Golpe no Judiciário de Israel pode destruir a nação-startup; leia a coluna de Thomas Friedman


Como regra geral, investidores não gostam de investir em países transtornados por protestos e caos

Por Thomas L. Friedman

Se você quiser entender o grau de risco econômico e ardil moral da apressada dedicação do primeiro-ministro Binyamin Netanyahu em atropelar o sistema Judiciário de Israel com uma reforma total — para colocá-lo sob seu controle ao mesmo tempo em que enfrenta indiciamentos por corrupção — você só precisa estudar duas estatísticas e fazer uma pergunta.

As duas estatísticas: The Economist colocou Israel como a quarta economia com melhor desempenho em 2022 entre os países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico. E em 2020, Israel colocou-se como a 19.ª maior economia no mundo, entrando no top-20 pela primeira vez em sua história, com base no PIB per capita — à frente de Canadá, Nova Zelândia e Reino Unido.

É isso aí: Israel tem desfrutado de um silencioso milagre econômico nas décadas recentes, e nenhum outro líder israelense merece mais crédito por isso do que Netanyahu. Durante seus primeiros 15 anos como premiê, ele fez um ótimo trabalho ajudando a transformar Israel em uma das principais nações-startup no planeta. Netanyahu estabeleceu políticas econômicas inteligentes para atrair investidores, ia a qualquer lugar e falava com qualquer um (menos comigo!) para promover a economia de Israel. E desempenhou um papel crucial em prover recursos do governo para que o setor de alta tecnologia de Israel fosse capaz de se estabelecer globalmente como líder em tecnologias de cibersegurança, conservação de água, energia solar e saúde digital.

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Protesto contra reforma judicial de Netanyahu em Israel  Foto: Avishag Shaar-Yashuv/The New York Times

Então não pode surpreender que muitos investidores globais e israelenses estejam olhando hoje para Israel e fazendo uma pergunta simples: Se o sistema Judiciário de Israel, que evoluiu gradualmente e colaborativamente ao longo dos 75 últimos anos, fosse ruim ao ponto de precisar de uma cirurgia radical de emergência da noite para o dia, sem nenhum debate nacional, como ele foi capaz de ajudar a produzir e salvaguardar o milagre econômico israelense dos 20 anos recentes — pelo qual Netanyahu sempre e de maneira justificável assume o mérito e que tornou a classe média israelense incrivelmente próspera?

Nada é mais perigoso para a continuada prosperidade de Israel do que a atual incapacidade de Netanyahu dar uma resposta crível para essa pergunta simples.

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Porque na ausência de uma resposta crível, a única coisa que alguém pode pensar — a única coisa em que os investidores estrangeiros passam cada vez mais a acreditar — é que todo o processo está sendo guiado por um pequeno grupo de ideólogos autoritários de extrema direita, um instituto de análise de extrema direita inspirado na americana Sociedade Federalista e por um primeiro-ministro que parece tão desesperado para escapar de seu julgamento pelas acusações de fraude, chantagem e quebra de confiança pelas quais foi indiciado em 2020 e pronto para mudar completamente as regras do jogo de Banco Imobiliário israelense para garantir seu próprio cartão “livre-se da cadeia”.

'Salve a nação startup', pede manifestante em protesto contra Netanyahu em Israel  Foto: Avishag Shaar-Yashuv/ NYT

Isso sim é assustador.

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Qualquer investidor, estrangeiro ou israelense, deveria se preocupar com Netanyahu permitir que os extremistas anti-Judiciário em seu gabinete deem ignição a uma intifada jurídica dentro de Israel e uma intifada palestina na Cisjordânia — no mesmo momento. E o fazem em um mundo hiperconectado em que investidores americanos e europeus possuem agora uma forte motivação para cuidar de suas graduações ESG, que medem a resiliência das empresas e sua exposição a riscos ambientais, sociais e de governança a longo prazo.

E você quer falar sobre riscos de governança? O próprio presidente de Israel, Isaac Herzog, alerta publicamente que a recusa da coalizão de governo de Israel em empreender um diálogo paciente com a oposição a respeito da reformulação proposta para o sistema Judiciário israelense e sobre a independência da Suprema Corte de Israel “está nos consumindo por dentro, e lhe digo em alto e bom tom: Esse barril de pólvora está prestes a explodir. Trata-se de uma emergência”.

Como regra geral, investidores não gostam de investir em países transtornados por protestos e caos.

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Qualquer investidor, estrangeiro ou israelense, deveria se preocupar com Netanyahu permitir que os extremistas anti-Judiciário em seu gabinete deem ignição a uma intifada jurídica dentro de Israel

Preocupações no setor

E por esse motivo alguns começaram a apertar o botão de pausa. Leo Bakman, presidente do Instituto Israel para Inovação, uma organização sem fins lucrativos que serve como incubadora para 2,5 mil startups, deu entrevista na semana passada ao repórter Hilo Glazer, do Haaretz, e resumiu as preocupações da comunidade empresarial israelense neste momento.

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“Os investidores estão dando um passo atrás e dizendo: ‘Primeiro decidam se vocês são uma democracia ou uma ditadura; depois conversamos’”, afirmou Bakman. “Olha, eu tenho trabalhado há anos com ministérios de governo. Nós sempre fomos apolíticos. Se eu pensasse que essa ‘reforma’ (no Judiciário) fosse apenas um tiro no pé, eu provavelmente pensaria duas vezes antes de me pronunciar. Mas acredito que estamos dando um tiro na nossa cabeça.”

E por este mesmo motivo, nos bastidores — por trás de sua própria fanfarronice “don’t-worry-be-happy” em público — meus contatos no setor empresarial me contam que Netanyahu e seu conselheiro estratégico, Ron Dermer, têm telefonado para líderes corporativos globais, financiadores e até economistas, como Lawrence Summers, para tentar convencê-los de que a transformação alucinada e radical no sistema Judiciário que eles estão impondo não ocasionará tanta instabilidade socioeconômica assim — ao ponto de suas empresas considerarem congelar novos investimentos ou transferir seu dinheiro de volta para seus países.

Mas quanto mais Netanyahu e Dermer telefona para eles dizendo que não se preocupem, mais esses investidores acham que realmente têm algo com que se preocupar.

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Veja esta notícia, publicada no domingo em um dos principais jornais israelenses de negócios, The Calcalist: “Uma investigação de Calcalist mostra que um grande número de empresas de alta tecnologia, cujos gerentes não estão de nenhuma maneira envolvidos no protesto contra o golpe no Judiciário, estão silenciosamente retirando de Israel seus saldos de caixa. Uma análise de dezenas de empresas públicas de alta tecnologia, unicórnios e startups mostra que, até sexta-feira passada, 37 empresas decidiram retirar US$ 780 milhões de contas bancárias em Israel e transferir o dinheiro para bancos em outros países”.

E na terça-feira o jornal The Times of Israel noticiou que os principais banqueiros do país se encontraram com o ministro das Finanças, Bezalel Smotrich, e lhe informaram que estavam percebendo “sinais iniciais” de que a planejada reforma radical no Judiciário “prejudicará a economia e insistiram para que a coalizão adote um plano de entendimento proposto pelo presidente Isaac Herzog”.

De acordo com o Channel 12 de Israel, Uri Levin, diretor-executivo do Israel Discount Bank, um dos maiores do país, disse ao ministro das Finanças: “Percebemos um aumento de dez vezes no interesse pela abertura de contas em bancos estrangeiros. O shekel está enfraquecendo, o fator de risco-Israel está crescendo, e nosso mercado de ações está desempenhando pior do que outros no exterior. O mercado tem como base confiança, e se não pararmos isso agora, poderemos entrar em uma crise profunda”.

Isso ocorre após Amir Yaron, o não partidário diretor do banco central de Israel, alertar, segundo relatos, Netanyahu — depois de conversar com líderes empresariais em Davos — de que “os planos da coalizão de governo de subverter o Judiciário poderiam assustar investidores e impactar negativamente a pontuação de crédito do país”, segundo noticiou The Times of Israel.

Cuidado: ninguém deve se iludir pensando que de alguma maneira o mercado salvará a democracia de Israel por amor à democracia. O rebanho eletrônico dos investidores globais não tem alma, ele retirará seu dinheiro ou o colocará em Israel com base em um único critério: a capacidade de lucrar. Pergunte para a China.

Mudança nas regras do jogo

Mas veja por que um dos mais importantes e antigos investidores no setor de tecnologia de Israel, que pediu para não ser identificado por temer represálias do governo, está ficando tão preocupado:

“Você não só verá uma explosão de todas as empresas de alta tecnologia saindo correndo”, disse-me ele. “Mas as pessoas estão muito preocupadas em razão das regras do jogo estarem sendo mudadas unilateralmente. Fosse Israel socialista ou capitalista, o governo e a comunidade empresarial sempre se sentaram juntos e concordaram sobre o que era melhor para o país. Agora, esses caras estão chegando com todo tipo de mudanças unilaterais. As pessoas se sentem ameaçadas porque não sabem qual será a nova sugestão amanhã.”

Investidores estrangeiros, acrescentou ele, sempre confiaram nos tribunais israelenses. Se empresas estrangeiras discordassem do governo de Israel sobre demissões de funcionários, ou se a autoridade imobiliária discordasse sobre propriedades de terras, ou se a autoridade aduaneira discordasse sobre importações, todas sabiam que poderiam recorrer às cortes em busca de um julgamento justo, afirmou ele. Mas se este golpe no Judiciário for adiante, afirmou ele, “as cortes e o governo se transformarão na mesma coisa — e quando você tiver uma disputa com o governo, como poderá haver um julgamento justo?”.

Investidores e inovadores internacionais e israelenses, afirmou ele, também têm de decidir onde registrar suas empresas — nos Estados Unidos, na Europa ou em Israel — e onde guardar seus lucros. Se esse golpe radical no Judiciário for adiante, acrescentou ele, veremos mais empresas registrando-se fora de Israel e movendo recursos para o exterior. É por isso que jovens startups de tecnologia israelenses, que estão sendo cortejadas por todas as grandes empresas de tecnologia do planeta, agora se perguntam se devem ficar ou partir.

Netanyahu pensa que é capaz de manobrar tudo isso com investidores, afirmou ele, acrescentando: “O problema é: Suponha que ele não está certo? Os riscos são enormes”. O dano não ocorrerá da noite para o dia, mas ao longo do tempo, concluiu ele. “Será como cupins comendo sua casa. Hoje ela parece ótima, mas um dia, de repente, ela cai.” / TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

Se você quiser entender o grau de risco econômico e ardil moral da apressada dedicação do primeiro-ministro Binyamin Netanyahu em atropelar o sistema Judiciário de Israel com uma reforma total — para colocá-lo sob seu controle ao mesmo tempo em que enfrenta indiciamentos por corrupção — você só precisa estudar duas estatísticas e fazer uma pergunta.

As duas estatísticas: The Economist colocou Israel como a quarta economia com melhor desempenho em 2022 entre os países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico. E em 2020, Israel colocou-se como a 19.ª maior economia no mundo, entrando no top-20 pela primeira vez em sua história, com base no PIB per capita — à frente de Canadá, Nova Zelândia e Reino Unido.

É isso aí: Israel tem desfrutado de um silencioso milagre econômico nas décadas recentes, e nenhum outro líder israelense merece mais crédito por isso do que Netanyahu. Durante seus primeiros 15 anos como premiê, ele fez um ótimo trabalho ajudando a transformar Israel em uma das principais nações-startup no planeta. Netanyahu estabeleceu políticas econômicas inteligentes para atrair investidores, ia a qualquer lugar e falava com qualquer um (menos comigo!) para promover a economia de Israel. E desempenhou um papel crucial em prover recursos do governo para que o setor de alta tecnologia de Israel fosse capaz de se estabelecer globalmente como líder em tecnologias de cibersegurança, conservação de água, energia solar e saúde digital.

Protesto contra reforma judicial de Netanyahu em Israel  Foto: Avishag Shaar-Yashuv/The New York Times

Então não pode surpreender que muitos investidores globais e israelenses estejam olhando hoje para Israel e fazendo uma pergunta simples: Se o sistema Judiciário de Israel, que evoluiu gradualmente e colaborativamente ao longo dos 75 últimos anos, fosse ruim ao ponto de precisar de uma cirurgia radical de emergência da noite para o dia, sem nenhum debate nacional, como ele foi capaz de ajudar a produzir e salvaguardar o milagre econômico israelense dos 20 anos recentes — pelo qual Netanyahu sempre e de maneira justificável assume o mérito e que tornou a classe média israelense incrivelmente próspera?

Nada é mais perigoso para a continuada prosperidade de Israel do que a atual incapacidade de Netanyahu dar uma resposta crível para essa pergunta simples.

Porque na ausência de uma resposta crível, a única coisa que alguém pode pensar — a única coisa em que os investidores estrangeiros passam cada vez mais a acreditar — é que todo o processo está sendo guiado por um pequeno grupo de ideólogos autoritários de extrema direita, um instituto de análise de extrema direita inspirado na americana Sociedade Federalista e por um primeiro-ministro que parece tão desesperado para escapar de seu julgamento pelas acusações de fraude, chantagem e quebra de confiança pelas quais foi indiciado em 2020 e pronto para mudar completamente as regras do jogo de Banco Imobiliário israelense para garantir seu próprio cartão “livre-se da cadeia”.

'Salve a nação startup', pede manifestante em protesto contra Netanyahu em Israel  Foto: Avishag Shaar-Yashuv/ NYT

Isso sim é assustador.

Qualquer investidor, estrangeiro ou israelense, deveria se preocupar com Netanyahu permitir que os extremistas anti-Judiciário em seu gabinete deem ignição a uma intifada jurídica dentro de Israel e uma intifada palestina na Cisjordânia — no mesmo momento. E o fazem em um mundo hiperconectado em que investidores americanos e europeus possuem agora uma forte motivação para cuidar de suas graduações ESG, que medem a resiliência das empresas e sua exposição a riscos ambientais, sociais e de governança a longo prazo.

E você quer falar sobre riscos de governança? O próprio presidente de Israel, Isaac Herzog, alerta publicamente que a recusa da coalizão de governo de Israel em empreender um diálogo paciente com a oposição a respeito da reformulação proposta para o sistema Judiciário israelense e sobre a independência da Suprema Corte de Israel “está nos consumindo por dentro, e lhe digo em alto e bom tom: Esse barril de pólvora está prestes a explodir. Trata-se de uma emergência”.

Como regra geral, investidores não gostam de investir em países transtornados por protestos e caos.

Qualquer investidor, estrangeiro ou israelense, deveria se preocupar com Netanyahu permitir que os extremistas anti-Judiciário em seu gabinete deem ignição a uma intifada jurídica dentro de Israel

Preocupações no setor

E por esse motivo alguns começaram a apertar o botão de pausa. Leo Bakman, presidente do Instituto Israel para Inovação, uma organização sem fins lucrativos que serve como incubadora para 2,5 mil startups, deu entrevista na semana passada ao repórter Hilo Glazer, do Haaretz, e resumiu as preocupações da comunidade empresarial israelense neste momento.

“Os investidores estão dando um passo atrás e dizendo: ‘Primeiro decidam se vocês são uma democracia ou uma ditadura; depois conversamos’”, afirmou Bakman. “Olha, eu tenho trabalhado há anos com ministérios de governo. Nós sempre fomos apolíticos. Se eu pensasse que essa ‘reforma’ (no Judiciário) fosse apenas um tiro no pé, eu provavelmente pensaria duas vezes antes de me pronunciar. Mas acredito que estamos dando um tiro na nossa cabeça.”

E por este mesmo motivo, nos bastidores — por trás de sua própria fanfarronice “don’t-worry-be-happy” em público — meus contatos no setor empresarial me contam que Netanyahu e seu conselheiro estratégico, Ron Dermer, têm telefonado para líderes corporativos globais, financiadores e até economistas, como Lawrence Summers, para tentar convencê-los de que a transformação alucinada e radical no sistema Judiciário que eles estão impondo não ocasionará tanta instabilidade socioeconômica assim — ao ponto de suas empresas considerarem congelar novos investimentos ou transferir seu dinheiro de volta para seus países.

Mas quanto mais Netanyahu e Dermer telefona para eles dizendo que não se preocupem, mais esses investidores acham que realmente têm algo com que se preocupar.

Veja esta notícia, publicada no domingo em um dos principais jornais israelenses de negócios, The Calcalist: “Uma investigação de Calcalist mostra que um grande número de empresas de alta tecnologia, cujos gerentes não estão de nenhuma maneira envolvidos no protesto contra o golpe no Judiciário, estão silenciosamente retirando de Israel seus saldos de caixa. Uma análise de dezenas de empresas públicas de alta tecnologia, unicórnios e startups mostra que, até sexta-feira passada, 37 empresas decidiram retirar US$ 780 milhões de contas bancárias em Israel e transferir o dinheiro para bancos em outros países”.

E na terça-feira o jornal The Times of Israel noticiou que os principais banqueiros do país se encontraram com o ministro das Finanças, Bezalel Smotrich, e lhe informaram que estavam percebendo “sinais iniciais” de que a planejada reforma radical no Judiciário “prejudicará a economia e insistiram para que a coalizão adote um plano de entendimento proposto pelo presidente Isaac Herzog”.

De acordo com o Channel 12 de Israel, Uri Levin, diretor-executivo do Israel Discount Bank, um dos maiores do país, disse ao ministro das Finanças: “Percebemos um aumento de dez vezes no interesse pela abertura de contas em bancos estrangeiros. O shekel está enfraquecendo, o fator de risco-Israel está crescendo, e nosso mercado de ações está desempenhando pior do que outros no exterior. O mercado tem como base confiança, e se não pararmos isso agora, poderemos entrar em uma crise profunda”.

Isso ocorre após Amir Yaron, o não partidário diretor do banco central de Israel, alertar, segundo relatos, Netanyahu — depois de conversar com líderes empresariais em Davos — de que “os planos da coalizão de governo de subverter o Judiciário poderiam assustar investidores e impactar negativamente a pontuação de crédito do país”, segundo noticiou The Times of Israel.

Cuidado: ninguém deve se iludir pensando que de alguma maneira o mercado salvará a democracia de Israel por amor à democracia. O rebanho eletrônico dos investidores globais não tem alma, ele retirará seu dinheiro ou o colocará em Israel com base em um único critério: a capacidade de lucrar. Pergunte para a China.

Mudança nas regras do jogo

Mas veja por que um dos mais importantes e antigos investidores no setor de tecnologia de Israel, que pediu para não ser identificado por temer represálias do governo, está ficando tão preocupado:

“Você não só verá uma explosão de todas as empresas de alta tecnologia saindo correndo”, disse-me ele. “Mas as pessoas estão muito preocupadas em razão das regras do jogo estarem sendo mudadas unilateralmente. Fosse Israel socialista ou capitalista, o governo e a comunidade empresarial sempre se sentaram juntos e concordaram sobre o que era melhor para o país. Agora, esses caras estão chegando com todo tipo de mudanças unilaterais. As pessoas se sentem ameaçadas porque não sabem qual será a nova sugestão amanhã.”

Investidores estrangeiros, acrescentou ele, sempre confiaram nos tribunais israelenses. Se empresas estrangeiras discordassem do governo de Israel sobre demissões de funcionários, ou se a autoridade imobiliária discordasse sobre propriedades de terras, ou se a autoridade aduaneira discordasse sobre importações, todas sabiam que poderiam recorrer às cortes em busca de um julgamento justo, afirmou ele. Mas se este golpe no Judiciário for adiante, afirmou ele, “as cortes e o governo se transformarão na mesma coisa — e quando você tiver uma disputa com o governo, como poderá haver um julgamento justo?”.

Investidores e inovadores internacionais e israelenses, afirmou ele, também têm de decidir onde registrar suas empresas — nos Estados Unidos, na Europa ou em Israel — e onde guardar seus lucros. Se esse golpe radical no Judiciário for adiante, acrescentou ele, veremos mais empresas registrando-se fora de Israel e movendo recursos para o exterior. É por isso que jovens startups de tecnologia israelenses, que estão sendo cortejadas por todas as grandes empresas de tecnologia do planeta, agora se perguntam se devem ficar ou partir.

Netanyahu pensa que é capaz de manobrar tudo isso com investidores, afirmou ele, acrescentando: “O problema é: Suponha que ele não está certo? Os riscos são enormes”. O dano não ocorrerá da noite para o dia, mas ao longo do tempo, concluiu ele. “Será como cupins comendo sua casa. Hoje ela parece ótima, mas um dia, de repente, ela cai.” / TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

Se você quiser entender o grau de risco econômico e ardil moral da apressada dedicação do primeiro-ministro Binyamin Netanyahu em atropelar o sistema Judiciário de Israel com uma reforma total — para colocá-lo sob seu controle ao mesmo tempo em que enfrenta indiciamentos por corrupção — você só precisa estudar duas estatísticas e fazer uma pergunta.

As duas estatísticas: The Economist colocou Israel como a quarta economia com melhor desempenho em 2022 entre os países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico. E em 2020, Israel colocou-se como a 19.ª maior economia no mundo, entrando no top-20 pela primeira vez em sua história, com base no PIB per capita — à frente de Canadá, Nova Zelândia e Reino Unido.

É isso aí: Israel tem desfrutado de um silencioso milagre econômico nas décadas recentes, e nenhum outro líder israelense merece mais crédito por isso do que Netanyahu. Durante seus primeiros 15 anos como premiê, ele fez um ótimo trabalho ajudando a transformar Israel em uma das principais nações-startup no planeta. Netanyahu estabeleceu políticas econômicas inteligentes para atrair investidores, ia a qualquer lugar e falava com qualquer um (menos comigo!) para promover a economia de Israel. E desempenhou um papel crucial em prover recursos do governo para que o setor de alta tecnologia de Israel fosse capaz de se estabelecer globalmente como líder em tecnologias de cibersegurança, conservação de água, energia solar e saúde digital.

Protesto contra reforma judicial de Netanyahu em Israel  Foto: Avishag Shaar-Yashuv/The New York Times

Então não pode surpreender que muitos investidores globais e israelenses estejam olhando hoje para Israel e fazendo uma pergunta simples: Se o sistema Judiciário de Israel, que evoluiu gradualmente e colaborativamente ao longo dos 75 últimos anos, fosse ruim ao ponto de precisar de uma cirurgia radical de emergência da noite para o dia, sem nenhum debate nacional, como ele foi capaz de ajudar a produzir e salvaguardar o milagre econômico israelense dos 20 anos recentes — pelo qual Netanyahu sempre e de maneira justificável assume o mérito e que tornou a classe média israelense incrivelmente próspera?

Nada é mais perigoso para a continuada prosperidade de Israel do que a atual incapacidade de Netanyahu dar uma resposta crível para essa pergunta simples.

Porque na ausência de uma resposta crível, a única coisa que alguém pode pensar — a única coisa em que os investidores estrangeiros passam cada vez mais a acreditar — é que todo o processo está sendo guiado por um pequeno grupo de ideólogos autoritários de extrema direita, um instituto de análise de extrema direita inspirado na americana Sociedade Federalista e por um primeiro-ministro que parece tão desesperado para escapar de seu julgamento pelas acusações de fraude, chantagem e quebra de confiança pelas quais foi indiciado em 2020 e pronto para mudar completamente as regras do jogo de Banco Imobiliário israelense para garantir seu próprio cartão “livre-se da cadeia”.

'Salve a nação startup', pede manifestante em protesto contra Netanyahu em Israel  Foto: Avishag Shaar-Yashuv/ NYT

Isso sim é assustador.

Qualquer investidor, estrangeiro ou israelense, deveria se preocupar com Netanyahu permitir que os extremistas anti-Judiciário em seu gabinete deem ignição a uma intifada jurídica dentro de Israel e uma intifada palestina na Cisjordânia — no mesmo momento. E o fazem em um mundo hiperconectado em que investidores americanos e europeus possuem agora uma forte motivação para cuidar de suas graduações ESG, que medem a resiliência das empresas e sua exposição a riscos ambientais, sociais e de governança a longo prazo.

E você quer falar sobre riscos de governança? O próprio presidente de Israel, Isaac Herzog, alerta publicamente que a recusa da coalizão de governo de Israel em empreender um diálogo paciente com a oposição a respeito da reformulação proposta para o sistema Judiciário israelense e sobre a independência da Suprema Corte de Israel “está nos consumindo por dentro, e lhe digo em alto e bom tom: Esse barril de pólvora está prestes a explodir. Trata-se de uma emergência”.

Como regra geral, investidores não gostam de investir em países transtornados por protestos e caos.

Qualquer investidor, estrangeiro ou israelense, deveria se preocupar com Netanyahu permitir que os extremistas anti-Judiciário em seu gabinete deem ignição a uma intifada jurídica dentro de Israel

Preocupações no setor

E por esse motivo alguns começaram a apertar o botão de pausa. Leo Bakman, presidente do Instituto Israel para Inovação, uma organização sem fins lucrativos que serve como incubadora para 2,5 mil startups, deu entrevista na semana passada ao repórter Hilo Glazer, do Haaretz, e resumiu as preocupações da comunidade empresarial israelense neste momento.

“Os investidores estão dando um passo atrás e dizendo: ‘Primeiro decidam se vocês são uma democracia ou uma ditadura; depois conversamos’”, afirmou Bakman. “Olha, eu tenho trabalhado há anos com ministérios de governo. Nós sempre fomos apolíticos. Se eu pensasse que essa ‘reforma’ (no Judiciário) fosse apenas um tiro no pé, eu provavelmente pensaria duas vezes antes de me pronunciar. Mas acredito que estamos dando um tiro na nossa cabeça.”

E por este mesmo motivo, nos bastidores — por trás de sua própria fanfarronice “don’t-worry-be-happy” em público — meus contatos no setor empresarial me contam que Netanyahu e seu conselheiro estratégico, Ron Dermer, têm telefonado para líderes corporativos globais, financiadores e até economistas, como Lawrence Summers, para tentar convencê-los de que a transformação alucinada e radical no sistema Judiciário que eles estão impondo não ocasionará tanta instabilidade socioeconômica assim — ao ponto de suas empresas considerarem congelar novos investimentos ou transferir seu dinheiro de volta para seus países.

Mas quanto mais Netanyahu e Dermer telefona para eles dizendo que não se preocupem, mais esses investidores acham que realmente têm algo com que se preocupar.

Veja esta notícia, publicada no domingo em um dos principais jornais israelenses de negócios, The Calcalist: “Uma investigação de Calcalist mostra que um grande número de empresas de alta tecnologia, cujos gerentes não estão de nenhuma maneira envolvidos no protesto contra o golpe no Judiciário, estão silenciosamente retirando de Israel seus saldos de caixa. Uma análise de dezenas de empresas públicas de alta tecnologia, unicórnios e startups mostra que, até sexta-feira passada, 37 empresas decidiram retirar US$ 780 milhões de contas bancárias em Israel e transferir o dinheiro para bancos em outros países”.

E na terça-feira o jornal The Times of Israel noticiou que os principais banqueiros do país se encontraram com o ministro das Finanças, Bezalel Smotrich, e lhe informaram que estavam percebendo “sinais iniciais” de que a planejada reforma radical no Judiciário “prejudicará a economia e insistiram para que a coalizão adote um plano de entendimento proposto pelo presidente Isaac Herzog”.

De acordo com o Channel 12 de Israel, Uri Levin, diretor-executivo do Israel Discount Bank, um dos maiores do país, disse ao ministro das Finanças: “Percebemos um aumento de dez vezes no interesse pela abertura de contas em bancos estrangeiros. O shekel está enfraquecendo, o fator de risco-Israel está crescendo, e nosso mercado de ações está desempenhando pior do que outros no exterior. O mercado tem como base confiança, e se não pararmos isso agora, poderemos entrar em uma crise profunda”.

Isso ocorre após Amir Yaron, o não partidário diretor do banco central de Israel, alertar, segundo relatos, Netanyahu — depois de conversar com líderes empresariais em Davos — de que “os planos da coalizão de governo de subverter o Judiciário poderiam assustar investidores e impactar negativamente a pontuação de crédito do país”, segundo noticiou The Times of Israel.

Cuidado: ninguém deve se iludir pensando que de alguma maneira o mercado salvará a democracia de Israel por amor à democracia. O rebanho eletrônico dos investidores globais não tem alma, ele retirará seu dinheiro ou o colocará em Israel com base em um único critério: a capacidade de lucrar. Pergunte para a China.

Mudança nas regras do jogo

Mas veja por que um dos mais importantes e antigos investidores no setor de tecnologia de Israel, que pediu para não ser identificado por temer represálias do governo, está ficando tão preocupado:

“Você não só verá uma explosão de todas as empresas de alta tecnologia saindo correndo”, disse-me ele. “Mas as pessoas estão muito preocupadas em razão das regras do jogo estarem sendo mudadas unilateralmente. Fosse Israel socialista ou capitalista, o governo e a comunidade empresarial sempre se sentaram juntos e concordaram sobre o que era melhor para o país. Agora, esses caras estão chegando com todo tipo de mudanças unilaterais. As pessoas se sentem ameaçadas porque não sabem qual será a nova sugestão amanhã.”

Investidores estrangeiros, acrescentou ele, sempre confiaram nos tribunais israelenses. Se empresas estrangeiras discordassem do governo de Israel sobre demissões de funcionários, ou se a autoridade imobiliária discordasse sobre propriedades de terras, ou se a autoridade aduaneira discordasse sobre importações, todas sabiam que poderiam recorrer às cortes em busca de um julgamento justo, afirmou ele. Mas se este golpe no Judiciário for adiante, afirmou ele, “as cortes e o governo se transformarão na mesma coisa — e quando você tiver uma disputa com o governo, como poderá haver um julgamento justo?”.

Investidores e inovadores internacionais e israelenses, afirmou ele, também têm de decidir onde registrar suas empresas — nos Estados Unidos, na Europa ou em Israel — e onde guardar seus lucros. Se esse golpe radical no Judiciário for adiante, acrescentou ele, veremos mais empresas registrando-se fora de Israel e movendo recursos para o exterior. É por isso que jovens startups de tecnologia israelenses, que estão sendo cortejadas por todas as grandes empresas de tecnologia do planeta, agora se perguntam se devem ficar ou partir.

Netanyahu pensa que é capaz de manobrar tudo isso com investidores, afirmou ele, acrescentando: “O problema é: Suponha que ele não está certo? Os riscos são enormes”. O dano não ocorrerá da noite para o dia, mas ao longo do tempo, concluiu ele. “Será como cupins comendo sua casa. Hoje ela parece ótima, mas um dia, de repente, ela cai.” / TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

Se você quiser entender o grau de risco econômico e ardil moral da apressada dedicação do primeiro-ministro Binyamin Netanyahu em atropelar o sistema Judiciário de Israel com uma reforma total — para colocá-lo sob seu controle ao mesmo tempo em que enfrenta indiciamentos por corrupção — você só precisa estudar duas estatísticas e fazer uma pergunta.

As duas estatísticas: The Economist colocou Israel como a quarta economia com melhor desempenho em 2022 entre os países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico. E em 2020, Israel colocou-se como a 19.ª maior economia no mundo, entrando no top-20 pela primeira vez em sua história, com base no PIB per capita — à frente de Canadá, Nova Zelândia e Reino Unido.

É isso aí: Israel tem desfrutado de um silencioso milagre econômico nas décadas recentes, e nenhum outro líder israelense merece mais crédito por isso do que Netanyahu. Durante seus primeiros 15 anos como premiê, ele fez um ótimo trabalho ajudando a transformar Israel em uma das principais nações-startup no planeta. Netanyahu estabeleceu políticas econômicas inteligentes para atrair investidores, ia a qualquer lugar e falava com qualquer um (menos comigo!) para promover a economia de Israel. E desempenhou um papel crucial em prover recursos do governo para que o setor de alta tecnologia de Israel fosse capaz de se estabelecer globalmente como líder em tecnologias de cibersegurança, conservação de água, energia solar e saúde digital.

Protesto contra reforma judicial de Netanyahu em Israel  Foto: Avishag Shaar-Yashuv/The New York Times

Então não pode surpreender que muitos investidores globais e israelenses estejam olhando hoje para Israel e fazendo uma pergunta simples: Se o sistema Judiciário de Israel, que evoluiu gradualmente e colaborativamente ao longo dos 75 últimos anos, fosse ruim ao ponto de precisar de uma cirurgia radical de emergência da noite para o dia, sem nenhum debate nacional, como ele foi capaz de ajudar a produzir e salvaguardar o milagre econômico israelense dos 20 anos recentes — pelo qual Netanyahu sempre e de maneira justificável assume o mérito e que tornou a classe média israelense incrivelmente próspera?

Nada é mais perigoso para a continuada prosperidade de Israel do que a atual incapacidade de Netanyahu dar uma resposta crível para essa pergunta simples.

Porque na ausência de uma resposta crível, a única coisa que alguém pode pensar — a única coisa em que os investidores estrangeiros passam cada vez mais a acreditar — é que todo o processo está sendo guiado por um pequeno grupo de ideólogos autoritários de extrema direita, um instituto de análise de extrema direita inspirado na americana Sociedade Federalista e por um primeiro-ministro que parece tão desesperado para escapar de seu julgamento pelas acusações de fraude, chantagem e quebra de confiança pelas quais foi indiciado em 2020 e pronto para mudar completamente as regras do jogo de Banco Imobiliário israelense para garantir seu próprio cartão “livre-se da cadeia”.

'Salve a nação startup', pede manifestante em protesto contra Netanyahu em Israel  Foto: Avishag Shaar-Yashuv/ NYT

Isso sim é assustador.

Qualquer investidor, estrangeiro ou israelense, deveria se preocupar com Netanyahu permitir que os extremistas anti-Judiciário em seu gabinete deem ignição a uma intifada jurídica dentro de Israel e uma intifada palestina na Cisjordânia — no mesmo momento. E o fazem em um mundo hiperconectado em que investidores americanos e europeus possuem agora uma forte motivação para cuidar de suas graduações ESG, que medem a resiliência das empresas e sua exposição a riscos ambientais, sociais e de governança a longo prazo.

E você quer falar sobre riscos de governança? O próprio presidente de Israel, Isaac Herzog, alerta publicamente que a recusa da coalizão de governo de Israel em empreender um diálogo paciente com a oposição a respeito da reformulação proposta para o sistema Judiciário israelense e sobre a independência da Suprema Corte de Israel “está nos consumindo por dentro, e lhe digo em alto e bom tom: Esse barril de pólvora está prestes a explodir. Trata-se de uma emergência”.

Como regra geral, investidores não gostam de investir em países transtornados por protestos e caos.

Qualquer investidor, estrangeiro ou israelense, deveria se preocupar com Netanyahu permitir que os extremistas anti-Judiciário em seu gabinete deem ignição a uma intifada jurídica dentro de Israel

Preocupações no setor

E por esse motivo alguns começaram a apertar o botão de pausa. Leo Bakman, presidente do Instituto Israel para Inovação, uma organização sem fins lucrativos que serve como incubadora para 2,5 mil startups, deu entrevista na semana passada ao repórter Hilo Glazer, do Haaretz, e resumiu as preocupações da comunidade empresarial israelense neste momento.

“Os investidores estão dando um passo atrás e dizendo: ‘Primeiro decidam se vocês são uma democracia ou uma ditadura; depois conversamos’”, afirmou Bakman. “Olha, eu tenho trabalhado há anos com ministérios de governo. Nós sempre fomos apolíticos. Se eu pensasse que essa ‘reforma’ (no Judiciário) fosse apenas um tiro no pé, eu provavelmente pensaria duas vezes antes de me pronunciar. Mas acredito que estamos dando um tiro na nossa cabeça.”

E por este mesmo motivo, nos bastidores — por trás de sua própria fanfarronice “don’t-worry-be-happy” em público — meus contatos no setor empresarial me contam que Netanyahu e seu conselheiro estratégico, Ron Dermer, têm telefonado para líderes corporativos globais, financiadores e até economistas, como Lawrence Summers, para tentar convencê-los de que a transformação alucinada e radical no sistema Judiciário que eles estão impondo não ocasionará tanta instabilidade socioeconômica assim — ao ponto de suas empresas considerarem congelar novos investimentos ou transferir seu dinheiro de volta para seus países.

Mas quanto mais Netanyahu e Dermer telefona para eles dizendo que não se preocupem, mais esses investidores acham que realmente têm algo com que se preocupar.

Veja esta notícia, publicada no domingo em um dos principais jornais israelenses de negócios, The Calcalist: “Uma investigação de Calcalist mostra que um grande número de empresas de alta tecnologia, cujos gerentes não estão de nenhuma maneira envolvidos no protesto contra o golpe no Judiciário, estão silenciosamente retirando de Israel seus saldos de caixa. Uma análise de dezenas de empresas públicas de alta tecnologia, unicórnios e startups mostra que, até sexta-feira passada, 37 empresas decidiram retirar US$ 780 milhões de contas bancárias em Israel e transferir o dinheiro para bancos em outros países”.

E na terça-feira o jornal The Times of Israel noticiou que os principais banqueiros do país se encontraram com o ministro das Finanças, Bezalel Smotrich, e lhe informaram que estavam percebendo “sinais iniciais” de que a planejada reforma radical no Judiciário “prejudicará a economia e insistiram para que a coalizão adote um plano de entendimento proposto pelo presidente Isaac Herzog”.

De acordo com o Channel 12 de Israel, Uri Levin, diretor-executivo do Israel Discount Bank, um dos maiores do país, disse ao ministro das Finanças: “Percebemos um aumento de dez vezes no interesse pela abertura de contas em bancos estrangeiros. O shekel está enfraquecendo, o fator de risco-Israel está crescendo, e nosso mercado de ações está desempenhando pior do que outros no exterior. O mercado tem como base confiança, e se não pararmos isso agora, poderemos entrar em uma crise profunda”.

Isso ocorre após Amir Yaron, o não partidário diretor do banco central de Israel, alertar, segundo relatos, Netanyahu — depois de conversar com líderes empresariais em Davos — de que “os planos da coalizão de governo de subverter o Judiciário poderiam assustar investidores e impactar negativamente a pontuação de crédito do país”, segundo noticiou The Times of Israel.

Cuidado: ninguém deve se iludir pensando que de alguma maneira o mercado salvará a democracia de Israel por amor à democracia. O rebanho eletrônico dos investidores globais não tem alma, ele retirará seu dinheiro ou o colocará em Israel com base em um único critério: a capacidade de lucrar. Pergunte para a China.

Mudança nas regras do jogo

Mas veja por que um dos mais importantes e antigos investidores no setor de tecnologia de Israel, que pediu para não ser identificado por temer represálias do governo, está ficando tão preocupado:

“Você não só verá uma explosão de todas as empresas de alta tecnologia saindo correndo”, disse-me ele. “Mas as pessoas estão muito preocupadas em razão das regras do jogo estarem sendo mudadas unilateralmente. Fosse Israel socialista ou capitalista, o governo e a comunidade empresarial sempre se sentaram juntos e concordaram sobre o que era melhor para o país. Agora, esses caras estão chegando com todo tipo de mudanças unilaterais. As pessoas se sentem ameaçadas porque não sabem qual será a nova sugestão amanhã.”

Investidores estrangeiros, acrescentou ele, sempre confiaram nos tribunais israelenses. Se empresas estrangeiras discordassem do governo de Israel sobre demissões de funcionários, ou se a autoridade imobiliária discordasse sobre propriedades de terras, ou se a autoridade aduaneira discordasse sobre importações, todas sabiam que poderiam recorrer às cortes em busca de um julgamento justo, afirmou ele. Mas se este golpe no Judiciário for adiante, afirmou ele, “as cortes e o governo se transformarão na mesma coisa — e quando você tiver uma disputa com o governo, como poderá haver um julgamento justo?”.

Investidores e inovadores internacionais e israelenses, afirmou ele, também têm de decidir onde registrar suas empresas — nos Estados Unidos, na Europa ou em Israel — e onde guardar seus lucros. Se esse golpe radical no Judiciário for adiante, acrescentou ele, veremos mais empresas registrando-se fora de Israel e movendo recursos para o exterior. É por isso que jovens startups de tecnologia israelenses, que estão sendo cortejadas por todas as grandes empresas de tecnologia do planeta, agora se perguntam se devem ficar ou partir.

Netanyahu pensa que é capaz de manobrar tudo isso com investidores, afirmou ele, acrescentando: “O problema é: Suponha que ele não está certo? Os riscos são enormes”. O dano não ocorrerá da noite para o dia, mas ao longo do tempo, concluiu ele. “Será como cupins comendo sua casa. Hoje ela parece ótima, mas um dia, de repente, ela cai.” / TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

Se você quiser entender o grau de risco econômico e ardil moral da apressada dedicação do primeiro-ministro Binyamin Netanyahu em atropelar o sistema Judiciário de Israel com uma reforma total — para colocá-lo sob seu controle ao mesmo tempo em que enfrenta indiciamentos por corrupção — você só precisa estudar duas estatísticas e fazer uma pergunta.

As duas estatísticas: The Economist colocou Israel como a quarta economia com melhor desempenho em 2022 entre os países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico. E em 2020, Israel colocou-se como a 19.ª maior economia no mundo, entrando no top-20 pela primeira vez em sua história, com base no PIB per capita — à frente de Canadá, Nova Zelândia e Reino Unido.

É isso aí: Israel tem desfrutado de um silencioso milagre econômico nas décadas recentes, e nenhum outro líder israelense merece mais crédito por isso do que Netanyahu. Durante seus primeiros 15 anos como premiê, ele fez um ótimo trabalho ajudando a transformar Israel em uma das principais nações-startup no planeta. Netanyahu estabeleceu políticas econômicas inteligentes para atrair investidores, ia a qualquer lugar e falava com qualquer um (menos comigo!) para promover a economia de Israel. E desempenhou um papel crucial em prover recursos do governo para que o setor de alta tecnologia de Israel fosse capaz de se estabelecer globalmente como líder em tecnologias de cibersegurança, conservação de água, energia solar e saúde digital.

Protesto contra reforma judicial de Netanyahu em Israel  Foto: Avishag Shaar-Yashuv/The New York Times

Então não pode surpreender que muitos investidores globais e israelenses estejam olhando hoje para Israel e fazendo uma pergunta simples: Se o sistema Judiciário de Israel, que evoluiu gradualmente e colaborativamente ao longo dos 75 últimos anos, fosse ruim ao ponto de precisar de uma cirurgia radical de emergência da noite para o dia, sem nenhum debate nacional, como ele foi capaz de ajudar a produzir e salvaguardar o milagre econômico israelense dos 20 anos recentes — pelo qual Netanyahu sempre e de maneira justificável assume o mérito e que tornou a classe média israelense incrivelmente próspera?

Nada é mais perigoso para a continuada prosperidade de Israel do que a atual incapacidade de Netanyahu dar uma resposta crível para essa pergunta simples.

Porque na ausência de uma resposta crível, a única coisa que alguém pode pensar — a única coisa em que os investidores estrangeiros passam cada vez mais a acreditar — é que todo o processo está sendo guiado por um pequeno grupo de ideólogos autoritários de extrema direita, um instituto de análise de extrema direita inspirado na americana Sociedade Federalista e por um primeiro-ministro que parece tão desesperado para escapar de seu julgamento pelas acusações de fraude, chantagem e quebra de confiança pelas quais foi indiciado em 2020 e pronto para mudar completamente as regras do jogo de Banco Imobiliário israelense para garantir seu próprio cartão “livre-se da cadeia”.

'Salve a nação startup', pede manifestante em protesto contra Netanyahu em Israel  Foto: Avishag Shaar-Yashuv/ NYT

Isso sim é assustador.

Qualquer investidor, estrangeiro ou israelense, deveria se preocupar com Netanyahu permitir que os extremistas anti-Judiciário em seu gabinete deem ignição a uma intifada jurídica dentro de Israel e uma intifada palestina na Cisjordânia — no mesmo momento. E o fazem em um mundo hiperconectado em que investidores americanos e europeus possuem agora uma forte motivação para cuidar de suas graduações ESG, que medem a resiliência das empresas e sua exposição a riscos ambientais, sociais e de governança a longo prazo.

E você quer falar sobre riscos de governança? O próprio presidente de Israel, Isaac Herzog, alerta publicamente que a recusa da coalizão de governo de Israel em empreender um diálogo paciente com a oposição a respeito da reformulação proposta para o sistema Judiciário israelense e sobre a independência da Suprema Corte de Israel “está nos consumindo por dentro, e lhe digo em alto e bom tom: Esse barril de pólvora está prestes a explodir. Trata-se de uma emergência”.

Como regra geral, investidores não gostam de investir em países transtornados por protestos e caos.

Qualquer investidor, estrangeiro ou israelense, deveria se preocupar com Netanyahu permitir que os extremistas anti-Judiciário em seu gabinete deem ignição a uma intifada jurídica dentro de Israel

Preocupações no setor

E por esse motivo alguns começaram a apertar o botão de pausa. Leo Bakman, presidente do Instituto Israel para Inovação, uma organização sem fins lucrativos que serve como incubadora para 2,5 mil startups, deu entrevista na semana passada ao repórter Hilo Glazer, do Haaretz, e resumiu as preocupações da comunidade empresarial israelense neste momento.

“Os investidores estão dando um passo atrás e dizendo: ‘Primeiro decidam se vocês são uma democracia ou uma ditadura; depois conversamos’”, afirmou Bakman. “Olha, eu tenho trabalhado há anos com ministérios de governo. Nós sempre fomos apolíticos. Se eu pensasse que essa ‘reforma’ (no Judiciário) fosse apenas um tiro no pé, eu provavelmente pensaria duas vezes antes de me pronunciar. Mas acredito que estamos dando um tiro na nossa cabeça.”

E por este mesmo motivo, nos bastidores — por trás de sua própria fanfarronice “don’t-worry-be-happy” em público — meus contatos no setor empresarial me contam que Netanyahu e seu conselheiro estratégico, Ron Dermer, têm telefonado para líderes corporativos globais, financiadores e até economistas, como Lawrence Summers, para tentar convencê-los de que a transformação alucinada e radical no sistema Judiciário que eles estão impondo não ocasionará tanta instabilidade socioeconômica assim — ao ponto de suas empresas considerarem congelar novos investimentos ou transferir seu dinheiro de volta para seus países.

Mas quanto mais Netanyahu e Dermer telefona para eles dizendo que não se preocupem, mais esses investidores acham que realmente têm algo com que se preocupar.

Veja esta notícia, publicada no domingo em um dos principais jornais israelenses de negócios, The Calcalist: “Uma investigação de Calcalist mostra que um grande número de empresas de alta tecnologia, cujos gerentes não estão de nenhuma maneira envolvidos no protesto contra o golpe no Judiciário, estão silenciosamente retirando de Israel seus saldos de caixa. Uma análise de dezenas de empresas públicas de alta tecnologia, unicórnios e startups mostra que, até sexta-feira passada, 37 empresas decidiram retirar US$ 780 milhões de contas bancárias em Israel e transferir o dinheiro para bancos em outros países”.

E na terça-feira o jornal The Times of Israel noticiou que os principais banqueiros do país se encontraram com o ministro das Finanças, Bezalel Smotrich, e lhe informaram que estavam percebendo “sinais iniciais” de que a planejada reforma radical no Judiciário “prejudicará a economia e insistiram para que a coalizão adote um plano de entendimento proposto pelo presidente Isaac Herzog”.

De acordo com o Channel 12 de Israel, Uri Levin, diretor-executivo do Israel Discount Bank, um dos maiores do país, disse ao ministro das Finanças: “Percebemos um aumento de dez vezes no interesse pela abertura de contas em bancos estrangeiros. O shekel está enfraquecendo, o fator de risco-Israel está crescendo, e nosso mercado de ações está desempenhando pior do que outros no exterior. O mercado tem como base confiança, e se não pararmos isso agora, poderemos entrar em uma crise profunda”.

Isso ocorre após Amir Yaron, o não partidário diretor do banco central de Israel, alertar, segundo relatos, Netanyahu — depois de conversar com líderes empresariais em Davos — de que “os planos da coalizão de governo de subverter o Judiciário poderiam assustar investidores e impactar negativamente a pontuação de crédito do país”, segundo noticiou The Times of Israel.

Cuidado: ninguém deve se iludir pensando que de alguma maneira o mercado salvará a democracia de Israel por amor à democracia. O rebanho eletrônico dos investidores globais não tem alma, ele retirará seu dinheiro ou o colocará em Israel com base em um único critério: a capacidade de lucrar. Pergunte para a China.

Mudança nas regras do jogo

Mas veja por que um dos mais importantes e antigos investidores no setor de tecnologia de Israel, que pediu para não ser identificado por temer represálias do governo, está ficando tão preocupado:

“Você não só verá uma explosão de todas as empresas de alta tecnologia saindo correndo”, disse-me ele. “Mas as pessoas estão muito preocupadas em razão das regras do jogo estarem sendo mudadas unilateralmente. Fosse Israel socialista ou capitalista, o governo e a comunidade empresarial sempre se sentaram juntos e concordaram sobre o que era melhor para o país. Agora, esses caras estão chegando com todo tipo de mudanças unilaterais. As pessoas se sentem ameaçadas porque não sabem qual será a nova sugestão amanhã.”

Investidores estrangeiros, acrescentou ele, sempre confiaram nos tribunais israelenses. Se empresas estrangeiras discordassem do governo de Israel sobre demissões de funcionários, ou se a autoridade imobiliária discordasse sobre propriedades de terras, ou se a autoridade aduaneira discordasse sobre importações, todas sabiam que poderiam recorrer às cortes em busca de um julgamento justo, afirmou ele. Mas se este golpe no Judiciário for adiante, afirmou ele, “as cortes e o governo se transformarão na mesma coisa — e quando você tiver uma disputa com o governo, como poderá haver um julgamento justo?”.

Investidores e inovadores internacionais e israelenses, afirmou ele, também têm de decidir onde registrar suas empresas — nos Estados Unidos, na Europa ou em Israel — e onde guardar seus lucros. Se esse golpe radical no Judiciário for adiante, acrescentou ele, veremos mais empresas registrando-se fora de Israel e movendo recursos para o exterior. É por isso que jovens startups de tecnologia israelenses, que estão sendo cortejadas por todas as grandes empresas de tecnologia do planeta, agora se perguntam se devem ficar ou partir.

Netanyahu pensa que é capaz de manobrar tudo isso com investidores, afirmou ele, acrescentando: “O problema é: Suponha que ele não está certo? Os riscos são enormes”. O dano não ocorrerá da noite para o dia, mas ao longo do tempo, concluiu ele. “Será como cupins comendo sua casa. Hoje ela parece ótima, mas um dia, de repente, ela cai.” / TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

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