Governo do Peru é de direita ou esquerda? Entenda


Mistura de moralismo conservador e reivindicações sociais por mudança se adaptou bem a um país onde a religião costuma ser um fator eleitoral

Por Redação
Atualização:

Pedro Castillo, destituído e preso após tentar dar um golpe de Estado, foi eleito presidente pelo partido Peru Libre, considerado de esquerda radical por sua ideologia marxista-leninista. Entre todos os presidentes do Peru, ele foi eleito com a plataforma mais esquerdista do país, tendo vencido em segundo turno por uma diferença de apenas 44 mil votos entre 17,5 milhões e só porque muitos peruanos de centro não conseguiram votar em sua oponente, Keiko Fujimori, uma conservadora cujo pai, Alberto, governou autoritariamente o Peru nos anos 90.

Em seu discurso de posse, adotou um tom moderado, prometendo “mudança responsável” na economia e mais dinheiro para saúde e educação. Mas Castillo insistiu que tentaria instalar uma Assembleia Constituinte para redigir uma nova Constituição - dispositivo usado por populistas de esquerda como Hugo Chávez, na Venezuela, e Evo Morales, na Bolívia, para concentrar e manter o poder.

Apesar de ser de um partido de esquerda, Castillo, em várias ocasiões, provou ser bastante conservador nas questões sociais e de comportamento, com suas posições contrárias ao casamento entre pessoas do mesmo sexo, ao aborto, à eutanásia, à imigração e até mesmo ao foco na igualde de gênero trabalhado nas escolas. Em uma ocasião, atribuiu o problema do feminicídio de seu país à “ociosidade” masculina, criticando o que ele chamou de “ideologia de gênero” ensinada nas escolas.

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O então presidente do Peru, Pedro Castillo (E), participa de uma cerimônia com um representante da comunidade indígena Ashaninkas em Lima Foto: Luis Iparraguire/AFP - 14/11/2022

Muitos da direita, porém, rejeitaram a presidência de Castillo. O setor privado desconfiava, sobretudo, da ideia de uma Assembleia Constituinte.

Um ex-professor de escola rural que saiu do anonimato liderando uma grande greve nacional de professores, ele aliou um discurso de esquerda, com a promessa de “não haver mais pobres em um país rico”, com posições conservadoras comumente associadas à direita. Essa mistura de moralismo conservador e reivindicações sociais por mudança se adaptou bem a um país onde a religião costuma ser um fator eleitoral.

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Na área econômica, assim como outro presidente de esquerda, Gabriel Boric, do Chile, Castillo disse que queria fazer profundas transformações nos sistemas neoliberais que prevalecem nos dois países, em uma comparação entre os dois líderes feito pelo site Latin America Post.

No entanto, Pedro Castillo acreditava mais na intervenção do Estado, com a busca da nacionalização de grandes empresas e o fim de monopólios que ele mesmo mencionou existirem no Peru. Isso ficou claro em várias entrevistas antes e depois de assumir o cargo.

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Ao governar, precisou mudar o discurso e garantir que seu governo não estava prestes a iniciar nenhuma reforma drástica. “Não somos comunistas. Não viemos aqui para expropriar ninguém”, disse Castillo em uma assembleia da Organização dos Estados Americanos (OEA), em Washington, em setembro de 2021.

“Não viemos afugentar os investimentos. Pelo contrário, estamos convocando grandes investidores, empresários, para virem ao Peru”, alertou, à época. Menos de uma semana depois, seu então chefe de gabinete, Guido Bellido, ameaçou nacionalizar a jazida de gás natural de Camisea, na região de Cusco.

Guido Bellido, como lembrou a revista Foreign Policy, era conhecido por suas visões homofóbicas e misóginas - sem mencionar suas postagens nas redes sociais apoiando o Sendero Luminoso, os fanáticos maoístas que massacraram milhares de peruanos nas décadas de 80 e 90. Ele acabou demitido pelo então presidente.

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Castillo assumiu a presidência do Peru em circunstâncias difíceis. O país sofreu muito com a pandemia, com a maior proporção de mortes registradas por população do que qualquer outro país. Seu frágil sistema de saúde ficou sobrecarregado.

A economia encolheu 11% em 2020, e a taxa oficial de pobreza aumentou de 20% para 30%. Esses números alimentaram a fúria contra o establishment político e foram um fator importante na vitória de Castillo./COM THE ECONOMIST, AFP e EFE

Pedro Castillo, destituído e preso após tentar dar um golpe de Estado, foi eleito presidente pelo partido Peru Libre, considerado de esquerda radical por sua ideologia marxista-leninista. Entre todos os presidentes do Peru, ele foi eleito com a plataforma mais esquerdista do país, tendo vencido em segundo turno por uma diferença de apenas 44 mil votos entre 17,5 milhões e só porque muitos peruanos de centro não conseguiram votar em sua oponente, Keiko Fujimori, uma conservadora cujo pai, Alberto, governou autoritariamente o Peru nos anos 90.

Em seu discurso de posse, adotou um tom moderado, prometendo “mudança responsável” na economia e mais dinheiro para saúde e educação. Mas Castillo insistiu que tentaria instalar uma Assembleia Constituinte para redigir uma nova Constituição - dispositivo usado por populistas de esquerda como Hugo Chávez, na Venezuela, e Evo Morales, na Bolívia, para concentrar e manter o poder.

Apesar de ser de um partido de esquerda, Castillo, em várias ocasiões, provou ser bastante conservador nas questões sociais e de comportamento, com suas posições contrárias ao casamento entre pessoas do mesmo sexo, ao aborto, à eutanásia, à imigração e até mesmo ao foco na igualde de gênero trabalhado nas escolas. Em uma ocasião, atribuiu o problema do feminicídio de seu país à “ociosidade” masculina, criticando o que ele chamou de “ideologia de gênero” ensinada nas escolas.

O então presidente do Peru, Pedro Castillo (E), participa de uma cerimônia com um representante da comunidade indígena Ashaninkas em Lima Foto: Luis Iparraguire/AFP - 14/11/2022

Muitos da direita, porém, rejeitaram a presidência de Castillo. O setor privado desconfiava, sobretudo, da ideia de uma Assembleia Constituinte.

Um ex-professor de escola rural que saiu do anonimato liderando uma grande greve nacional de professores, ele aliou um discurso de esquerda, com a promessa de “não haver mais pobres em um país rico”, com posições conservadoras comumente associadas à direita. Essa mistura de moralismo conservador e reivindicações sociais por mudança se adaptou bem a um país onde a religião costuma ser um fator eleitoral.

Na área econômica, assim como outro presidente de esquerda, Gabriel Boric, do Chile, Castillo disse que queria fazer profundas transformações nos sistemas neoliberais que prevalecem nos dois países, em uma comparação entre os dois líderes feito pelo site Latin America Post.

No entanto, Pedro Castillo acreditava mais na intervenção do Estado, com a busca da nacionalização de grandes empresas e o fim de monopólios que ele mesmo mencionou existirem no Peru. Isso ficou claro em várias entrevistas antes e depois de assumir o cargo.

Ao governar, precisou mudar o discurso e garantir que seu governo não estava prestes a iniciar nenhuma reforma drástica. “Não somos comunistas. Não viemos aqui para expropriar ninguém”, disse Castillo em uma assembleia da Organização dos Estados Americanos (OEA), em Washington, em setembro de 2021.

“Não viemos afugentar os investimentos. Pelo contrário, estamos convocando grandes investidores, empresários, para virem ao Peru”, alertou, à época. Menos de uma semana depois, seu então chefe de gabinete, Guido Bellido, ameaçou nacionalizar a jazida de gás natural de Camisea, na região de Cusco.

Guido Bellido, como lembrou a revista Foreign Policy, era conhecido por suas visões homofóbicas e misóginas - sem mencionar suas postagens nas redes sociais apoiando o Sendero Luminoso, os fanáticos maoístas que massacraram milhares de peruanos nas décadas de 80 e 90. Ele acabou demitido pelo então presidente.

Castillo assumiu a presidência do Peru em circunstâncias difíceis. O país sofreu muito com a pandemia, com a maior proporção de mortes registradas por população do que qualquer outro país. Seu frágil sistema de saúde ficou sobrecarregado.

A economia encolheu 11% em 2020, e a taxa oficial de pobreza aumentou de 20% para 30%. Esses números alimentaram a fúria contra o establishment político e foram um fator importante na vitória de Castillo./COM THE ECONOMIST, AFP e EFE

Pedro Castillo, destituído e preso após tentar dar um golpe de Estado, foi eleito presidente pelo partido Peru Libre, considerado de esquerda radical por sua ideologia marxista-leninista. Entre todos os presidentes do Peru, ele foi eleito com a plataforma mais esquerdista do país, tendo vencido em segundo turno por uma diferença de apenas 44 mil votos entre 17,5 milhões e só porque muitos peruanos de centro não conseguiram votar em sua oponente, Keiko Fujimori, uma conservadora cujo pai, Alberto, governou autoritariamente o Peru nos anos 90.

Em seu discurso de posse, adotou um tom moderado, prometendo “mudança responsável” na economia e mais dinheiro para saúde e educação. Mas Castillo insistiu que tentaria instalar uma Assembleia Constituinte para redigir uma nova Constituição - dispositivo usado por populistas de esquerda como Hugo Chávez, na Venezuela, e Evo Morales, na Bolívia, para concentrar e manter o poder.

Apesar de ser de um partido de esquerda, Castillo, em várias ocasiões, provou ser bastante conservador nas questões sociais e de comportamento, com suas posições contrárias ao casamento entre pessoas do mesmo sexo, ao aborto, à eutanásia, à imigração e até mesmo ao foco na igualde de gênero trabalhado nas escolas. Em uma ocasião, atribuiu o problema do feminicídio de seu país à “ociosidade” masculina, criticando o que ele chamou de “ideologia de gênero” ensinada nas escolas.

O então presidente do Peru, Pedro Castillo (E), participa de uma cerimônia com um representante da comunidade indígena Ashaninkas em Lima Foto: Luis Iparraguire/AFP - 14/11/2022

Muitos da direita, porém, rejeitaram a presidência de Castillo. O setor privado desconfiava, sobretudo, da ideia de uma Assembleia Constituinte.

Um ex-professor de escola rural que saiu do anonimato liderando uma grande greve nacional de professores, ele aliou um discurso de esquerda, com a promessa de “não haver mais pobres em um país rico”, com posições conservadoras comumente associadas à direita. Essa mistura de moralismo conservador e reivindicações sociais por mudança se adaptou bem a um país onde a religião costuma ser um fator eleitoral.

Na área econômica, assim como outro presidente de esquerda, Gabriel Boric, do Chile, Castillo disse que queria fazer profundas transformações nos sistemas neoliberais que prevalecem nos dois países, em uma comparação entre os dois líderes feito pelo site Latin America Post.

No entanto, Pedro Castillo acreditava mais na intervenção do Estado, com a busca da nacionalização de grandes empresas e o fim de monopólios que ele mesmo mencionou existirem no Peru. Isso ficou claro em várias entrevistas antes e depois de assumir o cargo.

Ao governar, precisou mudar o discurso e garantir que seu governo não estava prestes a iniciar nenhuma reforma drástica. “Não somos comunistas. Não viemos aqui para expropriar ninguém”, disse Castillo em uma assembleia da Organização dos Estados Americanos (OEA), em Washington, em setembro de 2021.

“Não viemos afugentar os investimentos. Pelo contrário, estamos convocando grandes investidores, empresários, para virem ao Peru”, alertou, à época. Menos de uma semana depois, seu então chefe de gabinete, Guido Bellido, ameaçou nacionalizar a jazida de gás natural de Camisea, na região de Cusco.

Guido Bellido, como lembrou a revista Foreign Policy, era conhecido por suas visões homofóbicas e misóginas - sem mencionar suas postagens nas redes sociais apoiando o Sendero Luminoso, os fanáticos maoístas que massacraram milhares de peruanos nas décadas de 80 e 90. Ele acabou demitido pelo então presidente.

Castillo assumiu a presidência do Peru em circunstâncias difíceis. O país sofreu muito com a pandemia, com a maior proporção de mortes registradas por população do que qualquer outro país. Seu frágil sistema de saúde ficou sobrecarregado.

A economia encolheu 11% em 2020, e a taxa oficial de pobreza aumentou de 20% para 30%. Esses números alimentaram a fúria contra o establishment político e foram um fator importante na vitória de Castillo./COM THE ECONOMIST, AFP e EFE

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