Artigo: Trump e Marine Le Pen


Vitória de magnata nos EUA já interfere nas eleições da França, 5 meses antes

Por Gilles Lapouge

Esperando reformar o Universo, tarefa à qual se dedicará a partir de janeiro de 2017, Donald Trump já começa a influir nas mudanças em outros países. Há três dias, a União Europeia (UE) se esforça para acordar de seu sono dogmático como se a chegada de Trump à Casa Branca ameaçasse a sobrevivência do instável “castelo de cartas” que impera em Bruxelas. Por exemplo, se Trump realmente retirar os EUA da Otan, a UE será obrigada a fundar, enfim, essa “Europa da Defesa” que promete há anos.

No caso da França, Trump já interfere nas próximas eleições presidenciais, previstas para daqui a cinco meses. Claro, ele não interferiu em nada. É um indivíduo importante demais para se consagrar a esse minúsculo problema. Mas essa é a questão: ele não precisa agir, as coisas acontecem por si.

Marine Le Pen, presidente da Frente Nacional, faz campanha em Frejus,sul daFrança Foto: AP/Claude Paris
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O americano já influi na eleição francesa de duas maneiras: de um lado, ampliando alguns temas da extrema direita francesa – como o ódio aos imigrantes e aos árabes, a preferência pelas fronteiras – e, assim, provoca um vento violento que sopra nas velas das esquadras populistas europeias. De outro, incitando alguns partidos europeus tradicionais a adotarem um discurso mais de direita, difundindo no Continente resquícios do discurso do próprio Trump.

Na França, evidentemente, é a Frente Nacional, de Marine Le Pen, que se beneficia diretamente. A maioria dos temas defendidos por Trump é parecida com os de Marine, desde os mais detestáveis (ódio aos imigrantes etc.) até os mais razoáveis, como uma reconciliação com a Rússia, a volta do Estado-nação, frear o liberalismo descontrolado etc. Não espanta o fato de Marine ter ficado extasiada com a eleição nos EUA, mesmo achando o presidente eleito um pouco vulgar, sobretudo agora que ela vem se dedicando a por fim à demonização do seu partido, dando-lhe um aspecto mais delicado.

Mais interessante ainda é o que ocorre com o partido da “direita mais aceitável”, dos republicanos, que terá candidatos de peso nas próximas eleições presidenciais: Nicolas Sarkozy, o ex-presidente da República, Alain Juppé, François Fillon, etc. Todos esses futuros candidatos temem que Marine, já bastante popular, intensifique ainda mais sua sedução e aproveite ao máximo o “efeito Trump”, a ponto de sair vitoriosa na eleição.

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Diante dessa grande ameaça, cada candidato da direita francesa reage segundo seus cálculos e seu caráter: Juppé, mais orgulhoso que vaidoso, prossegue seu caminho sem mudar uma vírgula do discurso. Sarkozy tentará tirar proveito da vitória de Trump. E como a sutileza não é sua especialidade, ele deve criar um Trump em forte ebulição.

Sarkozy está numa corrida de velocidade com Marine. E por que quebrar a cabeça buscando frases de impacto que já foram testadas nos Estados Unidos com sucesso? Há dois dias, ele descobriu no teclado do seu computador o botão copiar/colar e vem se regalando. E passou a falar “em nome do povo”. “Quando o povo se exprime, é preciso escutá-lo.” E o que diz o povo? Que há árabes demais, imigrantes em excesso, muitos estrangeiros. 

A artimanha de Sarkozy é a de que, se multiplicar os discursos que repetem termos usados por Trump e Marine, o faz por uma boa causa. É para poupar a França da infelicidade de cair nas mãos dos populistas, dos quais Trump é o maior representante, ou nas mãos da Frente Nacional. Às vezes, de tanto imitar Marine, Sarkozy pronuncia discursos ainda mais populistas do que aqueles que tenta copiar.

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Na verdade, a vantagem de Sarkozy em relação a outros rivais, como Juppé, é que ele não precisar forçar muito seu talento para entrar no jardim populista. Ele entendeu que Trump, além de sua “vulgata” contra os estrangeiros e imigrantes, explorou outros temas. Por exemplo, a crítica do livre-comércio desenfreado, da Europa supranacional, ou ainda a necessidade de armar a Europa com instrumentos protecionistas. Sarkozy até agora nem sonhava com essas questões – ou, pelo menos, não acreditava na sua eficácia. Há três dias, descobriu que têm seu charme.

Mas ele deve ser mais previdente: Trump propôs reformas tão extravagantes que, no contato com a “dura realidade”, sem dúvida será obrigado a suavizá-las um pouco, torná-las mais civilizadas, mais apresentáveis. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO  É CORRESPONDENTE EM PARIS

Vale do Silício se une contra Trump

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Vale do Silício se une contra Trump

Foto: REUTERS/Jonathan Ernst
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Steve Wozniak - Apple

Foto: REUTERS/Robert Galbraith
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Tim Cook - Apple

Foto: Reuters
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Jeff Bezos - Amazon e The Washington Post

Foto: Reuters
5 | 5

Peter Thiel - PayPal

Foto: Divulgação

Esperando reformar o Universo, tarefa à qual se dedicará a partir de janeiro de 2017, Donald Trump já começa a influir nas mudanças em outros países. Há três dias, a União Europeia (UE) se esforça para acordar de seu sono dogmático como se a chegada de Trump à Casa Branca ameaçasse a sobrevivência do instável “castelo de cartas” que impera em Bruxelas. Por exemplo, se Trump realmente retirar os EUA da Otan, a UE será obrigada a fundar, enfim, essa “Europa da Defesa” que promete há anos.

No caso da França, Trump já interfere nas próximas eleições presidenciais, previstas para daqui a cinco meses. Claro, ele não interferiu em nada. É um indivíduo importante demais para se consagrar a esse minúsculo problema. Mas essa é a questão: ele não precisa agir, as coisas acontecem por si.

Marine Le Pen, presidente da Frente Nacional, faz campanha em Frejus,sul daFrança Foto: AP/Claude Paris

O americano já influi na eleição francesa de duas maneiras: de um lado, ampliando alguns temas da extrema direita francesa – como o ódio aos imigrantes e aos árabes, a preferência pelas fronteiras – e, assim, provoca um vento violento que sopra nas velas das esquadras populistas europeias. De outro, incitando alguns partidos europeus tradicionais a adotarem um discurso mais de direita, difundindo no Continente resquícios do discurso do próprio Trump.

Na França, evidentemente, é a Frente Nacional, de Marine Le Pen, que se beneficia diretamente. A maioria dos temas defendidos por Trump é parecida com os de Marine, desde os mais detestáveis (ódio aos imigrantes etc.) até os mais razoáveis, como uma reconciliação com a Rússia, a volta do Estado-nação, frear o liberalismo descontrolado etc. Não espanta o fato de Marine ter ficado extasiada com a eleição nos EUA, mesmo achando o presidente eleito um pouco vulgar, sobretudo agora que ela vem se dedicando a por fim à demonização do seu partido, dando-lhe um aspecto mais delicado.

Mais interessante ainda é o que ocorre com o partido da “direita mais aceitável”, dos republicanos, que terá candidatos de peso nas próximas eleições presidenciais: Nicolas Sarkozy, o ex-presidente da República, Alain Juppé, François Fillon, etc. Todos esses futuros candidatos temem que Marine, já bastante popular, intensifique ainda mais sua sedução e aproveite ao máximo o “efeito Trump”, a ponto de sair vitoriosa na eleição.

Diante dessa grande ameaça, cada candidato da direita francesa reage segundo seus cálculos e seu caráter: Juppé, mais orgulhoso que vaidoso, prossegue seu caminho sem mudar uma vírgula do discurso. Sarkozy tentará tirar proveito da vitória de Trump. E como a sutileza não é sua especialidade, ele deve criar um Trump em forte ebulição.

Sarkozy está numa corrida de velocidade com Marine. E por que quebrar a cabeça buscando frases de impacto que já foram testadas nos Estados Unidos com sucesso? Há dois dias, ele descobriu no teclado do seu computador o botão copiar/colar e vem se regalando. E passou a falar “em nome do povo”. “Quando o povo se exprime, é preciso escutá-lo.” E o que diz o povo? Que há árabes demais, imigrantes em excesso, muitos estrangeiros. 

A artimanha de Sarkozy é a de que, se multiplicar os discursos que repetem termos usados por Trump e Marine, o faz por uma boa causa. É para poupar a França da infelicidade de cair nas mãos dos populistas, dos quais Trump é o maior representante, ou nas mãos da Frente Nacional. Às vezes, de tanto imitar Marine, Sarkozy pronuncia discursos ainda mais populistas do que aqueles que tenta copiar.

Na verdade, a vantagem de Sarkozy em relação a outros rivais, como Juppé, é que ele não precisar forçar muito seu talento para entrar no jardim populista. Ele entendeu que Trump, além de sua “vulgata” contra os estrangeiros e imigrantes, explorou outros temas. Por exemplo, a crítica do livre-comércio desenfreado, da Europa supranacional, ou ainda a necessidade de armar a Europa com instrumentos protecionistas. Sarkozy até agora nem sonhava com essas questões – ou, pelo menos, não acreditava na sua eficácia. Há três dias, descobriu que têm seu charme.

Mas ele deve ser mais previdente: Trump propôs reformas tão extravagantes que, no contato com a “dura realidade”, sem dúvida será obrigado a suavizá-las um pouco, torná-las mais civilizadas, mais apresentáveis. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO  É CORRESPONDENTE EM PARIS

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Esperando reformar o Universo, tarefa à qual se dedicará a partir de janeiro de 2017, Donald Trump já começa a influir nas mudanças em outros países. Há três dias, a União Europeia (UE) se esforça para acordar de seu sono dogmático como se a chegada de Trump à Casa Branca ameaçasse a sobrevivência do instável “castelo de cartas” que impera em Bruxelas. Por exemplo, se Trump realmente retirar os EUA da Otan, a UE será obrigada a fundar, enfim, essa “Europa da Defesa” que promete há anos.

No caso da França, Trump já interfere nas próximas eleições presidenciais, previstas para daqui a cinco meses. Claro, ele não interferiu em nada. É um indivíduo importante demais para se consagrar a esse minúsculo problema. Mas essa é a questão: ele não precisa agir, as coisas acontecem por si.

Marine Le Pen, presidente da Frente Nacional, faz campanha em Frejus,sul daFrança Foto: AP/Claude Paris

O americano já influi na eleição francesa de duas maneiras: de um lado, ampliando alguns temas da extrema direita francesa – como o ódio aos imigrantes e aos árabes, a preferência pelas fronteiras – e, assim, provoca um vento violento que sopra nas velas das esquadras populistas europeias. De outro, incitando alguns partidos europeus tradicionais a adotarem um discurso mais de direita, difundindo no Continente resquícios do discurso do próprio Trump.

Na França, evidentemente, é a Frente Nacional, de Marine Le Pen, que se beneficia diretamente. A maioria dos temas defendidos por Trump é parecida com os de Marine, desde os mais detestáveis (ódio aos imigrantes etc.) até os mais razoáveis, como uma reconciliação com a Rússia, a volta do Estado-nação, frear o liberalismo descontrolado etc. Não espanta o fato de Marine ter ficado extasiada com a eleição nos EUA, mesmo achando o presidente eleito um pouco vulgar, sobretudo agora que ela vem se dedicando a por fim à demonização do seu partido, dando-lhe um aspecto mais delicado.

Mais interessante ainda é o que ocorre com o partido da “direita mais aceitável”, dos republicanos, que terá candidatos de peso nas próximas eleições presidenciais: Nicolas Sarkozy, o ex-presidente da República, Alain Juppé, François Fillon, etc. Todos esses futuros candidatos temem que Marine, já bastante popular, intensifique ainda mais sua sedução e aproveite ao máximo o “efeito Trump”, a ponto de sair vitoriosa na eleição.

Diante dessa grande ameaça, cada candidato da direita francesa reage segundo seus cálculos e seu caráter: Juppé, mais orgulhoso que vaidoso, prossegue seu caminho sem mudar uma vírgula do discurso. Sarkozy tentará tirar proveito da vitória de Trump. E como a sutileza não é sua especialidade, ele deve criar um Trump em forte ebulição.

Sarkozy está numa corrida de velocidade com Marine. E por que quebrar a cabeça buscando frases de impacto que já foram testadas nos Estados Unidos com sucesso? Há dois dias, ele descobriu no teclado do seu computador o botão copiar/colar e vem se regalando. E passou a falar “em nome do povo”. “Quando o povo se exprime, é preciso escutá-lo.” E o que diz o povo? Que há árabes demais, imigrantes em excesso, muitos estrangeiros. 

A artimanha de Sarkozy é a de que, se multiplicar os discursos que repetem termos usados por Trump e Marine, o faz por uma boa causa. É para poupar a França da infelicidade de cair nas mãos dos populistas, dos quais Trump é o maior representante, ou nas mãos da Frente Nacional. Às vezes, de tanto imitar Marine, Sarkozy pronuncia discursos ainda mais populistas do que aqueles que tenta copiar.

Na verdade, a vantagem de Sarkozy em relação a outros rivais, como Juppé, é que ele não precisar forçar muito seu talento para entrar no jardim populista. Ele entendeu que Trump, além de sua “vulgata” contra os estrangeiros e imigrantes, explorou outros temas. Por exemplo, a crítica do livre-comércio desenfreado, da Europa supranacional, ou ainda a necessidade de armar a Europa com instrumentos protecionistas. Sarkozy até agora nem sonhava com essas questões – ou, pelo menos, não acreditava na sua eficácia. Há três dias, descobriu que têm seu charme.

Mas ele deve ser mais previdente: Trump propôs reformas tão extravagantes que, no contato com a “dura realidade”, sem dúvida será obrigado a suavizá-las um pouco, torná-las mais civilizadas, mais apresentáveis. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO  É CORRESPONDENTE EM PARIS

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