O coronavírus é um grande viajante. Nascido na China, inicialmente foi tratado com indiferença. (“Ah, esses chineses!”). Depois de algumas semanas o vírus, chamado Covid-19 deixou a China e cruzou as fronteiras, ou para a Ásia (sobretudo o Irã) ou para a Europa, que, a partir de agora é o campo das suas mais terríveis proezas.
A Itália foi sua primeira presa, seguida pela Alemanha, Espanha, França, ou seja, os países mais importantes da União Europeia. A Inglaterra, no momento, parece ter sido poupada, mas ela não pertence mais à União Europeia já há algumas semanas. Face ao inimigo invisível, o país adotou uma tática original, que parece estar dando certo. Mas por quanto tempo? O inimigo é muito hábil, traiçoeiro, desconhecido e fulgurante.
É preciso dizer que as nações vítimas do flagelo vêm respondendo a ele adotando estratégias diversas, que mudam conforme a situação. A Itália começou erigindo barricadas tão misteriosas que o inimigo as contornou como se estivesse brincando. Roma então passou de um laxismo que gerou críticas para o rigor extremo. E condenou toda a Itália ao “confinamento”. A Itália se separou do resto do mundo. Depois de algumas semanas desse regime draconiano, ela será asfixiada, com as pessoas não tendo mais o que comer, as máquinas sendo desligadas pouco a pouco.
A França, que é a “irmã latina” da Itália, começou fazendo pouco caso das decisões do governo italiano, de modo gentil e cruel, sucessivamente.
Macron, de início, tentou acalmar a inquietação dos seus cidadãos, mas não conseguiu e foi forçado a reconhecer que escolheu o caminho errado. E se esperava que Paris seguisse o caminho adotado por Roma, ou seja, o confinamento da nação francesa.
Mas não foi o que ocorreu. A França está com falta de sorte. Há muito tempo, antes do surgimento do vírus, estavam marcados para este mês os dois turnos das eleições municipais para prefeito de todas as cidades, grandes e pequenas, do país.
Manter a eleição foi uma decisão absurda. Mas Macron é teimoso. Um estadista não renega suas próprias decisões. Assim, no domingo, a eleição foi realizada. Um fracasso humilhante. Menos da metade dos eleitores foi votar, com medo. Na segunda-feira, a pressão se multiplicou para que fosse reparado esse enorme erro. Macron hesitou, fez consultas, mudou de opinião. Se mantivesse o rigor, ou seja, persistindo na realização do segundo turno das eleições, ou anunciasse que o resultado do voto é o de domingo, nas duas hipóteses seria um fracasso.
Eis como, quando sabemos como sair do problema, a uma primeira desordem acrescentamos uma segunda.
Decididamente, há algum tempo tenho citado constantemente nas minhas crônicas o provérbio latino “Errar é humano, perseverar no erro é diabólico".
Espero não ter mais necessidade de empregá-lo. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO