Recrutados para morrer


O EI vem usando crianças para conduzir carros-bomba em meio à ofensiva por Mossul

Por Gilles Lapouge
Atualização:

Muito sutil seria o especialista, o consultor, ou o ministro, ou até o jornalista, que nos fizesse ver a batalha de Mossul, que há muito tempo era esperada.

Como resumir esse choque obscuro e caótico entre sunitas contra outros sunitas (Mossul é uma cidade de maioria sunita, como são os seus opressores, os jihadistas do Estado Islâmico) dentro de uma coalizão formada por xiitas, sunitas, cristãos e yazidis, somando interesses, objetivos e paixões contrárias, de americanos, franceses, turcos que detestam os curdos e curdos que detestam os turcos, todos lutando juntos contra o EI.

Autoridades dos EUA avaliam ser provável que o EI use armas químicas na batalha pelo controle de Mossul Foto: Militant website via AP, File
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E, claro, há os suicidas. Que, infelizmente, nos são familiares desde que em Nova York, há 15 anos, Osama bin Laden coordenou os atentados em que aviões com militantes da Al-Qaeda destroçaram as torres gêmeas do World Trade Center. Desde então não há um dia sem que, em algum ponto do globo, alguns fanáticos se explodam levando consigo 20, 30, 40 inocentes. Portanto, esperava-se que estariam presentes em Mossul. E estão. Mas suas táticas são novas.

O enviado especial do Figaro nos relatou. Ele está em Khazir, a 18 quilômetros de Mossul. Mil peshmergas (combatentes curdos) lutam contra 50 jihadistas. Depois de seis horas o combate termina. Nesse momento, 20 jihadistas surgem do nada. Entram na luta? Não. Sete jihadistas correm na direção dos soldados e se explodem. Todos os outros morrem. Outro espetáculo, na cidade de Badani, cercada por peshmergas. O combate já está no fim quando surge um veículo que investe diretamente contra os atacantes. O caminhão é uma enorme bomba. A explosão é fenomenal. E o que se recolhe são pedaços de homens, atacantes e defensores juntos.

Estas ações não fazem parte da batalha. São caminhões conduzidos por garotos. Um deles não devia ter mais que 13 anos. Sabíamos que o EI recrutou 3 mil crianças preparadas para morrer nas escolas da jihad. Essas crianças não são utilizadas nos combates. Sua missão é apenas morrer.

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Penetrando em território controlado pelo Estado Islâmico, vemos também que os jihadistas há dois anos vêm construindo nos subterrâneos de vilarejos e casas buracos, cavidades, grutas. E nos vêm à mente as colônias de insetos ou pequenos mamíferos que não veem a luz do sol e vivem na sua eternidade negra uma existência de lêmures.

Uma estranha impressão, como se, embaixo de nossas cidades, nossos campos, nosso sol, se estendesse um outro país, habitado por milhares de mortos-vivos, fantasmas.

E os habitantes dessas cidades subterrâneas também são “seres prontos para morrer”. E já estão mortos. Sabem que não sentirão nunca mais a doçura do amanhecer, a carícia dos crepúsculos. São “seres das sombras”. 

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Às vezes surgem de repente no meio de um batalhão das forças de coalizão e morrem, e sua morte é uma arma absoluta. Outras vezes não se mostram. Continuam enterrados, no fundo do seu limbo, no seu inferno. Também eles foram escolhidos para morrer, esmagados pelas bombas da coalizão, ou porque todas as saídas estão fechadas pelas escavadeiras da coalizão, e morrem lentamente...

Sim, decididamente, o culto extasiado da morte voluntária continua um dos grandes enigmas da jihad. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO 

*É CORRESPONDENTE EM PARIS

Muito sutil seria o especialista, o consultor, ou o ministro, ou até o jornalista, que nos fizesse ver a batalha de Mossul, que há muito tempo era esperada.

Como resumir esse choque obscuro e caótico entre sunitas contra outros sunitas (Mossul é uma cidade de maioria sunita, como são os seus opressores, os jihadistas do Estado Islâmico) dentro de uma coalizão formada por xiitas, sunitas, cristãos e yazidis, somando interesses, objetivos e paixões contrárias, de americanos, franceses, turcos que detestam os curdos e curdos que detestam os turcos, todos lutando juntos contra o EI.

Autoridades dos EUA avaliam ser provável que o EI use armas químicas na batalha pelo controle de Mossul Foto: Militant website via AP, File

E, claro, há os suicidas. Que, infelizmente, nos são familiares desde que em Nova York, há 15 anos, Osama bin Laden coordenou os atentados em que aviões com militantes da Al-Qaeda destroçaram as torres gêmeas do World Trade Center. Desde então não há um dia sem que, em algum ponto do globo, alguns fanáticos se explodam levando consigo 20, 30, 40 inocentes. Portanto, esperava-se que estariam presentes em Mossul. E estão. Mas suas táticas são novas.

O enviado especial do Figaro nos relatou. Ele está em Khazir, a 18 quilômetros de Mossul. Mil peshmergas (combatentes curdos) lutam contra 50 jihadistas. Depois de seis horas o combate termina. Nesse momento, 20 jihadistas surgem do nada. Entram na luta? Não. Sete jihadistas correm na direção dos soldados e se explodem. Todos os outros morrem. Outro espetáculo, na cidade de Badani, cercada por peshmergas. O combate já está no fim quando surge um veículo que investe diretamente contra os atacantes. O caminhão é uma enorme bomba. A explosão é fenomenal. E o que se recolhe são pedaços de homens, atacantes e defensores juntos.

Estas ações não fazem parte da batalha. São caminhões conduzidos por garotos. Um deles não devia ter mais que 13 anos. Sabíamos que o EI recrutou 3 mil crianças preparadas para morrer nas escolas da jihad. Essas crianças não são utilizadas nos combates. Sua missão é apenas morrer.

Penetrando em território controlado pelo Estado Islâmico, vemos também que os jihadistas há dois anos vêm construindo nos subterrâneos de vilarejos e casas buracos, cavidades, grutas. E nos vêm à mente as colônias de insetos ou pequenos mamíferos que não veem a luz do sol e vivem na sua eternidade negra uma existência de lêmures.

Uma estranha impressão, como se, embaixo de nossas cidades, nossos campos, nosso sol, se estendesse um outro país, habitado por milhares de mortos-vivos, fantasmas.

E os habitantes dessas cidades subterrâneas também são “seres prontos para morrer”. E já estão mortos. Sabem que não sentirão nunca mais a doçura do amanhecer, a carícia dos crepúsculos. São “seres das sombras”. 

Às vezes surgem de repente no meio de um batalhão das forças de coalizão e morrem, e sua morte é uma arma absoluta. Outras vezes não se mostram. Continuam enterrados, no fundo do seu limbo, no seu inferno. Também eles foram escolhidos para morrer, esmagados pelas bombas da coalizão, ou porque todas as saídas estão fechadas pelas escavadeiras da coalizão, e morrem lentamente...

Sim, decididamente, o culto extasiado da morte voluntária continua um dos grandes enigmas da jihad. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO 

*É CORRESPONDENTE EM PARIS

Muito sutil seria o especialista, o consultor, ou o ministro, ou até o jornalista, que nos fizesse ver a batalha de Mossul, que há muito tempo era esperada.

Como resumir esse choque obscuro e caótico entre sunitas contra outros sunitas (Mossul é uma cidade de maioria sunita, como são os seus opressores, os jihadistas do Estado Islâmico) dentro de uma coalizão formada por xiitas, sunitas, cristãos e yazidis, somando interesses, objetivos e paixões contrárias, de americanos, franceses, turcos que detestam os curdos e curdos que detestam os turcos, todos lutando juntos contra o EI.

Autoridades dos EUA avaliam ser provável que o EI use armas químicas na batalha pelo controle de Mossul Foto: Militant website via AP, File

E, claro, há os suicidas. Que, infelizmente, nos são familiares desde que em Nova York, há 15 anos, Osama bin Laden coordenou os atentados em que aviões com militantes da Al-Qaeda destroçaram as torres gêmeas do World Trade Center. Desde então não há um dia sem que, em algum ponto do globo, alguns fanáticos se explodam levando consigo 20, 30, 40 inocentes. Portanto, esperava-se que estariam presentes em Mossul. E estão. Mas suas táticas são novas.

O enviado especial do Figaro nos relatou. Ele está em Khazir, a 18 quilômetros de Mossul. Mil peshmergas (combatentes curdos) lutam contra 50 jihadistas. Depois de seis horas o combate termina. Nesse momento, 20 jihadistas surgem do nada. Entram na luta? Não. Sete jihadistas correm na direção dos soldados e se explodem. Todos os outros morrem. Outro espetáculo, na cidade de Badani, cercada por peshmergas. O combate já está no fim quando surge um veículo que investe diretamente contra os atacantes. O caminhão é uma enorme bomba. A explosão é fenomenal. E o que se recolhe são pedaços de homens, atacantes e defensores juntos.

Estas ações não fazem parte da batalha. São caminhões conduzidos por garotos. Um deles não devia ter mais que 13 anos. Sabíamos que o EI recrutou 3 mil crianças preparadas para morrer nas escolas da jihad. Essas crianças não são utilizadas nos combates. Sua missão é apenas morrer.

Penetrando em território controlado pelo Estado Islâmico, vemos também que os jihadistas há dois anos vêm construindo nos subterrâneos de vilarejos e casas buracos, cavidades, grutas. E nos vêm à mente as colônias de insetos ou pequenos mamíferos que não veem a luz do sol e vivem na sua eternidade negra uma existência de lêmures.

Uma estranha impressão, como se, embaixo de nossas cidades, nossos campos, nosso sol, se estendesse um outro país, habitado por milhares de mortos-vivos, fantasmas.

E os habitantes dessas cidades subterrâneas também são “seres prontos para morrer”. E já estão mortos. Sabem que não sentirão nunca mais a doçura do amanhecer, a carícia dos crepúsculos. São “seres das sombras”. 

Às vezes surgem de repente no meio de um batalhão das forças de coalizão e morrem, e sua morte é uma arma absoluta. Outras vezes não se mostram. Continuam enterrados, no fundo do seu limbo, no seu inferno. Também eles foram escolhidos para morrer, esmagados pelas bombas da coalizão, ou porque todas as saídas estão fechadas pelas escavadeiras da coalizão, e morrem lentamente...

Sim, decididamente, o culto extasiado da morte voluntária continua um dos grandes enigmas da jihad. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO 

*É CORRESPONDENTE EM PARIS

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