Quem celebra em Paris


Reação de Marine Le Pen é reproduzida entre os extremistas de toda a Europa

Por Gilles Lapouge
Atualização:

“A vitória de Donald Trump é uma boa notícia para a França.” Pelo menos uma pessoa em Paris se alegrou com a dramática reviravolta que deixou estupefatos os EUA, Hillary Clinton e o mundo inteiro na noite de terça-feira. Foi Marine Le Pen, a dirigente do partido de extrema direita Frente Nacional (FN).

No momento, a felicidade de Marine é solitária. A maioria dos franceses não se mostra, de modo algum, alegre. O filósofo Bernard-Henri Levy saiu na frente e, com o lirismo palpitante que é sua especialidade, afirmou: “Acabamos de assistir ao vivo ao suicídio de uma nação”.

Marine Le Pen, presidente da Frente Nacional francesa, defendeu que cada nação possa se manifestar por meio de um referendo Foto: MATTHIEU ALEXANDRE / AFP
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Mas compreendemos a alegria de Marine Le Pen. Dentro de cinco meses a França elegerá seu presidente. Marine, que tem muito talento, fará parte do primeiro pelotão, pois já conta com 25% das intenções de voto. Conseguirá ela superar os 25% e vencer essa eleição? Será difícil, pois se depara com o que chamamos “telhado de vidro”, ou seja, uma espécie de proibição ou vertigem à qual se submetem mais ou menos inconscientemente os eleitores extremistas durante a busca pela vitória. 

Marine recebeu o triunfo inesperado de Trump como a chegada da primavera. O americano estilhaçou esse telhado de vidro sob o qual enfraquecem os populismos que se opõem ao establishment. Para Marine, o exemplo de Donald Trump vai inflamar seus partidários e, desta vez ,eles não terão medo de levar sua cólera até o fim, como fizeram os partidários de Trump. 

A reação de Marine Le Pen é reproduzida entre os extremistas de toda a Europa. Foi o caso do líder holandês de extrema direita Geert Wilders e do premiê húngaro, Viktor Orban, que detesta a União Europeia. “A democracia continua viva”, disse Orban ontem.

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O marechal Sissi, do Egito, também aplaudiu a eleição de Trump. Sem dúvida outros se unirão ao mesmo entusiasmo, como os dirigentes poloneses, checos, eslovacos, que certamente estão felizes ao ouvir o novo senhor do mundo amaldiçoar “esses estrangeiros, imigrantes, vagabundos, bandidos, não brancos” que a Europa Oriental devolveria de boa vontade a seus países de origem, como Síria, Líbia, Afeganistão ou Eritreia. É isto que inquieta: o triunfo de Trump é um forte apelo em favor dos populistas.

A eleição americana pode também ter o efeito de suspender alguns interditos. Entre outros, aquele do qual é vítima o presidente russo, Vladimir Putin. Mesmo dentro de partidos europeus tradicionais algumas vozes isoladas lamentam que o Ocidente (EUA e Europa) tenha lançado uma imprecação contra a Rússia, ao passo que todo mundo sabe que Putin detém algumas das chaves de uma eventual solução para o Oriente Médio.

O ostracismo ao qual Moscou foi lançado teve por efeito bloquear todas as relações entre Rússia e Europa, e lançar o país, que é europeu, nos braços da China, além de estabelecer contra Moscou ruinosas sanções econômicas que também constituem um desastre para as economias europeias. 

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Em Bruxelas, a vitória de Trump foi recebida como uma cacetada. Esse novo golpe vem se juntar ao primeiro, há alguns meses, quando a Grã-Bretanha decidiu se retirar da UE. Nos corredores da Comissão Europeia, ontem, as fisionomias eram sombrias.

Nada mais lógico. No embrião do programa que Trump vem desenvolvendo há seis meses, todos os princípios sagrados da União Europeia foram escarnecidos: o liberalismo sem freios, o livre-comércio, os direitos humanos, o respeito às minorias, a acolhida dos imigrantes. “Os valores de Trump são opostos aos nossos”, disse um alto funcionário de Bruxelas.

Entendemos as angústias de Bruxelas: o barco da UE já está em mau estado. Metade dele foi desmantelada pelo Brexit. A União Europeia segue de fracasso em fracasso. Se Alemanha, França ou Itália continuam atreladas, muitas outras nações não suportam mais o governo crepuscular de Bruxelas. Há seis meses, viram com admiração os britânicos aprovarem o Brexit. Será uma grande infelicidade para Bruxelas se o exemplo de Trump encorajar esses países a avançar no mesmo sentido.

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“Há seis meses, fomos atingidos de frente pelo Brexit de Londres. Esta manhã (ontem) tivemos um segundo Brexit, com a vitória de Trump. E em cinco meses talvez um terceiro, com uma vitória de Marine Le Pen na França”, afirmou um diplomata de Bruxelas. 

Dois efeitos da vitória de Trump são, sobretudo, inquietantes. O primeiro diz respeito ao Irã. Trump seguirá a via inteligente aberta por Obama ou retomará a ofensiva? E, mais grave, não parece apreciar muito a ecologia ou os ecologistas. Questionará ele os avanços, pela primeira vez, reais, na luta contra o aquecimento do clima? Nesses dois assuntos, como em muitos outros, o mundo se aventura em territórios não demarcados. Tendo perdido todas suas bússolas, penetra no desconhecido. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO 

*É CORRESPONDENTE EM PARIS

“A vitória de Donald Trump é uma boa notícia para a França.” Pelo menos uma pessoa em Paris se alegrou com a dramática reviravolta que deixou estupefatos os EUA, Hillary Clinton e o mundo inteiro na noite de terça-feira. Foi Marine Le Pen, a dirigente do partido de extrema direita Frente Nacional (FN).

No momento, a felicidade de Marine é solitária. A maioria dos franceses não se mostra, de modo algum, alegre. O filósofo Bernard-Henri Levy saiu na frente e, com o lirismo palpitante que é sua especialidade, afirmou: “Acabamos de assistir ao vivo ao suicídio de uma nação”.

Marine Le Pen, presidente da Frente Nacional francesa, defendeu que cada nação possa se manifestar por meio de um referendo Foto: MATTHIEU ALEXANDRE / AFP

Mas compreendemos a alegria de Marine Le Pen. Dentro de cinco meses a França elegerá seu presidente. Marine, que tem muito talento, fará parte do primeiro pelotão, pois já conta com 25% das intenções de voto. Conseguirá ela superar os 25% e vencer essa eleição? Será difícil, pois se depara com o que chamamos “telhado de vidro”, ou seja, uma espécie de proibição ou vertigem à qual se submetem mais ou menos inconscientemente os eleitores extremistas durante a busca pela vitória. 

Marine recebeu o triunfo inesperado de Trump como a chegada da primavera. O americano estilhaçou esse telhado de vidro sob o qual enfraquecem os populismos que se opõem ao establishment. Para Marine, o exemplo de Donald Trump vai inflamar seus partidários e, desta vez ,eles não terão medo de levar sua cólera até o fim, como fizeram os partidários de Trump. 

A reação de Marine Le Pen é reproduzida entre os extremistas de toda a Europa. Foi o caso do líder holandês de extrema direita Geert Wilders e do premiê húngaro, Viktor Orban, que detesta a União Europeia. “A democracia continua viva”, disse Orban ontem.

O marechal Sissi, do Egito, também aplaudiu a eleição de Trump. Sem dúvida outros se unirão ao mesmo entusiasmo, como os dirigentes poloneses, checos, eslovacos, que certamente estão felizes ao ouvir o novo senhor do mundo amaldiçoar “esses estrangeiros, imigrantes, vagabundos, bandidos, não brancos” que a Europa Oriental devolveria de boa vontade a seus países de origem, como Síria, Líbia, Afeganistão ou Eritreia. É isto que inquieta: o triunfo de Trump é um forte apelo em favor dos populistas.

A eleição americana pode também ter o efeito de suspender alguns interditos. Entre outros, aquele do qual é vítima o presidente russo, Vladimir Putin. Mesmo dentro de partidos europeus tradicionais algumas vozes isoladas lamentam que o Ocidente (EUA e Europa) tenha lançado uma imprecação contra a Rússia, ao passo que todo mundo sabe que Putin detém algumas das chaves de uma eventual solução para o Oriente Médio.

O ostracismo ao qual Moscou foi lançado teve por efeito bloquear todas as relações entre Rússia e Europa, e lançar o país, que é europeu, nos braços da China, além de estabelecer contra Moscou ruinosas sanções econômicas que também constituem um desastre para as economias europeias. 

Em Bruxelas, a vitória de Trump foi recebida como uma cacetada. Esse novo golpe vem se juntar ao primeiro, há alguns meses, quando a Grã-Bretanha decidiu se retirar da UE. Nos corredores da Comissão Europeia, ontem, as fisionomias eram sombrias.

Nada mais lógico. No embrião do programa que Trump vem desenvolvendo há seis meses, todos os princípios sagrados da União Europeia foram escarnecidos: o liberalismo sem freios, o livre-comércio, os direitos humanos, o respeito às minorias, a acolhida dos imigrantes. “Os valores de Trump são opostos aos nossos”, disse um alto funcionário de Bruxelas.

Entendemos as angústias de Bruxelas: o barco da UE já está em mau estado. Metade dele foi desmantelada pelo Brexit. A União Europeia segue de fracasso em fracasso. Se Alemanha, França ou Itália continuam atreladas, muitas outras nações não suportam mais o governo crepuscular de Bruxelas. Há seis meses, viram com admiração os britânicos aprovarem o Brexit. Será uma grande infelicidade para Bruxelas se o exemplo de Trump encorajar esses países a avançar no mesmo sentido.

“Há seis meses, fomos atingidos de frente pelo Brexit de Londres. Esta manhã (ontem) tivemos um segundo Brexit, com a vitória de Trump. E em cinco meses talvez um terceiro, com uma vitória de Marine Le Pen na França”, afirmou um diplomata de Bruxelas. 

Dois efeitos da vitória de Trump são, sobretudo, inquietantes. O primeiro diz respeito ao Irã. Trump seguirá a via inteligente aberta por Obama ou retomará a ofensiva? E, mais grave, não parece apreciar muito a ecologia ou os ecologistas. Questionará ele os avanços, pela primeira vez, reais, na luta contra o aquecimento do clima? Nesses dois assuntos, como em muitos outros, o mundo se aventura em territórios não demarcados. Tendo perdido todas suas bússolas, penetra no desconhecido. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO 

*É CORRESPONDENTE EM PARIS

“A vitória de Donald Trump é uma boa notícia para a França.” Pelo menos uma pessoa em Paris se alegrou com a dramática reviravolta que deixou estupefatos os EUA, Hillary Clinton e o mundo inteiro na noite de terça-feira. Foi Marine Le Pen, a dirigente do partido de extrema direita Frente Nacional (FN).

No momento, a felicidade de Marine é solitária. A maioria dos franceses não se mostra, de modo algum, alegre. O filósofo Bernard-Henri Levy saiu na frente e, com o lirismo palpitante que é sua especialidade, afirmou: “Acabamos de assistir ao vivo ao suicídio de uma nação”.

Marine Le Pen, presidente da Frente Nacional francesa, defendeu que cada nação possa se manifestar por meio de um referendo Foto: MATTHIEU ALEXANDRE / AFP

Mas compreendemos a alegria de Marine Le Pen. Dentro de cinco meses a França elegerá seu presidente. Marine, que tem muito talento, fará parte do primeiro pelotão, pois já conta com 25% das intenções de voto. Conseguirá ela superar os 25% e vencer essa eleição? Será difícil, pois se depara com o que chamamos “telhado de vidro”, ou seja, uma espécie de proibição ou vertigem à qual se submetem mais ou menos inconscientemente os eleitores extremistas durante a busca pela vitória. 

Marine recebeu o triunfo inesperado de Trump como a chegada da primavera. O americano estilhaçou esse telhado de vidro sob o qual enfraquecem os populismos que se opõem ao establishment. Para Marine, o exemplo de Donald Trump vai inflamar seus partidários e, desta vez ,eles não terão medo de levar sua cólera até o fim, como fizeram os partidários de Trump. 

A reação de Marine Le Pen é reproduzida entre os extremistas de toda a Europa. Foi o caso do líder holandês de extrema direita Geert Wilders e do premiê húngaro, Viktor Orban, que detesta a União Europeia. “A democracia continua viva”, disse Orban ontem.

O marechal Sissi, do Egito, também aplaudiu a eleição de Trump. Sem dúvida outros se unirão ao mesmo entusiasmo, como os dirigentes poloneses, checos, eslovacos, que certamente estão felizes ao ouvir o novo senhor do mundo amaldiçoar “esses estrangeiros, imigrantes, vagabundos, bandidos, não brancos” que a Europa Oriental devolveria de boa vontade a seus países de origem, como Síria, Líbia, Afeganistão ou Eritreia. É isto que inquieta: o triunfo de Trump é um forte apelo em favor dos populistas.

A eleição americana pode também ter o efeito de suspender alguns interditos. Entre outros, aquele do qual é vítima o presidente russo, Vladimir Putin. Mesmo dentro de partidos europeus tradicionais algumas vozes isoladas lamentam que o Ocidente (EUA e Europa) tenha lançado uma imprecação contra a Rússia, ao passo que todo mundo sabe que Putin detém algumas das chaves de uma eventual solução para o Oriente Médio.

O ostracismo ao qual Moscou foi lançado teve por efeito bloquear todas as relações entre Rússia e Europa, e lançar o país, que é europeu, nos braços da China, além de estabelecer contra Moscou ruinosas sanções econômicas que também constituem um desastre para as economias europeias. 

Em Bruxelas, a vitória de Trump foi recebida como uma cacetada. Esse novo golpe vem se juntar ao primeiro, há alguns meses, quando a Grã-Bretanha decidiu se retirar da UE. Nos corredores da Comissão Europeia, ontem, as fisionomias eram sombrias.

Nada mais lógico. No embrião do programa que Trump vem desenvolvendo há seis meses, todos os princípios sagrados da União Europeia foram escarnecidos: o liberalismo sem freios, o livre-comércio, os direitos humanos, o respeito às minorias, a acolhida dos imigrantes. “Os valores de Trump são opostos aos nossos”, disse um alto funcionário de Bruxelas.

Entendemos as angústias de Bruxelas: o barco da UE já está em mau estado. Metade dele foi desmantelada pelo Brexit. A União Europeia segue de fracasso em fracasso. Se Alemanha, França ou Itália continuam atreladas, muitas outras nações não suportam mais o governo crepuscular de Bruxelas. Há seis meses, viram com admiração os britânicos aprovarem o Brexit. Será uma grande infelicidade para Bruxelas se o exemplo de Trump encorajar esses países a avançar no mesmo sentido.

“Há seis meses, fomos atingidos de frente pelo Brexit de Londres. Esta manhã (ontem) tivemos um segundo Brexit, com a vitória de Trump. E em cinco meses talvez um terceiro, com uma vitória de Marine Le Pen na França”, afirmou um diplomata de Bruxelas. 

Dois efeitos da vitória de Trump são, sobretudo, inquietantes. O primeiro diz respeito ao Irã. Trump seguirá a via inteligente aberta por Obama ou retomará a ofensiva? E, mais grave, não parece apreciar muito a ecologia ou os ecologistas. Questionará ele os avanços, pela primeira vez, reais, na luta contra o aquecimento do clima? Nesses dois assuntos, como em muitos outros, o mundo se aventura em territórios não demarcados. Tendo perdido todas suas bússolas, penetra no desconhecido. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO 

*É CORRESPONDENTE EM PARIS

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