ATENAS - O Corpo de Bombeiros da Grécia encontrou nesta terça-feira, 22, 18 corpos carbonizados de pessoas que acreditam ser migrantes que cruzaram a fronteira turca para uma área do nordeste da Grécia onde os incêndios florestais já duram dias. Desde ontem, ao menos 20 pessoas morreram e milhares precisaram ser retiradas de suas casas por causa das chamas que atingem o país.
A descoberta perto da cidade de Alexandroupolis ocorreu enquanto centenas de bombeiros lutavam contra dezenas de incêndios florestais em todo o país impulsionados pelos ventos fortes. A polícia acionou a Equipe de Identificação de Vítimas de Desastres do país para identificar os 18 corpos, que foram encontrados perto de um barraco na área de Avantas, disse o porta-voz do corpo de bombeiros Ioannis Artopios.
“Dado que não há relatos de pessoas desaparecidas ou de moradores desaparecidos nas áreas vizinhas, está sendo investigada a possibilidade de serem pessoas que entraram ilegalmente no país”, disse Artopios.
Alexandroupolis fica perto da fronteira com a Turquia, ao longo de uma rota frequentemente percorrida por pessoas que fogem da pobreza e dos conflitos no Oriente Médio, Ásia e África e buscam entrar na União Europeia.
A presidente grega, Katerina Sakellaropoulou, expressou profundo pesar pelas mortes. “Devemos tomar iniciativas efetivas com urgência para garantir que essa realidade sombria não se torne a nova normalidade”, disse ela em comunicado.
Mais sobre incêndios
Avantas, como muitos locais próximos, estava sob ordens de retiradas, com alertas em grego e inglês enviados para todos os telefones celulares da região.
As chamas em Alexandroupolis também forçaram as autoridades locais a promover retiradas no hospital da cidade. Cerca de 65 dos mais de 100 pacientes do hospital foram transportados para uma balsa no porto da cidade, enquanto outros foram levados para outros hospitais no norte da Grécia.
A guarda costeira disse que barcos de patrulha e embarcações particulares retiraram mais 40 pessoas do mar das praias próximas a Alexandroupolis.
Na região da fronteira nordeste de Evros, um incêndio estava queimando a floresta em um parque nacional protegido, com imagens de satélite mostrando fumaça cobrindo grande parte do norte e oeste da Grécia.
Novos incêndios eclodiram em várias partes do país nesta terça, inclusive na floresta a noroeste de Atenas e em uma área industrial na periferia oeste da capital.
Com seus verões quentes e secos, os países do sul da Europa são particularmente propensos a incêndios florestais. Outro grande incêndio está queimando em Tenerife, nas Ilhas Canárias, na Espanha, há uma semana, embora nenhum ferido ou dano a casas tenha sido relatado. Estima-se que o incêndio, que atingiu 150 quilômetros quadrados, já queimou um terço das florestas de Tenerife.
Mais de 12.000 pessoas foram retiradas durante a semana passada, sendo que 1.500 delas já puderam voltar para suas casas. As autoridades descreveram o incêndio como o pior em décadas no arquipélago atlântico.
Grandes partes da Espanha estavam em alerta para incêndios florestais, pois as temperaturas atingiram mais de 38 ºC. Enquanto o sul da Espanha costuma ter temperaturas extremamente altas, a agência meteorológica do país emitiu um alerta para o norte, onde as temperaturas devem chegar a 42 ºC na quarta-feira.
O incêndio florestal mais letal da Grécia matou 104 pessoas em 2018, em um resort à beira-mar perto de Atenas, em que os moradores não foram avisados que deveriam sair. Desde então, as autoridades pecam por excesso de cautela, emitindo ordens rápidas de evacuação em massa sempre que áreas habitadas são ameaçadas.
No mês passado, um incêndio florestal na ilha de Rodes obrigou a retirada de cerca de 20.000 turistas. Dias depois, dois pilotos da força aérea morreram quando seu avião caiu enquanto tentava combater um incêndio em Evia.
Na Itália, as autoridades retiraram 700 pessoas de suas casas e de um acampamento na ilha toscana de Elba depois que um incêndio começou na segunda-feira, enquanto na Turquia as autoridades fizeram retiradas em nove aldeias na província de Canakkale, no noroeste.
De acordo com a Sociedade Italiana de Geologia Ambiental, mais de 1.100 incêndios na Europa neste ano consumiram 2.842 quilômetros quadrados, bem acima da média de 724 incêndios por ano registrados de 2006 a 2022. Os incêndios removeram áreas arborizadas capazes de absorver 2,5 milhões de toneladas de dióxido de carbono por ano.
“Quando somamos os incêndios no Canadá, Estados Unidos, África, Ásia e Austrália aos da Europa, parece que a situação piora a cada ano”, disse o presidente do SIGEA, Antonello Fiore.
Oficiais da União Europeia culparam as mudanças climáticas pelo aumento da frequência e intensidade dos incêndios florestais na Europa, observando que 2022 foi o segundo pior ano registrado em danos depois de 2017.
“A Grécia está sofrendo incêndios de uma escala sem precedentes e, nessas situações, é vital a ajuda da União Europeia”, afirmou o comissário europeu para a Gestão de Crises, Janez Lenarcic. Seis países decidiram enviar ajuda pelo mecanismo de proteção civil do bloco.
Onda de calor atinge os Alpes
Além dos incêndios mortais, a onda de calor também vem aumentando as temperaturas nos Alpes, pulverizando as geleiras e mudando a paisagem da região. A altitude em que a temperatura cai a zero subiu para 5.298 metros, batendo o recorde anterior de 5.184 metros, de julho de 2022, segundo a Meteo Suisse.
Na prática, isso significa que todos os picos glaciais dos Alpes estão abaixo do nível de congelamento, segundo o pesquisador e meteorologista do Conselho Nacional de Pesquisa da Itália, Claudio Tei.
Entre as paisagens mais afetadas estão o Glaciar de Aletsch, na Suíça, o maior da Europa, com pouco mais de 4 mil metros, e o Mont Blanc, na fronteira franco-italiana, o pico mais alto do continente, com pouco mais de 4,8 mil metros.
Especialistas de Áustria, França e Itália, entrevistados pela Reuters, confirmaram que as geleiras estavam sofrendo perdas recordes. Em julho, as temperaturas chegaram a 30ºC nas montanhas – 7ºC acima da média histórica./AP, W. Post e AFP