Governo chavista usa escolas para doutrinar crianças na Venezuela


Pais, estudantes e professores se unem para tentar impedir a interferência direta do Ministério da Educação no programa escolar e nas decisões tomadas em cada centro de ensino para 'promover a democracia participativa' e 'aprofundar o socialismo' no país

Por Juan Nagel

CARACAS - "Em um restaurante socialista de arepa (comida tradicional venezuelana à base de farinha de milho), uma arepa e um suco custam 12 bolívares. Se três famílias de cinco pessoas comerem fora e consumirem 21 arepas e 21 sucos, quanto elas gastaram?" Este problema simples de matemática faz parte de um novo livro didático da quarta série que está sendo distribuído gratuitamente em escolas da Venezuela. O problema associa "socialismo" e um dos principais programas sociais do governo, os restaurantes de arepa fortemente subsidiados. Muitos pais venezuelanos apontam para esse e vários outros exemplos para afirmar que o governo quer doutrinar os estudantes. Isso fez com eles se unissem ao movimento estudantil nas ruas do país. Há muitas razões para a oposição da Venezuela protestar nos dois últimos meses. As óbvias são a dramática onda de crimes e o aumento da escassez de bens, mas uma das questões menos noticiadas tem a ver com os esforços do governo para interferir nas escolas. A Venezuela tem uma extensa rede de escolas públicas que já existia muito antes de Hugo Chávez chegar ao poder. Em razão da qualidade desigual da educação que elas oferecem, há também uma grande rede de escolas privadas que sempre operou com relativa liberdade, mas sob estrita supervisão do governo. Mudanças. Esta coexistência pacífica foi abalada, porém, em 2012, quando o governo aprovou a "Resolução 058". O texto, que saiu do Ministério da Educação, mudou toda a estrutura de governança tanto das escolas públicas como das privadas. Medidas recentes para implementá-la por completo dispararam o alarme na oposição. Para "promover a democracia participativa", a resolução declara que todas as decisões em cada escola - pública ou privada - devem envolver pais, professores, alunos, trabalhadores e até "a comunidade" representada por "conselhos comunais", cuja inclusão foi feita para "construir um novo modelo de sociedade socialista". Muitos na oposição veem isso como a gota d'água em uma longa série de ataques contra os direitos dos pais de educarem livremente seus filhos. Apesar de o governo falar há anos em fazer das escolas epicentros da doutrinação socialista, ele não havia agido assim até agora. Muitos achavam que o decreto jamais seria implementado, mas, ultimamente, o governo começou a cumprir sua malfadada promessa, de modo que a questão ressurgiu com força. Os administradores de escolas privadas na Venezuela estão em pé de guerra. Eles rejeitam a ideia de organizações patrocinadas pelo governo - como os coletivos, infames por participarem na repressão aos manifestantes - terem participação nas decisões de suas escolas. Eles veem o novo regulamento como um "cavalo de Troia", pelo qual grupos do governo penetrarão em todas as escolas do país e doutrinarão as crianças. Cenas de pais, em Caracas e Valencia, protestando pacificamente contra a interferência do governo se tornaram comuns. Doutrinação. ONGs locais criticaram o decreto como uma violação da Constituição. Elas dizem que, como os venezuelanos rejeitaram a inclusão da palavra "socialismo" na Constituição, no referendo de 2007 - a única eleição que Hugo Chávez perdeu -, as liberdades inscritas no texto original devem prevalecer. Elas também afirmam que o decreto não é funcional, pois tornar pessoas de fora da escola os principais tomadores de decisão só levará ao caos. Entretanto, sua maior preocupação é que o novo regulamento tire poder de pais e autoridades escolares e abra a porta para atores políticos usá-las como locais de propaganda. Especialistas concordam, apontando para a natureza tendenciosa de alguns livros didáticos que estão sendo distribuídos. Eles apontam, por exemplo, para uma cópia ilustrada da Constituição que está sendo enviada a muitas escolas na qual o próprio Chávez é retratado como uma figura quase religiosa junto a Simon Bolívar. As imagens mostram Chávez ensinando crianças e Nicolás Maduro de pé, ao lado do texto da Constituição. Alguns professores se uniram aos protestos por se sentirem injustamente "avaliados" por membros da comunidade, trabalhadores sociais e até estudantes. Eles também assinalaram que tanto os livros didáticos quanto os computadores que o governo entrega gratuitamente aos estudantes contêm um conteúdo politicamente carregado que menciona a ideologia e os programas sociais do governo sob uma luz altamente favorável, obviamente orientados para retratar o ponto de vista do chavismo. Esforço político. O governo espalhou temores com a doutrinação política nas últimas semanas, com o lançamento de uma "sondagem nacional obrigatória" em todas as escolas do país na qual, entre outras coisas, pedem aos estudantes informações pessoais e também sua opinião sobre a situação atual de sua educação. Muitos pais estão indignados. A participação na sondagem é obrigatória, mas, por via das dúvidas, o governo fez esforços para conseguir a cooperação de professores. Ele está premiando a conclusão bem-sucedida da pesquisa com brindes: os professores que empurrarem a pesquisa a seus alunos receberão livros, computador e cursos. As escolas da Venezuela têm uma quantidade interminável de problemas. Sua infraestrutura é deplorável e a qualidade da educação é, na melhor das hipóteses, desigual. No entanto, tudo indica que o governo está muito mais interessado em marcar pontos políticos do que em realmente ajudar os estudantes venezuelanos a terem uma educação decente. TRADUÇÃO DE CELSO PACIORNIK

CARACAS - "Em um restaurante socialista de arepa (comida tradicional venezuelana à base de farinha de milho), uma arepa e um suco custam 12 bolívares. Se três famílias de cinco pessoas comerem fora e consumirem 21 arepas e 21 sucos, quanto elas gastaram?" Este problema simples de matemática faz parte de um novo livro didático da quarta série que está sendo distribuído gratuitamente em escolas da Venezuela. O problema associa "socialismo" e um dos principais programas sociais do governo, os restaurantes de arepa fortemente subsidiados. Muitos pais venezuelanos apontam para esse e vários outros exemplos para afirmar que o governo quer doutrinar os estudantes. Isso fez com eles se unissem ao movimento estudantil nas ruas do país. Há muitas razões para a oposição da Venezuela protestar nos dois últimos meses. As óbvias são a dramática onda de crimes e o aumento da escassez de bens, mas uma das questões menos noticiadas tem a ver com os esforços do governo para interferir nas escolas. A Venezuela tem uma extensa rede de escolas públicas que já existia muito antes de Hugo Chávez chegar ao poder. Em razão da qualidade desigual da educação que elas oferecem, há também uma grande rede de escolas privadas que sempre operou com relativa liberdade, mas sob estrita supervisão do governo. Mudanças. Esta coexistência pacífica foi abalada, porém, em 2012, quando o governo aprovou a "Resolução 058". O texto, que saiu do Ministério da Educação, mudou toda a estrutura de governança tanto das escolas públicas como das privadas. Medidas recentes para implementá-la por completo dispararam o alarme na oposição. Para "promover a democracia participativa", a resolução declara que todas as decisões em cada escola - pública ou privada - devem envolver pais, professores, alunos, trabalhadores e até "a comunidade" representada por "conselhos comunais", cuja inclusão foi feita para "construir um novo modelo de sociedade socialista". Muitos na oposição veem isso como a gota d'água em uma longa série de ataques contra os direitos dos pais de educarem livremente seus filhos. Apesar de o governo falar há anos em fazer das escolas epicentros da doutrinação socialista, ele não havia agido assim até agora. Muitos achavam que o decreto jamais seria implementado, mas, ultimamente, o governo começou a cumprir sua malfadada promessa, de modo que a questão ressurgiu com força. Os administradores de escolas privadas na Venezuela estão em pé de guerra. Eles rejeitam a ideia de organizações patrocinadas pelo governo - como os coletivos, infames por participarem na repressão aos manifestantes - terem participação nas decisões de suas escolas. Eles veem o novo regulamento como um "cavalo de Troia", pelo qual grupos do governo penetrarão em todas as escolas do país e doutrinarão as crianças. Cenas de pais, em Caracas e Valencia, protestando pacificamente contra a interferência do governo se tornaram comuns. Doutrinação. ONGs locais criticaram o decreto como uma violação da Constituição. Elas dizem que, como os venezuelanos rejeitaram a inclusão da palavra "socialismo" na Constituição, no referendo de 2007 - a única eleição que Hugo Chávez perdeu -, as liberdades inscritas no texto original devem prevalecer. Elas também afirmam que o decreto não é funcional, pois tornar pessoas de fora da escola os principais tomadores de decisão só levará ao caos. Entretanto, sua maior preocupação é que o novo regulamento tire poder de pais e autoridades escolares e abra a porta para atores políticos usá-las como locais de propaganda. Especialistas concordam, apontando para a natureza tendenciosa de alguns livros didáticos que estão sendo distribuídos. Eles apontam, por exemplo, para uma cópia ilustrada da Constituição que está sendo enviada a muitas escolas na qual o próprio Chávez é retratado como uma figura quase religiosa junto a Simon Bolívar. As imagens mostram Chávez ensinando crianças e Nicolás Maduro de pé, ao lado do texto da Constituição. Alguns professores se uniram aos protestos por se sentirem injustamente "avaliados" por membros da comunidade, trabalhadores sociais e até estudantes. Eles também assinalaram que tanto os livros didáticos quanto os computadores que o governo entrega gratuitamente aos estudantes contêm um conteúdo politicamente carregado que menciona a ideologia e os programas sociais do governo sob uma luz altamente favorável, obviamente orientados para retratar o ponto de vista do chavismo. Esforço político. O governo espalhou temores com a doutrinação política nas últimas semanas, com o lançamento de uma "sondagem nacional obrigatória" em todas as escolas do país na qual, entre outras coisas, pedem aos estudantes informações pessoais e também sua opinião sobre a situação atual de sua educação. Muitos pais estão indignados. A participação na sondagem é obrigatória, mas, por via das dúvidas, o governo fez esforços para conseguir a cooperação de professores. Ele está premiando a conclusão bem-sucedida da pesquisa com brindes: os professores que empurrarem a pesquisa a seus alunos receberão livros, computador e cursos. As escolas da Venezuela têm uma quantidade interminável de problemas. Sua infraestrutura é deplorável e a qualidade da educação é, na melhor das hipóteses, desigual. No entanto, tudo indica que o governo está muito mais interessado em marcar pontos políticos do que em realmente ajudar os estudantes venezuelanos a terem uma educação decente. TRADUÇÃO DE CELSO PACIORNIK

CARACAS - "Em um restaurante socialista de arepa (comida tradicional venezuelana à base de farinha de milho), uma arepa e um suco custam 12 bolívares. Se três famílias de cinco pessoas comerem fora e consumirem 21 arepas e 21 sucos, quanto elas gastaram?" Este problema simples de matemática faz parte de um novo livro didático da quarta série que está sendo distribuído gratuitamente em escolas da Venezuela. O problema associa "socialismo" e um dos principais programas sociais do governo, os restaurantes de arepa fortemente subsidiados. Muitos pais venezuelanos apontam para esse e vários outros exemplos para afirmar que o governo quer doutrinar os estudantes. Isso fez com eles se unissem ao movimento estudantil nas ruas do país. Há muitas razões para a oposição da Venezuela protestar nos dois últimos meses. As óbvias são a dramática onda de crimes e o aumento da escassez de bens, mas uma das questões menos noticiadas tem a ver com os esforços do governo para interferir nas escolas. A Venezuela tem uma extensa rede de escolas públicas que já existia muito antes de Hugo Chávez chegar ao poder. Em razão da qualidade desigual da educação que elas oferecem, há também uma grande rede de escolas privadas que sempre operou com relativa liberdade, mas sob estrita supervisão do governo. Mudanças. Esta coexistência pacífica foi abalada, porém, em 2012, quando o governo aprovou a "Resolução 058". O texto, que saiu do Ministério da Educação, mudou toda a estrutura de governança tanto das escolas públicas como das privadas. Medidas recentes para implementá-la por completo dispararam o alarme na oposição. Para "promover a democracia participativa", a resolução declara que todas as decisões em cada escola - pública ou privada - devem envolver pais, professores, alunos, trabalhadores e até "a comunidade" representada por "conselhos comunais", cuja inclusão foi feita para "construir um novo modelo de sociedade socialista". Muitos na oposição veem isso como a gota d'água em uma longa série de ataques contra os direitos dos pais de educarem livremente seus filhos. Apesar de o governo falar há anos em fazer das escolas epicentros da doutrinação socialista, ele não havia agido assim até agora. Muitos achavam que o decreto jamais seria implementado, mas, ultimamente, o governo começou a cumprir sua malfadada promessa, de modo que a questão ressurgiu com força. Os administradores de escolas privadas na Venezuela estão em pé de guerra. Eles rejeitam a ideia de organizações patrocinadas pelo governo - como os coletivos, infames por participarem na repressão aos manifestantes - terem participação nas decisões de suas escolas. Eles veem o novo regulamento como um "cavalo de Troia", pelo qual grupos do governo penetrarão em todas as escolas do país e doutrinarão as crianças. Cenas de pais, em Caracas e Valencia, protestando pacificamente contra a interferência do governo se tornaram comuns. Doutrinação. ONGs locais criticaram o decreto como uma violação da Constituição. Elas dizem que, como os venezuelanos rejeitaram a inclusão da palavra "socialismo" na Constituição, no referendo de 2007 - a única eleição que Hugo Chávez perdeu -, as liberdades inscritas no texto original devem prevalecer. Elas também afirmam que o decreto não é funcional, pois tornar pessoas de fora da escola os principais tomadores de decisão só levará ao caos. Entretanto, sua maior preocupação é que o novo regulamento tire poder de pais e autoridades escolares e abra a porta para atores políticos usá-las como locais de propaganda. Especialistas concordam, apontando para a natureza tendenciosa de alguns livros didáticos que estão sendo distribuídos. Eles apontam, por exemplo, para uma cópia ilustrada da Constituição que está sendo enviada a muitas escolas na qual o próprio Chávez é retratado como uma figura quase religiosa junto a Simon Bolívar. As imagens mostram Chávez ensinando crianças e Nicolás Maduro de pé, ao lado do texto da Constituição. Alguns professores se uniram aos protestos por se sentirem injustamente "avaliados" por membros da comunidade, trabalhadores sociais e até estudantes. Eles também assinalaram que tanto os livros didáticos quanto os computadores que o governo entrega gratuitamente aos estudantes contêm um conteúdo politicamente carregado que menciona a ideologia e os programas sociais do governo sob uma luz altamente favorável, obviamente orientados para retratar o ponto de vista do chavismo. Esforço político. O governo espalhou temores com a doutrinação política nas últimas semanas, com o lançamento de uma "sondagem nacional obrigatória" em todas as escolas do país na qual, entre outras coisas, pedem aos estudantes informações pessoais e também sua opinião sobre a situação atual de sua educação. Muitos pais estão indignados. A participação na sondagem é obrigatória, mas, por via das dúvidas, o governo fez esforços para conseguir a cooperação de professores. Ele está premiando a conclusão bem-sucedida da pesquisa com brindes: os professores que empurrarem a pesquisa a seus alunos receberão livros, computador e cursos. As escolas da Venezuela têm uma quantidade interminável de problemas. Sua infraestrutura é deplorável e a qualidade da educação é, na melhor das hipóteses, desigual. No entanto, tudo indica que o governo está muito mais interessado em marcar pontos políticos do que em realmente ajudar os estudantes venezuelanos a terem uma educação decente. TRADUÇÃO DE CELSO PACIORNIK

CARACAS - "Em um restaurante socialista de arepa (comida tradicional venezuelana à base de farinha de milho), uma arepa e um suco custam 12 bolívares. Se três famílias de cinco pessoas comerem fora e consumirem 21 arepas e 21 sucos, quanto elas gastaram?" Este problema simples de matemática faz parte de um novo livro didático da quarta série que está sendo distribuído gratuitamente em escolas da Venezuela. O problema associa "socialismo" e um dos principais programas sociais do governo, os restaurantes de arepa fortemente subsidiados. Muitos pais venezuelanos apontam para esse e vários outros exemplos para afirmar que o governo quer doutrinar os estudantes. Isso fez com eles se unissem ao movimento estudantil nas ruas do país. Há muitas razões para a oposição da Venezuela protestar nos dois últimos meses. As óbvias são a dramática onda de crimes e o aumento da escassez de bens, mas uma das questões menos noticiadas tem a ver com os esforços do governo para interferir nas escolas. A Venezuela tem uma extensa rede de escolas públicas que já existia muito antes de Hugo Chávez chegar ao poder. Em razão da qualidade desigual da educação que elas oferecem, há também uma grande rede de escolas privadas que sempre operou com relativa liberdade, mas sob estrita supervisão do governo. Mudanças. Esta coexistência pacífica foi abalada, porém, em 2012, quando o governo aprovou a "Resolução 058". O texto, que saiu do Ministério da Educação, mudou toda a estrutura de governança tanto das escolas públicas como das privadas. Medidas recentes para implementá-la por completo dispararam o alarme na oposição. Para "promover a democracia participativa", a resolução declara que todas as decisões em cada escola - pública ou privada - devem envolver pais, professores, alunos, trabalhadores e até "a comunidade" representada por "conselhos comunais", cuja inclusão foi feita para "construir um novo modelo de sociedade socialista". Muitos na oposição veem isso como a gota d'água em uma longa série de ataques contra os direitos dos pais de educarem livremente seus filhos. Apesar de o governo falar há anos em fazer das escolas epicentros da doutrinação socialista, ele não havia agido assim até agora. Muitos achavam que o decreto jamais seria implementado, mas, ultimamente, o governo começou a cumprir sua malfadada promessa, de modo que a questão ressurgiu com força. Os administradores de escolas privadas na Venezuela estão em pé de guerra. Eles rejeitam a ideia de organizações patrocinadas pelo governo - como os coletivos, infames por participarem na repressão aos manifestantes - terem participação nas decisões de suas escolas. Eles veem o novo regulamento como um "cavalo de Troia", pelo qual grupos do governo penetrarão em todas as escolas do país e doutrinarão as crianças. Cenas de pais, em Caracas e Valencia, protestando pacificamente contra a interferência do governo se tornaram comuns. Doutrinação. ONGs locais criticaram o decreto como uma violação da Constituição. Elas dizem que, como os venezuelanos rejeitaram a inclusão da palavra "socialismo" na Constituição, no referendo de 2007 - a única eleição que Hugo Chávez perdeu -, as liberdades inscritas no texto original devem prevalecer. Elas também afirmam que o decreto não é funcional, pois tornar pessoas de fora da escola os principais tomadores de decisão só levará ao caos. Entretanto, sua maior preocupação é que o novo regulamento tire poder de pais e autoridades escolares e abra a porta para atores políticos usá-las como locais de propaganda. Especialistas concordam, apontando para a natureza tendenciosa de alguns livros didáticos que estão sendo distribuídos. Eles apontam, por exemplo, para uma cópia ilustrada da Constituição que está sendo enviada a muitas escolas na qual o próprio Chávez é retratado como uma figura quase religiosa junto a Simon Bolívar. As imagens mostram Chávez ensinando crianças e Nicolás Maduro de pé, ao lado do texto da Constituição. Alguns professores se uniram aos protestos por se sentirem injustamente "avaliados" por membros da comunidade, trabalhadores sociais e até estudantes. Eles também assinalaram que tanto os livros didáticos quanto os computadores que o governo entrega gratuitamente aos estudantes contêm um conteúdo politicamente carregado que menciona a ideologia e os programas sociais do governo sob uma luz altamente favorável, obviamente orientados para retratar o ponto de vista do chavismo. Esforço político. O governo espalhou temores com a doutrinação política nas últimas semanas, com o lançamento de uma "sondagem nacional obrigatória" em todas as escolas do país na qual, entre outras coisas, pedem aos estudantes informações pessoais e também sua opinião sobre a situação atual de sua educação. Muitos pais estão indignados. A participação na sondagem é obrigatória, mas, por via das dúvidas, o governo fez esforços para conseguir a cooperação de professores. Ele está premiando a conclusão bem-sucedida da pesquisa com brindes: os professores que empurrarem a pesquisa a seus alunos receberão livros, computador e cursos. As escolas da Venezuela têm uma quantidade interminável de problemas. Sua infraestrutura é deplorável e a qualidade da educação é, na melhor das hipóteses, desigual. No entanto, tudo indica que o governo está muito mais interessado em marcar pontos políticos do que em realmente ajudar os estudantes venezuelanos a terem uma educação decente. TRADUÇÃO DE CELSO PACIORNIK

CARACAS - "Em um restaurante socialista de arepa (comida tradicional venezuelana à base de farinha de milho), uma arepa e um suco custam 12 bolívares. Se três famílias de cinco pessoas comerem fora e consumirem 21 arepas e 21 sucos, quanto elas gastaram?" Este problema simples de matemática faz parte de um novo livro didático da quarta série que está sendo distribuído gratuitamente em escolas da Venezuela. O problema associa "socialismo" e um dos principais programas sociais do governo, os restaurantes de arepa fortemente subsidiados. Muitos pais venezuelanos apontam para esse e vários outros exemplos para afirmar que o governo quer doutrinar os estudantes. Isso fez com eles se unissem ao movimento estudantil nas ruas do país. Há muitas razões para a oposição da Venezuela protestar nos dois últimos meses. As óbvias são a dramática onda de crimes e o aumento da escassez de bens, mas uma das questões menos noticiadas tem a ver com os esforços do governo para interferir nas escolas. A Venezuela tem uma extensa rede de escolas públicas que já existia muito antes de Hugo Chávez chegar ao poder. Em razão da qualidade desigual da educação que elas oferecem, há também uma grande rede de escolas privadas que sempre operou com relativa liberdade, mas sob estrita supervisão do governo. Mudanças. Esta coexistência pacífica foi abalada, porém, em 2012, quando o governo aprovou a "Resolução 058". O texto, que saiu do Ministério da Educação, mudou toda a estrutura de governança tanto das escolas públicas como das privadas. Medidas recentes para implementá-la por completo dispararam o alarme na oposição. Para "promover a democracia participativa", a resolução declara que todas as decisões em cada escola - pública ou privada - devem envolver pais, professores, alunos, trabalhadores e até "a comunidade" representada por "conselhos comunais", cuja inclusão foi feita para "construir um novo modelo de sociedade socialista". Muitos na oposição veem isso como a gota d'água em uma longa série de ataques contra os direitos dos pais de educarem livremente seus filhos. Apesar de o governo falar há anos em fazer das escolas epicentros da doutrinação socialista, ele não havia agido assim até agora. Muitos achavam que o decreto jamais seria implementado, mas, ultimamente, o governo começou a cumprir sua malfadada promessa, de modo que a questão ressurgiu com força. Os administradores de escolas privadas na Venezuela estão em pé de guerra. Eles rejeitam a ideia de organizações patrocinadas pelo governo - como os coletivos, infames por participarem na repressão aos manifestantes - terem participação nas decisões de suas escolas. Eles veem o novo regulamento como um "cavalo de Troia", pelo qual grupos do governo penetrarão em todas as escolas do país e doutrinarão as crianças. Cenas de pais, em Caracas e Valencia, protestando pacificamente contra a interferência do governo se tornaram comuns. Doutrinação. ONGs locais criticaram o decreto como uma violação da Constituição. Elas dizem que, como os venezuelanos rejeitaram a inclusão da palavra "socialismo" na Constituição, no referendo de 2007 - a única eleição que Hugo Chávez perdeu -, as liberdades inscritas no texto original devem prevalecer. Elas também afirmam que o decreto não é funcional, pois tornar pessoas de fora da escola os principais tomadores de decisão só levará ao caos. Entretanto, sua maior preocupação é que o novo regulamento tire poder de pais e autoridades escolares e abra a porta para atores políticos usá-las como locais de propaganda. Especialistas concordam, apontando para a natureza tendenciosa de alguns livros didáticos que estão sendo distribuídos. Eles apontam, por exemplo, para uma cópia ilustrada da Constituição que está sendo enviada a muitas escolas na qual o próprio Chávez é retratado como uma figura quase religiosa junto a Simon Bolívar. As imagens mostram Chávez ensinando crianças e Nicolás Maduro de pé, ao lado do texto da Constituição. Alguns professores se uniram aos protestos por se sentirem injustamente "avaliados" por membros da comunidade, trabalhadores sociais e até estudantes. Eles também assinalaram que tanto os livros didáticos quanto os computadores que o governo entrega gratuitamente aos estudantes contêm um conteúdo politicamente carregado que menciona a ideologia e os programas sociais do governo sob uma luz altamente favorável, obviamente orientados para retratar o ponto de vista do chavismo. Esforço político. O governo espalhou temores com a doutrinação política nas últimas semanas, com o lançamento de uma "sondagem nacional obrigatória" em todas as escolas do país na qual, entre outras coisas, pedem aos estudantes informações pessoais e também sua opinião sobre a situação atual de sua educação. Muitos pais estão indignados. A participação na sondagem é obrigatória, mas, por via das dúvidas, o governo fez esforços para conseguir a cooperação de professores. Ele está premiando a conclusão bem-sucedida da pesquisa com brindes: os professores que empurrarem a pesquisa a seus alunos receberão livros, computador e cursos. As escolas da Venezuela têm uma quantidade interminável de problemas. Sua infraestrutura é deplorável e a qualidade da educação é, na melhor das hipóteses, desigual. No entanto, tudo indica que o governo está muito mais interessado em marcar pontos políticos do que em realmente ajudar os estudantes venezuelanos a terem uma educação decente. TRADUÇÃO DE CELSO PACIORNIK

Atualizamos nossa política de cookies

Ao utilizar nossos serviços, você aceita a política de monitoramento de cookies.