Gorbachev era diferente de todos os líderes que a União Soviética havia produzido; leia a análise


Com o fim do conflito bipolar, Gorbachev tornou-se uma figura celebrada no Ocidente, chegando até mesmo a se tornar garoto-propaganda da rede americana Pizza Hut

Por Carlos Gustavo Poggio

“Como é que eu vou negociar com os russos se eles ficam morrendo?” Assim escreveu um perplexo Ronald Reagan em seu diário quando Konstantin Chernenko morreu em março de 1985. Chernenko, que devido à saúde precária mal conseguia comparecer às reuniões do Politiburo, ficou apenas cerca de um ano no poder e era o terceiro líder soviético a morrer em um período de apenas 3 anos. Antes dele, Yuri Andropov, que havia substituído o longevo Brezhnev, também ficara pouco mais de 12 meses à frente do Partido Comunista soviético antes de morrer vítima de insuficiência renal.

A morte de três líderes em sequência era uma perfeita ilustração dos problemas domésticos enfrentados pela União Soviética em meados dos anos 80. Nesse contexto, a ascensão de Mikhail Gorbachev ao poder foi um acidente. Caso a saúde dos septuagenários Chernenko ou Andropov fosse um pouco menos precária, Gorbachev provavelmente teria permanecido como mais um burocrata do partido e a história da Guerra Fria poderia ter tomado outros rumos. Aos 54 anos, Gorbachev era diferente de tudo o que a União Soviética havia produzido em termos de liderança até então.

Deixando de lado o estilo sisudo de seus predecessores, Gorbachev tornou-se um reformista que buscou a aproximação com o Ocidente. Era o líder que Reagan buscava. A combinação de reformas domésticas – em especial a glasnost e a perestroika - e de uma profunda reorientação no plano externo foi fundamental para que a Guerra Fria terminasse.

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Foto de arquivo do ex-presidente dos EUA Ronald Reagan (D) em seu primeiro encontro com o ex-líder soviético Mikhail Gorbachev em Genebra, Suíça Foto: Dennis Paquin/Reuters/Arquivo

Um dos principais fatores que levou ao fim do chamado período da Détente – iniciado nos anos 1960 – foi a invasão soviética ao Afeganistão em 1979, durante o governo de Brezhevev. Foi durante esse período de aumento de tensões entre Estados Unidos e União Soviética que Ronald Regan venceu as eleições presidenciais de 1980, passando a utilizar a famosa expressão “Império do Mal” para se referir à URSS. É nesse contexto que Gorbachev chega ao poder.

Morre Mikhail Gorbachev, ex-líder da URSS

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Gorbachev e Ronald Reagan

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Gorbachev e Fidel Castro

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Gorbachev e George Bush

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Gorbachev e papa João Paulo II

Foto: REUTERS/Luciano Mellace
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Gorbachev e Raisa

7 | 10

Gorbachev e Angela Merkel

8 | 10

Gorbachev e Margaret Thatcher

9 | 10

Bono, Bill Clinton e Gorbachev

10 | 10

Gorbachev e Putin

Foto: Itar-Tass/Reuters
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Uma das primeiras medidas do novo líder soviético foi a retirada de tropas do Afeganistão, gesto que contribuiu para uma reaproximação com os Estados Unidos. As reformas domésticas feitas por Gorbachev e, no campo externo, sua decisão de fugir da prática de seus predecessores e não interferir militarmente nos países da zona de influência soviética que rejeitavam seus governos comunistas e faziam reformas democráticas, foi fundamental para o fim da URSS e, consequentemente, da Guerra Fria.

Com o fim do conflito bipolar, Gorbachev tornou-se uma figura celebrada no Ocidente, chegando até mesmo a se tornar garoto-propaganda da rede de pizzas americana Pizza Hut. No alvorecer da década de 90, a ilusão ocidental era a de que as grandes tensões geopolíticas haviam ficado para trás. A ilusão liberal prevalecente era a de que eventualmente todos os países do mundo convergiriam para o sistema vencedor da Guerra Fria – a democracia capitalista.

Os presidentes soviético Mikhail Gorbachev (E) e americano Ronald Reagan, em 8 de dezembro de 1987, assinam o tratado de Forças Nucleares de Alcance Intermediário (INF) na Casa Branca  Foto: Dennis Paquin/Reuters - 08/12/1987
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Isso era válido não apenas para a Rússia, mas também para a China. A posição dominante no establishment americano era de que a China, assim como a Rússia, também promoveria reformas democráticas. Era apenas questão de tempo. A morte de Gorbachev nos lembra que isso era de fato apenas uma ilusão.

Ela acontece em um momento em que a Rússia é governada por um líder que chegou a classificar o fim da URSS como uma das “maiores tragédias geopolíticas da história” e que busca recuperar as glórias perdidas da “Grande Rússia”. Ocorre também em um momento em que a China adota uma política externa cada vez mais assertiva, de clara contraposição ao modelo americano.

A morte de Gorbachev ocorre também em um momento em que os Estados Unidos, politicamente polarizados e com parcela expressiva da população crescentemente aberta a alternativas autoritárias - até mesmo rejeitando a legitimidade da eleição de seu atual presidente - está longe de ter a mesma autoconfiança que tinha durante a administração de Ronald Reagan. Com a morte de Gorbachev, somos mais uma vez levados a lembrar que, ao contrário do que o otimismo liberal do final dos anos 80 e início dos 90 sugeria, a história não acabou.

“Como é que eu vou negociar com os russos se eles ficam morrendo?” Assim escreveu um perplexo Ronald Reagan em seu diário quando Konstantin Chernenko morreu em março de 1985. Chernenko, que devido à saúde precária mal conseguia comparecer às reuniões do Politiburo, ficou apenas cerca de um ano no poder e era o terceiro líder soviético a morrer em um período de apenas 3 anos. Antes dele, Yuri Andropov, que havia substituído o longevo Brezhnev, também ficara pouco mais de 12 meses à frente do Partido Comunista soviético antes de morrer vítima de insuficiência renal.

A morte de três líderes em sequência era uma perfeita ilustração dos problemas domésticos enfrentados pela União Soviética em meados dos anos 80. Nesse contexto, a ascensão de Mikhail Gorbachev ao poder foi um acidente. Caso a saúde dos septuagenários Chernenko ou Andropov fosse um pouco menos precária, Gorbachev provavelmente teria permanecido como mais um burocrata do partido e a história da Guerra Fria poderia ter tomado outros rumos. Aos 54 anos, Gorbachev era diferente de tudo o que a União Soviética havia produzido em termos de liderança até então.

Deixando de lado o estilo sisudo de seus predecessores, Gorbachev tornou-se um reformista que buscou a aproximação com o Ocidente. Era o líder que Reagan buscava. A combinação de reformas domésticas – em especial a glasnost e a perestroika - e de uma profunda reorientação no plano externo foi fundamental para que a Guerra Fria terminasse.

Foto de arquivo do ex-presidente dos EUA Ronald Reagan (D) em seu primeiro encontro com o ex-líder soviético Mikhail Gorbachev em Genebra, Suíça Foto: Dennis Paquin/Reuters/Arquivo

Um dos principais fatores que levou ao fim do chamado período da Détente – iniciado nos anos 1960 – foi a invasão soviética ao Afeganistão em 1979, durante o governo de Brezhevev. Foi durante esse período de aumento de tensões entre Estados Unidos e União Soviética que Ronald Regan venceu as eleições presidenciais de 1980, passando a utilizar a famosa expressão “Império do Mal” para se referir à URSS. É nesse contexto que Gorbachev chega ao poder.

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Foto: Itar-Tass/Reuters

Uma das primeiras medidas do novo líder soviético foi a retirada de tropas do Afeganistão, gesto que contribuiu para uma reaproximação com os Estados Unidos. As reformas domésticas feitas por Gorbachev e, no campo externo, sua decisão de fugir da prática de seus predecessores e não interferir militarmente nos países da zona de influência soviética que rejeitavam seus governos comunistas e faziam reformas democráticas, foi fundamental para o fim da URSS e, consequentemente, da Guerra Fria.

Com o fim do conflito bipolar, Gorbachev tornou-se uma figura celebrada no Ocidente, chegando até mesmo a se tornar garoto-propaganda da rede de pizzas americana Pizza Hut. No alvorecer da década de 90, a ilusão ocidental era a de que as grandes tensões geopolíticas haviam ficado para trás. A ilusão liberal prevalecente era a de que eventualmente todos os países do mundo convergiriam para o sistema vencedor da Guerra Fria – a democracia capitalista.

Os presidentes soviético Mikhail Gorbachev (E) e americano Ronald Reagan, em 8 de dezembro de 1987, assinam o tratado de Forças Nucleares de Alcance Intermediário (INF) na Casa Branca  Foto: Dennis Paquin/Reuters - 08/12/1987

Isso era válido não apenas para a Rússia, mas também para a China. A posição dominante no establishment americano era de que a China, assim como a Rússia, também promoveria reformas democráticas. Era apenas questão de tempo. A morte de Gorbachev nos lembra que isso era de fato apenas uma ilusão.

Ela acontece em um momento em que a Rússia é governada por um líder que chegou a classificar o fim da URSS como uma das “maiores tragédias geopolíticas da história” e que busca recuperar as glórias perdidas da “Grande Rússia”. Ocorre também em um momento em que a China adota uma política externa cada vez mais assertiva, de clara contraposição ao modelo americano.

A morte de Gorbachev ocorre também em um momento em que os Estados Unidos, politicamente polarizados e com parcela expressiva da população crescentemente aberta a alternativas autoritárias - até mesmo rejeitando a legitimidade da eleição de seu atual presidente - está longe de ter a mesma autoconfiança que tinha durante a administração de Ronald Reagan. Com a morte de Gorbachev, somos mais uma vez levados a lembrar que, ao contrário do que o otimismo liberal do final dos anos 80 e início dos 90 sugeria, a história não acabou.

“Como é que eu vou negociar com os russos se eles ficam morrendo?” Assim escreveu um perplexo Ronald Reagan em seu diário quando Konstantin Chernenko morreu em março de 1985. Chernenko, que devido à saúde precária mal conseguia comparecer às reuniões do Politiburo, ficou apenas cerca de um ano no poder e era o terceiro líder soviético a morrer em um período de apenas 3 anos. Antes dele, Yuri Andropov, que havia substituído o longevo Brezhnev, também ficara pouco mais de 12 meses à frente do Partido Comunista soviético antes de morrer vítima de insuficiência renal.

A morte de três líderes em sequência era uma perfeita ilustração dos problemas domésticos enfrentados pela União Soviética em meados dos anos 80. Nesse contexto, a ascensão de Mikhail Gorbachev ao poder foi um acidente. Caso a saúde dos septuagenários Chernenko ou Andropov fosse um pouco menos precária, Gorbachev provavelmente teria permanecido como mais um burocrata do partido e a história da Guerra Fria poderia ter tomado outros rumos. Aos 54 anos, Gorbachev era diferente de tudo o que a União Soviética havia produzido em termos de liderança até então.

Deixando de lado o estilo sisudo de seus predecessores, Gorbachev tornou-se um reformista que buscou a aproximação com o Ocidente. Era o líder que Reagan buscava. A combinação de reformas domésticas – em especial a glasnost e a perestroika - e de uma profunda reorientação no plano externo foi fundamental para que a Guerra Fria terminasse.

Foto de arquivo do ex-presidente dos EUA Ronald Reagan (D) em seu primeiro encontro com o ex-líder soviético Mikhail Gorbachev em Genebra, Suíça Foto: Dennis Paquin/Reuters/Arquivo

Um dos principais fatores que levou ao fim do chamado período da Détente – iniciado nos anos 1960 – foi a invasão soviética ao Afeganistão em 1979, durante o governo de Brezhevev. Foi durante esse período de aumento de tensões entre Estados Unidos e União Soviética que Ronald Regan venceu as eleições presidenciais de 1980, passando a utilizar a famosa expressão “Império do Mal” para se referir à URSS. É nesse contexto que Gorbachev chega ao poder.

Morre Mikhail Gorbachev, ex-líder da URSS

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Foto: Itar-Tass/Reuters

Uma das primeiras medidas do novo líder soviético foi a retirada de tropas do Afeganistão, gesto que contribuiu para uma reaproximação com os Estados Unidos. As reformas domésticas feitas por Gorbachev e, no campo externo, sua decisão de fugir da prática de seus predecessores e não interferir militarmente nos países da zona de influência soviética que rejeitavam seus governos comunistas e faziam reformas democráticas, foi fundamental para o fim da URSS e, consequentemente, da Guerra Fria.

Com o fim do conflito bipolar, Gorbachev tornou-se uma figura celebrada no Ocidente, chegando até mesmo a se tornar garoto-propaganda da rede de pizzas americana Pizza Hut. No alvorecer da década de 90, a ilusão ocidental era a de que as grandes tensões geopolíticas haviam ficado para trás. A ilusão liberal prevalecente era a de que eventualmente todos os países do mundo convergiriam para o sistema vencedor da Guerra Fria – a democracia capitalista.

Os presidentes soviético Mikhail Gorbachev (E) e americano Ronald Reagan, em 8 de dezembro de 1987, assinam o tratado de Forças Nucleares de Alcance Intermediário (INF) na Casa Branca  Foto: Dennis Paquin/Reuters - 08/12/1987

Isso era válido não apenas para a Rússia, mas também para a China. A posição dominante no establishment americano era de que a China, assim como a Rússia, também promoveria reformas democráticas. Era apenas questão de tempo. A morte de Gorbachev nos lembra que isso era de fato apenas uma ilusão.

Ela acontece em um momento em que a Rússia é governada por um líder que chegou a classificar o fim da URSS como uma das “maiores tragédias geopolíticas da história” e que busca recuperar as glórias perdidas da “Grande Rússia”. Ocorre também em um momento em que a China adota uma política externa cada vez mais assertiva, de clara contraposição ao modelo americano.

A morte de Gorbachev ocorre também em um momento em que os Estados Unidos, politicamente polarizados e com parcela expressiva da população crescentemente aberta a alternativas autoritárias - até mesmo rejeitando a legitimidade da eleição de seu atual presidente - está longe de ter a mesma autoconfiança que tinha durante a administração de Ronald Reagan. Com a morte de Gorbachev, somos mais uma vez levados a lembrar que, ao contrário do que o otimismo liberal do final dos anos 80 e início dos 90 sugeria, a história não acabou.

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