagem “pós-moderna”, sem dor nem violência. Nesses casos, o poder precisa atacar. Interrogatórios extremos são realizados, os resistentes são submetidos a tratamentos especiais, famílias são separadas, crianças são forçadas à felicidade comunista, irmãos são obrigados a delatar irmãos.

O partido vigia cada um de seus cidadãos. Determina qual deve ser a vestimenta. É perigoso usar barba e beber álcool. Se alguém teima em não obedecer, precisa ser doutrinado nas escolas de correção. Uma frase de Xi nos documentos revelados agora: “Para nós, comunistas, fazer guerra contra o povo deve ser natural. Somos os melhores organizadores que se pode imaginar.”

Esses documentos nos dizem que, nos últimos três anos, um novo personagem esteve à frente da região, Chen Quanguo. Um pesquisador alemão, Adrian Zenz, calculou que esse homem havia instalado mil campos de reeducação pelos quais já passaram 3 milhões de uigures. “É necessário”, diz Xi Jinping, em um dos documentos, “que os criminosos sejam educados e transformados. Mesmo depois de liberados, devemos continuar sua reabilitação”.

A passividade dos ocidentais diante dessas práticas até agora foi total. Para aqueles que ficaram estupefatos, a resposta foi que não havia certeza. Os chineses são astutos. Um pouco como esses animais que depois de executarem suas presas apagam as pegadas que restam com o rabo. Até agora, os outros poderes não reagiram às práticas. Se alguém confrontasse os chineses, eles teriam uma resposta conveniente: “Ah? De novo essa história de direitos humanos, essas ideias fora de moda, europeias. Francesas, ainda por cima.”

De agora em diante, com a revelação desses documentos secretos, não podemos justificar a passividade ocidental com o argumento da falta de provas. Como as nações livres reagirão? Veremos. A China tem mais de um bilhão de cidadãos e centenas de milhões de produtores e consumidores. / TRADUÇÃO DE ROBERTO MUNIZ

*É CORRESPONDENTE EM PARIS

Foram anos de suspeitas. Os viajantes que retornavam dessa longínqua província chinesa de Xinjiang diziam que a minoria muçulmana dos uigures era objeto de vigilância, no limite de perseguição, por parte de Pequim. Alguns poucos jornais no Ocidente ecoavam esses rumores e sussurros, mas não havia um discurso coerente, muito menos provas irrefutáveis, pois a ação de Pequim se dava da maneira obviamente chinesa: silêncio, mentiras e sombras.

Hoje, não existem mais dúvidas. O New York Times traz documentos precisos, abundantes e nevrálgicos entregues por um denunciante, provavelmente um chinês de alto escalão do governo. Os discursos do líder absoluto da China, Xi Jinping, por exemplo, revelam a mecânica de uma ação cruel, violenta e implacável contra os uigures, sempre controlada de forma tão sutil que poderia funcionar por anos sem o conhecimento dos investigadores.

Um campo de reeducação para a minoria étnica uigur, em Hotan, na província chinesa de Xinjiang, em 4 de agosto de 2019 Foto: Gilles Sabrié/The New York Times

O que os documentos dizem é que os muçulmanos de Xinjiang estão passando por um regime cujo equivalente seria a obra-prima de George Orwell, 1984, na qual o grande visionário descreveu, com 60 ou 70 anos de antecedência, o universo que toma forma diante de nossos olhos na China, que amanhã, provavelmente, estará nas felizes paisagens da Europa e dos EUA.

Alguns exemplos: drones disfarçados de pombos, reconhecimento facial ininterrupto, coleta de dados biométricos, até mesmo de bebês e idosos (com DNA, sinais na íris, voz, sangue, cabelos). Ou seja, vigilância permanente dos cidadãos e de todos os seus movimentos.

Mas alguns uigures são insuportáveis. Eles sabem como evitar a espionagem “pós-moderna”, sem dor nem violência. Nesses casos, o poder precisa atacar. Interrogatórios extremos são realizados, os resistentes são submetidos a tratamentos especiais, famílias são separadas, crianças são forçadas à felicidade comunista, irmãos são obrigados a delatar irmãos.

O partido vigia cada um de seus cidadãos. Determina qual deve ser a vestimenta. É perigoso usar barba e beber álcool. Se alguém teima em não obedecer, precisa ser doutrinado nas escolas de correção. Uma frase de Xi nos documentos revelados agora: “Para nós, comunistas, fazer guerra contra o povo deve ser natural. Somos os melhores organizadores que se pode imaginar.”

Esses documentos nos dizem que, nos últimos três anos, um novo personagem esteve à frente da região, Chen Quanguo. Um pesquisador alemão, Adrian Zenz, calculou que esse homem havia instalado mil campos de reeducação pelos quais já passaram 3 milhões de uigures. “É necessário”, diz Xi Jinping, em um dos documentos, “que os criminosos sejam educados e transformados. Mesmo depois de liberados, devemos continuar sua reabilitação”.

A passividade dos ocidentais diante dessas práticas até agora foi total. Para aqueles que ficaram estupefatos, a resposta foi que não havia certeza. Os chineses são astutos. Um pouco como esses animais que depois de executarem suas presas apagam as pegadas que restam com o rabo. Até agora, os outros poderes não reagiram às práticas. Se alguém confrontasse os chineses, eles teriam uma resposta conveniente: “Ah? De novo essa história de direitos humanos, essas ideias fora de moda, europeias. Francesas, ainda por cima.”

De agora em diante, com a revelação desses documentos secretos, não podemos justificar a passividade ocidental com o argumento da falta de provas. Como as nações livres reagirão? Veremos. A China tem mais de um bilhão de cidadãos e centenas de milhões de produtores e consumidores. / TRADUÇÃO DE ROBERTO MUNIZ

*É CORRESPONDENTE EM PARIS

Foram anos de suspeitas. Os viajantes que retornavam dessa longínqua província chinesa de Xinjiang diziam que a minoria muçulmana dos uigures era objeto de vigilância, no limite de perseguição, por parte de Pequim. Alguns poucos jornais no Ocidente ecoavam esses rumores e sussurros, mas não havia um discurso coerente, muito menos provas irrefutáveis, pois a ação de Pequim se dava da maneira obviamente chinesa: silêncio, mentiras e sombras.

Hoje, não existem mais dúvidas. O New York Times traz documentos precisos, abundantes e nevrálgicos entregues por um denunciante, provavelmente um chinês de alto escalão do governo. Os discursos do líder absoluto da China, Xi Jinping, por exemplo, revelam a mecânica de uma ação cruel, violenta e implacável contra os uigures, sempre controlada de forma tão sutil que poderia funcionar por anos sem o conhecimento dos investigadores.

Um campo de reeducação para a minoria étnica uigur, em Hotan, na província chinesa de Xinjiang, em 4 de agosto de 2019 Foto: Gilles Sabrié/The New York Times

O que os documentos dizem é que os muçulmanos de Xinjiang estão passando por um regime cujo equivalente seria a obra-prima de George Orwell, 1984, na qual o grande visionário descreveu, com 60 ou 70 anos de antecedência, o universo que toma forma diante de nossos olhos na China, que amanhã, provavelmente, estará nas felizes paisagens da Europa e dos EUA.

Alguns exemplos: drones disfarçados de pombos, reconhecimento facial ininterrupto, coleta de dados biométricos, até mesmo de bebês e idosos (com DNA, sinais na íris, voz, sangue, cabelos). Ou seja, vigilância permanente dos cidadãos e de todos os seus movimentos.

Mas alguns uigures são insuportáveis. Eles sabem como evitar a espionagem “pós-moderna”, sem dor nem violência. Nesses casos, o poder precisa atacar. Interrogatórios extremos são realizados, os resistentes são submetidos a tratamentos especiais, famílias são separadas, crianças são forçadas à felicidade comunista, irmãos são obrigados a delatar irmãos.

O partido vigia cada um de seus cidadãos. Determina qual deve ser a vestimenta. É perigoso usar barba e beber álcool. Se alguém teima em não obedecer, precisa ser doutrinado nas escolas de correção. Uma frase de Xi nos documentos revelados agora: “Para nós, comunistas, fazer guerra contra o povo deve ser natural. Somos os melhores organizadores que se pode imaginar.”

Esses documentos nos dizem que, nos últimos três anos, um novo personagem esteve à frente da região, Chen Quanguo. Um pesquisador alemão, Adrian Zenz, calculou que esse homem havia instalado mil campos de reeducação pelos quais já passaram 3 milhões de uigures. “É necessário”, diz Xi Jinping, em um dos documentos, “que os criminosos sejam educados e transformados. Mesmo depois de liberados, devemos continuar sua reabilitação”.

A passividade dos ocidentais diante dessas práticas até agora foi total. Para aqueles que ficaram estupefatos, a resposta foi que não havia certeza. Os chineses são astutos. Um pouco como esses animais que depois de executarem suas presas apagam as pegadas que restam com o rabo. Até agora, os outros poderes não reagiram às práticas. Se alguém confrontasse os chineses, eles teriam uma resposta conveniente: “Ah? De novo essa história de direitos humanos, essas ideias fora de moda, europeias. Francesas, ainda por cima.”

De agora em diante, com a revelação desses documentos secretos, não podemos justificar a passividade ocidental com o argumento da falta de provas. Como as nações livres reagirão? Veremos. A China tem mais de um bilhão de cidadãos e centenas de milhões de produtores e consumidores. / TRADUÇÃO DE ROBERTO MUNIZ

*É CORRESPONDENTE EM PARIS

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