Novos ventos em Madri


Formação de governo pró-UE na Espanha foi excelente notícia para Bruxelas

Por Gilles Lapouge

Após a derrota sofrida pelo governo conservador de Mariano Rajoy, tudo indicava que chegasse ao poder uma coalizão heterogênea de tendências anti-Europa. Pois o pessimismo saiu derrotado. Por um golpe de ousadia e sorte, o líder dos socialistas, Pedro Sánchez, conseguiu se impor. 

O socialista Pedro Sánchez em sua cerimônia de posse como primeiro-ministro da Espanha Foto: EFE/Fernando Alvarado

Seu mérito é grande uma vez que seu partido, o PSOE, não passa de uma sombra do que era e controla apenas 84 dos 350 assentos no Parlamento. No entanto, adicionando os radicais de esquerda do Podemos, mais alguns adeptos conquistados aqui e ali nos partidos independentistas (Catalunha e País Basco), ele criou uma equipe que foi aplaudida pela maioria dos espanhóis e, mais ainda, pelos “Senhores de Bruxelas”. 

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A União Europeia estava imersa no pessimismo desde a formação do novo governo italiano, claramente antieuropeu. O perímetro europeu retraiu-se perigosamente. Os anti-Europa proliferaram na Polônia, Hungria e República Checa. Ganharam parte do mercado na Europa Central, na Áustria e na Dinamarca. Os países pró-Europa se contraíram. Emmanuel Macron permanece o pilar do bloco.

Até mesmo a Alemanha, antes a locomotiva da UE, estava hesitante. Merkel permaneceu no poder, mas perdeu espaço com o avanço da extrema direita que entrou com vigor no Bundestag. 

A oposição a Merkel tinha até mesmo uma cabeça de ponte em um ramo da CDU, seu partido. A CSU, uma variedade “democrata-cristã” da Bavária, tradicionalmente de extrema direita, afastou-se de Merkel em razão da permissividade em relação aos migrantes. Se a Espanha também fizesse o mesmo, seria um perigo. Mas a Espanha não fez.

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E Sánchez não se contentou apenas em formar um governo, embora seu partido socialista seja minoritário. Ainda assim, ele conseguiu outra façanha: o governo que ele montou rapidamente satisfez os espanhóis, cansados de anos do conservadorismo de Rajoy. Mais surpreendente ainda: Sánchez montou uma equipe que surpreendeu toda a Europa e parece ser pioneira.

O Rei Felipe VI (C) e o premiê Pedro Sánchez (2º à esq.) ao lado dos novos ministros espanhóis no governo mais feminino da história do país Foto: EFE/Javier Lizón

Avanços. Primeira inovação. O gabinete tem muitas mulheres. Um feito. Enquanto em todos os países, os chefes dos governos procuram encontrar algumas mulheres, sem jamais alcançar a impossível paridade, na Espanha, Sánchez alinha 11 mulheres de um total de 17 ministros. Deliciosa surpresa: é a vez dos espanhóis clamarem pela paridade com os homens. Um pouco de frescor veio do outro lado dos Pirineus. E esperamos que, no futuro, a regra horrível da paridade deixe de ser reivindicada, na medida em que aconteça naturalmente.

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O segundo desafio: formar uma equipe politicamente equilibrada, uma vez que ele controla apenas um partido minoritário. Ele escolheu ignorar de certa forma os partidos políticos. Para isso, ele adotou o critério de competência na vanguarda de suas escolhas. O resultado: uma equipe que parece sólida, mas um pouco sem graça, porque não pode ser de outra orientação que a centrista.

Mas, na situação atual, o importante é que a equipe seja definida como pró-UE. A prova: o chanceler, Joseph Borrell, é ex-presidente do Parlamento Europeu. A ministra da Economia, Nadia Calvino, é ex-diretora de orçamento do bloco. Será que a equipe vai aguentar o choque? 

Sua presença será suficiente para tirar a UE da rotina em que se afundou? Os que permanecem ligados ao sonho europeu exigem uma reforma drástica nas senis instituições de Bruxelas. Este é o nicho escolhido por Macron para imprimir sua marca na história. / TRADUÇÃO DE CLAUDIA BOZZO 

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*É CORRESPONDENTE EM PARIS

Após a derrota sofrida pelo governo conservador de Mariano Rajoy, tudo indicava que chegasse ao poder uma coalizão heterogênea de tendências anti-Europa. Pois o pessimismo saiu derrotado. Por um golpe de ousadia e sorte, o líder dos socialistas, Pedro Sánchez, conseguiu se impor. 

O socialista Pedro Sánchez em sua cerimônia de posse como primeiro-ministro da Espanha Foto: EFE/Fernando Alvarado

Seu mérito é grande uma vez que seu partido, o PSOE, não passa de uma sombra do que era e controla apenas 84 dos 350 assentos no Parlamento. No entanto, adicionando os radicais de esquerda do Podemos, mais alguns adeptos conquistados aqui e ali nos partidos independentistas (Catalunha e País Basco), ele criou uma equipe que foi aplaudida pela maioria dos espanhóis e, mais ainda, pelos “Senhores de Bruxelas”. 

A União Europeia estava imersa no pessimismo desde a formação do novo governo italiano, claramente antieuropeu. O perímetro europeu retraiu-se perigosamente. Os anti-Europa proliferaram na Polônia, Hungria e República Checa. Ganharam parte do mercado na Europa Central, na Áustria e na Dinamarca. Os países pró-Europa se contraíram. Emmanuel Macron permanece o pilar do bloco.

Até mesmo a Alemanha, antes a locomotiva da UE, estava hesitante. Merkel permaneceu no poder, mas perdeu espaço com o avanço da extrema direita que entrou com vigor no Bundestag. 

A oposição a Merkel tinha até mesmo uma cabeça de ponte em um ramo da CDU, seu partido. A CSU, uma variedade “democrata-cristã” da Bavária, tradicionalmente de extrema direita, afastou-se de Merkel em razão da permissividade em relação aos migrantes. Se a Espanha também fizesse o mesmo, seria um perigo. Mas a Espanha não fez.

E Sánchez não se contentou apenas em formar um governo, embora seu partido socialista seja minoritário. Ainda assim, ele conseguiu outra façanha: o governo que ele montou rapidamente satisfez os espanhóis, cansados de anos do conservadorismo de Rajoy. Mais surpreendente ainda: Sánchez montou uma equipe que surpreendeu toda a Europa e parece ser pioneira.

O Rei Felipe VI (C) e o premiê Pedro Sánchez (2º à esq.) ao lado dos novos ministros espanhóis no governo mais feminino da história do país Foto: EFE/Javier Lizón

Avanços. Primeira inovação. O gabinete tem muitas mulheres. Um feito. Enquanto em todos os países, os chefes dos governos procuram encontrar algumas mulheres, sem jamais alcançar a impossível paridade, na Espanha, Sánchez alinha 11 mulheres de um total de 17 ministros. Deliciosa surpresa: é a vez dos espanhóis clamarem pela paridade com os homens. Um pouco de frescor veio do outro lado dos Pirineus. E esperamos que, no futuro, a regra horrível da paridade deixe de ser reivindicada, na medida em que aconteça naturalmente.

O segundo desafio: formar uma equipe politicamente equilibrada, uma vez que ele controla apenas um partido minoritário. Ele escolheu ignorar de certa forma os partidos políticos. Para isso, ele adotou o critério de competência na vanguarda de suas escolhas. O resultado: uma equipe que parece sólida, mas um pouco sem graça, porque não pode ser de outra orientação que a centrista.

Mas, na situação atual, o importante é que a equipe seja definida como pró-UE. A prova: o chanceler, Joseph Borrell, é ex-presidente do Parlamento Europeu. A ministra da Economia, Nadia Calvino, é ex-diretora de orçamento do bloco. Será que a equipe vai aguentar o choque? 

Sua presença será suficiente para tirar a UE da rotina em que se afundou? Os que permanecem ligados ao sonho europeu exigem uma reforma drástica nas senis instituições de Bruxelas. Este é o nicho escolhido por Macron para imprimir sua marca na história. / TRADUÇÃO DE CLAUDIA BOZZO 

*É CORRESPONDENTE EM PARIS

Após a derrota sofrida pelo governo conservador de Mariano Rajoy, tudo indicava que chegasse ao poder uma coalizão heterogênea de tendências anti-Europa. Pois o pessimismo saiu derrotado. Por um golpe de ousadia e sorte, o líder dos socialistas, Pedro Sánchez, conseguiu se impor. 

O socialista Pedro Sánchez em sua cerimônia de posse como primeiro-ministro da Espanha Foto: EFE/Fernando Alvarado

Seu mérito é grande uma vez que seu partido, o PSOE, não passa de uma sombra do que era e controla apenas 84 dos 350 assentos no Parlamento. No entanto, adicionando os radicais de esquerda do Podemos, mais alguns adeptos conquistados aqui e ali nos partidos independentistas (Catalunha e País Basco), ele criou uma equipe que foi aplaudida pela maioria dos espanhóis e, mais ainda, pelos “Senhores de Bruxelas”. 

A União Europeia estava imersa no pessimismo desde a formação do novo governo italiano, claramente antieuropeu. O perímetro europeu retraiu-se perigosamente. Os anti-Europa proliferaram na Polônia, Hungria e República Checa. Ganharam parte do mercado na Europa Central, na Áustria e na Dinamarca. Os países pró-Europa se contraíram. Emmanuel Macron permanece o pilar do bloco.

Até mesmo a Alemanha, antes a locomotiva da UE, estava hesitante. Merkel permaneceu no poder, mas perdeu espaço com o avanço da extrema direita que entrou com vigor no Bundestag. 

A oposição a Merkel tinha até mesmo uma cabeça de ponte em um ramo da CDU, seu partido. A CSU, uma variedade “democrata-cristã” da Bavária, tradicionalmente de extrema direita, afastou-se de Merkel em razão da permissividade em relação aos migrantes. Se a Espanha também fizesse o mesmo, seria um perigo. Mas a Espanha não fez.

E Sánchez não se contentou apenas em formar um governo, embora seu partido socialista seja minoritário. Ainda assim, ele conseguiu outra façanha: o governo que ele montou rapidamente satisfez os espanhóis, cansados de anos do conservadorismo de Rajoy. Mais surpreendente ainda: Sánchez montou uma equipe que surpreendeu toda a Europa e parece ser pioneira.

O Rei Felipe VI (C) e o premiê Pedro Sánchez (2º à esq.) ao lado dos novos ministros espanhóis no governo mais feminino da história do país Foto: EFE/Javier Lizón

Avanços. Primeira inovação. O gabinete tem muitas mulheres. Um feito. Enquanto em todos os países, os chefes dos governos procuram encontrar algumas mulheres, sem jamais alcançar a impossível paridade, na Espanha, Sánchez alinha 11 mulheres de um total de 17 ministros. Deliciosa surpresa: é a vez dos espanhóis clamarem pela paridade com os homens. Um pouco de frescor veio do outro lado dos Pirineus. E esperamos que, no futuro, a regra horrível da paridade deixe de ser reivindicada, na medida em que aconteça naturalmente.

O segundo desafio: formar uma equipe politicamente equilibrada, uma vez que ele controla apenas um partido minoritário. Ele escolheu ignorar de certa forma os partidos políticos. Para isso, ele adotou o critério de competência na vanguarda de suas escolhas. O resultado: uma equipe que parece sólida, mas um pouco sem graça, porque não pode ser de outra orientação que a centrista.

Mas, na situação atual, o importante é que a equipe seja definida como pró-UE. A prova: o chanceler, Joseph Borrell, é ex-presidente do Parlamento Europeu. A ministra da Economia, Nadia Calvino, é ex-diretora de orçamento do bloco. Será que a equipe vai aguentar o choque? 

Sua presença será suficiente para tirar a UE da rotina em que se afundou? Os que permanecem ligados ao sonho europeu exigem uma reforma drástica nas senis instituições de Bruxelas. Este é o nicho escolhido por Macron para imprimir sua marca na história. / TRADUÇÃO DE CLAUDIA BOZZO 

*É CORRESPONDENTE EM PARIS

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